terça-feira, 28 de abril de 2015

Os brasileiros continuam a pagar os ingressos mais caros do mundo. Os dirigentes se aproveitam e ainda chantageiam os torcedores com os planos de sócios-torcedores...

Os brasileiros continuam a pagar os ingressos mais caros do mundo. Os dirigentes se aproveitam e ainda chantageiam os torcedores com os planos de sócios-torcedores...




"Eu pergunto se esses torcedores querem um time competitivo, chegar no trabalho e não ser gozado, o filho não ser gozado na escola ou se preferem ingresso baratinho? Eu administro para 16 milhões de pessoas e não só para 30 mil, 40 mil que vem ao estádio." As palavras diretas, sem rodeio, foram de Paulo Nobre, presidente do Palmeiras. Ele colocou 35 mil ingressos para Palmeiras e Santos, final do Paulista a preços que iam de R$ R$ 120,00 a R$ 390,00! Não por acaso, seu clube é o que mais arrecadou em 2015 no país. Em apenas dez jogos no campeonato estadual, a arrecadação já chegou a R$ 23.325.941,25. Nobre escancarou o que os dirigentes dos grandes clubes do Brasil decidiram fazer: elitizar as arquibancadas. Mesmo com o péssimo nível técnico do futebol, não há constrangimento em cobrar ingressos caríssimos. Muitas vezes até mais altos do que é cobrado na Champions League. "Eu frequentava a geral do estádio Rei Pelé, em Alagoas, e esse glamour só fica nas cenas de cinema, no Canal 100, porque não é bom ver jogo da geral. Você fica com a visão prejudicada, não existe conforto algum, você vê o jogo o tempo todo de pé. Então acho que tem de ser relativizado, geralmente quem fala muito bem da geral nunca viu o jogo na geral, quem via jogo na geral queria ver na cadeira. "Mas os preços são exorbitantes, e acho que isso de fato é inadmissível. Que haja ingressos mais caros, porque há serviços nos estádios, mas sou a favor do subsídio cruzado, ou seja, a parte mais cara dos ingressos ajuda a subsidiar a mais barata, para que o futebol não perca sua essência, sua natureza, que é a ligação com o povo."

Essa era a visão simplista e fantasiosa do ex-ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Como se ele não conhecesse o país que vive. Evidente que os dirigentes não iriam e nem tentaram dar esse tal "subsídio cruzado". O futebol é o espetáculo mais caro deste país. Nem ópera, teatro, cinema, Carnaval, danceterias custam tanto. Até ingressos para shows de estrelas mundiais já estão se equiparando com o que é cobrado nas bilheterias dos estádios. Os novos estádios mataram as gerais. Muitas delas folclóricas, como a do Maracanã. Por causa da Copa do Mundo e da ligação da Fifa com empreiteiras, o Brasil ganhou 12 arenas de primeiro mundo. Por coincidência, lógico, muito mais caras do que as construídas na Europa, por exemplo. E foram levantadas em um ritmo lento que só as deixou mais dispendiosas. Multiplicando os preços previstos quando elas começaram a ser levantadas. De repente, os brasileiros das grandes cidades deixaram de sentar no cimento e passaram a ter cadeiras estofadas para sentar. Banheiros decentes. Telões. E até boa alimentação no estádio. O que deveria ser algo para ser comemorado, uma conquista, se tornou motivo de exploração.

