quinta-feira, 3 de março de 2016

Tocaia ao presidente da Gaviões. Dois braços quebrados a golpes de barras de ferro. Aviso, punição, revide? Tudo é possível entre os vândalos. Organizadas: o paraíso da violência, que o Brasil faz de conta que não enxerga...

Tocaia ao presidente da Gaviões. Dois braços quebrados a golpes de barras de ferro. Aviso, punição, revide? Tudo é possível entre os vândalos. Organizadas: o paraíso da violência, que o Brasil faz de conta que não enxerga...




Foi uma cena tenebrosa. Rodrigo de Azevedo Lopes Fonseca e Cristiano de Morais Souza caminhavam distraídos. Estavam andando no estacionamento de supermercado. Iam pegar o carro que os levou ao Fórum de Santana. Eles haviam sido convocados pelo promotor de Justiça, Paulo Castilho. Era perto do meio-dia. Foi quando saíram de uma Tucson, três homens fortes. E armados com barras de ferro. Foram por trás de Rodrigo e Cristiano. E começam a espancá-los. Além de golpes com as barras de ferro, chutes e socos. Quebraram os dois cotovelos de Rodrigo. E arrebentaram vários dentes de Cristiano. Poderiam ter matados os dois. Não quiseram. Quando os viram feridos, se contentaram. Foram embora. Funcionários do supermercado acompanharam a cena com medo. Depois que tiveram a certeza que os agressores foram embora, ajudaram os feridos. Mas eles tinham pressa, queriam sair dali. Não quiseram esperar a polícia. Também rejeitaram registrar a agressão em um Boletim de Ocorrência. Fizeram questão de manter o silêncio. Essa violenta agressão de ontem está mexendo com a Polícia Militar e com o Ministério Público de São Paulo. O motivo: Rodrigo é o presidente da Gaviões da Fiel. E Cristiano, o secretário-geral da torcida. A Polícia Militar tem certeza. Foi uma tocaia planejada nos mínimos detalhes. "Diguinho" e "Cris" tinham de ser espancados, não assassinados. As investigações começaram ontem mesmo. A PM quer forçar os dois a falar. Denunciar quem os agrediu. Os três homens não vestiam camisa de torcida alguma. Há uma grande desconfiança que a covarde agressão tenha origem no que acontece no Fórum de Santana. São Paulo está vivendo um julgamento histórico. E envolve 28 pessoas. 15 integrantes da torcida organizada Gaviões da Fiel e 13 integrantes da torcida organizada Mancha Verde. Os corintianos foram denunciados por homicídio e os palmeirenses por associação criminosa. O motivo são as mortes de André Alves Lezo e Guilherme Vinícius Jovanelli Moreira. Eles eram da Mancha Verde. E foram mortos com golpes de barras de ferro e pedaços de pau. Os assassinatos aconteceram no 25 de março de 2012, na Avenida Inajar de Souza. As circunstâncias foram terríveis. De acordo com a Polícia Militar, André e Guilherme foram mortos em represália à morte do corintiano Douglas Karim da Silva, conhecido como DKS. Ele participou de uma briga com membros da Mancha Verde em agosto de 2011. Mas se desgarrou dos companheiros da Gaviões. De acordo com o relato de policiais, ele espancado, estrangulado. E o corpo foi jogado no Rio Tietê. Tinha 27 anos. Era casado. E deixou uma filha de nove anos.

A PM relata que os corintianos juraram vingança. E se prepararam para o confronto naquele 25 de março de 2012. Descobriram o trajeto da Mancha Verde. Alugaram dois ônibus. E convocaram os que tinham carros a irem também. As armas escolhidas. Cabos de enxada e barras de metal. O ponto de encontro era um bar no Jardim Monte Kemel. Os detalhes da promotoria são impressionantes. E demonstram que nada teria sido por acaso. "Todo mundo aqui, hoje a gente vai pegar o Lezo e vingar a morte do nosso irmão, vamos pegar os porcos. Não é pra ninguém correr, vou fazer parte da linha de frente e é pra todo mundo me empurrar. Mesmo se eu apanhar, também vou estar batendo. Se ver que tamos no prejuízo, é pra empurrar e dar soco, mas não é pra correr. Vamos caçar os porcos." A determinação de um dos organizadores da tocaia foi exata. A ordem era para caçar Lezo (André Alves Lezo). A Gaviões teria a certeza que ele participou da morte de DKS. E por isso foi dada a sua sentença de morte. Em cima de uma mesa de bilhar, aos berros, por esse membro da torcida, ainda não identificado. Depois, foram distribuídas meias de seda femininas. A ordem era colocar no rosto, para evitar a identificação. Foi uma ação de guerrilha. A Mancha Verde havia sido avisada que poderia haver o confronto. Mas não esperava o tamanho da selvageria. Não estava preparada à altura. Nem a PM, que enviou poucos soldados. O comboio de 300 corintianos chegou por trás dos palmeirenses. De surpresa, como havia sido combinado. Já com os cabos de enxadas e barras de ferro na mão, saíram batendo nos rivais e caçando Lezo. A PM relata que, quando o acharam, ele foi cercado por vários membros da Gaviões. Eles o espancaram. E deram o máximo de golpes que puderam na sua cabeça. O mataram lá mesmo. Ele tinha 21 anos.

