segunda-feira, 4 de maio de 2015

A agressão de Dudu ao árbitro poderia ser evitada. O jogador de R$ 19 milhões estava desequilibrado psicologicamente. O principal atacante do Palmeiras pode ficar seis meses suspenso. O título foi perdido. A conta chegou...

A agressão de Dudu ao árbitro poderia ser evitada. O jogador de R$ 19 milhões estava desequilibrado psicologicamente. O principal atacante do Palmeiras pode ficar seis meses suspenso. O título foi perdido. A conta chegou...




"APÓS TER SOFRIDO UM TRANCO DO SEU ADVERSÁRIO, SR. GEUVANIO SANTOS SILVA, N. 11, ATINGIU COM O ANTE BRAÇO AS COSTAS DO MESMO, QUANDO A PARTIDA SE ENCONTRAVA PARALISADA, SENDO EXPULSO DE IMEDIATO. ATO CONTÍNUO PARTIU EM MINHA DIREÇÃO, E DESFERIU UM GOLPE DE FORMA INTENCIONAL COM SEU ANTE BRAÇO ATINGINDO AS MINHAS COSTAS, PROFERINDO AS SEGUINTES PALAVRAS: – "" VOCÊ É UM SAFADO, SEM VERGONHA, VEIO AQUI ROUBAR A GENTE, SEU FILHO DA PUTA, MAU CARÁTER, LADRÃO"", TENDO QUE SER CONTIDO PELOS SEUS COMPANHEIROS.(VERMELHO DIRETO)." Com letras maiúsculas, Guilherme Ceretta de Lima, colocou na súmula todos os palavrões que ouviu. E foi além. Não fez como Raphael Claus que fez um adendo à sua súmula, por causa de Petros. Ou Leandro Bizzio Marinho que, apesar de ter caído no chão, não relatou o empurrão de Guerrero. Ceretta colocou de maneira cristalina. Na sua análise, que é fundamental para um futuro julgamento, Dudu o agrediu. De forma intencional. Pelas costas. O jogador deve ser julgado pelo artigo 254-A do CBJD, agressão a árbitro, com pena mínima de seis meses. O departamento jurídico do Palmeiras se articula para repetir o caminho que o Corinthians fez com Petros. Tentar encaixar a situação no artigo 258, assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva não tipificada. E assim, fazer com que possa pegar, no máximo, seis jogos.

Conselheiros palmeirense com influência no departamento de futebol criticam. O que aconteceu ontem poderia ser evitado. Bastaria Oswaldo de Oliveira ter tido o mínimo de cuidado, atenção à personalidade de Dudu. O jogador de 23 anos dava demonstrações de que estava para explodir. A pressão foi grande demais para a contratação mais cara do futebol brasileiro em 2015. O Dínamo de Kiev havia pago ao Cruzeiro R$ 17 milhões pelo atacante. Não se adaptou ao frio e ao truculento futebol ucraniano. Acabou sendo emprestado para o Grêmio. Lá mostrou seu futebol veloz, irreverente, ágil. Nunca foi artilheiro. Mas especialista em assistências. Luiz Felipe Scolari implorou para a direção gremista contratá-lo em definitivo. Mas não havia dinheiro. As direções de Corinthians e São Paulo se assanharam ao saber que seria devolvido ao Dínamo. Trabalharam em duas frentes. Os corintianos fecharam com o jogador e seus empresários. Os são paulinos com o clube ucraniano. Diante do impasse, o executivo de futebol do Palmeiras, Alexandre Mattos, sabia que os rivais ofereciam no máximo a compra de 50% de seus direitos. Falou com Paulo Nobre e o clube surpreendeu a todos, comprando 100% e oferecendo contrato de quatro anos. Os salários, R$ 350 mil. Sem produtividade. Apenas bônus especiais em títulos, classificação para a Libertadores. Jornalistas divulgaram a expressão que os torcedores palmeirenses usaram nas redes sociais: "chapéu". O Palmeiras teria dado o mais humilhante dos dribles nos bastidores. Tanto no Corinthians, como no São Paulo. A loja oficial que vende material do clube humilhou os concorrentes. Colocou um chapéu de palha no manequim com a camisa de Dudu.

O atacante caiu na tentação de prometer na sua entrevista de apresentação. Se marcasse um gol contra o São Paulo ou o Corinthians iria comemorar. Fazendo de conta que tirava um chapéu da cabeça, seguindo a ironia que os torcedores tanto adoraram no início do ano. Paulo Nobre reservou ao jogador a camisa que considera mais especial. A de número 7. E disse a conselheiros que ele seria a reencarnação de Edmundo. Tinha potencial comparável a um dos maiores ídolos da história moderna palmeirense. Todos só se preocuparam com o aspecto técnico. É estranho. Bastaria Alexandre Mattos conversar com seus muitos amigos no Cruzeiro. Dudu sempre foi um jogador temperamental, explosivo. Apareceu com uma grande esperança. Teve oportunidades no time principal com apenas 17 anos. Mas se desentendeu com o técnico Adilson Batista, que recomendou sua saída. Para aprender a valorizar o clube mineiro. O jovem atacante não aceitava mais a reserva.

