terça-feira, 8 de dezembro de 2015

"O futebol brasileiro está fragilizado e ultrapassado. O Bom Senso vai lançar candidato seu para a eleição na CBF em 2018." Uma da inúmeras revelações de Alex. Entrevista exclusiva...

"O futebol brasileiro está fragilizado e ultrapassado. O Bom Senso vai lançar candidato seu para a eleição na CBF em 2018." Uma da inúmeras revelações de Alex. Entrevista exclusiva...




É irreversível. O pouco de credibilidade que o alto comando da CBF tinha acabou. Os três últimos presidentes têm gravíssimas acusações do FBI e do Departamento de Justiça Norte-Americano. José Maria Marin está extraditado nos Estados Unidos, andando com tornozeleira eletrônica. Será julgado e pode pegar vinte anos de cadeia. Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero são acusados de receberem propina. Ela poderia passar dos R$ 120 milhões. Nunca a CBF esteve tão fragilizada. A Seleção Brasileira patina, não sai do lugar. Dunga não sabe nem se continua com a troca de comando. Os clubes seguem a caminho da falência. 85% dos jogadores ganham até dois salários mínimos. O calendário do futebol segue caótico. A audiência dos jogos não para de cair. "A hora de uma mudança profunda, uma revolução seria agora. Com a intervenção governamental na CBF. Não dá para continuar desse jeito. Isso é muito claro. Não há mais condição moral. O futebol brasileiro parou no tempo. O modelo faliu. É preciso agir agora quando essas pessoas que administram mal estão fragilizadas com essas denúncias. O futebol brasileiro está fragilizado e ultrapassado. O Bom Senso lançará candidato seu à eleição da CBF em 2018." Em entrevista exclusiva de uma hora e meia, Alex mostra porque é das maiores esperanças para o futebol deste país. Indo muito além do grande jogador que foi. Um dos líderes do Bom Senso. Se prepara. Vai seguir no esporte que o consagrou. Como treinador ou dirigente. Com visão privilegiada, soube absorver tudo de bom e ruim que viveu como jogador da elite no Brasil e na Europa. Só que ao contrário de muitos, ele tem espírito de liderança e fome de mudanças, de modernização. Não se conforma com o atraso que domina o país em todas as áreas. Principalmente no futebol. Alex, sua família era muito humilde, muito pobre. Seu pai era cortador de cana, pedreiro. Sua mãe, diarista, usava jornal para aquecê-lo quando era bebê. Quando percebeu seu potencial com futebol, se impôs o papel de provedor? Aquele que iria sustentar a todos? Desde muito cedo. Quando eu ia jogar futsal em 87,88, o Brasil enfrentava uma crise absurda. Em muitos períodos o pouco dinheiro que conseguia na AABB (Associação Atlética Banco do Brasil) era o que circulava em casa. Eu tinha 11, 12 anos. Não percebia a profundidade da situação. Mas me chamava a atenção da conversa entre eles, como iriam fazer para pagar o aluguel. Meu pai tinha uma mania de apagar os interruptores para não gastar luz. Depois quando comecei a jogar no Coritiba, ainda garoto, fui perceber a importância do que eu ganhava. Alex, chega a ser incoerente a clareza com que você analisa o futebol, o mundo em geral. Sua família era simples demais, sem estudo. Eu agradeço a Deus a sorte de ir ido jogar futebol de salão na AABB. Comecei a conviver com filho de advogado, com filho de médico. Começo a viver em dois mundos. O da periferia com a minha família e o da AABB. E tenho amigos dois dois lados até hoje. Há o dono da farmácia de produtos específicos ao metalúrgico, o professor. Lógico que tem gente que já morreu, está preso. Criminosos, mesmo. Tem o Marcelo do filme Vips (Marcelo Nascimento da Rocha, falsário, estelionatário, mitômano. Se fazia passar por milionário. Sua vida deu origem ao filme Vips.) A gente tomava ônibus juntos. Talvez ele seja o bandido mais famoso que eu convivi. Você passou por alguma dificuldade, humilhação quando era jovem e pobre? Tem uma coisa que me marcou. Quando eu estava crescendo, queria ficar perto de uma menina. Uma vizinha. Eu andava só de shorts e sem camisa. Essa era a minha roupa. Até porque essa era a minha roupa. Quando estava friozinho em Curitiba colocava um moleton. Lembro como se fosse há cinco minutos. Os pais falando para ele, "sai de perto desse menino que só pensa em jogar bola, não estuda e é um baita de um vagabundo". O que era mentira, eu estudava muito. E não tinha idade para trabalhar. E quanto à bola era verdade. Eu só pensava em bola. Eu tinha 13 ou 14 anos. Nunca esqueci. E como é essa história que você contou no livro que vibrava cobrando faltas, dizia que era o Neto. E gostava do Corinthians do Sócrates? Você era corintiano quando menino? Não é que eu fosse corintiano. Era o momento do Corinthians. A televisão paranaense mostrava o Sócrates da Democracia. E era o time do momento de São Paulo. Além disso tinha o Flamengo do Zico que eu gostava. A televisão do Paraná só mostrava isso. O meu pai é santista. A minha mãe corintiana. Mas nunca me forçaram. Me disseram, você vai ser corintiano ou santista. Eu via futebol na televisão e adorava o Sócrates e o Zico. O Zico um degrauzinho acima. No meu reduto só tinha flamenguista e corintiano. Eram os times da moda. A primeira vez que fui ao Couto Pereira, fui ver o jogo do Atlético Paranaense. Minha relação com o Coritiba começa quando passo a jogar na base do Coritiba. Sou gandula em alguns jogos. Começo a ver os caras lá dentro. Começo a me aproximar. E gostar de verdade de um time, o Coritiba.

