quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A aliança entre Tite e Neymar. O pacto que o futebol brasileiro precisava. O melhor treinador tinha de se unir ao melhor jogador. Para buscar o resgate do respeito pela Seleção Brasileira...

A aliança entre Tite e Neymar. O pacto que o futebol brasileiro precisava. O melhor treinador tinha de se unir ao melhor jogador. Para buscar o resgate do respeito pela Seleção Brasileira...




Noite de 20 de agosto de 2016. Após a vitória diante da Alemanha e a conquista da inédita medalha de ouro olímpica, Neymar deu sua volta olímpica. Acompanhado de seguranças, discutiu, xingou torcedores que haviam cobrado empenho durante o jogo. Ao terminar a comemoração, chegou perto dos repórteres de tevê. Escolheu a câmera da Globo. E disparou. "Vocês vão ter de me engolir." Noite de 17 de outubro de 2010. Tite é a segunda opção do Corinthians para substituir Adilson Batista. A prioridade, Parreira, diz não. Queria descansar do trabalho com a África do Sul, na Copa de 2010. Tite larga o Al-Wahda, mesmo classificado para disputar o Mundial. Encontra o maior ídolo com quem jamais trabalhou. Ronaldo. Gordo, com dores insuportáveis nos dois joelhos, fumando, bebendo. farreando. O treinador conseguiu fazer o time chegar em terceiro no Brasileiro. E disputar a Pré-Libertadores, contra o pequeno Tolima de Ibagué, Colômbia. Ronaldo volta das férias mais gordo, com mais dores, mais baladeiro que nunca. Havia perdido o encanto do futebol. Queria parar, mas Andrés Sanchez insistia que ele tinha de continuar por causa dos contratos publicitários. Tite sabia disso. E sacrificou o time em função do atacante, que mal conseguia andar. O Corinthians passou pelo vexame da eliminação em Ibagué. Ronaldo e Roberto Carlos, ameaçados de morte pelas organizadas, nunca mais jogaram pelo clube. Saíram pela porta dos fundos do Parque São Jorge. O técnico só não foi mandado embora porque o Corinthians tinha R$ 2 milhões de multa para pagar a ele. "Disse para a minha diretoria, o clube não tem esse dinheiro. Quem quiser dar, mando o Tite embora agora. Ninguém colocou a mão no bolso. E o Tite ficou", revelou Andrés Sanchez.

Tite jurou que não se submeteria a ídolos. Cumpriu. Foi duro com Adriano e Pato. Teve grande responsabilidade nas saídas dos dois jogadores do Parque São Jorge. Noite de 19 de agosto de 2012. Santos e Corinthians jogam na Vila Belmiro, pelo Campeonato Brasileiro. Neymar, já com cartão amarelo, pisa em Guilherme Andrade, em frente ao banco corintiano. Tite se revolta com o árbitro Emerson Augusto de Carvalho e, principalmente, com o jogador santista. "O Guilherme foi pisado por ele. No jogo da Libertadores, o Emerson deu um carrinho imprudente e foi expulso. O Neymar caiu e rolou. Quando o Emerson foi expulso, ele levantou e estava bom. Perder ou ganhar é do jogo. Simular uma situação para levar vantagem não é. "Quem tem que falar do Neymar é o presidente, o técnico e os colegas do Santos. Eu tenho uma opinião muito clara. Se tivesse escuta no meu apartamento, vocês saberiam. Neymar é mau exemplo para o garoto que está crescendo, para o meu filho." A mágoa dos dois lados durou anos. Exatamente quatro anos e um mês depois, Tite e Neymar começam hoje, em Quito, uma nova etapa. Importante para os dois. Fundamental para o futebol brasileiro. O melhor jogador desta geração começa a trabalhar com o melhor treinador nascido neste país. Por isso todo rancor tinha de ser esquecido.