E o Brasil passou a ter o ingresso mais caro do mundo. Bastou pegar a renda per capita anual de cada cidadão desse país e a dividir pelo número de entradas para o futebol. O preço médio, inteiro e não promocional. O valor dessa entrada, no ano passado, chegou a R$ 51,74. O brasileiro empregado ganhava em média, R$ 25.611,00 por ano. Assim, poderia comprar 495 ingressos. O estudo foi feito pela Pluri Consultoria para o Campeonato Nacional de 2014. De acordo com esse simples raciocínio, o ingresso cobrado aqui vale ouro. Na Espanha, fazendo o mesmo cálculo, seria possível comprar 590 entradas; na Inglaterra, 774; em Portugal, 922; na Argentina, 947; no México, 962; na Turquia, 978; na Itália, 1094; no Japão, 1.117; na Holanda, 1.315; na França, 1.634; na Alemanha, 1.716 e; nos Estados Unidos, 1.944. Ou seja, a desproporção pela qualidade do nível do futebol e preço em relação ao resto do mundo é gritante, estúpida. Andrés Sanchez, deputado federal e homem que comanda o Corinthians de fato desde 2007, é apontado de forma unânime pelos dirigentes como o principal responsável pela elitização nas arquibancadas. Em fevereiro de 2009, ele brigou com o então presidente do São Paulo. Quando foram reservados apenas 10% de ingressos a corintianos em um clássico no Morumbi, ele decidiu. Seu clube não atuaria mais como mandante no estádio do rival. O que ele fez? Transformou o Pacaembu em Morumbi. Como? Aumentando proporcionalmente os preços dos ingressos. Sangrou os próprios corintianos. Eles passaram a pagar duas, três, quatro, cinco vezes o que estavam acostumados. Andrés, fundador da torcida organizada Pavilhão Nove, homem que se orgulha de ter "nascido nas arquibancadas", elitizou o futebol. Com a classificação de seu clube para a Libertadores é que tudo descambou de vez. Havia ingressos no estádio municipal até de R$ 500,00. Logo os dirigentes do Brasil todo perceberam que o brasileiro paga. O amor pelo clube está acima da razão. O Atlético Mineiro fez história. Cobrou R$ 100, R$ 200, R$ 250, R$ 400 e R$ 500 para a decisão da Libertadores de 2013. A arrecadação chegou ao absurdo: 56.557 pessoas pagaram R$ 14.176.146,00. É o recorde neste país. Por enquanto.

Inspirados no modelo europeu, os gananciosos presidentes de clubes passaram a adotar o mais baixo tipo de chantagem. Quem quiser ingresso mais barato, que vire sócio torcedor. Por isso essa explosão no país. É uma estratégia tosca. O torcedor paga uma mensalidade para ter esse direito. Somando esse dinheiro, mais o preço do ingresso e o desconto, o clube ainda sai no lucro. Porque o dinheiro da mensalidade não tem o desconto absurdo que as federações e o próprio governo costumam tirar do preço bruto dos ingressos. Ou seja, o bolso do torcedor não é poupado. Pelo contrário. A população de Poços de Caldas vai pagar R$ 70 nesta final inédita de Mineiro, entre Caldense e Atlético. O Internacional cobrará no Grenal decisivo de domingo entre R$ 80 e R$ 430. Botafogo e Vasco ficará entre R$ 60 e R$ 155 cada bilhete no Maracanã. Os ingressos para Santos e Palmeiras na Vila Belmiro, ficaram entre R$ 75 e R$ 300. Salgueiro e Santa Cruz começam a decisão amanhã. Os dirigentes da cidade de 60 mil habitantes farão o que chamam de "pechincha". R$ 50 e R$ 25 os ingressos. Em Pernambuco, o governo subsidia o preço dos ingressos com a promoção Todos Com Nota. É uma campanha para evitar sonegação e evasão. O torcedor acumula pontos com notas fiscais que podem ser trocados por ingressos. Não existisse, os ingressos seriam no mínimo o dobro. Contra o Flamengo, pela Copa do Brasil, os dirigentes do Salgueiro cobraram R$ 100 e R$ 200. A final da Champions League de 2015, marcada para Berlin, tem ingressos entre R$ 220 até R$ 1.237. Mas há uma promoção. Um adulto e uma criança pagam R$ 444,00. Geralmente pai acabam levando seus filhos. E a Uefa garante o torcedor do futuro. Aqui no Brasil nem se cogita fazer algo parecido. O que se quer é faturar.

A epidemia de exploração do torcedor se espalhou. Em 2015, o Brasil continuará a ser o país com os ingressos mais caros do mundo. Embora o nível do futebol continue fraco, atuando por aqui jogadores sem nível para defender clubes importantes da Europa, os dirigentes sabem. A população continua amando o futebol. E é muito fácil abusar desse amor. Ou cobrando de maneira direta, nas bilheterias. Ou disfarçando, nas mensalidades dos sócios torcedores. A questão levantada pelo bilionário Paulo Nobre, presidente do Palmeiras, precisa ficar ecoando na cabeça de quem for tirar o dinheiro do bolso quando for comprar seu ingresso para o futebol. "Eu pergunto se esses torcedores querem um time competitivo, chegar no trabalho e não ser gozado, o filho não ser gozado na escola ou se preferem ingresso baratinho? Eu administro para 16 milhões de pessoas e não só para 30 mil, 40 mil que vem ao estádio." Ou seja. Quem for apoiar o time que ama, que pague. E não reclame...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 28 Apr 2015 11:32:14

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