Quando é que você decidiu ser jogador de futebol? Foi quando eu vi o Zé Elias no Corinthians e o Ronaldo no Cruzeiro. Eu tinha jogado futsal com os dois. E vi que, se eles tinham condições, eu também tinha. Era possível. Até lá meu tesão era o futebol de salão. Não me via jogando no Morumbi, no Maracanã. A ficha só caiu quando vi os dois. Conversei com o pessoal da AABB e comecei a me voltar para valer para o futebol de campo. E consegui ganhar meu espaço no Coritiba. Quando você veio para o Palmeiras, os dirigentes se entusiasmaram. Sabiam que haviam contratado a grande revelação do futebol paranaense em 1997. Mas foi uma disputa, não foi? O Vanderlei Luxemburgo tentou me levar antes para o Santos. O Marco Aurélio Cunha era o supervisor. E ele era o supervisor do Coritiba. E disse ao Vanderlei que eu era muito irregular. E eu era mesmo. Fazia jogos espetaculares e jogos de merda. Ele contou isso e mesmo assim o Luxemburgo quis me contratar. Você sabe o por quê dessa sua irregularidade? Muita gente gosta de jogador mais dinâmico. E essa nunca foi a minha. Eu sempre preferi jogar próximo da área. Mesmo com todos me cobrando. Eu achava desnecessário vim para o meio carimbar a bola. Recomposição eu sempre fiz. Fiz mais de mil jogos na minha carreira. É raro quando o volante dos meus adversários ganharem os duelos de mim. Excetuando o Rincón e o Vampeta naquela fase maravilhosa do Corinthians, os caras eram foda, os outros, os caras entravam preocupados em me marcar. Eu lidava bem com a cobrança. Só não gostava do lado pejorativo. Quando as pessoas tentavam me diminuir. Isso nunca aceitei. A minha característica de jogar era aquela. Mas voltando ao Palmeiras... O Vanderlei insiste em me contratar. Isso chegam ao Coritiba o Corinthians e o Palmeiras. No mesmo momento. O banco Excell de um lado e a Parmalat do outro. A diretoria me chama e fala que as propostas são iguais. É opção sua. (O pai de Alex deu autonomia desde os 16 anos para escolher o que era melhor para a carreira.) Então eu paro e penso. O Corinthians tem Marcelinho e Souza. Além disso já havia o papo que o Ricardinho voltaria da França para o Corinthians. E o timaço do Palmeiras de 1996 estava se diluindo. O Djalminha iria embora. Opto pelo Palmeiras pela carreira. Sempre fui muito racional. Não pesou time de criança, torcida, nada. Foi uma aposta que eu fiz em mim e na minha possibilidade de crescer. Tanto que vim para o Palmeiras perdendo dinheiro. Ganhava R$ 25 mil no Coritiba, aceitei os R$ 13 mil que o Palmeiras me pagava. Apostei em mim. Vinha da Seleção de Junior. Pensava já em disputar a Copa de 2002.

