terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Coronel Nunes, implosão da Primeira Liga, controle total da Seleção com a CBF, revolta dos patrocinadores travada. Como, mesmo afastado, Marco Polo del Nero manipula. E segue com o futebol deste país aos seus pés...

Coronel Nunes, implosão da Primeira Liga, controle total da Seleção com a CBF, revolta dos patrocinadores travada. Como, mesmo afastado, Marco Polo del Nero manipula. E segue com o futebol deste país aos seus pés...




Briton Hadden e Henry Luce no final do século 19 publicavam uma revista na Faculdade de Yale. Misturavam textos e fotos. Era um sucesso. Decidiram levar o conceito para todos os Estados Unidos. E, em março de 1923, criaram a Time. Foi a primeira revista semanal no mundo ocidental. Misturando análise dos principais fatos nos últimos sete dias, entrevistas e matérias exclusivas. A fórmula foi copiada em praticamente todos os países do planeta. A partir de 1927 foi criada uma edição especial, chamada de Homem do Ano. O aviador Charles Lindenberg foi o escolhido. Reconhecimento pelo primeiro voo solitário transatlântico, entre Nova York e Paris. Desde então, a tradição cresceu. E nomes polêmicos estiveram à frente dessas edições especiais. Gandhi, Hitler, Stalin, Churchill, Ronald Reagan, Putin, Obama, Papas João Paulo e Francisco. Se Angela Merkel ganhou a edição de 2013, agora chamada de "Pessoa do Ano", se no futebol brasileiro existisse uma premiação igual, ela teria de ser dada a Marco Polo del Nero. O vergonhoso fiasco da Primeira Liga e a eleição do Coronel paraense Antônio Carlos Nunes de Lima são vitórias dignas de um estadista. Do bem ou do mal, depende de que lado está o leitor. A manipulação de Del Nero foi perfeita. Muita gente repleta de neurônios acreditou que seu reinado teria chegado ao fim com a prisão de José Maria Marin, em maio, no luxuoso hotel Baur au Lac, na Suíça. O ex-governador biônico de São Paulo e ex-presidente da CBF era companheiro de todas as horas de Marco Polo. Discutiam cada decisão a ser tomada. O mandato de Marin foi a quatro mãos. O raciocínio foi lógico. Se o FBI e o Departamento de Justiça tinha algo contra Marin, a ponto de prendê-lo e extraditá-lo, deveria ter alguma coisa concreta contra Marco Polo. O falecido presidente da FPF, Eduardo José Farah, dizia que nunca havia conhecido alguém como Marco Polo. Frio, calculista, determinado, manipulador. Ele era seu advogado pessoal. E dominava todos os segredos jurídicos da federação. Quando Farah comprou briga com a Globo, teve de se demitir. O cargo seria de Reinaldo Carneiro Bastos. Mas Del Nero se impôs. Exigiu e virou presidente.

Visionário, sabia que Ricardo Teixeira tinha cada vez mais escândalos contra si. E fez o que os gênios fazem. Juntou um mais um antes de todos. E tratou de se aliar a Marin, o vice que seria o sucessor de Teixeira, caso a situação se complicasse para o genro de João Havelange. José Maria estava escanteado, esquecido. Aceitou com surpresa, alegria e gratidão a mão estendida pelo dono da Federação Paulista. Quando Teixeira traiu Blatter, se ligando ao bilionário catariano Mohammed Bin Hammam, se suicidou politicamente. Vieram à tona os escândalos da ISL, da suspeita de venda de voto para a escolha do Catar como sede do Mundial de 2022. E a Polícia Federal descobriu que a CBF pagou R$ 9 milhões pelo amistoso contra Portugal, em Brasília. A uma empresa mais do que suspeita. O homem frio e calculista, que Farah descrevia, acertou. Teixeira renunciou e deixou o cargo no colo de Marin, a quem considerava inofensivo. E que se submeteria aos seus desejos. Menosprezou Del Nero. Ele já dividia o poder com o ex-governador biônico. Despachou com gosto seu inimigo Andrés Sanchez e seu protegido Mano Menezes. Foi ele quem escolheu Felipão e tomou as principais decisões na CBF. Marin referendava. Quantos à corrupção envolvendo os contratos da Copa do Brasil, e que levaram Marin à extradição, não há a assinatura de Marco Polo. Por isso não foi preso na Suíça. Nos relatórios do FBF é apontado como o conspirador número 12. Foi denunciado por corrupção nos Estados Unidos oficialmente. Mas não houve o pedido de prisão. O "Homem do Ano" teve de agir. Ele já não viajava para o Exterior desde maio, renunciou ao Comitê Executivo da Fifa, abrindo mão de salário anual de R$ 760 mil. Decidiu pedir licença de cinco meses da presidência da CBF. Colocou no seu lugar, o deputado e aliado Marcus Vicente. Fiel até a medula, faz exatamente o que Del Nero exige. É ele quem segue mandando, todos nos bastidores do futebol sabem disso.

