sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Marco Polo sabe. Não voltará à presidência. A 'licença' é um adeus disfarçado. A ganância, a sede por notoriedade, modelos foram sua maldição. O reinado na CBF durou apenas oito meses...

Marco Polo sabe. Não voltará à presidência. A 'licença' é um adeus disfarçado. A ganância, a sede por notoriedade, modelos foram sua maldição. O reinado na CBF durou apenas oito meses...




"A situação de Del Nero saiu de controle. Agora o dirigente espera duas coisas. A decisão do Comitê de Ética da Fifa. E o que a CPI do Futebol apurará. Seu sigilo bancário, fiscal e telefônico não existe mais. A situação está complicadíssima. Como ele jamais sonhou. Não será surpresa se perder o cargo ainda hoje..." Terminei assim o post sobre a crise que cercava Marco Polo del Nero. As 11h32. Tinha informações importantes que ele poderia abandonar o cargo que tanto sonhou. O de presidente da CBF. À tarde veio o pronunciamento da procuradora-geral de Justiça Norte Americana. Loretta Lynch foi firme. E disse para o mundo ouvir. Depois de investigações do FBI, Marco Polo del Nero e o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, eram acusados oficialmente de corrupção. Os dois e mais Alfredo Hawit, Ariel Alvarado, Rafael Callejas, Brayan Jiménez, Rafael Salguero, Héctor Trujillo, Reynaldo Vazquez, Juan Ángel Napout, Manuel Burga, Carlos Chávez, Luís Chiriboga, Eduardo Deluca, José Luis Meiszner e Romer Osuna. Napout e Hawit foram presos hoje na Suíça. Se Marco Polo tivesse desobedecido seus advogados e estivesse por lá, também seria trancafiado. Ele já estava transtornado. A CPI do Futebol havia conseguido a quebra do seu sigilo bancário, fiscal e telefônico. Dele e de uma de suas belíssimas namoradas, Carolina Galan.

Eram golpes fortes demais. Desmoralizantes. O homem de 74 anos não suportou. Como fui avisado logo pela manhã, abandonou a CBF. As 19h35, a entidade publicou a seguinte nota. "A Confederação Brasileira de Futebol vem a público informar, face às noticias veiculadas nesta data, que o Presidente Marco Polo Del Nero apresentou pedido de licença do cargo com a finalidade de dedicar-se à sua defesa, em vista de ter seu nome mencionado em acusações relatadas pela Justiça norte-americana e pelo Comitê de Ética da FIFA. "Em nenhum dos procedimentos mencionados foi conferida ciência ao Presidente do conteúdo das acusações, sendo certa sua absoluta convicção da comprovação de sua inocência, tão logo possa exercer os consagrados e constitucionais direitos ao contraditório e à ampla defesa. "Neste período de licença, o Presidente, em cumprimento às suas atribuições estatutárias, designa, interinamente, para o exercício da Presidência da CBF o Vice-Presidente Marcus Antônio Vicente." O pedido de licença de Marco Polo del Nero se tornou real. Massacrado pelas acusações, ele se licencia. Terá, no máximo, 180 dias para lavar sua honra. Se não voltar, terá de renunciar. E no seu lugar ficaria quem ele não deseja, o vice mais velho. Delfim Peixoto Filho, presidente da Federação Catarinense há nada menos do que 30 anos. O capixaba Marcus Vicente foi cuidadosamente instruído por Marco Polo. O combinado é que não tome qualquer atitude radical. Não mude nada na CBF. Porque Del Nero tinha a certeza que voltaria ao cargo, quando o instruiu há mais de 50 dias, quando o cerco começava a apertar. Na ocasião, o deputado federal do PP garantiu que nada faria. E que o presidente da CBF poderia confiar nele.