Alex, o Palmeiras que você jogou era dividido? Isso se refletiu na perda do Mundial? O Palmeiras da minha primeira passagem era sim dividido. Eu tinha problemas com o Zinho. Eu era o contrário dele. Eu sempre fui decisivo e pouco participativo. Ele já não, era um puta jogador, participava o tempo todo do jogo. E quando eu não decidia, de acordo com a minha irregularidade, ele ficava louco da vida e me cobrava. Ele era campeão de tudo e a gente começa a bater boca. Porque os moleques do Palmeiras eram folgados. Eu, o Roque Júnior, a gente tinha personalidade. E aí criou choque. Entre um campeoníssimo e um moleque havia acabado de chegar. O César Sampaio ficava no meio do caminho, tentando resolver. Até que houve uma reunião no Paraguai. E o Zinho foi espetacular. Falou que ninguém precisava ser amigo um do outro. Tomar cerveja fora do clube. Mas o Palmeiras tinha de estar acima de todos. Ele tinha razão. Porque involuntariamente surgiram grupos. O da academia, os campeões de 92 e 93, os caras mais velhos. Tinha o da molecada, mais o Galeano e o Arce. E tinha o dos "bons baianos", o Oséas e o Junior. Isso durou. Quando acabou o Mundial e a gente perdeu para o Manchester, eu voltei para o meu quarto. Eu o dividia com o Arce. E falei "Arce, jogamos muito mas perdemos". O Arce respondeu. "Talvez nós perdemos por castigo. Por essa divisão." Já pensei muito nisso, mas não tinha como. Nós tínhamos as personalidades muito diferente. Ninguém poderia juntar aqueles grupos que se formaram. Houve alguns erros na escolha dos jogadores que disputaram aquele jogo contra o Manchester? O Evair, por exemplo, era melhor do que todos. E ficou na reserva. O Asprilla chegou depois, mas chegou bem. O Felipão alegou que ele chegou depois, mas esteve no Newcastle e conhecia a escola inglesa. A gente não ganharia. Parecia destino. Perdemos por uma falha do Marcão, que vivia a melhor fase de sua carreira. O Felipão enfatizou durante dias que a jogada deles era com o Beckham do lado direito e o gol sai com o Giggs pelo lado esquerdo. Jogamos para cacete. Fiz um gol legítimo e o juiz anulou. Enfim, coisas da bola. Você acha que o Palmeiras aproveitou tudo o que poderia da Parmalat? De jeito nenhum. O Palmeiras não aproveitou aquele dinheiro todo para se estruturar. O nosso CT tinha apenas estrutura física. Ele não era bom. Não tinha fisiologia, fisioterapia. O que o Palmeiras está fazendo hoje com o Paulo Nobre poderia ter feito 20 anos atrás. No campo ganhou tudo o que tinha de ganhar. Fora, não. Foi um desperdício. Como foi a sua escolha pelo Parma? Não errou? Eu não tive como escolher. O Parma já tinha um relação com o Palmeiras. E os caras vieram para contratar eu, o Júnior e o Roque Júnior. Só que o Roque Júnior já tinha acordo com o Milan. Eu e o Júnior tivemos de ir para o Parma. E o time naquele momento era abaixo do Milan, Inter e Juventus. Era um Parma bicampeão da Uefa. Era o que o Roma é nos últimos anos. Contrato bom. Período que tinha brasileiros fazendo sucesso no Parma. Conversei antes com o Cafu e o Aldair que jogavam na Itália. Os dois falaram que eu tinha de ir, a cidade era boa. Tinham argentinos importantes: Sensini, Ortega, Crespo. Era um time bom. Quando eu chego jogava o Thuram, o Buffon. Só que quando eu chego lá algo estranho acontece.

