
Vanderlei Luxemburgo da Silva nunca foi santo. Muito pelo contrário até. O avô de 62 anos já se meteu em todo tipo de confusão. Com manicures, secretárias, problemas com a Receita Federal, falsidade ideológica, alteração na data de nascimento, processo por não pagar empréstimo a Edmundo, demissões e mais demissões vexatórias. Mas o que a Federação Carioca de Futebol fez com ele, não tem cabimento. Luxemburgo foi vítima de censura, teve a sua liberdade de expressão tolhida, como nos tempos da Ditadura Militar. Não estará comandando seu time no Fla "Tem de dar porrada na Federação. Vou impedir o Bressan de ser convocado para a Seleção Olímpica? A federação só quer que tenha cinco amadores (juniores) inscritos. Tenho o Leonardo. O trabalho na base do Flamengo é excelente. Não temos quatro, temos cinco zagueiros. Um convocado, o Bressan. O Samir está lesionado e o Wallace suspenso. Temos 23 jogadores, mais quatro a sete no departamento amador. "Aí acontece tudo para que a gente possa pegar um no departamento amador. Hoje tenho o Sávio, Jorge, Baggio e o Vavá. Não poderia pegar um zagueiro também? Não porque só pode pegar cinco dos juniores e já tinha o Daniel como terceiro goleiro. O culpado sou eu ou o futebol que está sendo feito de maneira equivocada? O que posso falar?" Seu desabafo lhe custou dois jogos de suspensão. No Rio de Janeiro é proibido pelo regulamento criticar a Federação Carioca, os dirigentes e o próprio insignificante torneio. Por meio da força, o presidente Rubens Lopes, quer a hipocrisia. Inteligente, ele sabe muito bem do baixíssimo nível técnico, da falta de representatividade, de interesse sobre a competição. Mas exige a falsidade. "Não vão me calar", bradava Luxemburgo, colocando um pedaço de fita isolante na boca. O gesto teatral não tem força alguma na prático. O treinador é um grão de areia diante do poder dos dirigentes. Rubens Lopes sabe que o Carioca é o seu grande momento no ano, quando presenteia os falidos clubes pequenos com jogos contra Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo. E se manter no poder. É a hora de encher o caixa com taxas absurdas, ridículas em todos os jogos. A época do ano em que exerce sua autoridade, deixa de quatro equipes tradicionais, importantíssimas, com milhões de torcedores.

Há décadas sempre foi assim. E Rubens Lopes só repete o que todos os presidentes das federações espalhadas no Brasil fazem. Talvez apenas com mais crueldade. Com um enorme aliado, Eurico Miranda, que voltou das cinzas graças à incompetência de Roberto Dinamite. Articulado, Lopes faz com que os clubes pequenos e as ligas tenham o mesmo poder de votos de Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco. Rubinho iguala a todos por uma falsa democracia. Não leva em conta a representatividade. Ele é esperto. Domina os clubes pequenos e as ligas com empréstimos e doações para que eles não acabem falindo literalmente. Mais o apoio do truculento Eurico, ele faz o que quer. Flamengo e Fluminense são massacrados em qualquer votação. A diretoria do Botafogo tem se mantido neutra. Não compra briga de lado algum. Foi assim que passou a lei da mordaça. Porém a confusão mais profunda aconteceu em relação aos preços dos ingressos. Lopes queria mais público no fraco Carioca. E tratou de impor preços baixos demais. Principalmente para a realidade do Maracanã. Jogos entre pequenos custariam R$ 20,00 inteira e R$ 10,00 meia. Entre grandes e pequenos, fora do Engenhão e do Maracanã, ficariam entre R$ 50,00 inteira e R$ 25,00 meia. Nos dois estádios maiores iriam do mínimo, R$ 20,00 ao máximo de R$ 80,00. O grande problema ficou para os clássicos no Maracanã. De R$ 25,00 a R$ 100,00 aos sábados e domingos. E nas quartas, às 22 horas, os preços seriam de R$ 20,00 a R$ 40,00. Houve uma revolta de Flamengo, Fluminense e do consórcio que administra o estádio. Não valeria a pena abrir a nova arena para essas partidas. O movimento foi tão grande que chegou até ao governo do Rio de Janeiro. Só com a intervenção "branca" do governador Luiz Fernando Pezão é que tudo foi resolvido. Rubens Lopes recuou e os clubes passaram a ter o direito de decidir quanto cobrar por seus jogos.

