terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Desnorteado, São Paulo sofre sem a liderança de Rogério Ceni. E a diretoria não reserva um lugar como dirigente para o ídolo. Tem medo da força de seu eterno capitão...

Desnorteado, São Paulo sofre sem a liderança de Rogério Ceni. E a diretoria não reserva um lugar como dirigente para o ídolo. Tem medo da força de seu eterno capitão...




A greve do silêncio foi o melhor exemplo. A diretoria do São Paulo devia salários, direitos de imagem e premiação pela classificação à Libertadores. Os jogadores estavam irritados. Mas ninguém teve coragem de cobrar o presidente Carlos Augusto Barros e Silva. Foi quando os atletas decidiram que o caminho seria não dar entrevistas, a partir da partida contra o Strongest no Pacaembu. A previsão era de uma vitória fácil. E os jornalistas atônitos pelo silêncio. Ninguém supôs a possibilidade da derrota. Ela veio. E deixou tudo patético. O time perdeu para os bolivianos e os jogadores calados. O capitão Michel Bastos e Ganso queriam que o plano fosse mantido. Lugano percebeu a bobagem e furou a greve. E incentivou outros. Esteve longe, no entanto, de ser unanimidade. Sem condições físicas de atuar em todos os jogos, com alto nível, o uruguaio não é ainda o grande líder do elenco. Longe disso. Ele sofre resistências. Outro vazio claro está em relação às simples cobranças de faltas. Denis treina como um alucinado. Ganso também. Michel Bastos idem. Assim como Alan Kardec. Thiago Mendes. Durante as partidas a indefinição atrapalha. Tira a concentração de quem se dispõe a bater. Quem não cobra, se incomoda. O mesmo vale para os pênaltis. Contra o Cesar Vallejo, Calleri decidiu cobrar. Se dirigia à bola. Mas Michel Bastos não deixou. O argentino, acabrunhado, obedeceu. O meia perdeu, acertou a trave. O São Paulo sofre com a abstinência de Rogério Ceni. O clube vive a ressaca da ausência do maior ídolo de todos os tempos. E ainda tateia como viver sem ele. Por mais que Lugano tenha a personalidade forte, não é tão respeitado pela diretoria como Ceni. Leco, Ataíde e Gustavo Vieira ouviram seu pedido para que não haja mais atrasos de salários. Mas seu apelo não teve a ressonância do que dizia Rogério. Todo o elenco sabia que o ex-goleiro não precisava de visitas dos dirigentes aos vestiários. Ele ia até a sala da presidência para colocar seus pontos de vista. Reivindicar, cobrar. As portas eram escancaradas para o jogador. Os dirigentes o mandavam chamar diante dos outros atletas. Por isso seu apelido era de "presidente".

Michel Bastos acreditou que seria o herdeiro natural de Ceni. Por causa de sua vivência na Europa, na Seleção Brasileira. Mas, egocêntrico, acabou rejeitado pelo grupo. Lugano seria a escolha mais óbvia. Campeão mundial e da Libertadores no Morumbi, capitão por sete anos da Seleção Uruguaia. Com o apoio do próprio Ceni, o veterano jogador está tentando se impor. Só que também não é unanimidade. Ninguém no atual elenco foi seu companheiro em 2005. Sua avaliação para muitos é o de atleta que tem o respaldo da imprensa e da torcida. Mas, aos 35 anos, não exerce uma liderança técnica, com a bola nos pés. Rodrigo Caio tenta se impor. É dedicado, tem personalidade forte, espírito competitivo. Mas é muito jovem. Aos 22 anos, ele não consegue se fazer ouvir por atletas rodados como Paulo Henrique Ganso, Michel Bastos, Carlinhos, Mena. Muito menos pelos dirigentes. Há um vazio. Sem querer, Edgardo Bauza aumentou essa sensação. Esperto, soube que vazou para a imprensa que Michel Bastos foi o líder da greve do silêncio. E que Lugano furou o movimento. Rachou o grupo. O treinador argentino tomou uma decisão salomônica. Nenhum dos dois foi capitão da equipe. Escolheu Denis. O goleiro que ficou por sete anos na reserva de Rogério Ceni não tem personalidade para o cargo. Mas ocupa a postura neutra. Não toma partido de lado algum. Não incomoda ninguém. Só que não é o líder que o São Paulo precisa. Até ele mesmo sabe. Tanto que estranhou demais receber a importante faixa.

Foi exageradamente teatral a chegada da tarja para o goleiro. Com Lugano sendo escolhido para colocá-la. A cena acabou registrada, fotografada pelo clube. E a imagem divulgada. Inocentes comprariam a ideia de pacificação. O que está longe de ser verdade. Há uma divisão de postura. Falta alguém com capacidade para unificar time, dirigentes e torcida. Mas e Rogério Ceni? O ex-goleiro segue em férias. Repartindo seu tempo entre os Estados Unidos, tem casa na Flórida. Mato Grosso, onde vive seu pai. E esporádicas vindas a São Paulo.

Seu futuro está longe de estar definido. Sua maior tendência é ser treinador de futebol. Amigos garantem que ele já tem prometido um estágio com Guardiola. Como o espanhol está no final de seu período no Bayer, seria mais simples aprender seus métodos no Manchester City, na Inglaterra, no segundo semestre. Rogério pode fazer o curso de treinador em Portugal ou na CBF. Ao contrário do que poderiam supor seus fãs, se ele quiser ser dirigente, seu caminho não está tão aberto no São Paulo. Os homens que comandam o clube sabem da força política do maior ídolo da história. Leco, por exemplo, conhece profundamente sua personalidade forte. Há sérias dúvidas se Ceni obedeceria ordens com as quais não concordasse. Sempre foi transparente e pouco maleável. Não há nenhuma ansiedade. E nenhum cargo reservado na atual diretoria do São Paulo para o ex-goleiro. Leco está satisfeito com Gustavo Vieira na gerência. Não vê a necessidade de ter um coordenador. Um elo entre o time e os dirigentes. Não um que não possa controlar.

Outro fator também é financeiro. Rogério Ceni por anos foi o maior salário do clube. Encerrou sua trajetória de 25 anos recebendo R$ 700 mil mensais. Hipoteticamente, um coordenador não ganharia muito mais do que R$ 100 mil mensais. O goleiro sabe que seu nome seria escudo valioso. Desviaria o foco de crises envolvendo treinadores, dirigentes, jogadores. Suas presença valeria muito mais do que R$ 100 mil. Mas há sérias dúvidas na cúpula do Morumbi. Se valeria contratar alguém com tanta influência na mídia e entre os torcedores. Ainda mais caro e difícil de controlar. No cenário atual, não há lugar reservado para ele. Enquanto ainda aproveita as férias, Rogério Ceni só tem uma decisão tomada. Deverá começar a fazer palestras pelo Brasil. Em faculdades e empresas. Luiz Felipe Scolari, Bernardinho, Gustavo Kuerten, Tite cobram mais de R$ 50 mil para duas horas de conversa. Deve também participar de esporádicas aparições na tevê. Mas não deseja ser comentarista efetivo, apesar do interesse de grandes redes.
E ainda aproveita sua idolatria. Recebe dinheiro sobre a venda de inúmeros objetos. Chaveiros, bolas, troféus, relógios, bustos, camisas. Soube amarrar esses contratos. Enquanto isso, o São Paulo sofre. Tenta aprender a viver sem Rogério Ceni. Está mais difícil do que se poderia esperar. Sua sombra ainda é gigantesca...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 23 Feb 2016 10:38:24

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