"O senhor está formalmente indiciado pela Justiça americana, acusado de participação em um esquema criminoso que envolve mais de US$ 200 milhões em recebimento de propinas. Até então o senhor negava ser o conspirador da denúncia inicial. E agora? Como negar a sua participação nesse esquema?" "Eu vou provar que há um equívoco muito grande nesse indiciamento do governo americano. Pedi licença para me defender." "O senhor colocou mais de quatro deputados federais na CBF. Por quê?" "Ué, porque eles gostam de futebol." "A minha mãe também gosta." "O senhor não viaja para fora do Brasil com medo de ser preso?" "Não tenho motivo para ser preso." "Motivo tem de sobra para o senhor ser preso. Tem vários motivos, corrupção, formação de quadrilha. O senhor além de ser corrupto, ladrão, também é mentiroso." A sucessão dos diálogos entre Romário e Marco Polo del Nero foi constrangedora. Transmitida para o Brasil todo pela tevê. E para o mundo pela Internet. Um senador da República humilhando o presidente da Confederação Brasileira de Futebol em praça pública. Com direito a mostrar as doações feitas por Marco Polo a suas ex-namoradas, com idade para serem suas netas. Em dinheiro. R$ 1,14 milhão para Carolina Gala. Já Carolina de Oliva Muniz Ferreira recebeu menos. R$ 130 mil. Quantias assumidas no Imposto de Renda e não em transações bancárias.
Vitória incontestável de Romário, certo? Marco Polo percebeu que sua licença se transformará em renúncia, correto? Nada disso. Outra vez, o presidente da CBF tem certeza que saiu fortalecido de Brasília. Ouviu todas as ofensas de Romário. Sentado na mesma mesa. Com sangue frio extraordinário. Ficou muito claro o quanto foi instruído por seus advogados caríssimos. Estava preparado para ser ofendido, humilhado, de todas as maneiras. Mas agia com a certeza que não passaria disso. Ofensas, provocações e perguntas sobre José Maria Marin, COL, Copa do Mundo, contratos da CBF. Questionamentos sobre propina, corrupção. Medo de viajar para o Exterior. Fuga da Suíça, quando o ex-presidente da CBF foi preso pelo FBI. Ilações. Marco Polo del Nero avisou seus aliados na CBF e na Federação Paulista que está tudo bem. A eleição do coronel Antônio Carlos Nunes, para a vaga de José Maria Marin, foi feita com sucesso. Garantiu a manutenção do seu poder em caso de ser obrigado a renunciar. Mais velho do que seu inimigo Delfim Peixoto, o coronel Nunes assumirá se Del Nero tiver de abandonar o cargo definitivamente. Mas não é a sua impressão. Marco Polo saiu de Brasília convicto que cumprirá seu mandato. Tem a certeza de que se não será a CPI do Futebol que o tirará de cena. Mesmo com a acusação formal do FBI e do Departamento de Justiça de corrupção, de receber propinas em contratos comerciais da CBF, ele segue tranquilo. A juíza Débora Valle de Brito, da 9ª Vara Criminal do Rio de Janeiro barrou a cooperação entre Estados Unidos e Brasil para investigar os escândalos do futebol. Graças a essa decisão, tomada em outubro, todos os documentos e provas contra os investigados nos Estados Unidos sejam devolvidos ao donos. As contas bloqueadas devem ser liberadas. E o sigilo bancário restabelecido. O Ministério Público havia enviado documentos de Ricardo Teixeira, José Maria Marin e de Marco Polo del Nero aos Estados Unidos. Isso em agosto. A juíza determinou que as provas levantadas com esse material são nulas para qualquer processo criminal. O MP tentou mas não conseguiu derrubar essa determinação, com um efeito suspensivo. Não conseguiu. Caberá ao Superior Tribunal de Justiça analisar se muda a decisão da juíza ou não. Esta foi a mais espetacular vitória de Marco Polo del Nero e Ricardo Teixeira.
Outra, importantíssima, foi até agora a negativa da quebra do sigilo fiscal das pessoas e empresas ligadas à CBF e aos seus dirigentes. Porque os sigilos bancários, telefônicos e até telemáticos (de e-mails) de Marco Polo foram quebrados. E nada significativo foi encontrado. Por isso que o dirigente estava tão tranquilo na CPI. Sabia que Romário e os demais políticos não tinham provas concretas de tivesse cometido qualquer irregularidade na CBF. Ouviu as ofensas, se controlou, não as rebateu. Apenas repetiu "não sou corrupto". Disse que não se lembrava de um telefonema da esposa de Marin pedindo ajuda. Não negou. Nem confirmou. Garantiu não se lembrar. E ficou nisso. Marco Polo saiu de Brasília com a certeza de que foi vitorioso em mais esse confronto. Enquanto isso no Rio, na sede da CBF, ao assumir o cargo de vice, o coronel Nunes já cumpria sua missão. Diante de jornalistas de todo o país, diz que não existe corrupção no futebol brasileiro. E, lógico, defendeu a gestão de Marco Polo. "Não acredito nisso, nunca vi corrupção no futebol. Falam muito por aí, mas a verdade é que a governança é muito boa. Muitas competições acontecendo, torneios rolando, times estão bem..." Marco Polo estava exultante ontem à noite. Passava recados a amigos que o "pior já passou". E dá demonstrações que pode até antecipar seu retorno ao comando da CBF. Não usufruir os cinco meses de licença que pediu. O deputado federal Marcus Vicente, que está interinamente no seu lugar, mandou avisar que o cargo está à disposição.
Del Nero deverá aproveitar o final de ano "para descansar". Talvez fazer seus passeios em iates, que tanto gosta. E esperar. As investigações no Brasil não têm levantado qualquer prova contra ele. Nada mais daqui pode ser enviado para o FBI. Ninguém pôde ter acesso à documentação levantada em agosto e enviada para os Estados Unidos. Porque até agora, a Justiça Brasileira impede que seja usada. Por tudo isso, Marco Polo acredita que terá um belo réveillon. Enquanto Marin segue em prisão domiciliar, com tornozeleira eletrônica. Com enorme dificuldade em pagar sua fiança para não ir para a cadeia. Tem até 15 de janeiro para arrumar dois milhões de dólares. Nada menos do que R$ 7,9 milhões. Ou deixará de aguardar o julgamento em casa.
E será levado a uma cela em Nova York.
O manifesto do Bom Senso?
Para Del Nero não passou de mais um protesto.
Sem lado prático.
Como as acusações da CPI do Futebol.
Saiu convicto de Brasília que não há provas contra ele.
O FBI e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos estão calados.
O governo Dilma Rousseff tenta sobreviver.
E nem pensa, por enquanto, em intervir na CBF.
Por tudo isso, Marco Polo segue muito otimista.
Seus advogados garantem que não há motivo para depressão.
Acredita que voltará a mandar no futebol deste país em 2016.
Tem a convicção que recuperará o cargo de presidente efetivo.
E quanto às ofensas de Romário?
Ser chamado de corrupto, mentiroso e ladrão em rede nacional?
Assim como o alegado telefonema da esposa de Marin pedindo ajuda.
Desesperada com a prisão do marido e amigo fiel que lhe deu a CBF?
Marco Polo Del Nero já não se recorda...
Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 17 Dec 2015 08:02:35
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