A escolha foi excelente. Edgardo Bauza é um treinador competente, inteligente, disciplinador. Capaz de trabalhar com elencos sem grandes opções e conseguir inesperadas conquistas. Bicampeão da Libertadores. Ganhou com a LDU do Equador, título inédito para o país, e ainda fez o último grande clube argentino sem o título do maior torneio sul-americano. O San Lorenzo. Seu perfil é exatamente o contrário de Juan Carlos Osório. O colombiano é ofensivo demais. Já o argentino, faz seu time marcar muito forte. Não tem o menor problema em assumir sua visão pragmática do futebol. "Na verdade, não me importa nada que me chamem de defensivo. Sei perfeitamente das virtudes e dos defeitos que temos. Que alguém nos qualifique com base em seu gosto esportivo não me interessa, desde que continuemos chegando, superando os rivais e tendo oportunidades de gol. O futebol não é só atacar. E as equipes que não sabem se defender não podem ganhar nada." O desabafo foi na Argentina,neste ano, diante de críticas que insistiam em rotulá-lo de retranqueiro. Para o presidente Carlos Augusto Barros e Silva esta era a última das preocupações. A primeira era que fosse vencedor. Tivesse no seu currículo poder suficiente para transmitir confiança e respeito entre os conselheiros, torcedores e imprensa. Isso Bauza tem de sobra. Era o que mais atraía Atlético Mineiro e Flamengo. Primeiros clubes brasileiros a tentar o treinador. E depois, Leco exigia a vinda de um disciplinador. Ele estava cansado de jogadores consagrados e mimados, sem gana, que não eram cobrados por treinadores. O argentino não tolera atletas que não se desdobrem em campo, aceitem derrotas, não deixem a alma em campo. Prefere atletas menos dotados tecnicamente do que talentosos sem garra. O perfil do São Paulo dos últimos anos vai mudar. Ele terá carta branca para se impor diante dos jogadores. Estará livre para cobrar e até afastar quem não se enquadrar na maneira firme, rígida com que costuma trabalhar. Atletas pouco envolvidos como Paulo Henrique Ganso terão de mudar. Ou não irão jogar.
"Analisei todos os detalhes da carreira, investigamos tudo o que precisávamos para saber que estávamos contratando um técnico de ponta, capaz de levar o São Paulo a grandes conquistas. Nosso objetivo é a Libertadores. Ele ganhou duas, com times mais modestos, LDU e San Lorenzo. Nosso elenco é melhor, apesar de todas as saídas, do que desses times. Acreditamos que com ele, e reforços acertados em conjunto, tenhamos um 2016 para esquecer 2015", garante Ataíde Gil Guerreiro. Foi na parte disciplinar que Bauza ganhou a disputa com Levir Culpi e Paulo Autuori. Leco e Ataíde não queriam ninguém que fosse amigo demais dos atletas. Principalmente o presidente. Desde seus tempos de vice de futebol, ele acreditava que era necessária a volta do respeito à hierarquia. Não alguém que agisse como um militar, como Leão. Mas um treinador firme, de personalidade forte. Acredita ter encontrado. Bauza impressionou a cúpula do São Paulo porque fez questão de não exigir uma multa rescisória. E também querer apenas um ano de contrato. Foi uma prova de que acredita no trabalho. Não precisa usar como escudo um acordo legal, em caso de derrotas, de trabalho decepcionante. "Cada clube tem as suas metas. Quando não alcança, o técnico é o primeiro atingido. Não concordo com isso. A continuidade traz bons resultados. Mas suportar a pressão dos dirigentes, às vezes, não é fácil. Trabalhar no Brasil é um desafio que eu quero muito, por tudo o que representa. E aconteceria em um momento muito bom para mim e a minha comissão técnica",, disse em entrevista há duas semanas para o Correio Braziliense. A confiança que transpirou nas conversas com o gerente Gustavo Viera foi algo também muito relevante. Além das conquistas fora da Argentina. Edegardo foi campeão peruano e equatoriano. Ele se adapta sem maiores problemas a trabalhar no Exterior. Desejava vir para o Brasil. Sabe que a economia aqui ainda consegue ser mais forte do que a de países vizinhos. Apenas analisou muito a infraestrutura de quem o procurava. Gostou do oferecido pelo São Paulo.
De acordo com Gustavo e Ataíde, o argentino não foi enganado como aconteceu com Osório. Sabe que o elenco não é farto e que alguns jogadores podem ser vendidos. Isso não o assustou. Ele quer apenas encurtar o trabalho. Sabe que precisa antecipar algumas etapas. A Pré-Libertadores começa para o São Paulo no dia 3 de fevereiro. Sua adaptação precisa ser a mais rápida possível. Ele será apresentado no São Paulo na próxima quarta-feira, dia 23. E saberá com detalhes os atletas que contará. O clube já busca alguns reforços. "O Osorio foi embora porque não tinha relacionamento com o Carlos Miguel Aidar e não pela proposta do México. Apesar de chateado com o elenco, ele continuaria. Dessa vez, o técnico está a par. Conversamos jogador por jogador com ele. Vamos procurar reforços e tentaremos não perder nenhum jogador importante nessa janela. Foi dito a ele: "Bauza, está aqui o nosso elenco. É este. Dentro das possibilidades, vamos reforçar. Mas hoje é este. Está disposto a aceitar? ‘Estou", ele falou. Mas vamos reforçar esse elenco. Queremos um 2016 diferente de 2015. A torcida está incomodada e temos obrigação de dar a eles mais felicidade", assegurou Ataíde à rádio Globo. Ele sabia muito bem o que falava. Ataíde provocou um caos no clube ao revelar as lastimáveis declarações do ex-presidente Aidar. O vice revelou o conteúdo bombástico da fita que gravou, sem Carlos Miguel saber.