Mas o rancor ficou. Rubinho sabe que foram as diretorias de Fluminense e Flamengo que agiram contra ele. E mais. Sabia que os dois maiores rivais estão articulando a criação de uma liga independente. Para que não fiquem sujeitos aos desmandos da Federação. Por isso, bastou Luxemburgo criticar o esdrúxulo limite de cinco juniores e veio a sanção. Ele trabalhou contra o Bangu graças a um efeito suspensivo. Mas contra o Fluminense não ficará no banco. O STJD acaba de reconsidera a liberação para que pudesse trabalhar amanhã. Foi uma demonstração explícita da força da Federação Carioca. Recado para a direção do Flamengo de quem é que manda no Rio de Janeiro. Os presidentes de Fluminense e Flamengo revelaram absurdos. Peter Siemsen e Eduardo Bandeira de Mello denunciam que assinaturas de presença nas reuniões são usadas como se fossem atos de concordância. "Nós chegamos para as reuniões e assinamos a lista para provar que estávamos lá. E essas assinaturas são mostradas como se concordássemos com as decisões do presidente da Federação. Isso é ridículo, absurdo", diz Bandeira de Mello. O dirigente flamenguista afirma que já foi xingado dos mais terríveis palavrões por Rubinho. E que vai processá-lo.

Isso é o de menos. O sonho de Siemsen e de Bandeira de Mello seria a criação da Liga Independente. Com força para negociar direto com a televisão, decidir os preços de ingressos, onde os jogos aconteceriam, a fórmula do Campeonato Carioca. Só que Rubinho ri da iniciativa. Por quê? Por ser ilegal. A Fifa só reconhece os campeonatos no Brasil com o aval da CBF. A CBF só avaliza aqueles organizados por suas federações. "O Flamengo e o Fluminense podem criar a liga que quiserem. E organizar qualquer campeonato. Mas primeiro precisam pedir desfiliação da Federação Carioca. E daí passariam também a não poder disputar torneios da CBF, da Conmebol, da Fifa", diz, Rubens Lopes. Ele é cruel. Sabe muito bem o quanto os clubes estão amarrados. É muito mais cruel e mão de ferro do que o falecido Caixa d"Água, Eduardo Vianna. Com o apoio da legislação, da truculência de Eurico Miranda, da omissão da direção botafoguense, ele consegue não só travar, mas ironizar clubes poderosos como Flamengo e Fluminense. Desesperados, os rivais pensam até em nem disputar o Carioca de 2016 com suas equipes principais. Excursionariam durante o torneio. E colocariam reservas e os tais cinco juniores para jogar o torneio. Só que para excursionar, Flamengo e Fluminense precisam da liberação da Rubens Lopes. E é evidente que ele não dará. O que acontece no Rio de Janeiro é o mesmo em todo o país. Como o escudo da Fifa, da Conmebol e da CBF, as federações fazem o que querem. Por isso os insignificantes Estaduais não morrem. Podem diminuir e terem cada vez menos audiência, menos público. Mas a estrutura do poder do futebol no Brasil é esta. Arcaica, ditatorial, improdutiva e, por causa de dirigentes que agem como governadores de capitanias hereditárias, nada muda. Pouco importam os vexames. Como no ano passado, quando o Flamengo foi campeão da Taça Guanabara diante do Botafogo para apenas nove mil pessoas no Maracanã. Quase 70 mil lugares ficaram vazios. A média de público da competição em 2014 foi de inacreditáveis 2.428 torcedores! Siemsen e Bandeira de Mello sabem. Sua luta é mais do que válida. Só que a chance de sucesso é nula. A Fifa protege a CBF de uma necessária intervenção governamental no futebol deste país. Uma modernização. Ela não acontece porque a legislação foi feita para isso. É viciada, feita para que o poder se perpetue nas mãos de poucos.

Fica o desafio. A Fifa ameaça desfiliar o Brasil e sua seleção pentacampeã do mundo em caso de intervenção na organização do seu futebol. Ela tem de continuar nas mãos de pessoas como José Maria Marin, Marco Polo del Nero, Rubens Lopes ou Zeca Xaud, simpático presidente da Federação de Futebol de Roraima por 41 anos. Caberia ao governo de Dilma Rousseff comprar a briga. E desmontar o sistema de capitanias hereditárias. A começar pela maior delas, instalada no Rio de Janeiro, na supervalorizada Barra da Tijuca, valendo mais de R$ 100 milhões. Mas a bancada da Bola, deputados, senadores, governadores e ministros ligados à CBF e as federações impede. Trava o governo, não o deixa enxergar o atraso que domina o futebol brasileiro. E o torna o último refúgio para os tristes ditadores na América Latina...

Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 03 Apr 2015 12:42:23
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