terça-feira, 1 de novembro de 2016

Vazamento de dez milhões de litros de água. Ameaça de deslizamento de terra. Rachaduras. Pedaços do teto caindo. Assim está o Itaquerão, estádio de R$ 1,6 bilhão que o Corinthians não consegue pagar...

Vazamento de dez milhões de litros de água. Ameaça de deslizamento de terra. Rachaduras. Pedaços do teto caindo. Assim está o Itaquerão, estádio de R$ 1,6 bilhão que o Corinthians não consegue pagar...




Dez milhões de litros de água vazaram pelo estacionamento do Itaquerão. O vazamento desse volume descomunal de água pode provocar um deslizamento de terra na área externa do estádio. Uma auditoria interna mostra que essa terra pode chegar a atingir a Radial Leste, uma das principais vias de São Paulo. O que seria um caos. A revelação foi feita pela Folha de São Paulo. De acordo com o jornal, o caso foi revelado em junho deste ano. A preocupação estava com o excessivo consumo de água em 2015. Lembrando que a arena foi inaugurada, às pressas, para a Copa de 2014. Os testes foram apressados devido ao atraso absurdo nas obras. Em fevereiro, há nove meses, já houve um suspeito deslocamento de terra na área do estacionamento Leste da arena. Essa terra chegou até a calçada que fica na Radial Leste. O estudo mostrou que havia relação entre o vazamento de água e o deslocamento de terra. O local comporta nada menos do que 350 carros. A Odebrecht e o Corinthians tiveram acesso ao relatório dos técnicos. O clube e a construtora também sabem das rachaduras nas paredes do estádio, na arquibancada Norte. Em fevereiro caiu um pedaço do teto na entrada principal do estádio. Pesava cerca de meia tonelada, no setor Oeste, no caminho para a ala VIP da arena. Lâminas de porcelana, de três milímetro, com três metros por um de cumprimento já caíram no setor Norte da arquibancada. E até no gramado. Em setembro de 2015, a Odebrecht terminou o Centro de Convenções e deu por encerradas as obras no Itaquerão. A direção do Corinthians já havia percebido problemas no estádio. E não aceitou oficialmente a arena como pronta. Há uma disputa na justiça sobre o caso. A revelação do vazamento de dez milhões de litros de água e a possibilidade de a terra chegar até a Radial Leste devem fazer as autoridades tomar providências. As rachaduras e pedaços do teto caindo foram desprezadas, mas a informação divulgada hoje é importante demais.

O Corinthians tem uma média de 30.835 torcedores no Itaquerão em 2016. Vendeu nada menos do que 1.017.573 de ingressos neste ano. Não é possível que as pessoas que vão à arena continuem expostas em um estádio com vazamento, rachaduras e pedaços de teto caindo. A possibilidade de interdição é real. Pode parecer contraditório, mas a notícia chega em ótimo momento para o Corinthians. O clube tem uma briga selvagem com a Odebrecht. E vale muito dinheiro esse questionamento. A construtora afirma ter gasto R$ 985 milhões na arena. De acordo com a previsão do pagamento em parcelas, esse valor chegará a R$ 1,6 bilhão. O Corinthians acertou o prazo para quitar a dívida em 12 anos. Só que o clube não está pagando as parcelas mensais de R$ 5 milhões desde março. Questiona na justiça exatamente a conclusão do estádio. Tem pago apenas os juros. A situação é ainda mais complicada. A meta absurdamente otimista de pagamento do estádio previa, para a imprensa, R$ 330 milhões por ano, em 2014. Por parte do Corinthians. Mas depois veio a realidade. E a meta estabelecida foi de R$ 112 milhões a cada 12 meses. Detalhe, com reajuste pelo IPCA. Todo esse dinheiro viria da arrecadação dos jogos na arena. Mais dinheiro vindo das lanchonetes e aluguéis do estádio. Em 2015, o clube arrecadou "apenas" R$ 90 milhões. Isso porque o estádio era novidade, o time conseguiu ser hexacampeão brasileiro. Com o IPCA, o valor deveria ter chegado a R$ 119 milhões. A situação em 2016 é constrangedora para a previsão da direção corintiana. Até hoje, dia primeiro de novembro, R$ 56,3 milhões! A inflação prevê o pagamento deste ano de nada menos do que R$ 124 milhões.

Pelo acordo, o Corinthians é obrigado a pagar a arena com o que arrecada em patrocínio, transmissão de televisão, sócios-torcedores. A diretoria entrou na justiça para travar o pagamento total das parcelas. Usa a desculpa das obras que não foram concluídas para evitar o caos financeiro. Está provado que o pagamento apenas com o arrecadado nas bilheterias foi uma utopia infantil. E o clube tem nas mãos uma dívida que já chega a R$ 1,6 bilhão, se for paga no prazo. Se não for pago, o estádio passaria a ser controlado pela Caixa Econômica que foi fiadora do empréstimo feito pelo BNDES. E poderia tomar posse, em caso de inadimplência, do terreno do Itaquerão e parte do Parque São Jorge, que foram dados como garantia pelo clube. O pagamento total deveria ser feito até em 2028. O que parece ser absolutamente impossível. Ou seja, por paradoxal que possa parecer, a notícia do vazamento, das rachaduras, da queda de pedaços do teto ajuda o Corinthians. Se o estádio for interditado, melhor ainda.

Como não o clube não concordou oficialmente com o recebimento do estádio pronto, a Odebrecht assumiria todas reformas necessárias. O que geraria tempo e poderia ser base jurídica para um novo acordo para o pagamento do Itaquerão. Por trás do previsível escândalo de hoje, há o alívio. Uma luz aos dirigentes corintianos. Eles querem se livrar do pior acordo da história do clube. Estádio que nasceu graças a Lula. Investigado pela Lava-Jato. E a Odebrecht criou essa possibilidade. Graças ao mais atrasado estádio de todas as Copas. Construído às pressas, de maneira lastimável. E que custou a vida de três operários...



   

Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 01 Nov 2016 07:38:54

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