sexta-feira, 1 de maio de 2015

Mesmo com patrocínio da Caixa Econômica, com ajuda do governo para construir estádio, o Corinthians humilha o Dia do Trabalho. E deve mais de R$ 32 milhões ao time e a ex-funcionários...

Mesmo com patrocínio da Caixa Econômica, com ajuda do governo para construir estádio, o Corinthians humilha o Dia do Trabalho. E deve mais de R$ 32 milhões ao time e a ex-funcionários...



1º de maio. Estados Unidos. 1886. Milhares de operários em Chicago foram às ruas exigir condições dignas. Exigiam a redução de jornada de 13 para oito horas. Salários a cada 30 dias. Fizeram greve generalizada. Uma passeada gigantesca foi dispersa à força pela polícia. Morreram três operários. A Segunda Internacional Socialista, organizada por Friedrich Engels, foi uma reunião histórica de partidos operários de vinte países em Paris, em 1889. As atividades remuneradas passaram a ter regras específicas. Como jornada de trabalho, remuneração, férias. A intenção era acabar com os abusos que remetiam à escravidão. Em homenagem aos operários mortos em Chicago e para marcar a conquista do movimento seria instituído o Dia do Trabalho no mundo todo, no primeiro dia de maio. 1º de maio. Brasil. 1940. O ditador Getúlio Vargas resolve normatizar os direitos e deveres do trabalhador e empregador neste país. Institui o salário mínimo. Essa quantia deveria suprir as necessidades básicas de uma família com moradia, alimentação, saúde, vestuário, educação e lazer. 1º de maio. Brasil. 1941. Getúlio Vargas autoriza que seja criada a Justiça do Trabalho. Destinada a resolver questões judiciais relacionadas, especificamente, as relações entre os empregadores e seus contratados. 1º de maio. Brasil. 1941. A Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, passou a estabelecer os direitos e deveres dos trabalhadores. Salário mínimo, a carteira de trabalho, a jornada de oito horas, as férias remuneradas, a previdência social, descanso semanal. A CLT regulamentou ainda o trabalho da mulher e do menor de idade e ainda estabeleceu a obrigatoriedade do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). 1º de maio. Brasil. 2015. Parque São Jorge. O Corinthians, clube mais popular da cidade mais rica da América Latina. Dívidas com ex-funcionário, R$ 17,1 milhões. Dívidas com os atuais, passam de R$ 15 milhões. São cerca de R$ 32,1 milhões em dívidas trabalhistas .

Primeiro, quem não está mais no Parque São Jorge. Alexandre Pato, no São Paulo, tem a receber, R$ 6 milhões. Anderson Martins, no Al-Jaish do Catar, R$ 2,9 milhões. Mano Menezes, desempregado, R$ 2,5 milhões, Souza, no Paysandu, R$ 2,5 milhões, Elton, Vitória, R$ 1,5 milhão. Rodriguinho, Al Sharjah, Emirados Árabes, R$ 680 mil, Lodeiro, Boca Júniors, R$ 630 mil. Estes são os casos principais. Agora, os maiores endividados do atual elenco. Renato Augusto, R$ 4,9 milhões. Guerrero, R$ 2,5 milhões. Gil, R$ 2 milhões. Sheik, R$ 1,6 milhão. Danilo, R$ 1,3 milhão. Ralf, R$ 1,3 milhão. Elias, R$ 1,3 milhão, Fábio Santos, R$ 443 mil. Os débitos de outros jogadores chegam a R$ 5 milhões. O prazo para quitar a dívida com Paolo Guerrero acabou ontem. E seu dinheiro não foi depositado. O jogador está cada vez mais irritado, descrente de sua renovação. Com exceção de Pato, que foi contratado com o apoio da Nike para ser garoto-propaganda, os demais atletas tem 30% de direito de imagem. É um recurso que os clubes usam para pagar menos tributo e que "pode" ser atrasado sem grandes problemas judiciais. O atacante emprestado ao São Paulo tem 50% do que recebe do Corinthians em direito de imagem. O que não pode ser atrasado é o salário na carteira de trabalho. Se chegar a três meses, o clube perde o vínculo com o jogador. Em várias equipes do país, o mês chega a 60, 80 dias. O Corinthians passou também a atrasar salários, como confirmou Danilo.

