quarta-feira, 22 de abril de 2015

Anderson Silva disputando vaga na Olimpíada é a vitória da Lei de Gerson, do jeitinho. Ele é um ídolo. Mas que foi pego dopado. Precisa cumprir sua punição. Por mais patrocinadores que vá perder...

Anderson Silva disputando vaga na Olimpíada é a vitória da Lei de Gerson, do jeitinho. Ele é um ídolo. Mas que foi pego dopado. Precisa cumprir sua punição. Por mais patrocinadores que vá perder...




Um dos mais profundos princípios das artes marciais é a ética. Anderson Silva é motivo de orgulho, o maior ídolo de MMA deste país. Um dos maiores na história do UFC. Acumula recordes e mais recordes. Exemplo de superação, de vida, ícone de milhões de adolescentes no mundo todo. Apesar de todos esses predicados, ele não tinha o direito de se candidatar à uma vaga no time brasileiro de taekwondo. Por um simples motivo. Ele está suspenso, proibido de lutar por ter sido flagrado dopado. Drostanolona e androsterona, esteroides anabolizantes e mais ansiolítico, drogas para o sono. Tudo foi encontrado no seu sangue. Substâncias artificias que melhoraram seu desempenho dentro do octógono, na luta contra Nick Diaz. Algo inconcebível. Está suspenso preventivamente. Mas pode ser punido e ter de ficar dois anos longe dos combates pela Comissão Atlética de Nevada, a (NSAC). Não há defesa. Os exames e as contraprovas vão na mesma direção. Anderson Silva estava dopado quando pisou no octógono. Pouco importa se foram os médicos tentando acelerar sua recuperação pela perna esquerda quebrada. Ou se foi ele mesmo quem decidiu se dopar. A responsabilidade é dele. A situação deveria correr seu rumo normal. Enfrentar o julgamento, aceitar a punição. Pensar com calma se vale a pena esperar o tempo passar e continuar a carreira. Afinal de contas, já completou 40 anos. E o seus últimos desempenhos ficaram muito a desejar. Mas acontece que Anderson Silva não é apenas um lutador. Ele está cercado por uma engrenagem montada para ganhar dinheiro, muito dinheiro. A Spider Company é uma empresa que cuida da imagem do jogador. Ele já foi agenciado pela 9Ine de Ronaldo Fenômeno. Mas percebeu que poderia ganhar muito mais sozinho. Midiático, patrocínio é o que não falta. Ou faltava. Burger King, Wizard, Duracell (Procter & Gamble), Vivo, Budweiser (InBev), General Optical, Philips, Renault, HDI e Hublot. Passou um tempo lutando com as cores do Corinthians. Fora ter se tornado embaixador remunerado de Furnas por R$ 240 mil.

Quando ganhou mais dinheiro de patrocínio foi em 2012, quando ganhou a revanche de Chael Sonnen. No total, R$ 5,2 milhões. Vários debandaram depois do anúncio de doping. Ele não fez mais qualquer publicidade desde então. A expectativa é que deva embolsar cerca de R$ 800 mil de patrocínios antigos. Mas hoje ninguém quer vincular sua marca à imagem de um lutador dopado. Simples e dolorido assim. Anderson é milionário. Suas lutas rendiam entre R$ 1 milhão e R$ 3 milhões cada. Ele era um dos lutadores que mais recebiam no pay-per-view. Agora a fonte secou. O presidente do UFC, Dana White, ficou muito decepcionado com o brasileiro. Ele era uma dos grandes responsáveis pela entidade ter se tornado bilionária. Havia virado uma lenda no octógono. Até explodir o doping. Ele teve até de deixar de ser um dos técnicos do TUF Brasil. Até chorou ao saber que estava proibido de seguir no reality show. As coisas não poderiam continuar como estavam. Foi quando alguém do seu estafe se lembrou das Olimpiadas de 2016. A Wada, que regula os atletas dopados do mundo todo, não tem nada contra Anderson. Por um simples motivo. Ela acompanha os atletas olímpicos. O MMA nunca foi olímpico. Ou seja, a NSAC não tem qualquer ligação com a Wada. Mesmo culpado, Anderson Silva está confortável. Está livre para disputar os Jogos do Brasil em 2016. Ele sempre adorou boxe. Mas aos 40 anos seria difícil ganhar a seletiva. Preferiu escolher o taekwendo. Mesmo tendo abandonado o esporte há 23 anos. E lá foram os marqueteiros de Anderson Silva espalhar a notícia. Ele quer disputar a seletiva olímpica da modalidade. "O Anderson Silva querer participar, acho que para o taekwondo é uma grande conquista, uma grande importância. É um esporte em desenvolvimento e com um trabalho muito bem feito. Será benéfico. Em relação ao doping, nós defendemos que o doping é uma questão zero, mas no mundo diversos atletas campeões olímpicos tiveram em algum momento do passado problema de doping. Ele cumprindo o que for estabelecido pela Comissão de Nevada, estará pronto para competir sem problemas."

A declaração festiva de boas-vindas é de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro e do Comitê Rio 16. É a maior autoridade brasileira relacionada à Olimpíada. O dirigente ficou tão empolgado porque seria sensacional ter um astro mundial na competição que organiza. Com atraso e caros gravíssimos e insolúveis como a poluição na Baía da Guanabara. Anderson desvia o foco. Por isso o doping foi minimizado. O atleta terá tempo para se preparar. A seletiva de taekwondo acontecerá apenas em janeiro de 2016. Nove meses são suficientes para um atleta excelente para Anderson se readaptar à luta. Concorrentes às vagas pelo Brasil tentaram ridicularizá-lo. Mas no fundo sabem que um lutador excepcional como Anderson pode sim se tornar um grande adversário. Mesmo quarentão. Ele soube da ironia dos competidores brasileiros. E devolveu com fina ironia hoje, na entrevista de confirmação nas seletivas. "Claro que meus companheiros têm alguma razão no que eles falaram, com certeza, parei de treinar taekwondo quando eu tinha 17 anos, então a dificuldade que vou encontrar do taekwondo da minha época para o de hoje é muito maior. Mas é um desafio ao qual estou disposto a enfrentar, não estou preocupado em passar vergonha, até pelo que fiz pelo esporte. "Tudo que o taekwondo me deu serviu para que eu levasse o país aonde precisava levar, que era transformar nosso país durante muito tempo na maior força dentro do MMA mundial. No taekwondo vou tentar fazer a mesma coisa, não por ter que provar algo para alguém, mas estou aqui para ajudar o esporte e fortalecer quem me fortaleceu durante anos." O cenário está pronto. Há fotos de Anderson com quimono treinando. Seus representantes estão ávidos. Com certeza haverá algum patrocinador disposto a voltar. Ou um novo, quem sabe, acreditando no seu renascimento. Quem sabe do próprio governo?

Mas e a essência das artes marciais, como fica? Anderson Silva sabe que, infelizmente, foi pego dopado. Mas de uma maneira esperta não cumprirá qualquer punição. Pelo contrário. Se usar seu talento, seu dom, poderá até ganhar uma medalha olímpica. Justo o símbolo mais puro de princípio, de vitória no esporte. Não tem cabimento Anderson Silva disputar seletiva alguma para a Olimpíada do Brasil. Sua presença será a vitória da impunidade, do jeitinho, da lei de Gerson. Um mestre como ele não deveria se prestar a esse papel. Em nome de seu legado não só no esporte. Na vida...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 22 Apr 2015 18:12:11

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