O quê? Quando eu chego, me levam para assinar o contrato. E não tem imprensa, não tem ninguém no aeroporto. E penso comigo. Tem alguma coisa errada. Eu tinha acabado de jogar Brasil e Argentina no Morumbi. O Ortega, Sensin e o Crespo, que são jogadores do time, estavam lá. Eu pensei, não sou um desconhecido. E não tinham ninguém. Eu sento e os caras me sentam e começam a tratar dos meus 15%, dois milhões, duzentos e cinquenta mil dólares. Os caras me dizem que não podem pagar à vista. Pediram para pagar em três vezes. Eu respondi que não tinha problema nenhum com dinheiro. Imaginei que estava indo jogar em um time europeu, os caras iriam me pagar muito bem. E os caras quiseram me pagar em uma offshore no Uruguai. Pensei. "Caralho, que porra é essa?" Ligo para o meu advogado e ele fala, recebe. A gente traz o dinheiro para o Brasil porque os caras estão querendo esfriar um dinheiro que é quente. Então eles esfriam e a gente esquenta. Colocaram o dinheiro no Uruguai, trouxe para o Brasil, paguei os impostos e o dinheiro esquentou. Isso era 2000. Faço um contrato para receber o segundo terço em abril de 2001 e outubro de 2001. Aí os caras me dizem que têm excesso de estrangeiros. E eu falo "tudo bem, o que a gente faz?". Podemos te emprestar para o Verona, para o Napoli. Eram equipes que estavam na Segunda Divisão. Falei que para a Segunda Divisão, eu não vou. Na época estava o Abel Braga no Olimpique de Marselle. E tinha uma porrada de brasileiros no La Coruña. Não me deixam ir para nenhum dos dois clubes. E antes de irmos para a Itália, eu e minha mulher tínhamos estudado Italiano. Ela dominava. E ouviu que os caras do Parma falavam rápido entre eles que iam ganhar percentual nas minhas costas. Minha mulher entendeu e avisou que não iriam ganhar nada em cima de mim. Se não tivesse time bom, não iria e ponto final. Só que havia a Copa. Eu queria jogar a Copa. Precisa jogar. Falei, então volto para o Brasil. Volto para o Palmeiras. Falaram que haviam quebrado a parceria (Na verdade, Alex e Júnior foram quase como um troco para a Parmalat pelo investimento no clube. Ninguém havia "pedido" o meia.) O Eurico Miranda iria me levar para o Vasco. Só que o Eurico ainda devia o Junior Baiano. Então o negócio com o Vasco deu para trás. E aí aparece o Flamengo. Contrato de agosto de 2000 a maio de 2001. Ganhando o mesmo que a Itália. Lá estava uma bagunça só. Não recebi um tostão. E não deu nada certo. Você ficou frustrado com sua passagem pelo Flamengo? Sim. Porque o Flamengo é um puta de uma marca. Um puta de um time. Voltei para tentar jogar a Libertadores em 2001. Só que nada funcionou com o Zagallo. O clube não pagava ninguém. Aí voltei para o Palmeiras. Não bastasse isso, fui cobrar a minha segunda parcela do dinheiro que tinha direito da Parmalat. Fui cobrar o Marcos Bagatela (ex-diretor da Parmalat no Palmeiras) e com o Marcos Monteiro. Ele falou, não "devo nada e se você quiser cobrar, vá na justiça". Fiquei quebrando a cabeça vou ou não vou na justiça. Vou. Ganho na justiça do Trabalho uma liminar. Meu contrato acaba com o Palmeiras e o Palmeiras não quer brigar com o ex-parceiro. E vou parar no Cruzeiro. O processo foi uma vergonha. Neguinho falsificou a minha assinatura. Fiquei revoltado. Se dependesse de mim, esse processo não iria parar. Colocaria o Bagatela e o Marcos Monteiro na cadeia. Falsificaram a minha assinatura, falando que eu abriria mão de um milhão e meio de dólares, uma vergonha. O advogado falava assim. "O Alex quer só dinheiro. Se não ele ficaria no Flamengo Futebol Clube (sic). O Alex quer ganhar o passe e jogar na Coréia e no Japão." Até que um dia eu falei para o meu advogado. Eu abro mão do dinheiro. Só quero o meu atestado liberatório. O advogado discute com o Bagatela. Até em final de 2001, a Fifa me suspendeu. Aí contrato o advogado Marcos Motta que me diz que a Fifa não estava me suspendendo de verdade, só queria o meu encontro com o Parma. Aí em janeiro de 2002, na Fifa, o Parma reassumiu a dívida. Quando lembro disso, me revolta. Os caras falsificaram a minha assinatura. Iriam acabar com a minha vida. São coisas tristes. O ex-diretor do Palmeiras, o Gilberto Cipullo, acompanhou o julgamento. Sabia que eu tinha dinheiro a receber e não falou nada. Depois dei todo esse material para a CPI do futebol, em 2000. E eu tenho uma curiosidade grande. Não sei mesmo se os 15 milhões de dólares que eu fui vendido do Palmeiras para a Parmalat entraram nos cofres. Não sei se entrou. Isso me causa curiosidade. Perdi tempo e saúde. Dinheiro, não. E o que aconteceu depois? Porque o exílio na Turquia? Eu volto para o Cruzeiro e arrebento em 2003. E em 2004, já tinha 26 anos e vieram alguns clubes europeus me contratar. Todos contratos parecidos com que eu tinha no Brasil. O Benfica, o Dortmund, quando aparece o Fenerbahce. Me dando tudo o que eu queria. E mais ainda. Minha mulher estava grávida. Havia perdido dois filhos. De novembro de 2003 a maio de 2004. O treinador vinha, o treinador mandava o Fábio Luciano para me convencer. De 2004 até 2007 fiz um contrato pensando apenas na parte financeira. Ganhei muito bem. E eu já não pensava mais em clube europeu de ponta, em Copa do Mundo. Pensava na independência financeira. Eu achava que a minha Copa era de 2002. Não podia pensar mais em fazer sucesso como jogador de futebol. O que a Turquia me oferecia era seis vezes mais que o Benfica, por exemplo. Não havia lógica em recusar. Tudo que pedi para o Fenerbahce, até de pirraça, eles davam. Me davam passagem, carro, a mais. Os turcos têm muito dinheiro.

