segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A Portuguesa definha na Série D. Rebaixamento suspeito em 2013 foi o golpe de misericórdia. Nem MP ou o Gaeco conseguiram provar nada. Os bandidos do futebol são mais espertos que os bandidos da política?

A Portuguesa definha na Série D. Rebaixamento suspeito em 2013 foi o golpe de misericórdia. Nem MP ou o Gaeco conseguiram provar nada. Os bandidos do futebol são mais espertos que os bandidos da política?




Ministério Público e Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado não foram suficientes. Apesar de os agentes terem toda certeza que houve algo de muito errado no caso Héverton, ninguém chegou às provas.
"Os bandidos do futebol são mais espertos do que os da política", me repetiu por anos, um consagrado advogado esportivo, com décadas de bastidores. E desta vez, tudo indica que os bandidos venceram. Os investigadores chegam a cravar que a venda da vaga na Série A, em 2013, custou entre R$ 4 milhões e R$ 20 milhões. Quem pagou? Quem aceitou? Ninguém sabe. O rebaixamento, que tudo indica ter sido criminoso para a Série B, rompeu a fina linha que mantinha o clube na elite do futebol brasileiro. A queda das receitas de televisão foi brusca demais. De R$ 19,8 milhões para R$ 5,6 milhões. Os poucos patrocinadores que bancavam R$ 3,7 milhões passaram a pagar R$ 1,4 milhão. A bilheteria caiu de R$ 3,6 para R$ 1 milhão. O número de sócios-torcedores é pífio, apenas 3.500. Inúmeros deles sem pagar constantemente a mensalidade.

Ao contrário do que acontece com o Vasco no Rio de Janeiro, a colônia lusa de São Paulo não se mobiliza, trata a Portuguesa sem a menor consideração. Membros proeminentes torcem e apoiam outros clubes. O mais notável deles, Abílio Diniz, já recebeu inúmeros pedidos de ajuda. Mas ele está envolvido com o São Paulo Futebol Clube. A queda para a Segunda Divisão foi a senha para tudo desabar no Canindé. As dívidas se acumularam. Chegam a mais de R$ 230 milhões. São mais de R$ 70 milhões em dívidas trabalhistas. A única saída jurídica é leiloar os 45% do estádio que pertence ao clube. Os outros 55% são do município. O leilão está marcado para novembro. O Canidé ocupa uma área nobre, na marginal Tietê. Poderia ser destruído e dar lugar para mais um shopping em São Paulo. O lance inicial é de R$ 154,2 milhões. Se a venda acontecer, o clube implode de vez. E pode se reestruturar, abandonando o futebol profissional. E se tornando mais uma entre tantas associações em São Paulo direcionadas aos descendentes de portugueses. O futebol desabou. O clube ficou com fama de mau pagador. Jogadores importantes não querem saber de nem passar perto da Portuguesa. Apenas veteranos sem espaço ou atletas sem talento, de empresários novatos. Desde o rebaixamento, 93 jogadores passaram pelo clube. E 14 técnicos. A arrecadação média é de R$ 23 mil. Não é por acaso que o clube caiu da Série B, para a C. E ontem, foi para a D. Está na Quarta Divisão. E sem a menor perspectiva de subida.

Representantes da maior torcida organizada, a Leões da Fabulosa, decidiram tomar uma atitude ontem, diante da queda para a Série D. Cerca de 40 foram ao clube e depredaram a sala do presidente José Luiz Ferreira. O único punido pelo rebaixamento de 2013 foi o ex-presidente, Manuel da Conceição Ferreira, conhecido como Manuel da Lupa. Ele foi banido do quadro de conselheiros do clube. Seu sucessor, Ilídio Lico, expôs algo gravíssimo ao jornal Diário de São Paulo, no ano passado. Ao ser perguntado sobre a irregular escalação de Heverton contra o Grêmio, que custou o rebaixamento do clube. "Com toda certeza, isso foi premeditado. Um senador falou que a Unimed pagou um dinheiro muito grosso. Mas sabe como é a Justiça no Brasil. E ninguém dá recibo. De qualquer forma, tenho esperança de que um dia isso vai dar uma alguma coisa. Segundo o (senador)... a Unimed que pagou. Pagamento em grandes quantias, né? E claro que o interessado é o Fluminense, naturalmente. Agora, te afirmar quem é que está interessado? O Fluminense que está interessado. É óbvio, né?", disse. Se a Portuguesa não fosse rebaixada, o Fluminense, a princípio, cairia para a Segunda Divisão. Depois se descobriu que o Flamengo escalou o jogador André Santos de forma irregular contra o Cruzeiro. Perdeu quatro pontos. E seria ele e não o rival das Laranjeiras a ser rebaixado. Se não fosse por Héverton. O Fluminense e a Unimed se preparavam para processar Ilidio Lico. Foi quando o então presidente da Portuguesa decidiu. Foi até as Laranjeiras e pediu desculpas publicamente. Colocou a culpa em um "vinho forte" que tomou. "Pedi desculpas ao Peter Siemsen. Nunca tive o prazer de ter conversado com ele. Queria dizer que falei uma bobagem. Não tinha nexo nenhum o que eu falei. Quem errou foi a Portuguesa, a diretoria anterior. O Fluminense aproveitou apenas o regulamento, só isso. Não tem mais nada. Não houve irregularidade do Fluminense. Tinha almoçado, tomei um vinho meio forte. Acho que foi isso. Aí eu falei com uma pessoa e nunca pensei que ela publicaria aquilo. Me deu um branco e eu falei."

Os conselheiros da Portuguesa se revoltaram com Lico. E estavam organizando seu impeachment. Quando ele renunciou, dizendo que nunca mais assumiria cargo algum no clube. O atual presidente José Luiz Ferreira não tem a menor ideia do que fazer. Com o clube na Quarta Divisão do Brasileiro, na Série D, em 2017. E na Segunda Divisão do Paulista. O leilão de novembro pode ser a pá de cal. Não há a menor perspectiva de arrumar R$ 192 milhões para tentar comprar os 45% de seu estádio. O caminho é um empreendedor imobiliário comprar essa parte. E talvez até os 55% restantes. A situação é deprimente. Os tempos de glória ficaram para trás. Não há mais cenário para o nascimento de Djalma Santos, Julinho Botelho, Leivinha, Ivair o Príncipe, Enéas, Zé Roberto. O tricampeonato no torneio Fita Azul, dois Rio-São Paulo, três Campeonatos Paulista, o vice Brasileiro de 1996. E tantos outros títulos ficaram no passado. E já não interessam a quase ninguém. O clube caminha para a extinção no futebol. No máximo pode vender sua camisa a algum grupo bilionário. Na essência, a Associação Portuguesa de Desportos definha.

Morre aos poucos nos gramados. O rebaixamento de 2013 rompeu o frágil lacre. A revolta dos torcedores é objetiva. O mundo do futebol tem a certeza que a queda não foi "normal". O suspenso Héverton não entrou em campo por acaso. A liberdade de todos os suspeitos fere, agride. Nem MP ou Gaeco conseguiram provar nada. Mas a falta de provas talvez confirme. Justifique o mantra do advogado vivido, calejado. "Os bandidos do futebol são mais espertos do que os da política..."




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 19 Sep 2016 10:40:27

Nenhum comentário:

Postar um comentário