quarta-feira, 6 de maio de 2015

O surreal Corinthians. Afogado em dívidas com jogadores, governo, Odebrecht. Implora por empréstimos que bancos negam. Mesmo com milhões de reais passando pela bilheteria do Itaquerão...

O surreal Corinthians. Afogado em dívidas com jogadores, governo, Odebrecht. Implora por empréstimos que bancos negam. Mesmo com milhões de reais passando pela bilheteria do Itaquerão...




O Corinthians comemorou ontem ultrapassar a meta de 100 mil sócios-torcedores. Já está em 104 mil hoje. Só que não há disputa, corrida com o Palmeiras com seus 119 mil. Ou o prazer de tentar passar o Internacional, o primeiro do Brasil, com 136 mil. A diretoria anseia que esse número aumente cada vez mais pelo simples fato de esse dinheiro chega limpo aos combalidos cofres corintianos. Com planos de vários preços, o cálculo básico é que cem mil sócios-torcedores pagantes rendam cerca de R$ 25 milhões por ano. O mesmo que a Caixa Econômica Federal paga pelo patrocínio da camisa. E o clube do Parque São Jorge está afogando em dívidas. Fosse a diretoria de uma empresa multinacional séria, haveria demissão em massa. O absurdo acordo para a construção do seu estádio e a péssima administração de Mario Gobbi tornaram o Corinthians inviável. Com sério risco de falência se não fosse um clube de futebol cercado de privilégios. Executivos da área financeira acham inadmissível o acordo que Andrés Sanchez levou à frente com a Odebrecht. Houve um otimismo juvenil, injustificado, descabido. O Corinthians tenta disfarçar. Só que em agosto de 2010 comprometeu R$ 1,3 bilhão. Fez de conta que o mundo não vivia uma crise profunda. Analisando com calma, todos os dados do acordo foram favoráveis à construtora. Ela está protegida pelo fundo que administra a dívida. No início, o BNDES financiaria R$ 400 milhões. A Prefeitura de São Paulo bancaria R$ 420 milhões em CDIs, uma generosa oferta do ex-prefeito Gilberto Kassab. Andrés ofereceu toda a arrecadação dos jogos para o pagamento da dívida. E sonhava que, em sete anos, o Corinthians pagaria tranquilamente, inclusive os juros. Andrés foi o mais crédulo dos corintianos. Primeiro acreditou que seria fácil demais fechar a venda dos naming rights. Conseguiria, utilizando o seu poder de convencimento, fazer uma empresa colocar R$ 400 milhões para ter o direito de batizar o estádio por 20 anos. Conselheiros foram convencidos que a Emirates, empresa aérea dos Emirados Árabes, iria ser anunciada com grande festa. Isso, em 2010! Cinco anos depois, a dura realidade. O dirigente percebeu o quanto é profunda a crise, a recessão. Viajou para os Emirados Árabes, Estados Unidos, Japão, China. Conversou com representantes coreanos. Aproveitou sua ligação com o governo federal e ofertou à Petrobrás, aos Correios, à Caixa Econômica. A resposta foi não. O tempo passou e o nome Itaquerão se firmou. Como Maracanã, Morumbi, Pacaembu. O acordo do Palmeiras com a WTorre foi muito melhor. A construtora explora o estádio. E também os dirigentes foram muito ágeis e assim que a nova arena foi liberada para o público, já tinha a Allianz como dona dos naming rights. Especialistas em publicidade já avisaram Andrés, que a alcunha Itaquerão já virou um obstáculo intransponível, maior do que a recessão.

Os R$ 420 milhões em CDIs ofertados por Kassab foram embargados. O Ministério Público conseguiu provar que a doação foi ilegal. O ex-prefeito não poderia dar tanto dinheiro público a um clube privado. Essa situação nunca foi sequer aventada por Andrés, o que foi um erro gravíssimo, confidenciam advogados especializados em finanças. A briga jurídica existe e pode levar anos. O prefeito Fernando Haddad lava as mãos, diz que o problema não é dele. O deputado federal pelo PT e que domina o Corinthians também errou feio sua previsão em relação ao futuro. Ele tinha a certeza que o Brasil iria viver anos de empolgação com a conquista da Copa do Mundo. O fracasso do time de Felipão, a vergonha que o país passou, só trouxe ainda mais descrédito internacional. A queda de audiência e a péssima média de público nos estádios espantam ainda mais potenciais investidores, patrocinadores. Um executivo que errasse tanto com o dinheiro de uma empresa já estaria demitido. Há muito tempo. Só que no Corinthians, Andrés continua ainda mais poderoso. Ainda é admirado, reverenciado. Afinal, o Corinthians ter uma arena moderna, um Centro de Treinamento de primeiro mundo para os profissionais e está construindo outro CT, agora só para a base. São poucas pessoas que analisam qual o custo de tudo isso. Os balanços mostram que a dívida corintiana não para de crescer. Em 2012, era de R$ 177 milhões. Em 2013, atingiu R$ 194 milhões. Em 2014, pulou para R$ 314 milhões. O R$ 1,3 bilhão do estádio é uma conta à parte.

