sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Segunda Divisão de Minas lança o vírus. Por economia, restringir jogadores com mais de 24 anos. Outras federações adoraram a ideia. O Brasil retrocede para o amadorismo. E pode se transformar em uma grande várzea...

Segunda Divisão de Minas lança o vírus. Por economia, restringir jogadores com mais de 24 anos. Outras federações adoraram a ideia. O Brasil retrocede para o amadorismo. E pode se transformar em uma grande várzea...




Araxá, Patrocinense, CAP Uberlândia, Mamoré, Uberaba, Formiga... Américo, Democrata GV, Ipatinga, Social, Nacional e Minas. Clubes que disputarão o módulo II do Campeonato Mineiro de 2016. Equipes que sonham com o acesso para divisão principal de Minas Gerais em 2017. Até aí, nada demais. Só que diante da certeza de falta de público, do interesse da televisão, de patrocinadores, de torcedores, os dirigentes desses clubes decidiram agir. E,para economizar, tomaram uma decisão. Cada equipe terá o direito de inscrever apenas sete jogadores acima de 24 anos. E se a ideia der certo, na competição de 2017, o número deve diminuir. Até talvez nenhum. A primeira reação foi a dispensa no Nacional de Muriaé de nove jogadores, acima da idade limite. A diretoria mandou embora em nome da economia. O que pode parecer uma notícia regional, não é. A ideia já chegou em outras federações. Mais ricas, até. Como a Paulista, Carioca e Gaúcha. E agradou profundamente aos dirigentes. Principalmente os das Segundas Divisões. É como se todos acordassem e percebessem que não precisam ficar gastando verbas com veteranos em final de carreira. Só não faziam isso porque os concorrentes arrumavam uma maneira de contratar atletas rodados, conhecidos e mais caros. E tornavam suas equipes mais poderosas. E esses dirigentes estão acompanhando o pedido que a Federação Nacional de Atletas Profissionais de Futebol encaminhou à CBF. De dedos cruzados. Os advogados da entidade consideram a medida inconstitucional. Por impedir a contratação de trabalhadores mais velhos. A alegação é que os clubes tornarão os campeonatos estaduais de divisões inferiores em amadores. Não mais profissionais. Ou seja, para sobreviver, o jogador precisará ter outra profissão também. Como ser mecânico durante a manhã e noite. E treinar à tarde. Como acontecia no começo do século XX... A Federação Mineira garante que apoiará a decisão dos clubes do Módulo II. A média dos 50 jogos no campeonato deste ano não chegou a mil pessoas nos estádios. Os veículos de comunicação desprezaram as partidas. Assim como os torcedores. A alegação dos dirigentes é a necessidade de cortar custos para que os clubes não acabem falindo.

O que está acontecendo é gravíssimo. Os alemães adoram a expressão "ovo da serpente". Diante da recessão que o país mergulhou, que economistas chegam a chamar de "depressão", quando não há solução aparente, os clubes caminham para o passado. Desejam voltar a ser amadores, ou quase isso. Isso porque, de acordo com dados da própria CBF, cerca de 80% dos jogadores profissionais já recebem até dois salários mínimos. Ou seja, R$ 788,00 mais R$ 788,00. São R$ 1.576,00. Isso na estrutura atual. Surgindo essa limitação, os salários passarão a ser mais achatados. Menores. Quem optar pela por ser jogador saberá ter apenas uma opção. Ou ter talento maior que a média para atuar em clubes grandes ou terá de se sujeitar a trabalhar por salário baixíssimo. Menor que os dois salários mínimos de hoje. O estranho é que o movimento Bom Senso deveria voltar à cena. E protestar aos quatro ventos. Não apenas defender os grandes clubes da Série A, como fez no ano passado. Mas estranhamente há o silêncio. Caso a CBF aceite a atitude da Segunda Divisão Mineira, a praga irá se instalar em 2017. A situação na Primeira Divisão do Estadual mais rico do país já é vergonhosa. E mostra que os estaduais são mais insignificantes do que alegam os criadores da liga Minas-Sul-Rio, a Primeira Liga. A Folha mostrou que apenas cinco meses depois do Campeonato Paulista de 2015, que o Santos venceu, um terço dos jogadores estava desempregado. Atletas sem equipes para atuar. Não ganhavam um real. A prova que atuavam em equipes de aluguel, montadas por empresários. Se no Paulista, algum jogador se destacasse, iria para outro clube. Se não, ficaria largado à própria sorte. Foram inúmeros contratos pelo tempo mínimo, três meses.

"Achar que a crise no futebol é conjuntural é um erro. Ela é estrutural. Nos últimos 30 anos, houve fragilização dos clubes pequenos pela forma como são divididas as receitas. O calendário não trouxe avanços, muitas equipes ficam inativas em boa parte do ano e não há incentivo para revelar jogadores." A análise foi do ex-presidente do Palmeiras e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo de José Sarney, Luiz Gonzaga Belluzzo. "O desemprego no futebol é fruto da má organização. Os clubes e investidores não fazem contrato de um ano porque não sabem o que vão jogar no segundo semestre. Se um time pequeno não se classifica para a Série D do Brasileiro [a última divisão nacional], fica sem calendário para jogar e por isso faz contratos curtos [o mínimo exigido por lei é três meses]. Com isso, o jogador tem de tirar dinheiro do próprio bolso para bancar os compromissos assumidos." Esse é o triste resumo feito por Roberto, ex-goleiro do Vasco e Ponte e um dos membros do Bom Senso. A Folha chocou os leitores citando o que acontece com os clubes pequenos da principal divisão paulista. É fácil imaginar o que acontece em outros estados, nas outras divisões. O patrimônio da CBF passa dos R$ 400 milhões. Seus dirigentes vivem vida de reis. Governam a miséria. Fazem de conta que não percebem as dificuldades da mão de obra de seus sustento. A entidade só existe porque há campeonatos para organizar. Não só a Série A do Brasileiro. A Copa do Brasil. Há a Série B, Série C, Série D.

É preciso buscar soluções. A Segunda Divisão Mineira mostra o caminho do retrocesso. Do amadorismo. Do salário mínimo. Da desgraça. Se com jogadores que atuaram em times grandes, a média de torcedores não atinge mil pessoas, o que dizer com garotos sem talento? Porque se tivessem não estariam com mais de vinte anos em clubes pequenos, ganhando até dois salários mínimos. Não é questão de obrigar nenhum clube a contratar veteranos que não possam pagar. Nada disso. Criar uma reserva de mercado. É o contrário. Seguir permitindo que os clubes com possibilidade sigam contratando. Bancando atletas mais velhos, se puderem. Caso contrário, o salário mínimo vai imperar. Marcus Vicente, Del Nero, Walter Feldman, Chimbinha, Didi dos Trapalhões. Seja quem for o presidente da CBF, que aja.

Trabalhe para o bem do futebol deste país.

Busque soluções factíveis para a sobrevivência dos clubes.

Dos jogadores profissionais.

Ou a geografia do futebol deste país será fácil de descrever.

14 "poderosos".

Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Santos, Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Grêmio, Internacional, Coritiba e Atlético Paranaense.

O restante?

Clubes que encolhem em praça pública.

Os menores de Minas decidiram agora pela volta do amadorismo.

Decisão que agrada a maioria que está longe dos holofotes.

Caso a medida restritiva seja confirmada, a realidade será terrível.

A vida útil do jogador médio do país terminará com 24 anos.

Os campos estarão infestados de garotos ruins e mal remunerados.

O futebol deste país virará de vez uma grande várzea.

No pior sentido da palavra...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 04 Dec 2015 11:53:59

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