domingo, 13 de dezembro de 2015

José Aldo caiu na armadilha de McGregor. O brasileiro foi para a briga de rua, queria limpar sua honra, não lutar. O irlandês levou apenas 13 segundos para o nocautear. E ficar com o cinturão dos leves. Quem foi o bobo da corte?

José Aldo caiu na armadilha de McGregor. O brasileiro foi para a briga de rua, queria limpar sua honra, não lutar. O irlandês levou apenas 13 segundos para o nocautear. E ficar com o cinturão dos leves. Quem foi o bobo da corte?




Era impossível definir o que havia sido mais constrangedor. O nocaute em apenas 13 segundos. Ou a toalha no rosto para tentar esconder o coro convulsivo. Mas o resultado era o mesmo. Connor McGregor acabou com a invencibilidade de dez anos, tomou o cinturão dos penas do UFC e ainda destruiu o psicológico de José Aldo. O irlandês deu uma lição de como usar o marketing e 11 meses de provocações, humilhações. Pela primeira vez, a Europa tem seu campeão no UFC. Além da derrota, na coletiva, o aviso. A luta foi tão fácil para o irlandês que o UFC não cogita revanche imediata. O primeiro confronto talvez seja com Frankie Edgar. Talvez porque Connor pretende subir de categorias. E lutar pelos leves e não mais nos penas. Avisou que não deseja mais sofrer tanto para lutar com 66,1 quilos. E sim, com 70 quilos. Antes da mudança da categoria, pretendia apenas tirar o cinturão de José Aldo. McGregor manipulou o brasileiro como uma marionete. O desequilibrou. Tirou seu foco dos 10 centímetros de envergadura a mais que possui. E o obrigou "em nome da honra" a fazer exatamente o que desejava. O campeão esqueceu o básico da estratégia, que tanto Dedé Pederneira ensinou. Um lutador quando enfrenta outro mais alto, longilíneo, espera. Procura o momento certo da aproximação. Ainda mais valendo título tão importante, estuda o melhor momento de se aproximar. José Aldo poderia ter feito esse trabalho com chutes potentes que já devastaram 18 adversários nos últimos dez anos. Mas o manauara não queria o combate com Connor. Queria bater na sua cara. Entrou para dar uma surra, não lutar. Foi seu erro.

Foram 11 meses de provocações, empurrões, fotos rasgadas, cinturão tomado em coletiva. Desrespeito. Tratamento indigno a um campeão. Mas que a cúpula do UFC adorou. Ainda mais com mitos ficando pelo caminho, como Anderson Silva, George Saint-Pierre, Jon Jones. Até mesmo Ronda Rousey perdeu seu título. Os irmãos Fertitta e Dana White precisavam no mínimo de um desafiante carismático, que rompesse a rotina. Se fosse campeão e ainda europeu seria maravilhoso. McGregor aprimorou o caminho de Chael Sonnen. Primeiro porque é muito melhor lutador do que o aposentado falastrão, especializado em wrestling. Aprimorou a tradicional formação britânica de boxe. Foi além. Karatê, kickboxing, taekwondo, muay thai e capoeira, que gosta muito. Sua agilidade não é por acaso. Acabou moldada anos em décadas de preparação. Mas desde o princípio percebeu que sua boca encurtaria o caminho. E passou a provocar, falar, chamar a atenção não só com seu talento no MMA. Mas por xingar, humilhar os adversários. Já era assim quando ganhou os títulos dos leves e dos penas no Cage Warriors, em Dublin. Os torneios vencidos há apenas três anos eram muito inferiores ao bilionário UFC.

Além da boca, Connor tratou de criar um personagem. E usou um modelo canadense Josh Mario John como molde. E copiou de forma assustadora as tatuagens espalhadas pelo corpo. Assumiu o apelido de "Notorious". Apelou para roupas extravagantes. E pronto. Dana White estava seduzido. A influência irlandesa nos Estados Unidos é imensa. O presidente do UFC percebeu que tinha no lutador uma mina de ouro. Capaz de juntar os norte-americanos e os europeus. E como o ranking que criou só serve para ser desprezado, Danna tratou de definir um atalho para McGregor ao menos disputar o cinturão. Bastaram cinco adversários sem grandes recursos técnicos. Escolhidos para servir de escada ao irlandês. Marcus Brimage, Max Holloway, Diego Brandão, Dustin Poirier, Dennis Siver. E ele aproveitou cada luta. Capitalizou as câmeras. Os microfones serviam para provocar, avisar José Aldo que o final do seu reinado estava chegando. O máximo aconteceu quando venceu Siver. O UFC colocou o brasileiro na plateia para prepara o clima do combate pelo título. Já que até os familiares de Siver sabiam que ele perderia. Assim que Connor fez sua obrigação e venceu a fácil luta, ele pulou a grade do octógono, invadiu as cadeiras e foi encarar José Aldo. Puro teatro que funcionou muito bem. Quem acompanha o MMA queria esse confronto. Danna havia programado a luta na Irlanda entre os dois em junho deste ano. Mas o brasileiro fraturou uma costela. E para o evento não ser cancelado, Connor teve um adversário de verdade. Chad Mendes. Só que o norte-americano teve menos de 20 dias de preparação. Foi nocauteado por isso, acreditaram os especialistas em UFC. O que ninguém reconhecia, nem José Aldo, era que McGregor melhorara muito como lutador. Percebeu a oportunidade de ouro que havia conseguido. E se aprimorou nos treinamentos. Usou todos os recursos. Sua condição física é excepcional. Seu potencial nas artes marciais também.