Com Marin aguardando julgamento, em prisão domiciliar em Nova York, um novo vice teve de ser eleito para a CBF. Representando a Região Sudeste. Já que o estúpido critério de sucessão na CBF privilegia a idade, e não a competência, Delfim Peixoto seria o presidente, em caso de renúncia, com seus 74 anos. Só que Del Nero escolheu o coronel Nunes, do Pará. Seu maior trunfo para comandar o futebol deste país: 77 anos. O Bom Senso acreditou que poderia dar uma rasteira em Marco Polo. Indicando Abílio Diniz como candidato. O empresário tem 79 anos. Alex, mentor da ideia, foi ingênuo. Não percebeu o quanto os presidentes de clubes continuam com medo de represália na CBF. Embora agora sejam a maioria. São 40 com direito a voto, 20 da Série A e 20 da Série B, contra 27 federações. Não iriam votar contra Del Nero por medo de represália. Diniz percebeu e nem se candidatou. Do colégio eleitoral de 67 clubes e federações, houve 55 votos. Desses, 44 foram em favor de Coronel Nunes, outros três contra, três em branco e cinco abstenções. Flamengo, Corinthians, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Grêmio, Atlético Paranaense nem fizeram questão de comparecer. Vitória de Marco Polo. A primeira declaração do paraense coronel Nunes como novo vice da Região Sudeste encheu de orgulho Del Nero. "Não há corrupção no futebol brasileiro. Nunca vi." Depois veio a Primeira Liga. A "revolta" de Flamengo, Fluminense, Inter, Grêmio, Cruzeiro, Atlético Mineiro, Atlético Paranaense, Coritiba, Figueirense, América Mineiro, Avaí e Criciúma. Cansados dos deficitários e ultrapassados estaduais. Jogariam a liga. E mandariam jogadores sub-23 para os estaduais. Venderiam a competição para "qualquer tevê", de preferência não à Globo. Marco Polo viu a serpente sendo gerada. O embrião que poderia acabar com o poder na CBF. E agiu. Articulou com a Globo. Advogado, para ele, vale o que está escrito. Os clubes que receberam antecipado da emissora carioca têm de colocar seus titulares no estaduais. Por isso os paulistas nem entraram na briga. A Globo usou a sua força e garantiu o torneio.

Dividindo o dinheiro como ela quer. E não exatamente como a Primeira Liga decidiu. A divisão seria da seguinte forma: 44% divididos igualmente, outros 44% para visibilidade (pay-per-view, por exemplo) e 12% destinados à premiação da Liga. Mas o Flamengo, aliado íntimo da emissora, quer ganhar mais. Assim como o Atlético Mineiro. Essa desunião derrubou o maior inimigo de Marco Polo na Primeira Liga: Alexandre Kalil, o CEO da nova entidade. Marco Polo também conseguiu que os julgamentos dos jogadores fossem feitos no STJD e não em um tribunal próprio. Assim como os juízes sairão da Comissão de Arbitragem, controlada pela CBF, por ele. Grêmio e Atlético Mineiro já anunciaram que disputarão a Primeira Liga com jogadores sub-23. A prioridade será a Libertadores. E depois, os Estaduais. O dinheiro antecipado pela Globo pesou. A Primeira Liga está perdendo a razão de ser. O próprio presidente da entidade, Gilvan Tavares, critica gremistas e atleticanos. Se esquece que ele mesmo havia desistido da competição, por ver Mario Celso Petraglia como também presidente da nova entidade. O Cruzeiro só voltou quando Petraglia foi destituído. E a presidência voltou a ser só de Gilvan. Situação que combina em garotos no colégio e não presidentes que querem revolucionar o futebol brasileiro. Se a Primeira Liga desse certo, até o calendário poderia ser mudado no futuro. Ser equiparado ao europeu, como manda a razão, abrindo espaço para amistosos, pré-temporadas no Exterior. Na elite europeia e não nos Estados Unidos. Situação que a Globo não quer. Porque há décadas os Estaduais, a Copa do Brasil e o Brasileiro seguem a sua grade de programação. A publicidade no futebol vai de janeiro a dezembro. Facilita a vida da emissora.

Tudo isso está conspirando para o presidente licenciado da CBF. Nada escapou do seu controle. Conseguiu dar a maior volta por cima dos últimos tempos. Em 2016, tudo pode piorar. Mas neste ano, calou a boca dos críticos. Graças a seus marionetes, está mais vivo do que nunca. O futebol brasileiro segue nas suas mãos. Energia nunca faltou. Suas namoradas com idade de netas que o digam. Marcus Vicente, coronel Nunes...

Clubes sem coragem de exercer seu poder de voto...

Primeira Liga implodida...

FBI sem conseguir encontrar sua assinatura junto de Marin...

Governo sem energia para intervir na CBF...

Sair ileso na prática da CPI do Futebol...

Controle absoluto da Seleção Brasileira...

Revolta dos patrocinadores travada...

Aliança com a Globo firme e forte...

A eleição do Time foi injusta.

A chanceler alemã, Angela Merkel, é poderosíssima.

Sua postura influencia todo o mundo.

Diante dos imigrantes, negociação com a Grécia e a União Europeia.

Mas o instinto maquiavélico de sobrevivência do brasileiro se mostrou inigualável.

Ninguém merece mais do que ele.

Marco Polo del Nero foi a Personalidade de 2015.

Pena que os eleitores não foram os "corajosos" presidentes dos clubes deste país.

Eles o elegeriam quantos anos Del Nero quisesse...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 29 Dec 2015 14:04:45

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