segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Um vexame chamado Maracanã. Odebrecht quer devolver. Governo do Rio não aceita. Olimpíada serve para disfarçar o fracasso do consórcio falido. Fla-Flu, pelo Carioca, é jogado em Brasília. É muita pouca vergonha...

Um vexame chamado Maracanã. Odebrecht quer devolver. Governo do Rio não aceita. Olimpíada serve para disfarçar o fracasso do consórcio falido. Fla-Flu, pelo Carioca, é jogado em Brasília. É muita pouca vergonha...




É a vitória da hipocrisia. Do fingimento. A 31ª Olímpiada começará no dia 5 de agosto. No Rio de Janeiro. O principal palco será o Maracanã. Onde acontecerão a abertura e a cerimônia de encerramento, no dia 21 de agosto. Mas o estádio que representa o futebol brasileiro está fechado. Em 2016 só Carnaval, "Fextinha" de música eletrônica. E Rolling Stones. Em abril, Coldplay. A previsão é que o Maracanã só volte a ser usado por clubes brasileiros em outubro. O Comitê Olímpico assumirá o estádio a partir de março. O grande incentivador para espantar o futebol do estádio é justamente quem deveria brigar por ele. A concessionária que ganhou o controle do estádio. Mas ela não tem o menor interesse. Os motivos são importantes. A Odebrecht está por trás dessa concessionária. A construtora está implodindo graças às acusações da operação Lava-Jato. Não tem mais o menor interesse em seguir administrando o estádio. Já avisou ao governo estadual do Rio de Janeiro. Só que o contrato assinado em 2013 tem validade por 35 anos. O sonho de grande faturamento acabou há muito tempo. Administrar o estádio foi um péssimo negócio. O prejuízo em 2013 foi de R$ 48 milhões. E em 2014, chegou a R$ 77 milhões. A Odebrecht tem 95% do consórcio e a AEG, os outros 5%. A AEG acaba de se desligar da arena do Palmeiras. Negociava com o Morumbi. Mas seus representantes se mostram desanimados com a recessão brasileira e pensam em abandonar o país. A estimativa no balanço de 2015 é de enorme prejuízo. Talvez atingindo a marca de R$ 100 milhões. O governo do Rio de Janeiro desde 2014 vem repetindo que não aceita simplesmente o Maracanã de volta. A Odebrecht e a AEG garantem que não há multa estabelecida em caso de devolução. O que seria uma estranha omissão no contrato. O governo carioca também não confirma a obrigação de multa.

Para a construtora, o problema é simples. A recessão fez o futebol brasileiro pobre de ídolos. E a população não tem dinheiro para desperdiçar. Rejeita pagar caro por espetáculos pobres. Os clubes alegam que os gastos são inviáveis com o Maracanã. Precisam gastar em média R$ 600 mil. E tentar ficar com o lucro. Mesmo nos clássicos isso deixou de valer a pena. Melhor levar para arenas como Brasília, onde os organizadores garantem R$ 1 milhão no mínimo para os clubes envolvidos. Como aconteceu entre Flamengo e Fluminense neste domingo. Válido pelo Campeonato Carioca, foi disputado no Distrito Federal. Fosse em Portugal, seria piada. Aqui é "gestão". A Odebrecht e a AEG se dizem traídas pelo governo do Rio. O acordo previa construiria estacionamentos e lojas nos locais onde hoje permanecem o Museu do Índio, o Parque Aquático Júlio Delamare, o Estádio de atletismo Célio de Barros e a Escola Municipal Arthur Friedenreich. As demolições, previstas no edital de licitação, acabaram depois sendo suspensas pelo então governador Sérgio Cabral. Com as lojas e os estacionamentos, a previsão de lucro anual era de R$ 19 milhões. Mas devido à repercussão política negativa, o governo carioca voltou atrás. E proibiu as demolições, que estavam combinadas. Os gastos de manutenção do Maracanã chegam a R$ 32 milhões anuais.

Por isso a hipocrisia de entregar o estádio em março. Mesmo com a Olimpíada marcada para agosto. O estádio está pronto. Foi reconstruído há três anos. Não haverá mudanças radicais para a competição. Só o ajuste político para que a construtora não perca mais dinheiro. "É o maior espetáculo do planeta. A maior audiência esportiva da história é a cerimônia dos Jogos de Londres. Então, precisamos preparar essa cerimônia do jeito certo e com antecedência. Assumindo o Maracanã mais cedo, podemos fazer os ensaios maiores para a cerimônia de abertura. Desde 2014, estamos tentando negociar com o governo do estado para assumir o Maracanã mais cedo com foco na cerimônia", diz o diretor de comunicação do Rio 2016, Mario Andrada. Andrada faz seu trabalho bem. Por anos ele foi o responsável pela Nike na Seleção Brasileira. E sabe como usar as palavras para tentar disfarçar crises. Joga o jogo. As cúpulas de Flamengo e Fluminense ficaram mais do que satisfeitas com a partida de ontem no Mané Garrincha. Os organizadores também. A renda foi de R$ 2.388.360,00. E 32.024 pagantes. Os preços cobrados foram entre R$ 60,00 e R$ 360,00. Para efeito de comparação. Fluminense e Tigres, pelo mesmo Carioca, levaram 799 pagantes a Volta Redonda. Os preços dos ingressos? R$ 20,00 e R$ 10,00. A direção do Botafogo já avisou que também coloca à venda seus clássicos pelo Carioca. Joga onde for. Desde que a taxa chegue perto do R$ 1 milhão pago a Flamengo e Fluminense. O Vasco é o único que, por enquanto, não aceita sair do Rio de Janeiro no estadual. Clássicos fora do estado de origem no Campeonato Nacional já é indecente. Por um torneio estadual é bizarro.


O presidente da Federação Carioca, Rubens Lopes, era contrário em janeiro a esses clássicos do Estadual fora do Rio. Mas teve de ceder. A Globo não queria mostrar os jogos em Macaé, Volta Redonda ou em São Januário. Transmissão difícil, estádios pequenos, ultrapassados. Péssima propaganda do torneio. Rubinho apenas não quer o que seria a desmoralização total do Carioca. A disputa das finais e semifinais fora do Rio de Janeiro. Como em Manaus, Belém, Teresina, Brasília. A Odebrecht e a AEG não querem nem pensar em tirar o Maracanã do controle do Comitê Organizador da Olimpíada. A solução está na liberação do Engenhão, que também servirá à competição. A situação da organização do futebol do Rio de Janeiro é caótica. Mistura incompetência com ingerência política. E afasta o estádio mais representativo do Brasil do futebol.

Há a esperança que, depois da Paralimpíada (não se escreve mais Paraolimpíada) o governo carioca aja. E promova uma nova concorrência para o estádio. Livre a Odebrecht e a AEG do compromisso de mais 32 anos. Sem multa. Seria fundamental que Flamengo e Fluminense se unissem de verdade. E se comprometessem a administrar o estádio, já que não possuem os seus. Esse é o sonho. Para banir grupos aventureiros da administração do maior estádio do Brasil. Fla-Flu, pelo Carioca, disputado em Brasília... Maracanã fechado em fevereiro para Olimpíada em agosto. É muita pouca vergonha...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 22 Feb 2016 11:40:31

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