Alguns detalhes sugestivos do balanço de 2014. Em relação à temporada de 2013, a receita do Corinthians caiu 18,29%. O endividamento e déficit operacional chegam a R$ 21 milhões, no futebol. Os empréstimos saltaram de R$ 34,82 milhões em 2013 para R$ 42,09 milhões em 2014. As dívidas com fornecedores passaram de R$ 36,22 milhões para R$ 56,93 milhões. A situação nestes cinco primeiros meses do ano só piorou. Fisk e Car System desistiram de patrocinar a camisa corintiana. A Caixa renovou o patrocínio master e ainda paga R$ 30 milhões. Além de não dar um tostão de aumento, executivos do banco avisaram: se a economia do país não melhorar, não haverá condições políticas de seguir bancando a camisa. A esperança é que, em 2016, a Globo passará a pagar R$ 160 milhões para transmitir seus jogos. Atualmente, banca R$ 110 milhões. Corinthians e Flamengo são os que mais recebem da televisão neste país. São os privilegiados. Mesmo assim, o clube deve cerca de R$ 32 milhões a seus jogadores e ex-funcionários. Está tentando desesperadamente empréstimos de R$ 15 milhões junto aos bancos. A pedida era de R$ 25 milhões, passou a R$ 20 milhões. Foi baixando. BMG e Caixa Econômica recusaram. Por falta de garantias. A dívida com o estádio é brutal. Há uma parte da diretoria que tenta convencer Andrés a tentar o impossível. Ou seja pedir ao fundo que administra a arrecadação do Itaquerão uma parte da arrecadação. Esse dinheiro seria pago no futuro. Porque o que acontece no Corinthians é surreal. Só no Brasileiro de 2014, o Corinthians arrecadou R$ 32 milhões com o estádio. No Paulista de 2015, mais R$ 15,6 milhões. Na Libertadores até agora, contra o São Paulo, a renda: R$ 3,5 milhões. Diante do Danúbio, R$ 3,2 milhões. E diante do San Lorenzo, R$ 3,3 milhões. Ou seja, cerca de R$ 10 milhões. Já passaram pelas bilheterias do Itaquerão, R$ 57,6 milhões. Ainda há, no mínimo, a partida de volta contra o Guarani do Paraguai, pelas oitavas de final. A previsão é de, no mínimo, R$ 4 milhões. E todo os jogos Brasileiro, da Copa do Brasil...

Os jogadores sabem que todo esse dinheiro circula pelo clube. E não se conformam com os atrasos em direito de imagem, salários. Guerrero, por exemplo, tem R$ 2 milhões para receber e discute sua reforma de contrato há oito meses. Ele e seus agentes sabem que jogadores reservas como Cristian e Vagner Love fecharam excelentes contratos. Mesmo com toda essa crise. O volante receberá por três anos, R$ 21,5 milhões. Só de salários: R$ 300 mil em 2015, R$ 350 mil em 2016, R$ 400 mil em 2017. Mais R$ 7,5 milhões de direito de imagem. O que, com 13º e outros direitos, somam fabulosos R$ 538 mil mensais, em média, até 2017. No mês que vem, ele completará 32 anos. Vagner Love acertou contrato por um ano e meio. Recebe R$ 500 mil mensais. Em junho, o atacante reserva completará 31 anos. A folha salarial corintiana bate nos R$ 9 milhões a cada 30 dias. É uma das maiores neste país.

Os erros administrativos foram imensos no Corinthians. Nenhuma diretoria de uma empresa seria mantida com essa gestão caótica. Com tanta falta de visão global. Mas no futebol brasileiro, com o país mergulhado na recessão, tudo pode. Os dirigentes são intocáveis. As esperanças para o sufoco corintiano passar. O clube vencer a Libertadores. Com o título atrair mais patrocínios, até agora ninguém se interessou pelos calções e omoplatas no uniforme. A conquista valorizar seus atletas. Gil e Ralf devem ser vendidos na próxima janela. Vendas de camarotes e cativas do estádio, o dinheiro fica no clube. E torcer para o número de sócios-torcedores dispare. Tudo isso está amarrado à conquista do torneio sul-americano. No fundo, ninguém na diretoria acredita no sonho maior. Que o fundo que administra a bilionária dívida com o Itaquerão aceite repassar parte da milionária arrecadação do estádio. Pelo contrário, a Odebrecht quer seu dinheiro o mais rápido possível. Fora tudo isso, não custa lembrar. Andrés Sanchez optou por não pagar Imposto de Renda do clube quando era presidente. A dívida era de R$ 35,8 milhões. Ele e mais quatro dirigentes foram acusados pela Receita Federal de calote. A saída foi um acordo que custará R$ 188,1 milhões aos cofres corintianos até o final de 2018. Ou seja, uma diferença de R$ 152,3 milhões a mais. A justificativa do homem que manda no Corinthians foi uma aula como se administra um clube no Brasil. "Ou se paga salário, acordo trabalhista, ou... E infelizmente não conseguimos pagar todos os impostos. Quando fui presidente eu tive de fazer opções. Fiz opções que, para mim, foram corretas. Eu acertei todos os salários do clube. Acertei tudo. O clube fez um acordo sobre o imposto e está pagando." As previsões para este ano estão se tornando realidade. A recessão o fracasso da Copa só tornam o que já ruim, muito pior. 2014 já foi o ano mais deficitário da história dos clubes neste país. 2015 está se mostrando assustador. Caso fosse uma empresa, com as contas se acumulando, o Corinthians poderia estar fechado, falido. Se estivesse no cargo de executivo maior, o CEO de uma multinacional, o que aconteceria com Andrés? No endividado Parque São Jorge, o deputado federal está cada dia mais poderoso...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 06 May 2015 11:59:43

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