Del Nero quase muda de ideia. E opta por Fernando Sarney. Porque percebeu que Marcus Vicente fez questão de fazer uma consulta pública no Congresso, perguntando se poderia se licenciar para assumir a CBF. Marco Polo havia pedido sigilo. Mas decidiu seguir o seu plano diante da postura, aparentemente submissa do capixaba. "Eu estou chegando para pacificar. E não para fiscalizar a CBF. Isso deixo para órgãos competentes", acaba de dizer à Folha, confirmando sua postura passiva. Pelo menos neste início. Por enquanto Dunga seguirá no cargo. Por enquanto. Se Delfim assumir, não há esta certeza. O projeto das Eliminatórias, da Olimpíada e da Copa corre sério risco. Marco Polo del Nero ficou o máximo que pôde no cargo. Mas, advogado astuto que é, percebeu que deveria agir. Virá para São Paulo, sua cidade. Aqui estará em contato constante com o advogado criminalista que contratou a peso de ouro, José Roberto Botochio. Seu medo maior não é o de ser extraditado. Marco Polo nasceu em São Paulo, no Brasil. E o país não extradita brasileiros. Para ele não seria problema ficar proibido de viajar ao Exterior. Ele quer se precaver. Não deseja que as autoridades brasileiras sigam o pedido do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. E dê sequência às acusações. Marco Polo, José Maria Marin e Ricardo Teixeira precisam se defender de acusações gravíssimas. E com penas que chegam a vinte anos. O trio criaram mecanismo de fraudar a Fifa e a CBF. Está escrito de forma clara no documento de indiciamento do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Del Nero teria recebido propina para a Copa América e para a Copa do Brasil. E ainda teria pedido mais propina, ao lado de Teixeira e Marin, para a Libertadores da América. Tudo está documentado na investigação do FBI. Teixeira teria recebido dinheiro ilícito, provavelmente da Nike.

Já a dupla Marco Polo e Marin teria dividido propina oferecida por Jota Hawilla, ex-dono da Traffic. O FBI chegou até a documentar frases de Marin pedindo o dinheiro a Hawilla. E foi além. Descobriu que teria sido dividido com seu sucessor na CBF. São acusações pesadas e frutos de investigação por mais de dois anos por parte do FBI e do Departamento de Justiça Norte-Americano. Marco Polo sabia que chegaria o dia de se afastar da CBF. Ele assumiu o controle do futebol brasileiro em abril. Era um desejo acalentado há décadas. Desde que era apenas o advogado do presidente da Federação Paulista de Futebol, Eduardo José Farah. O falecido Farah era muito astuto. Mas ficou assustado com a ambição e a visão de Marco Polo. O viu como alguém ainda mais determinado do que ele próprio. E que sabia manipular as pessoas e as leis como ninguém. Não o queria fazer seu sucessor. Estava decidido a dar o cargo para alguém em quem tinha muito mais confiança, Reinaldo Carneiro Bastos. Mas Marco Polo se articulou melhor. Foi advogado de Farah. Sabia seus segredos. E exigiu o que queria, quando o ex-presidente da FPF teve de renunciar por causa de uma briga com a TV Globo. E Del Nero usou a Federação Paulista como trampolim para a CBF. Foi visionário. Se aproximou de José Maria Marin. Sabia que era o vice mais velho de Ricardo Teixeira, que já começava a se enroscar com investigações da Polícia Federal. Bastou esperar. E o ex-genro de João Havelange renunciou.



O cargo caiu no colo de Marin. Ele nomeou como vice seu companheiro Marco Polo. Prometeu e entregou a presidência da CBF. Ambos viraram as costas com gosto a Teixeira, que não toleravam. Mas o castelo desmoronou.

Quando a Fifa não deu a Copa de 2014 para os Estados Unidos e preferiu o Brasil, o FBI teve acesso às falcatruas e corrupção dos seus dirigentes. Foi um efeito cascata. Como o alto comando da Fifa usavam bancos norte-americanos para guardar o dinheiro das propinas ficou fácil para investigar.

E um por um foi sendo capturado. Com o apoio do governo suíço, cansado das farras da Fifa.

Tudo comprovado.

A ordem do governo norte-americano é ser severo. Pouco importa a velhice dos dirigentes. Se tiverem de cumprir pena de 20 anos e morrer na cadeia, que morram. Ficará o exemplo.

Marco Polo segue negando a amigos que tenha feito algo de ilegal. Jura que não assinou documento algum que o comprometa. Apenas Marin, mais ganancioso, acabou se comprometendo, acreditando na impunidade.

Del Nero acreditava estar livre. Mas não é o que as investigações do FBI estão mostrando. O departamento de justiça não iria citá-lo nominalmente à toa. Conseguiu provas. Não se sabe se houve delação. O que é uma possibilidade grande.

O que é real é a licença de Marco Polo.

E uma certeza.

Nem ele acredita que voltará à presidência da CBF.

Sua luta de décadas pelo cargo acabou.

Assumiu no dia 16 de abril.

Pediu licença no dia 3 de dezembro.

Sabe que está derrotado.

E é uma renúncia, sem volta.

Se tivesse seguido na Federação Paulista, estaria rico.

Saindo com todas as modelos que seu fôlego suportasse.

Mas a ambição de ser presidente da CBF falou mais alto.

Queria mais poder, notoriedade, ganância.

Foi sua maldição...



Fonte: Esportes R7
Categoria: formula-1
Autor: cosmermoli
Publicado em: 03 Dec 2015 21:39:48

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