terça-feira, 29 de novembro de 2016

A maior tragédia do futebol mundial. A queda do avião da Chapecoense atinge em cheio o Brasil. A Conmebol suspende a final da Sul-Americana. E pode declarar o time catarinense e o Atlético Nacional como campeões. E a CBF analisa dar uma licença de um ou dois anos à Chape. A desgraça foi grande demais...

A maior tragédia do futebol mundial. A queda do avião da Chapecoense atinge em cheio o Brasil. A Conmebol suspende a final da Sul-Americana. E pode declarar o time catarinense e o Atlético Nacional como campeões. E a CBF analisa dar uma licença de um ou dois anos à Chape. A desgraça foi grande demais...




Faltavam 56 quilômetros... Apenas 56 quilômetros para o aeroporto José Maria Cordova, de Medellín. Mas o avião fretado, de 17 anos, da empresa venezuelana LaMia, matrícula CP2933, que decolou de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, caiu. A violência da queda fez com que se arrebentasse em três partes disformes. A pane seca, falta de combustível, impediu que explodisse. Mas não a tragédia. Dos 72 passageiros e nove tripulantes, apenas cinco sobreviventes. 76 mortes confirmadas. Com elas, o sonho da Chapecoense, de Santa Catarina, do Brasil. Ser campeã da Copa Sul-Americana. Já era o maior feito da história do futebol catarinense. Ter chegado à decisão da Copa Sul-Americana. Jogaria contra o poderoso campeão da Libertadores, o Atlético Nacional. O que deveria ser o maior orgulho se tornou a maior tragédia do futebol mundial. Nunca houve tantas mortes nos terríveis acidentes aéreos com delegações esportivas. Em 1949, a história equipe do Torino, base da Seleção Italiana, voltada de um amistoso com o Benfica. O avião se chocou com a muralha da Basílica de Superga, em Turim. Morreram 31 pessoas. A delegação inteira do inesquecível time pereceu. A culpa ficou com o desgaste da aeronave, péssimas condições climáticas e imperícia do piloto. O Manchester United também passou por uma tragédia, em 1958. O time havia jogado em Belgrado, na antiga Iugoslávia (hoje Sérvia). O avião parou em Munique para abastecer. E por causa de fina camada de gelo, não conseguiu ter velocidade e força para decolar. O avião caiu, se rompeu. Morreram oito jogadores. E outros 15 passageiros. O time do Alianza Lima fazia um vôo fretado entre Pucalipa e Lima, em 1987. O avião caiu no Oceano Pacífico. Morreram 43 pessoas. Só o piloto sobreviveu. Em 1993, a delegação de Zâmbia voltava depois de enfrentar o Senegal pelas Eliminatórias da Copa dos Estados Unidos. A aeronave caiu quando sobrevoava o Gabão. Todas as 30 pessoas morreram. E ontem às 22h15, horário da Colômbia, 1h15 de Brasília, o futebol brasileiro mergulhava no seu mais profundo luto. O piloto da aeronave que levava a Chapecoense para o jogo de sua vida avisava às torres de controle que estava com graves problemas técnicos. O piloto era também o dono do avião. Ele disse que havia uma pane elétrica no avião. Ele estava entre as cidades de Ceja e La Unión. Foi o último contato antes da queda. Jornalistas colombianos insistem na possibilidade de pane seca. O combustível teria acabado entre os três mil quilômetros que separam Santa Cruz de La Sierra e Medellin. Choveu forte no trajeto todo e para se desviar dos cumulos nimbus, nuvens carregadas de gelo, a aeronave poderia ter gasto mais combustível que o previsto. E daí a queda. Na aviação, não se paga seguro em quedas por causa de pane seca. Muitos pilotos mentem que jogaram combustível fora para evitar explosões, quando na verdade não calcularam direito o total de combustível.

