quarta-feira, 23 de março de 2016

Para preservar Andrés Sanchez, Corinthians decidiu. Quer que o ex-bicheiro André Negão se afaste da vice-presidência. Pelo menos enquanto estiver sendo investigado pela Lava Jato. Acabou o sonho de ser o "Obama do Parque São Jorge"...

Para preservar Andrés Sanchez, Corinthians decidiu. Quer que o ex-bicheiro André Negão se afaste da vice-presidência. Pelo menos enquanto estiver sendo investigado pela Lava Jato. Acabou o sonho de ser o "Obama do Parque São Jorge"...




Tentar salvar de qualquer maneira Andrés Sanchez do escândalo da Lava Jato. Essa é a prioridade absoluta de Roberto de Andrade e sua diretoria. E o primeiro passo deve ser o afastamento do vice-presidente, seu braço direito e chefe de gabinete, André Luiz de Oliveira. A presença de André Negão na diretoria do Corinthians é insustentável. Essa foi a conclusão que chegaram as alas políticas que sustentam Andrés e Andrade. Embora André tentasse minimizar as horas que passou depondo na Polícia Federal e dissesse que tudo está resolvido, as suas explicações não convenceram. Pelo contrário só aumentaram a revolta e a desconfiança que há muito a ser investigado. As informações da Polícia Federal o ligam a um suposto esquema de corrupção envolvendo o Itaquerão. O ex-bicheiro e homem que sobreviveu a sete tiros, em um suposto assalto, teve o seu endereço revelado em uma planilha de propinas da Odebrecht. E lá teria sido entregue R$ 500 mil. As investigações vão continuar. Hoje é um dia importantíssimo. A cúpula da Odebrecht decidiu fazer sua delação premiada. E pode envolver o Itaquerão. Desde a revelação da acusação a André Negão, ontem pela manhã, o Corinthians já está tentando isolá-lo. Desvinculá-lo de Andrés. A primeira providência foi vazar a informação que, no dia em que teria sido entregue o dinheiro, 23 de outubro de 2014, ele não seria vice presidente do clube. Só assumiria 107 dias depois. A desculpa é frágil. André é o braço direito de Andrés há anos. Frequenta o Parque São Jorge desde que o amigo íntimo se tornou presidente, em 2007. Foi diretor administração da gestão Sanchez, entre 2007 e 2012. De lá saiu para acompanhá-lo na administração do Itaquerão. Não tinha cargo oficial, mas acompanhava o ex-presidente em todas as decisões importantes relacionadas à arena. E assumiria a vice presidência em fevereiro de 2015, com a eleição de Roberto de Andrade.

André Negão não seguiu na diretoria corintiana entre 2012 e 2015 por um motivo simples. O ex-presidente Mario Gobbi não o queria. Gobbi é delegado. E sabia do passado de bicheiro de Negão. Mario disse a Andrés que não seria compatível e André foi ajudar o parceiro no Itaquerão. Como era de se esperar, a vida de André está sendo devastada depois de ontem. Ele é chefe do gabinete de Andrés Sanchez, deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores. Recebe R$ 12.940,00 de salário. Seu engajamento na campanha de Andrés foi marcante. Tanto que conseguiu um processo do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Sua empresa, a André Luiz Participações, foi condenada a pagar multa de R$ 60.800,00. O motivo: a doação de R$ 12.160,00 para a campanha do amigo em 1994. O valor ultrapassou os 2% de faturamento da empresa no ano anterior. Depois de quebrar o sigilo fiscal da empresa, a Justiça Eleitoral descobriu que ela não teve ganho algum em 2013. André tentou justificar alegando ter "apenas" emprestado uma Toyota Hilux e dez bicicletas para a campanha. Resultado, acabou condenado à multa e sua empresa não pode participar de licitações e nem ter contratos com o poder público por cinco anos.

