quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Meia tonelada despenca do teto do Itaquerão. O estádio do Corinthians, construído às pressas, tem problemas sérios, como infiltrações. Sede de Libertadores e Olimpíadas, precisa passar por vistoria rígida. Para evitar o risco de uma tragédia...

Meia tonelada despenca do teto do Itaquerão. O estádio do Corinthians, construído às pressas, tem problemas sérios, como infiltrações. Sede de Libertadores e Olimpíadas, precisa passar por vistoria rígida. Para evitar o risco de uma tragédia...




Foi cerca de meia tonelada, 500 quilos que desabaram. Um pedaço do teto do Itaquerão. 31 metros quadrados. Em pleno hall do setor Oeste, no setor Vip do estádio. A providência divina fez com que caísse na quinta-feira, dia 18, quando não havia partida. O Corinthians não jogava. E, graças aos céus, ninguém foi ferido. E se o teto desabasse, por exemplo, durante uma partida da Libertadores? Ou das Olímpíadas, que a arena sediará dez jogos em agosto? 500 quilos de gesso e madeira. Ninguém duvida. Haveria uma tragédia. A situação é muito preocupante. Exige responsabilidade, fiscalização dos órgãos públicos. E força política para, se preciso, enfrentar a pressão de lidar com o clube mais popular de São Paulo. E até interditar o estádio. Vidas não podem ser expostas. A arena foi inaugurada há menos de dois anos. Denúncias de vazamento foram feitas por cerca de dez lanchonetes, em janeiro. "Houve vazamento de água pelo teto, pontos de alagamento e danos na pintura", denunciou o blog do Perrone. "Confirmo que teve infiltração em oito ou dez lojas dos setores norte, sul e oeste. Agora vamos fazer um relatório para o consórcio que cuida do estádio sobre o que aconteceu", disse Juliano Aniteli, sócio diretor da AR Fast Food, concessionária das lojas de alimentação do estádio. As chuvas de janeiro já haviam aberto dois enormes buracos na entrada do estádio. O maior apareceu perto da entrada do setor Norte. A 20 metros de onde caiu um guindaste, na tragédia que vitimou dois operários, quando a arena estava sendo construída. O outro buraco, também no terreno do estádio, fica perto da Radial Leste. O Corinthians tem um relatório do escritório de arquitetura Coutinho, Diegues, Cordeiro. Contratado para fazer o projeto do estádio. Nele constam vários itens que não foram concluídos, apesar de prometidos. Fechamento inferior da cobertura, acabamento das vigas laterais das arquibancadas, projeto paisagístico e plena utilização do gigantesco painel de led na fachada Leste.

O escritório afirma que as obras eram de responsabilidade da Odebrecht. Acontece que, desde que a operação Lava Jato começou, tudo ficou paralisado. O presidente da construtora, Marcelo Bahia Odebrecht, está preso desde junho de 2015. O diretor-presidente da construtora Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Junior, também. Ele é o responsável pela construção do Itaquerão. A Odebrecht divulgou ontem uma nota explicando o que aconteceu. "Uma pequena parte do forro de gesso e madeira, com 9 m x 3,5 m [31,5 metros quadrados), desprendeu-se da laje de concreto na última quinta-feira, dia 18/02, no lado oeste, nível 5, na Arena Corinthians. "No incidente, o material caiu no piso e já foi retirado do local. O reparo está em andamento e será concluído em até 15 dias. Por precaução, a empresa que realiza os reparos - a mesma que fez o serviço inicial de instalação do forro- está reforçando a nova estrutura que suportará o forro." A suspeita é que as infiltrações denunciadas pelas lanchonetes podem ter afetado o teto. O Itaquerão foi o estádio que deu mais problemas na história das Copas. A dificuldade na liberação do R$ 1,2 bilhão envolvidos na sua construção fez com que atrasasse. A correria nas obras não foi segredo para ninguém. Turnos pela manhã, tarde e noite garantiram que o estádio estivesse em pé.

Mas foi o único na história dos Mundiais que foi inaugurado sem um evento que testasse toda sua capacidade. O que é um grande absurdo. Dos 68 mil lugares, só houve um jogo para 40 mil pessoas, entre Corinthians e Figueirense. Os 18 mil lugares da arquibancada móvel só foram usados pela primeira vez na abertura do Mundial. Inacreditável mas real. Aconteceu. Morreram três trabalhadores durante a construção da arena. O então presidente da Fifa, Joseph Blatter, chegou a pedir a "Deus e Alá" que o estádio estivesse pronto para a Copa do Mundo. Seria cômico, se não fosse trágico. A repercussão negativa da queda do teto se torna outro obstáculo para a sonhada venda dos naming rights do estádio. As negociações já eram difíceis. A arena já é chamada de Itaquerão desde 2010. A recessão que o país está mergulhado é outro empecilho. Agora ter o seu nome em um estádio inseguro é tudo o que qualquer empresa não deseja.

O homem que manda no Corinthians, o deputado federal do PT, Andrés Sanchez, nada falou sobre a queda do teto. Se calou ontem. Ele sabe o quanto essa situação trava suas negociações sobre o naming rights. E mais do que isso. Precisa dar a garantia que a arena é segura para os torcedores que estão para lotá-la nos jogos da Libertadores. Na Copa do Brasil. Nas Olimpíadas. Mas até agora, o silêncio. A situação é muito grave.

O Corinthians tem muito poder politicamente. A arena foi construída com a proteção assumida do governo federal. O envolvimento do ex-presidente Lula é uma realidade. Ela já está em pé. E envolvendo muito dinheiro público, isso é irreversível. O mínimo que se exige é que seja segura. Que 500 quilos do teto não caia sobre as pessoas. Uma vistoria séria, responsável e imparcial seja feita na arena. Desta vez a sorte ajudou. E ninguém se machucou. O aviso foi dado. A hora das autoridades agirem de verdade é agora.

Fiscalizar e até interditar, se for preciso.

Ou irão ficar esperando acontecer uma desgraça no Itaquerão?



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 24 Feb 2016 07:25:16

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