E é lógico que estudou muito José Aldo. Sabia que precisava tirar sua concentração. Não deixá-lo raciocinar. Manter o equilíbrio. Trocar com segurança, esperar o melhor momento para chutar, tentar os potentes socos. Tinha de mexer com sua honra de capitão. Humilhá-lo em cada encontro. Cada vez que as câmeras e os microfones chegavam perto. O olhar de satisfação de Dana White denunciava o quanto ele estava se deliciando com a situação. Percebia o quanto o campeão estava ficando irritado. Porém, mercantilista, já havia a certeza de que a noite de 12 de dezembro seria histórica. Não pelo desafio, pela luta. Mas pela venda de pay-per-view no mundo. O UFC só havia vendido mais no evento de número 100, quando Brock Lesnar massacrou Frank Mir. E George Saint-Pierre ganhou de Thiago Alves. Os confrontos foram em Nevada, Estados Unidos, em 2009. E ontem Las Vegas viu o confronto mais aguardado do ano. McGregor teve a certeza que havia conseguido fazer o que queria com José Aldo. O brasileiro perdeu a humildade e se fantasiou de rei e mostrou o irlandês como bobo da corte. E na pesagem na sexta-feira, o campeão decidiu surpreender e, em vez de ser provocado, provocar. Na encarada, imitou uma das poses hilárias de karatê do irlandês. Havia caído na armadilha.

Tudo ficou ainda mais claro no octógono, antes da luta começar. O irlandês se sentia em casa. José Aldo estava focado como sempre. Mas evitava olhar nos olhos do oponente. Transpirava raiva. Um campeão de luta não tem o direito de deixar a emoção dominar sua estratégia. Por isso nem pensou que McGregor é apenas faixa marrom de jiu jitsu. E que perdeu duas vezes na carreira, sendo finalizado pelo lituano Artemij Sitenkov e pelo irlandês Joseph Duffy. José Aldo não pensou nas finalizações, na chave de joelho ou no triângulo, que derrotaram seu rival. Não, não queria lutar. Queria bater, dar uma surra em que o humilhou tanto. Era o que McGregor tinha certeza que aconteceria. O brasileiro foi previsível. Se esqueceu de sua menor envergadura. Exatamente como Ronda havia perdia no dia 14 de novembro para Holly Holm. Agiu como se não pudesse haver outra pessoa que merecesse o título. Pior postura possível.

José Aldo foi presa fácil. Ele entrou no campo de ação de McGregor. Telegrafou um cruzado de direita. O movimento do irlandês acabou automático, básico. Deu um passo para trás, para o lado esquerdo. Ficou com o rosto do brasileiro à disposição. Canhoto, acertou um cruzado violentíssimo na ponta do queixo do campeão. José Aldo caiu, com as pernas e braços esticados. Recebeu ainda "duas marteladas" e John McCarthy acabou a luta, evitou o massacre desnecessário. Foi tudo rápido e chocante demais. "Ninguém aguenta aquele golpe de esquerda. Ele (Aldo) é poderoso e rápido, mas precisão bate poder, e timing bate velocidade. Eu sinto pelo José, ele foi um grande campeão, ele merecia durar mais tempo, mas precisão bate o poder, e timing bate a velocidade. É só isso que é preciso. Ninguém aguenta essa mão esquerda", ironizou McGregor. José Aldo chorou muito. Negou o óbvio. O quanto entrou desequilibrado psicologicamente, como um menino marrento para a luta. E não como um campeão. O comportamento do irlandês o havia desequilibrado. Todos sabiam. Mas ele tentou desmentir. "Não afetou em nada, ele pode ter falado o que for, eu nunca caio em provocação nenhuma. Ele foi feliz hoje, acertou um bom golpe. Temos que partir para uma revanche, na qual vou estar muito melhor preparado para retomar o que é meu." Danna White e os Irmãos Fertitta vão pensar. A derrota foi tão rápida e humilhante que talvez, mesmo tendo sido por quatro anos no UFC e acumulado dez anos de invencibilidade, Aldo talvez não receba esse privilégio. Frank Edgar é o primeiro da fila. De qualquer maneira, a lição que McGregor deu em José Aldo foi histórica. Quem quiser entender o poder da psicologia no esporte pode ter esse confronto como marco. Luta competitiva é muito diferente de briga de rua. McGregor entrou para lutar pelo cinturão. José Aldo para recuperar sua honra. Resultado: o cinturão está viajando para a Irlanda...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 13 Dec 2015 07:04:47

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