"Eu tinha fechado um acordo com o Fluminense, fiz um contrato de dois anos. Na quinta-feira, uma pessoa da CBF (um auxiliar do ex-assessor da CBF, Rodrigo Paiva) , que eu não conhecia, foi falar comigo no estacionamento (do Maracanã) e disse que o Ricardo Teixeira (presidente da CBF) queria falar comigo no dia seguinte. O que eu pensei? A Copa era no Brasil, achei que eles teriam um telão, toda programação e todo planejamento até a Copa. Aí, no dia seguinte, cheguei lá, aí vai indo para um lugar estranho, não conhecia muito bem, um clube de golfe, cheio de gente. Pensei: "O que eu estou fazendo aqui?" Desci do carro, um monte de gente. Eu pensei: "Que estranho!" "Sentamos numa mesa de bar. Eu não conseguia conversar. De repente, entrava um cara, depois o garçom, entrava filha de não sei quem. Não teve seriedade. Tem alguns princípios que eu não abro não. Foram 3h30 (de conversa) e não saia muito do lugar. Aí ele (Ricardo Teixeira) fez a pergunta, foi assim mesmo. "E aí Muricy, você é o treinador da seleção"? Aí eu disse que tinha um problema. Ele disse: "Que problema?" Meio arrogante, e eu não gosto de gente assim. Disse que era o Fluminense. "Eu esperava que ele pegasse o telefone e ligasse para o Roberto Horcades (então presidente do Fluminense) e falasse: "Vou tirar o seu treinador daí". Aí ele (Ricardo) disse para eu resolver tudo com o Fluminense. Foi a gota d´agua..." "O São Paulo vem de trocas de treinadores. Não está nessa situação pelo clube, o clube não tem problema. Os estrangeiros saíram e prejudicaram demais o planejamento, porque mudam a maneira de jogar e a filosofia de trabalho. Isso mexe, sim, com os atletas. Não é problema da diretoria, é dos técnicos. "O planejamento foi feito lá atrás. Desde o Osorio, que preferiu ir para o México. O Bauza não tem nada a ver com o Osorio, a maneira de trabalhar era totalmente outra. Ele teve desempenho razoável, apesar de o aproveitamento não ter sido bom, mas pelo menos conhecia o elenco. Depois vem outro treinador. Isso, para o jogador, é a pior coisa, não funciona. Complicou muito." "Eu não fujo das coisas. São meus amigos, conheço as pessoas que estão lá, mas eles podem "matar" um jogador (com a contratação do Leandro Damião) que é o Vizeu, porque tem o Guerrero e o moleque, que está fazendo gol há algum tempo. A não ser que que eles tenham alguma coisa à frente para vender o Guerrero. Se não acontecer isso, tenho minha opinião - e posso falar com eles - que realmente não foi legal porque vai tirar a oportunidade de um atacante que pode ser um grande jogador. Pode ser que eles tenham algum pensamento com o Guerrero, a gente não sabe de tudo, mas, se não acontecer, vai ser prejudicado o menino." Todas opiniões fortes, fundamentadas, por quem é campeão da Libertadores, tetracampeão brasileiro, vencedor da Conmenbol, tricampeão paulista, bicampeão gaúcho, bicampeão pernambucano. Vice mundial.
E, por coincidência, assumidas no Sportv. Aos 60 anos, Muricy Ramalho só não é treinador do Flamengo porque uma grave arritmia cardíaca o impediu de seguir trabalhando à beira do gramado. A decisão, com toda a pressão da família, foi em maio. O drama de Telê Santana, que teve uma isquemia cerebral, também pesou. Cinco meses depois de ter abandonado a profissão de treinador, ele continua obcecado por futebol. Acompanha todos os jogos que pode. Sente a falta da adrenalina da competição. Já está com a vida financeira resolvida. Pode e oferece conforto para a esposa e filhos. Só que quer continuar a trabalhar. Já anunciou sua vontade de trabalhar como dirigente. Para aproveitar toda sua experiência de 43 anos no futebol, como ótimo jogador que foi e como técnico vitorioso. Ainda mais depois de tudo que viu no Barcelona, no seu rápido, porém intenso estágio que passou na Catalunha. E que começava a implantar na modernização do Flamengo. Só que os presidentes dos grandes clubes brasileiros mostram receio de apostar em Muricy como dirigente. O motivo é a sua personalidade franca, sincera e, muitas vezes, explosiva. Nos 43 anos de profissão, nos bastidores do futebol brasileiro, onde todos falam mal de todos, não há a menor suspeita sobre ele. É uma pessoa correta, honesta. Não é de se calar ao perceber algo errado. Compactuar com o que não concorda. Suas palavras têm peso na imprensa. Repercutem. Para o bem ou para o mal. Não é uma pessoa que aceita ser manipulada, controlada.
Além disso, é caro. Nos últimos dez anos sempre esteve entre os cinco técnico com maior salário do país. Ou seja, bem ao contrário do que costumam receber os executivos de futebol. Essa personalidade forte e preço alto não combinam com dirigentes ditadores, que sabem ter seus clubes muitos problemas que gostam manter escondidos da opinião pública. Por isso, essa experiência de Muricy Ramalho está para ser aproveitada de outra maneira. Ele recebeu uma proposta para ser comentarista de tevê. A cúpula do Sportv negocia. O quer para analisar os jogos mais importantes do canal a cabo da tevê Globo. E ser participante constante do programa Bem, Amigos de Galvão Bueno, narrador com quem se dá muito bem.
As tratativas estão em sigilo. Mas seguem firme. A possibilidade de acerto é grande. O Sportv usa nos seus debates os ex-jogadores Casagrande, Caio e Júnior, que trabalham na Globo. Nas transmissões, tem os ex-atletas Belletti, Carlos Alberto Torres, Willian, Roger, Ricardo Rocha, Edinho, Batista, Paulinho Criciúma. Além de vários jornalistas. Muricy seria uma excelente aquisição. Como abandonou a carreira de treinador poderia opinar livremente sobre a Seleção, campeonatos nacionais e internacionais. Nos próximos dias, haverá a definição. Hoje, dia primeiro de outubro de 2016, há muito otimismo no ar...
Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 01 Oct 2016 11:52:43
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