quinta-feira, 17 de março de 2016

Toda a empáfia vazia será castigada. Flamengo segue tentando se enganar. Derrota para o humilde Confiança mostra. Como são pequenos os times dos grandes clubes deste país...

Toda a empáfia vazia será castigada. Flamengo segue tentando se enganar. Derrota para o humilde Confiança mostra. Como são pequenos os times dos grandes clubes deste país...




Para alguém decide ser arrogante, precisa se garantir. Provar que está a altura do olhar de superioridade. Porque a empáfia fica ridícula em caso de fracasso. Por isso, a fisionomia cabisbaixa, envergonhada de Eduardo Bandeira de Mello em Aracaju. Ele teve de sair protegido pelos seguranças. Flamenguistas sergipanos que o reconheceram no camarote, não o pouparam. Cobravam, xingavam, apontavam para o gramado ruim do Batistão. Muitos se sacrificaram para pagar R$ 400,00, R$ 200,00. Preços exorbitantes para a realidade local. Mas a diretoria do Confiança tinha a certeza. Era a oportunidade de 2016. O Flamengo não pisava em Sergipe havia 13 anos. Colocou e vendeu os 15.580 ingressos para o Batistão. Estádio humilde, ultrapassado, de 46 anos. Cujo maior orgulho foi ter servido de treinamento da Seleção Grega na Copa de 2014. A reforma de R$ 25 milhões não disfarça o atraso. Bandeira de Mello transformou uma reivindicação justa em empáfia. Todos os ingressos para a partida da Copa do Brasil de ontem foram vendidos. Antecipadamente. A arrecadação quebrou recorde em Sergipe. Nada menos do que 1.564.700,00. Na competição, durante as primeiras rodadas, se um visitante ganha por diferença de dois gols ou mais, elimina a segunda partida. E fica com 60% da arrecadação. O presidente flamenguista sonhava com cerca de R$ 936 mil. Uma maravilha. Mas se deparou que a arrecadação final apresentada pelo Confiança era de R$ 1.028.399,34. Sumiram R$ 536.300,66. Ou seja, se o clube carioca resolvesse a questão em um só jogo, receberia pouco mais de R$ 600 mil. Bandeira de Mello ficou revoltado.

A diretoria do Confiança alegou que os ingressos foram distribuídos como cortesia para torcedores importantes. E patrocinadores da Copa do Brasil. Quase um terço da arrecadação. Um absurdo. Que a omissa CBF fez de conta que não aconteceu. A revolta flamenguista se tornou arrogância. A diretoria avisou que tudo seria resolvido no campo. Estava claro que acreditava que o time de Muricy golearia. Garantiria os 60% da arrecadação "total" do confronto. A folha de pagamento do Confiança,time da Terceira Divisão, é de R$ 180 mil. A do Flamengo, passa dos R$ 6 milhões. Só o salário de Muricy Ramalho chega a R$ 500 mil. Não havia comparação entre os elencos. Os dirigentes flamenguistas, revoltados com a distribuição de ingressos, queriam não só a vitória. Mas um massacre. Fazer os nobres colegas dirigentes sergipanos passarem vergonha. A chegada da delegação foi emocionante. Os torcedores cercaram o ônibus. Queriam desesperados enxergar seus ídolos. Principalmente Sheik e Guerrero. Sonhavam com um aceno, um sorriso. Um olhar já bastaria. Mas o elenco se manteve impassível. Inatingível. Os fones de ouvidos os transformavam em deuses do Olimpo. Ninguém teria a ousadia de interromper os pagodes, funks e cumbias que estavam chegando aos seus tímpanos.