Você nunca se arrependeu em ter ido para a Turquia?

Não. Em momento algum. Não me exilei. Houve falta de vontade de ver. Em 2008, por exemplo, entrei na seleção da Champions League. Fui o melhor passador, quem deu mais assistência fui eu. O que aconteceu comigo, acontece agora com o Douglas Costa. O que ele joga no Bayern, jogava na Ucrânia e ninguém via. E não tem a mínima vontade de ver. O Brasil acompanha a Espanha, Itália, Alemanha, Inglaterra e agora a França por causa do Paris Saint Germain. O que o Juninho Pernambucano fez no Lyon foi um absurdo. Se o Luizão zagueiro tivesse a história que tem no Benfica, em outro país, estaria em outro patamar no Brasil. Mas é uma questão cultural.

Você tem algum arrependimento na carreira?

Não. Porque tudo o que fiz na minha carreira foi pensado. Analisando os prós e os contras. Não agi com a emoção.

Mas 2002 te baqueou. Ter sido deixado de fora da Copa pelo Felipão...

Não fracassei como jogador porque não fui. O Felipão falou várias vezes antes que estava comigo. Tem uma passagem em 2001 que é simbólica. Eu tinha jogado pelo Brasil contra o Uruguai. Ele tinha me dado folga de uma semana. Fui para uma praia no Paraná. Ele me liga e diz que precisa de mim. O Palmeiras tinha de ganhar do Corinthians para passar de fase no Rio-São Paulo. Ele me disse: "eu preciso que você venha". Eu aceito. Venho, a gente ganha por 3 a 1. Eu faço os três gols e no final ele me abraça. E diz para mim. "Tem coisas na vida que a gente não esquece jamais. O que você me deu hoje, eu posso devolver na frente. E ele é assim com as pessoas. Só não foi assim comigo. Se você vir o time que ele montou em 2002, foi assim. Ele abraçou o Luizão e foi com ele até o final. Ele abraçou o Roque Júnior e foi até o final. Em 2014, ele abraçou o Fred e foi até o final. Ele decidiu em 2002 não me abraçar. A minha decepção aumenta porque eu conhecia bem o Felipão. Sabia de suas preferências e das não preferências (jogadores do Palmeiras na época comentam que ele detestava o Ricardinho quando atuava no Corinthians).