O clima ficou de pura revolta e pessimismo no Morumbi. Foi Leco quem resolveu antecipar a revelação da contratação de Bauza. Para desviar o foco das denúncias terríveis que atingem não só o ex-presidente. Mas o São Paulo. Havia a necessidade de algo muito positivo. E a contratação do argentino tem esse peso. Seu currículo vencedor, sua postura firme, o trabalho sério, a visão tática moderna, são suas credenciais. Conselheiros, jornalistas e torcedores sabem estar chegando um técnico diferenciado. Agora, se a diretoria terá condições de oferecer jogadores e, principalmente, paz para que trabalhe, é outra história. O nome que o São Paulo escolheu é excelente...
(E Bauza já deu sua primeira entrevista como treinador do São Paulo. Falou à rádio La Deportiva, de Quito. A conversa foi traduzida e publicada no blog do São Paulo, de Alexandre Zanquetta. Vale a pena ser lida...) La Deportiva: Tiraram você de suas férias, Edgardo? Bauza: Sim, Sim. Tive de interromper minhas férias e terei problemas com minha esposa por isso… Conversei muito estes dias com o Diretor do São Paulo, chegamos a um acordo, firmamos um pré contrato e no dia 23/12 irei assinar o contrato em São Paulo. São Paulo é uma equipe grande, grande campeão no continente e vinha sendo dirigido por outro técnico estrangeiro: Juan Carlos Osorio. Que sabe de ter enfrentado ou assistido nos últimos tempos? É uma equipe que não tem muita regularidade. Classificou em 4o lugar no Brasileirão e se classificou para a Pré Libertadores. Vamos ver com quem vamos jogar essa partida que pode ser com Racing, Huracán etc. Do que conhece o São Paulo e já viu o que pensa? Tem figuras muito importantes mas algumas se vão como o histórico Ceni, Luis Fabiano, Pato mas também tem Ganso. É uma equipe que defensivamente tem muitos problemas e terei muito trabalho porque o São Paulo não quer outra coisa senão ganhar campeonatos. No Brasil, o calendário é diferente de qualquer outro país na América do Sul. Joga-se Paulista, Copa do Brasil, Libertadores e Brasileirão e não se para nem na Copa América. Este ano a equipe jogou 68 partidas. A prioridade é a Libertadores e o Brasileirão e depois os torneios locais como a Copa do Brasil que nunca ganhou. Pelo que vejo é uma equipe de plantel grande, um time muito bom para se poder trabalhar e melhorar. Assistirei jogos, partidas para ter um diagnóstico. Poderei contratar 3 ou 4 jogadores. Quem te acompanha? Maxi como analista de vídeos, Militano, seu assistente de campo e o preparador físico? Sim. É incrível que o São Paulo é tão grande que tem staff de preparação física, treinador de goleiros e tudo mais. E que estrangeiros tem hoje o São Paulo? Bauza: Um ponta colombiano e Centurión que todos os argentinos conhecem. Ele vinha jogando mais e depois perdeu sua condição por motivos que não conheço mas é um atleta que eu particularmente gosto. Ele poderia sair do São Paulo? Não, não…pelo que me disseram não querem deixar ele sair e pelo que pediriam pelo jogador, não seria possível retornar à Argentina. E mais jogadores estrangeiros poderiam chegar?
Eles possuem um departamento de avaliação de jogadores e estão perto de trazer dois ou três nomes mas estão aguardando para que eu dê consentimento. Acredito que sejam 2 ou 3 brasileiros e uns 2 estrangeiros.
E pelo que sabe, que posições teria que reforçar no São Paulo?
Em todos os setores! Um ou dois na parte defensiva, um no meio de campo e um centroavante já que Luis Fabiano não estará mais.
E com a aposentadoria de Ceni, teria que contratar um goleiro?
Não. Aparentemente pelo momento atual, não. Há um reserva que jogou pouco nos últimos anos por ser banco de Ceni mas há também um outro de bom nível então acho que por agora não é necessário.
E o Diretor te levou muitos vídeos?
Não. Maxi já me mandou as últimas 5 partidas resumidas e está se encarregando de outras coisas que lhe pedi. Não me preocupa conhecer porque temos recursos tecnológicos para isso mas sim fazer um diagnóstico para solucionar os problemas.
E estará lá no dia 23?
Sim. Como falei por telefone com o presidente, faremos uma apresentação, uma assinatura do contrato formal, conhecerei as instalações e entre 3 e 8 de Janeiro estarão trabalhando exames e parte física e sentarei para planejar a pré temporada.
E voltará à Quito?
Não. Voltarei à Argentina onde passarei o ano e depois regressarei a São Paulo.
E você se apresenta quando?
Entre 03 e 06 de Janeiro. O Paulista começará dia 30/01 e imediatamente após, teremos a partida da Libertadores no dia 04/02. Uma margem de mais ou menos 20 dias para efetuar a pré temporada e mesmo não sendo muito para conhecer e acomodar a equipe, faremos e trabalharemos da melhor forma.
E o Portunhol? Fala Português?
Não, não falo. Mas farei aulas para intensificar o processo.
E o processo de transição?
Já estou com o telefone de Osorio e ligarei para ele para saber o que pensa da equipe, seus pensamento e a opinião dele me servirá como ferramenta de trabalho. Como foi com Pizzi quando assumi com o San Lorenzo. São ferramentas que ajudam no caminho.
Patón, muita sorte nesta nova aventura! )
Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 18 Dec 2015 05:33:26
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