Depois de fazer o favor de entrar nos humildes vestiários do Batistão, os jogadores estavam prontos. Iriam cumprir sua obrigação. Seria fácil como escovar os dentes, posar para uma selfie, comprar um carro importado sem pagar os devidos impostos. E tudo começou bem demais. Aos oito minutos do primeiro tempo, Elielton acertou violento chute no rosto de Ederson. Oito minutos do primeiro tempo! O poderoso Flamengo teria 82 minutos de tempo normal. E mais os minutos de prorrogação para se deleitar. A vingança estava garantida. Bastaria jogar sério. Não teria como. O técnico Betinho, ex-jogador do Palmeiras, tratou de montar seu time com três zagueiros, uma linha de cinco. E, desde a expulsão de Elielon, apenas Leandro Kivel na frente. Depois de que teve de submeter à operação para a retirada da vesícula, no ano passado, Muricy tratou de fazer algo que precisava há muito tempo. Foi se reciclar. Tentar fugir do "Muricybol", futebol de muita marcação no meio de campo e repetindo até a exaustão, as bolas aéreas. Só foi diferente no Santos, quando teve Neymar. Mas com o melhor jogador do Brasil até Sebastião Lazaroni pareceria Jupp Heynckes. Bebeu da fonte europeia. Foi para a Catalunha.E se apaixonou pela maneira com que o Barcelona desde 2008, quando Guardiola assumiu a condução do time. Com oito anos de atraso, ele descobriu o poder da posse de bola. Ainda não avançou nas triangulações, na flutuação dos meio campistas, que por vezes são volantes e outras, meias. Fluxo, marcação por pressão. Movimentação conjunta de um lado, depois do outro. Jogadas ensaiadas em faltas, escanteios. E até laterais.

Atuação em bloco. Defesa atuando na risca do meio de campo, colada no meio de campo e ataque. Formando um exército invadindo o território, a área adversária. Falta tudo isso ao Flamengo na sua tentativa de imitar o Barcelona de 2008. Diante de um adversário humilde como o Confiança, com um homem a menos, os cariocas tiveram 77% de posse de bola. Mas não souberam o que fazer com ela. Trocas mais de 300 passes de um metro, de lado, carimbar a bola, não significa nada. É preciso penetração, arremates, sincronia. Velocidade, seriedade. Nada disso o time carioca mostrou. E ainda foi castigado com uma patética furada de Rodinei. A bola caiu no pé esquerdo de Everton. O chute foi indefensável para Paulo Victor. Os humildes de Betinho ousaram vencer os Deuses do Olimpo de preto e vermelho. A diretoria do Confiança quase enfartou de tanta felicidade. Ficou com o total da arrecadação. Com o que sobrou da distribuição para os torcedores ilustres, a alegada cortesia. Essa é a regra na Copa do Brasil. Renda total do mandante em caso de vitória. Mas mesmo derrotado, o Flamengo manteve sua empáfia. "A gente não jogou nada. Tivemos chances de matar o jogo e não conseguimos. Eles só tiveram uma chance", dizia Muricy, sem destacar o fato de conseguir perder para um adversário muito inferior tecnicamente. E atuando por 82 minutos com um a menos. Ele deveria se desculpar. Mas isso é algo impensável para os nossos "professores".

"Futebol é isso. Nos reserva surpresas e algumas vezes desagradáveis. Nosso time é muito mais que o deles. Com todo respeito, a equipe deles é limitada. Eles se defenderam completamente durante todo o jogo. Acharam um gol, mas é ter tranquilidade e reverter." Esse é o resumo de Sheik da derrota em Aracaju. Guerrero segue seu ritual. Quando o time perde e ele não marca, não fala. Em Aracaju, o peruano teve sua grande cena. Mostrar a indignação por ter cortado o supercílio direito. Cobrava as autoridades, o FBI, o Departamento de Justiça dos EUA. Como um jogador do humilde Confiança ousou tocar no seu rosto? Machucá-lo? Mereceria prisão perpétua, cadeira elétrica. A Copa do Brasil reserva esses contrastes. O choque de realidade. E prova o quanto o futebol brasileiro segue atrasado. Não nos clubes humildes, sacrificados, longe da mídia e do dinheiro.

Mas os grandes.


Cada vez menores, com jogadores menos talentosos e mais egocêntricos.

Treinadores que copiam esquemas europeus com anos de atraso.

Mas tudo isso não espanta a empáfia, a arrogância.

O futebol deste país comete o pior dos seus erros.

Olha no espelho, faz pose.

E tenta se enganar.

Segue estagnado.

Como são pequenos os times dos grandes clubes brasileiros...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 17 Mar 2016 12:10:56

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