Há um lugar, uma situação que você teve a certeza que não iria para a Copa?

No amistoso antes da Copa, contra a Islândia. Eu caí naquele amistoso. Anderson Polga, Gilberto Silva, Kleberson e Kaká ganharam a vaga no Mundial. Sempre brinco que eles jogaram contra uns gordinhos. Se eu pego o time dos meus amigos, a gente ganha. Eu ficava no banco. E eu sabia que se entrasse, faria dois ou três gols. E tem uma coisa que me chamou muito a atenção naquele dia. De volta no aeroporto daquele jogo, o Mauro Naves (repórter da Globo) entra no Jornal Nacional e falam que esses jogadores carimbaram sua ida para a Copa. Eu me perguntei. Carimbaram como? Nós estamos na Seleção por quatro anos. E justo agora tudo vai.


Quando você viu que não iria, aí o emocional finalmente venceu o racional...

Lógico que sim. Juntou tudo. Minha mulher perdeu o segundo filho, eu fico mal na primeira convocação que eu não estou, fico pior no corte do Émerson. Fico mal duas vezes no corte do Emerson, porque eu achei sacanagem. Porque em uma Copa você não vai usar os 20. Ele foi o capitão o tempo todo. Deveria ter ficado com o grupo. Ele ficou arrasado. Falei com ele. Quando ele saiu, a minha luz de Copa, a esperança volta. Aí vem a convocação do Ricardinho. Não é nada contra ele, até porque jogava muito bem.

Quando você encontra o Felipão, você fala com ele?

Falo, sem problema. A última vez foi na minha despedida do Palmeiras. Passamos o dia todo no hotel juntos. Ele contava as histórias dele. Nós jogadores contávamos as nossas.

Como é que você aguenta?

Como eu aguento? O Palmeiras tentou me contratar em 2011. O Felipão era o treinador. E os caras que estavam no comando eram o Galeano e Sampaio. Falei com o Felipão e ele me contou os planos dele para o time. Liguei depois para o Galeano e Sampaio. Disse que não daria para conviver com o Felipão e o Murtosa todos os dias. Vai me remeter a 2002. Ver uma vez, sentar em uma mesa. Mas todos os dias, viajar, concentrar. Ele me pedir uma coisa. Eu sabia que voltaria como liderança de grupo. Não iria ser saudável. Eu não teria saúde para isso. Agora, se eu o encontrar agora, tudo bem. Não falei em dinheiro. Olhando o mercado. Se eu sentasse com o Sampaio, a melhor oferta financeira para a minha volta ao Brasil seria o Palmeiras. Mas não quis por causa do Felipão. Para o Cruzeiro perguntei quem seria o treinador. E o Gilvan falou que não sabia. E eu pensei: tenho uma história lindíssima no Cruzeiro e não vou querer que o cara me use de escudo, já que o presidente nem sabe o que vai fazer.


E por que o Coritiba?

Eu quis fazer uma transição mais natural. Sabia que iria viver em Curitiba. Pensei, o que vou fazer no Palmeiras? O que preciso ganhar no Palmeiras para fazer a minha história ficar maior? No Cruzeiro, vou ganhar mais um Mineiro, mais um Brasileiro? O que muda no contexto? E no Coritiba há uma transição no contexto pessoal. Para fora do campo. Como vai ser o meu dia-a-dia. A ideia que o Coritiba vendia para todo mundo era que o presidente (Vilson Ribeiro de Andrade) vinha do mundo corporativo, administrava o futebol de modo diferente. E quando eu chego funcionava assim. Os jogadores satisfeitos, felizes. Acho engraçado quando ele e o Felipe Ximenez (superintendente) falam no meu livro, falam aberto e não assumem as outras cagadas que fizeram, que o meu salário compromete o orçamento do clube. Provo por A mais B que estão errados. Vendi um monte (de camisas e uniformes) na loja oficial do Coritiba. Não tenho culpa se eles não têm acesso à loja. As pessoas iam para campo para me ver. Posso dar dez nomes que eles contrataram ganhando R$ 40 mil, R$ 50 mil que somados davam mais que o meu salário. E os caras não iam a campo. Os caras não jogaram. Os caras tinham 60 jogadores no vestiário. Eu ganhava bem? Ganhava. Mas eu não pedi para ganhar bem. Eles me ofereceram. O único pedido que eu fiz foi ganhar na carteira de trabalho. E eu pagaria meus impostos. Se ficaria mais caro para o clube, o problema não era meu. O problema era deles que aceitaram. O problema é que o dinheiro começou a faltar para todos. E me colocaram como o responsável por ser capitão e jogador mais conhecido. Foi isso que aconteceu.