Isso será investigado. Mas é o que menos importa agora. O futebol que normalmente é razão de alegria, festeja a vida desta vez provoca comoção com a morte. A Chapecoense conseguiu mobilizar o país para a decisão inédita. Ocuparia, com orgulho, o papel de David contra Golias. O clube é um fenômeno de competência administrativa, gestão, trabalho sério em um mundo marcado por dirigentes irresponsáveis, corruptos, aproveitadores. O clube é novíssimo em relação aos grandes do futebol brasileiro. Foi fundado em 1973. Se chama Associação Chapecoense de Futebol porque juntou os principais times amadores. Todos iriam representar a cidade, a região Oeste de Santa Catarina. Com o apoio da prefeitura e das empresas da cidade, o crescimento do time foi impressionante. Conseguiu cinco campeonatos catarinenses. A arrancada nacional começou em 2009 quando subiu para a Série C. Em 2012, chegou à B. Em 2013, à Série A. E nunca voltou a ser rebaixada. A aposta séria na categoria de base, investimentos certeiros e a paixão da população de Chapecó fizeram com que o time crescesse de maneira incrível. A superação na Copa Sul-Americana deste ano foi inacreditável. Foi derrubando adversário por adversário. Cuiabá, o grande Independientej, maior ganhador da Libertadores, com sete conquistas, Junior Barranquilla, San Lorenzo campeão da Libertadores de 2014. Foi assim que chegou à final contra o Atlético Nacional. Caio Júnior fazia seu melhor trabalho. A maturidade lhe deu firmeza que faltava no início da carreira. E com ela, a visão diferenciada que sempre teve do futebol, se impunha. A Chapecoense mostra futebol moderno, ousado, de muita intensidade. Marcação, mas atrevimento com contragolpes em bloco, velozes. Se tornou um time terrível para ser derrotado. O destaque do time não era individual, era o conjunto. O preparador físico era Anderson Paixão, filho de Paulo Paixão, que trabalhou por anos com Felipão. Anderson fazia excepcional trabalho na Chapecoense. Era um dos segredos do sucesso do time. Conseguiu segurar a nona colocação no Brasileiro, mesmo decidindo a Copa Sul-Americana.

O ótimo treinador do Atlético Nacional, Reinaldo Rueda, estava muito preocupado com as finais. O jogo decisivo seria no Brasil. Em Curitiba, porque o regulamento exigia um estádio de, no mínimo, 40 mil pessoas. A Arena Condá acomoda, no máximo, 22.800 apaixonados. Caravanas estavam sendo preparadas para o Couto Pereira. Os paranaenses também deveriam dar seu apoio, o estádio deveria estar lotado. Deveria. O sonho acabou. As notícias são terríveis. Apenas o lateral Alan Ruschel, o zagueiro Neto e o goleiro Follmann sobreviveram. Caio Júnior e seus bravos jogadores morreram. Danilo, Gimenez, Bruno Rangel, Marcelo, Lucas Gomes,Sergio Manoel, Filipe Machado, Matheus Biteco, Cleber Santana, William Thiego,Tiaguinho, Josimar, Dener, Gil, Ananias, Kempes, Arthur Maia, Mateus Caramelo, Aílton Canela. Além deles, jornalistas e comentaristas também fazem parte dessa tragédia. Guilherme Marques, Ari de Araújo Jr., Guilherme Laars, Giovane Klein Victória, Bruno Mauri da Silva, Djalma Araújo Neto, André Podiacki, Laion Espíndola. Victorino Chermont, Rodrigo Santana Gonçalves, o Deva Pascovicci, Lilacio Pereira Jr, Paulo Júlio Clement. Mário Sérgio. Renan Agnolin, Fernando Schardong, Edson Ebeliny, Gelson Galiotto, Douglas Dorneles, Jacir Biavatti, Ivan Agnoletto.

Morreram fazendo o que mais amavam, cobrir futebol. O único sobrevivente é o repórter Rafael Henzel. Além da comissária Ximena Suarez. A polêmica que vai dominar o acidente foi o veto da ANAC, a Agência Nacional de Aviação Civil, no voo fretado que a Chapecoense queria fazer, partindo direto do Brasil. A alegação é que a aeronave deveria ser ou brasileira ou colombiana. A Lamia é venezuelana e faz operações na Bolívia. Por isso a delegação teve de ir de São Paulo até a Bolívia e, em Santa Cruz de La Sierra, embarcar para Medellin. A final da Copa Sul-Americana está suspensa. É possível que a Conmebol declare os dois times campeões.

Ou até o Atlético Nacional abra mão do título para o clube catarinense.

A CBF deve dar uma licença para a Chapecoense.

O clube talvez tenha uma licença de um ou dois anos para recomeçar.

Isso já começa a ser discutido.

Equipes se mostram dispostas a cederem jogadores ao clube.

O Benfica de Portugal foi o primeiro oficialmente.

A CBF já adiou a decisão da Copa do Brasil entre Grêmio e Atlético Mineiro.

A última rodada do Campeonato Brasileiro foi adiada.

Acontecerá no dia 11 de dezembro.

Desta vez, o bom senso parece que vencerá a incompetência.

Mas o buraco que fica na alma do futebol brasileiro não será fechado jamais.

A tragédia foi terrível.



Futebol nunca foi sinônimo de morte.

Chapecó declarou luto de 30 dias.

Não haverá festividades.

Natal...

Reveillon...

São 76 mortos.

Tudo perdeu o sentido.

A queda do avião atingiu a alma da cidade.

De Santa Catarina.

Do Brasil.

Do mundo.

O futebol não merecia essa tragédia.

Faltavam 56 quilômetros...

   

Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 29 Nov 2016 10:56:16

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