As personalidades, a maneira de enxergar a vida, a postura. São completamente diferentes. A diversidade vai além dos 31 anos que separam o atacante de 24 anos e o treinador de 55. A formação, educação, interesses, filosofia de vida são contrários. Mas precisam um do outro. Neymar é discreto. Mas os três anos que trabalha no Barcelona já foram suficientes para fazê-lo entender o quanto foi mal orientado na Seleção. Primeiro pelo inseguro, confuso Mano Menezes. Depois, pelos ultrapassados Felipão e Parreira. Em seguida, Dunga e sua falta de convicção. Por trás de todo egocentrismo, ele é muito inteligente. Sabe que, apesar de seu talento excepcional, se não houver um treinador com um plano tático moderno, capaz de arrancar o melhor de todo o time e não apenas dele, continuará a colecionar fracassos com a Seleção principal. Neymar não admitirá nunca em voz alta, mas sabe que a Copa das Confederações de 2013 foi mera ilusão. Cúmplice do fracasso na desejada Copa de 2014. Tanto Neymar amadureceu sua visão de jogo, que tratou de influenciar ao máximo no trabalho do novato Rogério Micale, na formação do time que conseguiu a medalha de ouro olímpico. O treinador deu espaço. E o jogador do Barcelona mostrou como gostaria de jogar. E também deu sua visão sobre a movimentação dos companheiros. Ela foi acatada por Micale. Discretamente, Tite endireitou o time, depois de um encontro com os olímpicos em Salvador. Tite sabe que tem nas mãos o maior craque de sua carreira. Ronaldo gordo, fumante, festeiro, com os dois joelhos constantemente inchados, não tinha condições de jogar mais profissionalmente. O treinador tem plena consciência do quanto depende dele para ter sucesso com o Brasil. Não só classificar o time, como lutar pelo hexa na Rússia. Tite lida com a grande dificuldade que Mano, Felipão e Dunga. Ser refém de Neymar não foi bom negócio para o trio, demitido sem dó pela CBF, depois de acumularem fracassos.

Tite tratou de forma reservada, de ter uma longa conversa com Neymar, em Quito. Deixaram o passado ficou para trás. Técnico e jogador perceberam que precisam se ajudar. Trabalhar juntos se quiserem fazer história, resgatar o respeito à camisa pentacampeã do mundo. Foi concebida uma aliança. Sem a braçadeira da capitania para atrapalhar, chamar desnecessária atenção. Coube muito bem no eficiente e imperceptível Miranda. Chega de chiliques, bravatas, provocações a jogadores e jornalistas. O foco é fazer o Brasil voltar a ganhar jogos. Se impor como grande seleção no mundo. Desde 2012, Tite pensava como montar o Brasil. Como aproveitar melhor o potencial de Neymar. E ele usará já hoje, contra os 2.850 metros de altitude de Quito e diante da ótima seleção de Gustavo Quinteros, sua formação mais confiável, moderna. Diante do 4-2-3-1 dos equatorianos, o bem corintiano 4-1-4-1. Com a bola nos pés, principalmente roubada na intermediária, o time atacará como Neymar gosta, sabe e tem certeza de dar muito certo. Graças a ele, Marcelo e Willian serão titulares. São mais agudos, habilidosos e rápidos do que Filipe Luís (preferido de Tite) e Philippe Coutinho. Perfeitos para abrirem espaço para o principal jogador brasileiro. Gabriel Jesus também tem a tendência de cair e se revezar pela esquerda, ao contrário de Gabriel Barbosa. A movimentação do palmeirense é melhor para Neymar. As investidas de surpresa de Paulinho e Renato Augusto foram azeitadas no Parque São Jorge. E encaixam na ofensividade sem medo desejada pelo jogador do Barcelona. Nestes apenas três dias de treinamento, Tite aproveitou as características dos jogadores e a maneira com que estão acostumados a atuar. Mostrou a importância da recomposição e das proximidades das linhas. Assim como o sacrifício físico. Para tudo der certo, o Brasil precisa esquecer o ar rarefeito e exercer a marcação alta, não permitir a saída de bola dos equatorianos. Ter coragem, não se encolher buscando apenas contragolpes.

Tite e Neymar sabem que o Brasil precisa se recuperar nestas Eliminatórias. Já tem neurônios suficientes para entender que o mais capacitado treinador está diante do mais talentoso jogador. E ambos precisam de um time competitivo, confiante, moderno. Que saiba o significado da expressão responsabilidade tática. Mas não abdique de seu talento, do improviso, de sua capacidade de driblar com a bola nos pés. Depois de seis anos de convocações, finalmente o melhor jogador do país tem com quem dividir a responsabilidade na Seleção Brasileira. Era algo que o atormentava. Até que chegou o personagem mais óbvio. E capacitado. Tite...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 01 Sep 2016 10:12:22

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