Alex, você ficou oito anos na Turquia. Como é que você reencontrou o futebol brasileiro? Que tipo de estrutura?

A mesma que eu sai. Com a mesma estrutura, os mesmos treinamentos, a mesma parte cultural. Os mesmos deveres para os jogadores. Mais deveres do que direitos. As mesmas dificuldades. Só que hoje piorado. Piorado porque o regime paternalista protege o jogador. Ele é mimado por natureza. Até pela educação moderna, onde o jovem não tem o menor respeito pelo mais velho, faz com que o futebol brasileiro recue, pare no tempo.

O que você acha da Lei Pelé?

A Lei Pelé é prejudicial. Antes o jogador era escravo do clube. E virou do empresário. O jogador se livrou do clube. Mas o clube ficou preso aos empresários. O que acontecia antes quando o clube ficava em dificuldade? Batia em porta de emissora de tevê. Hoje bate na porta da emissora de tevê e pede dinheiro também para os empresários. E a negociação é assim: "Cosme, você tem dois milhões para me emprestar? Você me empresta e eu te dou tanto do percentual do jogador". Infelizmente é isso.

Aí, Alex, surge o Bom Senso. Com grandes jogadores à frente, como você. Vocês poderiam ter ido muito além do que foram. Mas aí, param. E somem. Se contentam com pouco.

Poderíamos ter ido além. E vamos. O plano é lançar alguém como candidato à presidência da CBF na próxima eleição. Em 2017 ou 2018. Mas a gente briga com esse sistema. Com esse efeito dominó que chegou à cúpula da CBF nos dá esperança que tudo mude. Até o sistema de eleição. Eles estão fragilizados. Porque Cosme, não não sumimos, não paramos de trabalhar nos bastidores. Por exemplo, a MP (Medida Provisória) que passou e não é ainda a solução do futebol brasileiro, o Bom Senso participa efetivamente dessa situação. Eu mesmo tive encontro em Brasília, na CBF, na Globo. Sentamos com o Aloizio Mercadante (ministro da Educação), com a Dilma. Na época, o pessoal tentava marcar com o Eduardo Cunha, mas não houve o encontro. As pessoas precisam reconhecer que na história do futebol brasileiro não houve um momento como esse. Com a participação dos jogadores. Mas o Bom Senso não executa. Não tem o poder de execução. Vivemos em um sistema politico complicadíssimo. Neste domingo os jogadores fizeram protesto de novo, pedindo a saída do Marco Polo del Nero. O Corinthians não fez. Provavelmente por culpa do Andrés Sanchez. Reza a lenda que o Andres quer ser presidente da CBF. Perguntei para as pessoas e ouvi que o Andrés não pode nem ouvir falar o nome do Bom Senso. Aí se torna pequeno, pessoal. Se ele nos enxerga como concorrência não é o mais importante. O que é maior é quebrar esse sistema de votação.


Vocês só vão "quebrar esse sistema de votação" que privilegia as federações com uma intervenção do governo na CBF....

Eu acho engraçada essa história de intervenção. O governo não muda o sistema porque a CBF diz que a Fifa vai punir o futebol brasileiro. Só que o Brasil não é a Nigéria. Não vão nos suspender. Eu defendo uma intervenção do governo. Para quebrar esse sistema. Para mim, o ideal é o modelo inglês. A CBF cuida da Seleção. E os clubes montam a liga de quatro divisões. Com os estaduais dando acesso para essas divisões. O ideal seria dissociar os clubes das federações e da CBF. Porque para mim, as federações não passam de um cartório de notas. Só emite nota nas federações. Quando as federações deveriam fomentar o futebol no interior, nos times pequenos. E vamos voltar à Lei Pelé. Como é que vamos ter um Guarani, que era grande revelador, forte de novo? Nunca. Porque ele gasta, gasta, gasta e descobre um grande jogador e aí vem o empresário e leva de graça. Quando não vem um empresário, vem um clube grande de potencial maior. Lei da Selva. O leão comendo a zebrinha. E esta é uma situação a ser discutida.

