quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O dia foi histórico para o futebol brasileiro. A manifestação contra o atraso, a corrupção. Mas a noite foi maravilhosa para a CBF. Marco Polo poderá eleger seu coronel...

O dia foi histórico para o futebol brasileiro. A manifestação contra o atraso, a corrupção. Mas a noite foi maravilhosa para a CBF. Marco Polo poderá eleger seu coronel...




A ironia do destino. Uma entidade que já nasceu sob o símbolo da ditadura militar, dos contratos secretos, das alianças espúrias. Do oferecimento do futebol ao governo. Do slogan "onde a Arena vai mal, um time no Nacional." Do ex-presidente andando com uma tornozeleira eletrônica, do atual afastado, acusado formalmente pelo FBI e Departamento de Justiça dos Estados Unidos de ter recebido propina. Como Ricardo Teixeira, o homem que trouxe a Copa do Mundo mais cara de todos os tempos. Pois é a legalidade que impede que pessoas como Alex, Zico ou Raí assumam o comando do futebol no país. A cúpula da CBF se beneficia ainda do maior presente da Ditadura Militar. O privilégio de usufruir do principal esporte do Brasil. Os protegidos que chegarem ao poder, se escondem sob a alegação de que a entidade é privada. Com eleições viciadas, se perpetuam fazendo o que querem. "Quem manda na CBF sabe que ninguém pode tomar o poder. A ação do governo seria uma intervenção. E isso, a Fifa proíbe. E diz que vai desfiliar o país que ousar tomar essa atitude. Só que o Brasil não é a Nigéria. Quem teria coragem de nos tirar de uma Copa do Mundo? Ninguém. Ainda mais os dirigentes da Fifa, que não param de responder acusações de corrupção. Passou da hora de o governo intervir." A revolta partiu de Alex, um dos líderes do Bom Senso. A entidade organizou um protesto inédito na história da CBF. Ex-jogadores, jornalistas, técnicos e pessoas ligadas ao esporte estiveram em frente à CBF. Usaram os holofotes, as câmeras para exigir a saída imediata e definitiva de Marco Polo del Nero. E eleições abertas, não as de cartas marcadas com os presidentes de federações e os comprometidos presidentes de clubes votando. Mas não ficaram apenas nisso. Foram além. Imploraram a maior colaboração da Polícia Federal. Que atue de verdade para comprovar as inúmeras suspeitas levantadas pelos norte-americanos. O manifesto foi direto, certeiro. "Brasil, dezembro de 2015 A Confederação Brasileira de Futebol vive a maior crise de sua história. Seus últimos três presidentes são réus em investigação policial internacional por fraude na CBF e na FIFA. José Maria Marin está preso desde maio, Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero estão indiciados pela Justiça dos EUA desde o dia 3 de dezembro. Compreendemos que a sucessão determinada por um estatuto viciado, que foi arquitetado e aperfeiçoado para a manutenção do poder nas mãos dessa mesma linhagem, é ilegítima e imoral. Exigimos a renúncia definitiva de Marco Polo Del Nero e sua diretoria, seguida da convocação de eleições livres e democráticas para o comando da CBF, sem a atual cláusula de barreira, mecanismo que impede a aparição de posições independentes ao sistema vigente, pois exige oito assinaturas de federações e mais cinco de clubes para candidaturas. A crise de corrupção é a face mais vísivel de um profundo problema estrutural, que travou o desenvolvimento do futebol brasileiro em todas as suas dimensões. Conclamamos a Procuradoria Geral da República, a Polícia Federal e a Receita Federal a não deixar impunes quem corrompeu ou quer continuar a corromper o futebol pentacampeão mundial. Aos clubes e federações, pedimos que se paute e vote a alteração de pontos estatutários necessários para a democratização e desenvolvimento de nossa maior paixão, inexorável e sem volta. De nossa parte, signatários deste manifesto, acreditamos que, caso as mudanças sejam iniciadas, os novos mandatários da CBF, juntamente com os muitos personagens capacitados e honrados da comunidade do futebol saberão criar as condições para a reconstrução da credibilidade, confiança e retomada do protagonismo esportivo do futebol brasileiro, de seus jogadores, da alegria do jogo e, principalmente, dos torcedores."

Ele foi lido na íntegra por Raí, em frente à entidade. Os protestantes não tiveram acesso à entidade. O presidente em exercício, o deputado federal Marcus Vicente, homem de confiança de Marco Polo não falou uma palavra. Tinha outra preocupação. Pressionar os advogados da CBF para derrubar a liminar que proibia a eleição do novo vice da região Sudeste, no lugar de José Maria Marin, em prisão domiciliar nos Estados Unidos. Ele foi obrigado a renunciar por carta. O homem que deverá ganhar a eleição como vice do Sudeste, para se tornar presidente, é o coronel Nunes, do Pará. Seu nome, Antonio Carlos Nunes Lima, não importa. E sim, o seu RG. Nele, os 77 anos. Com um estatuto ridículo que não privilegia talento, capacidade. Mas o tempo de vida. O mais velho vice tem o direito a assumir se Marco Polo del Nero renunciar. O que todos sabem que acontecerá. Nunes ocupará a vaga que poderia ser de Delfim Peixoto, até então, o vice mais velho, com 74 anos. Nunes entrou na Justiça para travar a eleição.

Mas o veto foi derrubado hoje à noite. A terça-feira, dia 15 de dezembro, foi histórica. A sociedade finalmente se mobilizou. Teve a coragem de cercar o milionário prédio José Maria Marin. Tiraram a placa com o nome, mas não deram outro para a sede da triste entidade. Mas para Del Nero, a data foi de vitória. Com a liminar derrubada, ele colocará o coronel Nunes. Homem que jurou não trair sua confiança. E nem poderá. Todos os homens de Marco Polo ficarão para vigiar e controlar o presidente. Ele deve fazer exatamente o que Marco Polo exigir. Os assessores do presidente licenciado tentarão fazer de Nunes apenas o "boneco de ventrículo". Aquele que movimenta a boca, mas a voz é do dono. Quanto mais tempo a eleição levasse, a Fifa poderia banir Marco Polo del Nero do futebol. E até punir a própria CBF. Aí haveria clima para uma intervenção do governo. A pressão ficaria insuportável. Muito maior do que a derrota do Brasil por 7 a 1. Por isso, a eleição será feita a toque de caixa. Será amanhã. Assim, Nunes estará prontinho. Em caso de a Fifa ameaçar banir Marco Polo, ele renuncia definitivamente. E dá o cargo ao seu paraense de confiança. O cargo não ficará livre nem por um segundo. Ou seja, o dia foi histórico, de dar orgulho, a semente foi plantada. Lembrou o surgimento do movimento Diretas Já, quando as pessoas protestavam sabendo que o que sonhavam demoraria. Mas aí veio a noite. Soturna, maléfica, como tem sido todas desde que a CBF foi criada...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 15 Dec 2015 21:51:52

Nenhum comentário:

Postar um comentário