A denúncia de ter recebido propina da Odebrecht implode dois sonhos de André Negão. O primeiro seria sair candidato a vereador nas eleições de outubro. Ele é filiado ao PDT. Já estava em campanha extraoficial. Dividiria sua base eleitoral entre a zona Norte, onde nasceu, cresceu e foi bicheiro. Na Vila Maria. E em Heliópolis, periferia da zona Sul de São Paulo. O segundo era ser presidente do próprio Corinthians. Se apresentava como o futuro Obama do Parque São Jorge. Adora usar uma camiseta onde está estampado o slogan do presidente norte-americano. "Yes, we can." Queria suceder Roberto de Andrade já em 2018. E usando seu grande amigo, Andrés, como cabo eleitoral. Conselheiro vitalício, estava certo que seria o primeiro negro a assumir o cargo no clube. André Negão chegou ao Corinthians levado por Jacinto Antônio Ribeiro. Jaça vendia e comprava ouro. Os dois se conheciam do clube amador União dos Operários Futebol Clube. Jaça era conselheiro vitalício do Corinthians. E o teria apresentado a Andrés. Os dois viraram amigos fraternos. E foram cuidar da categoria de base do clube, sob a administração de Alberto Dualib. Isso no início dos anos 2000. A amizade só cresceu. Andrés foi fundador da torcida organizada Pavilhão Nove. Virou representante dos torcedores na diretoria. E fez questão de mostrar que André Negão era o seu braço direito. E seguiria com ele enquanto estivesse no Corinthians. Havia o pacto. Um apoiaria o outro. Eram como irmãos siameses. Estiveram juntos por mais de 15 anos.

Quando começaram a surgir as imagens de André Negão sendo levado pela Polícia Federal, a situação que domina o Parque São Jorge desde 2007, começou a se movimentar. E a estratégia é cruel. Isolar politicamente o ex-bicheiro. Preservar ao máximo a figura de Andrés Sanchez. O grande líder político que garantiu a eleição de Gobbi, Roberto de Andrade precisa ser preservado. Caso contrário, a própria administração Roberto de Andrade fica inviável. Não é segredo para ninguém que Andrés controla o futebol, o Itaquerão, o Corinthians como um todo. Decidiu, por exemplo, a volta de Tite e dispensa de Mano Menezes. Toda compra e venda de jogador passa por ele. Assim também como a folha salarial. Patrocínio master, naming rights. Contas da nova arena. Tem muito mais poder que Roberto de Andrade. Por isso a decisão imediata desvincular a acusação de propina feita a André Negão de Andrés Sanches. A amizade entre os dois era tão grande que quando era o coordenador da CBF, Andrés o nomeou como chefe da delegação da Seleção Brasileira sub-20, em um torneio em Barcelona. "Ele é maior de idade, ele que responda. É meu amigo, mas ele responde. O Corinthians e a Arena são vítimas. Ninguém fez nada errado. Já soltamos nota oficial e tudo será feito como o planejado pela auditoria da obra, para depois vermos se houve propina. "Nós somos vítimas e vamos atrás, e se alguém fez algo errado, pagará, doa a quem doer."

Ou seja, Andrés não hipotecou seu apoio irrestrito a André Negão. Mesmo sendo seu amigo íntimo, funcionário e parceiro das decisões mais importantes no Corinthians. Há mais de 15 anos. André Negão já tinha muita resistência no grupo "Renovação e Transparência" que governa o Corinthians. A denúncia da Lava Jato precipitou as coisas. A decisão da diretoria é pedir que Negão se afaste. Pelo menos enquanto estiver acontecendo as investigações. Até que tudo seja esclarecido. Os dirigentes corintianos gostariam inclusive que deixasse o gabinete do deputado federal do PT. E parasse de representar Andrés Sanches na periferia de São Paulo. André Negão está isolado. E sem apoio. A pressão é imensa por sua saída. Ele não quer. Para que não pareça uma confissão. Mas sua presença como vice-presidente se mostra insustentável. E está afetando o grande nome da situação. Seu parceiro, chefe e "irmão" Andrés Sanchez. Que deverá, inclusive, ser candidato a presidente do clube em 2018.

A escolha entre um ou outro já foi feita.

André Negão está sem saída...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 23 Mar 2016 10:30:06

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