E os Estaduais?

Eu sou completamente contra o fim dos Estaduais. Por exemplo, no Paraná. Você não está falando no Atlético, Coritiba e Paraná Clube. Está falando nos times pequenos. Há muitos jogadores e cidades envolvidos. Estou falando de Segunda, Terceira, Quarta Divisão. Tem vários estados onde há apenas dois clubes fortes. As federações deveriam ajudar a desenvolver os clubes pequenos. E não ficar agradando os grandes. Não adianta falar porque somos brasileiros que somos todos iguais. Se fôssemos holandeses, tudo bem. A Holanda é pequena. O Brasil, não. É um continente. O que acontece em Manaus é bem diferente do que acontece em Porto Alegre. O primeiro passinho para isso acontece é os clubes dissociarem, se afastarem da CBF.

O momento não é esse com a CBF tão fragilizada?

Sim, mas os clubes também estão. O sistema no Brasil está fragilizado. Cobram muito algo que o Bom Senso nunca fez e não vai fazer: greve. Por medo de retaliação. A discussão é cultural. Hoje você pega um menino de 14 anos em um clube e ele não vai estudar. Estudar para quê, ele pergunta? É isso que muita gente quer. Quanto menos estudo, menos poder de argumentação, de articulação. Vou dar um exemplo. O Paulo André que é articulado tem dificuldade para encontrar clube para jogar. Não porque ele é bom ou mal jogador. É porque ele é articulado.

Mas o presidente do Coritiba mandou você ficar mais quieto, não mandou?

Mandou, mas eu não fiquei. Quando eu falei que a CBF era uma sala de reuniões e quem mandava era a Globo, porque a Globo pagava a conta, não estava criticando a Globo. Eu te convido para almoçar e vou pagar a conta, quem vai escolher o restaurante sou eu. Quando eu fui para a reunião na Globo, o Marcelo Campos Pinto apontou para mim e disse: "Sabe Alex, eu jogo às 10 da noite por isso, isso e mais isso." Eu respondi, "concordo. É você quem paga a conta". Só discordo com o sistema aceitar que a partida aconteça às dez da noite. Porque é desumano para quem vai assistir à partida no estádio. Desumano.

Você já decidiu seu futuro? Será treinador ou dirigente?

Eu tinha muito sentimento pelo jogo. Nos últimos dez anos de carreira, eu tinha muito sentimento pelo que acontecia ao meu redor. Conversava muito com o Zico, com o Luis Aragonés, com o Paulo Autuori, Levir Culpi. E como eu casei com a filha de um dirigente, pego as conversas que tive com ele, com outros dirigentes como o Maluf do Atlético, que foi meu dirigente no Cruzeiro. Tenho sentimento pelo campo e pelo bastidores. Então ainda não decidi. Mas vou seguir no futebol.

O Neymar merece ser o capitão da Seleção Brasileira?

Se a escolha for técnica, sim. Se for por personalidade, não sei. Não o conheço. Não sei se é líder, um exemplo para o grupo. O que eu posso falar sem medo é que não vejo nesta geração uma liderança destacada. Mas a geração é boa. O Dunga tem jogadores importantes e que podem chegar muito bem em 2018 e ganhar a Copa. Ele está sofrendo apenas para encontrar um sistema. Mas eu gosto do potencial da equipe. A análise que esta Seleção sofre é feita em cima do fracasso na Copa de 2014. É reflexo.

A última pergunta. No seu livro, você toca sem medo em temas polêmicos como pedofilia e as drogas que circulam em festas onde estão jogadores. Por que fez questão de não fazer como a maioria e fingir que isso não existe no futebol?

Porque quando me propus a lançar uma biografia, fiz questão que ela fosse verdadeira. E o futebol representa exatamente o que acontece a sociedade como um todo. O ambiente do futebol não é à parte do mundo, como muita gente quer acreditar. Há pedofilia, drogas, homossexualismo como em toda sociedade. Não vou mentir.



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 08 Dec 2015 03:56:43

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