sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Mesmo voltando a marcar depois de um ano, Wesley se cala. Por vergonha, raiva e, principalmente, medo. Por temor das organizadas, ele repete o que fizeram Guerrero, Pato e Sheik...

Mesmo voltando a marcar depois de um ano, Wesley se cala. Por vergonha, raiva e, principalmente, medo. Por temor das organizadas, ele repete o que fizeram Guerrero, Pato e Sheik...




O jogo era importante, fundamental para deixar claro a recuperação do São Paulo. O adversário, o tradicional e ameaçado pelo rebaixamento, Cruzeiro. Mano Menezes havia montado uma enorme retranca, a ponto de não dar um chute a gol. O time de Ricardo Gomes criava, pressionava, mas o 0 a 0 perdurava no placar. Até que aos 42 minutos, Wesley dominou de fora da área. E deu um arremate fortíssimo, indefensável para o ótimo Rafael. Gol importantíssimo. Os mais de 15 mil torcedores que enfrentaram o frio do Morumbi vibraram muito. Mas o jogador nem olhou para as arquibancadas. Correu em direção ao banco de reservas. Foi abraçado, cumprimentado. Saiu emocionado. Mas não levantou a cabeça, fez qualquer gesto em direção à torcida. Não falou uma palavra para os jornalistas. Nem no intervalo e muito menos depois da partida, quando foi confirmado que o seu gol definiu o jogo. Garantiu três pontos fundamentais para o São Paulo se afastar ainda mais da zona do rebaixamento. Wesley tinha motivos de sobra para estar alegre. Foi apenas o seu segundo gol com a camisa do São Paulo, em 66 partidas. Ele não marcava desde julho do ano passado, quando o time venceu o Vasco por 3 a 0. Foram 434 dias de jejum. Mas o jogador de 29 anos não abre a boca para falar com a imprensa. Desde o dia 27 de agosto. E não tem a menor disposição de dar entrevista. Por raiva, vergonha e medo. Wesley foi um dos três jogadores agredidos por vândalos das organizadas do São Paulo. Tomou tapas, chutes. E foi ameaçado de morte. Como Carlinhos e Michel Bastos. Ao contrário da dupla, o meio campista não deu sorte. Há fotos e vídeos dele sendo levado do gramado. As imagens são claras. Mesmo protegidos por seguranças, ele é xingado, ameaçado e toma tapas na cabeça.

"Mas nenhum jogador do São Paulo quis prestar queixa, denunciar o que sofreu. Nenhum dirigente também quis falar com o Ministério Público. Por medo. Eles têm medo das organizadas", diz o promotor Paulo Castilho. A postura de Wesley é exatamente a mesma de Paolo Guerrero, que chegou a ser "esganado" por vândalos, na invasão que as organizadas do Corinthians fizeram ao CT Joaquim Grava em fevereiro de 2014. Nem o peruano, nem Alexandre Pato ou Emerson. Os dois foram caçados por criminosos, que cantavam que iriam quebrar suas pernas. Ambos se esconderam no vestiário. Atrás de armários, que colocaram como barricadas. Os três nunca quiseram falar publicamente sobre o que sofreram naquele dia. E muito menos procurar as autoridades públicas. Se calaram até hoje. "Eu não consigo entender por que o Wesley é tão perseguido. Ele trabalha bem, não se esconde. Na fase ruim, aparece. Tem jogador que não aparece. Isso é personalidade. Tenho que prestar atenção nele. Vi pouco do Wesley no Palmeiras. No Santos, foi muito bem. Quero aquele Wesley", elogiou Ricardo Gomes. O jogador tem contrato até o final de 2018 e tem salários de R$ 350 mil. Depois de péssima passagem pelo Palmeiras e sem conseguir se firmar no Morumbi, este foi o principal motivo que o fez suportar a humilhação que passou na invasão ao CCT. São 27 meses ainda de contrato. Ou seja, mais R$ 9,450 milhões garantidos. Ficar e justificar seu excelente contrato é uma coisa. Agora, se expor e comprar uma briga judicial contra as organizadas é outra coisa, muito diferente. E Wesley não vai fazer. A Justiça não pode obrigá-lo a prestar queixa sobre as agressões que sofreu. O irônico que Wesley voltou a ser protagonista no mesmo dia em que o Ministério Público pediu a prisão preventiva de 12 membros das organizadas que invadiram o CCT. Além da acusação de agressão aos jogadores, também terão de responder por roubos de material esportivo. São membros da Independente e da Dragões da Real. Paulo Castilho revela que a denúncia foi feita ao Juizado do Torcedor. O juiz Ulisses Pascolatti Júnior julgará o caso. De acordo com Castilho, os 12 denunciados são presidentes, ex-presidentes e líderes das duas torcidas organizadas. A delegada Margarete Barreto, do Drade (Delegacia de Polícia de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância Esportiva), foi a responsável pela investigação. Do São Paulo, apenas Ricardo Gomes e funcionários, como porteiros, prestaram depoimento. Nenhum membro da diretoria ou qualquer jogador quis falar com a justiça sobre a invasão. Principalmente Carlinhos, Michel Bastos ou Wesley. "Não falam por medo", repete, revoltado, Paulo Castilho. Os depoimentos seriam fundamentais para eventuais condenações. Seriam. As autoridades têm certeza que eles não serão dados. Nenhum jogador se colocará contra as organizadas. Se comportam como reféns...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 16 Sep 2016 06:34:33

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