Foi para o Coritiba em 2010. Ney Franco o conhecia bem e o chamou para disputar o Mundial sub 20 na Colômbia. Dudu se destacou e foi vendido ao Dínamo. Era uma grande aposta. Mas frustrou os ucranianos. Não só pelo futebol. Mas por sua personalidade irritadiça. Em janeiro de 2013, ele foi detido, na Delegacia da Mulher, em Goiânia. Acusado de agredir a esposa e a sogra. A esposa declarou que Dudu a teria agarrado pelos cabelos e dados socos na sua cabeça. Sua mãe, ao tentar defendê-la, também sofreu agressões e acabou com escoriações pelo corpo. O jogador pagou a fiança de R$ 12 mil, foi solto. As acusações foram retiradas. Em nota oficial, o atacante garantiu ter sido um "mal entendido". Ele não comenta sobre o caso. Nos jogos e treinos pelo Palmeiras, Dudu é muito irreverente. Gosta de provocar os adversários. Mas se irrita muito fácil quando é provocado, ao ser desafiado, ao tomar um entrada mais dura. Emocionalmente sempre foi inconstante. No Cruzeiro, Coritiba, Dínamo, Grêmio. Resolver essa questão nunca foi prioridade. O que importava era o que fazia com a bola nos pés. Na primeira partida contra o Santos, fez questão de bater o pênalti sofrido por Leandro Pereira. O Palmeiras vencia por 1 a 0. Se o time abrisse dois gols de vantagem, seria muito complicado para o Santos reverter na Vila Belmiro. Ele já havia desperdiçado uma cobrança contra o Penapolense. Leandro Pereira cobra muito bem. Mas nem tentou ir para a bola. Deixou que Dudu fizesse o que desejava. Correu, fez pose e bateu forte, alto. A bola bateu no travessão e foi para fora. Foi exatamente o que fez no estádio palmeirense. Ricardo Oliveira aproveitou sua experiência e gritou no ouvido do atacante. O xingou, o humilhou. Queria e conseguiu abalá-lo emocionalmente. O jogador não rendeu nada no restante da partida. Passou a semana fugindo das entrevistas por ter desperdiçado o pênalti, nervoso. Irritadiço. Foi assim que entrou para o jogo ontem na Vila Belmiro. A torcida santista o xingou, provocou. Os adversários também. Todos sabem de sua fama de temperamental.

Já havia tomado cartão amarelo aos quatro minutos por fazer uma "cama de gato" em Valência. O que apenas o deixou mais tenso. Ele era o atacante mais agudo palmeirense. O desafogo de Oswaldo, que colocou o time muito atrás. Sem companhia para tentar furar a defesa santista, Dudu estava muito nervoso. O treinador palmeirense não enxergava. Até que veio a falta pela lateral esquerda para o Palmeiras. Geuvânio o estava marcando. Os dois bem à frente de Guilherme Ceretta de Lima. O árbitro poderia advertir os dois verbalmente. Se mostrasse o amarelo, teria de expulsar apenas o palmeirense. Optou pelo vermelho aos dois. Dudu viu seu mundo desabar. O homem do chapéu não poderia se recuperar do pênalti desperdiçado. Sabia que, se o Palmeiras perdesse o título, seria um dos maiores culpados. E tratou de mostrar sua ira em cima do juiz. O xingou e claramente o empurrou pelas costas. E depois, desabou, chorou como uma criança perdida, sem os pais, em um supermercado. O lado psicológico de Dudu o traiu. Se houver o mínimo de justiça no seu julgamento será seriamente punido. Se prevalecer a hipocrisia, como no julgamento de Petros, escapará quase ileso. A conclusão do episódio é clara. O futebol precisa de vez se livrar do preconceito em relação ao trabalho psicológico. Na NBA, no futebol americano, no basebol, nas artes marciais, a figura do psicólogo é corriqueira. Mas no futebol, principalmente o brasileiro, não. Dudu estava precisando de ajuda. Carregou um peso desnecessário durante toda a semana passada. Foi uma infelicidade perder o pênalti. Por isso entrou para a decisão desesperado para "dar a volta por cima". Resultado, só se complicou. Atrapalhou ainda mais o Palmeiras. O experiente, vivido, Oswaldo de Oliveira precisa ser cobrado. Sem esse trabalho de psicologia, caberia ao treinador orientar Dudu. Ele sabe que tem nas mãos um jogador de gênio explosivo, tenso. Bastaria um mínimo de pesquisa, consciência, interesse.
O Palmeiras perdeu o título paulista. Por sorte, os julgamentos esportivos neste país costumam analisar o peso da camisa do acusado. Sendo assim, o fundamental é tratar de recuperar, não crucificar Dudu. Foram R$ 19 milhões. Agir profissionalmente. O obrigar a frequentar um psicólogo. Romper a barreira do preconceito. Na Seleção Brasileira que iria disputar a Copa de 2014, Regina Brandão fez um trabalho apenas superficial. Só traçou o perfil dos jogadores para Felipão. Ela queria ter acompanhado os jogadores, feito sessões de análises individuais. Antes e principalmente durante a competição. Mas não pôde. Neymar deu o tom do que os jogadores deste país pensam do trabalho psicológico. "Não preciso de psicólogo. Não sou louco..." Veio a Copa. As lágrimas no hino nacional, o desespero na disputa dos pênaltis, Thiago Silva o capitão do time se negando a cobrar, o medo do time sem Neymar, contundido. O 7 a 1 para a Alemanha, com os reservas tentando orientar os jogadores em campo. Felipão sentado sem reação. Será que ninguém precisava de psicólogo? O desprezo do Palmeiras com a preparação de Dudu, o jogador mais caro de 2015 neste país, só mostra que nada mudou. A vergonha que o Brasil passou na Copa do Mundo de 2014 foi à toa...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 04 May 2015 11:18:58

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