Guilherme Vinicius Jovanelli também acabou caindo diante dos corintianos. E acabou tendo sua cabeça esfacelada por golpes dos cabos de enxadas e barras de ferro. A Polícia Militar não tem a menor dúvida que foram execuções. Depois desse conflito, as 23 pessoas foram indiciadas. Há 22 testemunhas de acusação. O clima entre as organizadas de São Paulo é de muita tensão. E selvagem agressão a Diguinho é algo que pode não ser tão simples quanto parece. Uma óbvia vingança de palmeirenses. O presidente da Gaviões estava incomodando muita gente. Fazia campanha aberta contra a Federação Paulista de Futebol, contra a CBF, contra a Globo. Contra o deputado do PSDB, Fernando Capez, investigado por recebimento de propina em fraude de merendas escolares.

A relação com Diguinho e outras torcidas também não era boa. A PM também quer investigar a própria Gaviões. Para checar informações que há descontentes na organizada com sua proximidade com o promotor Paulo Castilho, justo quando 15 membros da torcida estão sendo julgados por assassinato. A proximidade de Paulo Castilho com os presidentes das organizadas paulistas não é unanimidade no Ministério Público. Nem na própria Polícia Militar. Muitos soldados acreditam que as organizadas são formadas por "marginais". Não há cabimento a reunião de Castilho com os chefes das torcidas. Há muito privilégio. E nunca é autorizada uma devassa verdadeira nessas organizadas. Não é investigada a presença de criminosos entre os torcedores. Não há a exigência de identificação dos membros nos estádios. Fora o dinheiro que é dado pelos clubes. Tudo é facilitado para os vândalos. Há ainda outro lado. Que é grave, nos bastidores das organizadas. O código de honra foi quebrado, no estacionamento do supermercado. Houve uma tocaia para espancar o presidente da Gaviões. Não há dúvida que Diguinho foi o alvo. O membro mais importante de maior torcida corintiana de São Paulo. A tendência é que haja resposta. Isso não acontecia desde 22 de outubro de 1988. Quando o então presidente da Mancha Verde, Cléo Sostenes, foi assassinado com dois tiros na sede da torcida. Os criminosos nunca foram capturados.

A morte de Cléo acabou com a "ingenuidade" nas brigas das organizadas. Acabaram os confrontos "na mão". Cabos de madeira, barras de ferro, revólveres, facas, bombas caseiras. Nestes 28 anos, tudo foi ficando cada vez mais selvagem. Em São Paulo e no Brasil. Mesmo com as mortes aumentando, os julgamentos e condenações eram raros. Por isso o que acontece no Fórum de Santana é histórico. 28 pessoas podem ser condenadas. A repercussão seria um golpe importantíssimo nas organizadas. Nos vândalos infiltrados. Por isso, a Polícia Militar tem enorme responsabilidade. Precisa capturar e mostrar para a sociedade quem fez a tocaia. Quem agrediu o presidente e o secretário da Gaviões. Se não fizer valerá a lei entre as organizadas.

Será "olho por olho".

Como vem acontecendo nestes últimos 28 anos.


Agressões, espancamentos, assassinatos.

Por culpa da omissão das autoridades.

Preocupadas em preservar as organizadas.

Por quê?

Porque cada torcedor tem título de eleitor.

E vota.

São milhares que usam as cores de milhões.

E políticos não querem correr o risco de medidas impopulares.

Como extinguir as organizadas.

Ou exigir a identificação de quem entra no estádio.

Ou se filia a cada facção.

Para quê?

Correr o risco de perder eleições?

De jeito algum.

Tem sido melhor fechar os olhos.

E deixar esses jovens se matarem.

Não atrapalha carreira política alguma.

Nada é por acaso neste país chamado Brasil...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 03 Mar 2016 11:35:57

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