A diretoria do Corinthians procurou a Caixa Econômica e o BMG. Há 15 dias, pediu para as duas instituições empréstimo de R$ 15 milhões para amenizar a situação. Mas os dois bancos tiveram de negar até agora. O motivo: não há garantias para o pagamento. O problema é a enorme dívida em relação ao Itaquerão. Ela chega a R$ 1,3 bilhão. O departamento financeiro está buscando outro banco. O clube já tem separado mais de R$ 60 milhões para o primeiro depósito do Itaquerão. Tem faturado em média, R$ 1,9 milhão em jogos no seu novo estádio. Mas o acordo é que todo esse dinheiro fique em um fundo para o pagamento para a Odebrecht e para o BNDES do estádio. A Caixa Econômica Federal é quem garante esse pagamento bilionário. A direção está vendendo camarotes, cadeiras cativas. Procurado empresas dispostas a patrocinar calções e omoplatas. Implora há mais de três anos pela venda do naming rights do estádio. Além da recessão, da crise, o apelido Itaquerão se popularizou. Donos de importantes agências de publicidades já falaram a Andrés Sanchez que este é um obstáculo praticamente intransponível. Como exigir que as pessoas deixem de chamar os estádios de Morumbi, Maracanã, Fonte Nova. O Palmeiras agiu de maneira correta em relação à "remodelação" do seu estádio. Quando ele foi erguido já tinha um acerto em relação ao naming rights, por isso Allianz Parque prevalece. Andrés sonhava com um contrato com a Emirates de 20 anos, com o faturamento de R$ 400 milhões. Mas a empresa recuou. As mortes dos três operários e o desabamento de parte do estádio, mais a vexatória campanha do Brasil na Copa e a recessão mundial. Esses os fatores que sabotaram o acordo. Andrés tenta agora empresas nacionais dispostas a bancar o nome do estádio por um prazo menor: dez ou até cinco anos. Já percebeu que não pode nem cogitar em pedidas proporcionais ao seu sonho de R$ 400 milhões. Mas está muito difícil. O Corinthians serve, neste dia do Trabalho, como exemplo da situação do jogador profissional neste país. O prestigiado New York Times publicou o que acontece nos maiores clubes brasileiros.

"Menos de um ano após a sua derrota humilhante na Copa do Mundo, o futebol brasileiro tem uma nova crise em suas mãos. Os times profissionais do Brasil estão afogados em dívidas, vendendo seus jogadores e jogando em estádios quase vazios. "Oito dos 12 maiores clubes estão com salários atrasados; se fossem empresas, quase todas as equipes na primeira divisão estariam falidas. Agora, com a economia brasileira em recessão, e com os patrocinadores e os torcedores cortando as despesas, as finanças dos clubes vão piorar ainda mais." O movimento Bom Senso conseguiu convencer Dilma Roussef. A presidente incluiu o fim dos atrasos de salários dos jogadores no financiamento de 20 anos, na dívida de R$ 4 bilhões em impostos e Receita Federal dos clubes. Só que os dirigentes procuraram a CBF e com o apoio do novo presidente, Marco Polo del Nero, recusaram. O Corinthians ganha R$ 30 milhões anuais no patrocínio de sua camisa, da Caixa. "O que é um crime. O governo deveria patrocinar todos os clubes ou nenhum. Não tem cabimento esse patrocínio", desabafou o ex-presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil. Ele também disse que Andrés Sanchez implodiu o Clube dos 13 para ganhar um estádio, o Itaquerão. Além do dinheiro da Caixa, o Corinthians, ao lado do Flamengo, é quem mais recebe da Globo para mostrar seus jogos. Atualmente são R$ 110 milhões anuais só pelo Brasileiro. Mesmo assim não paga seus jogadores em dia. Se a presidente quiser fazer o financiamento, sem contrapartidas. Como a possibilidade de sanções esportivas como perda de pontos e até rebaixamento por atraso no pagamento. Nada de exigir gastos de apenas 70% no futebol. E muito menos restringir mandatos dos dirigentes. Inclusive, lógico, na CBF.

Ou seja, neste 1º de maio de 2015, os jogadores de futebol da elite deste país não têm o que comemorar. A começar no popular Corinthians. Estão com premiações, direitos de imagem e salários atrasados. E se calam, aceitam. A Justiça do Trabalho, o governo e a barulhenta oposição do PSDB, de Aécio Neves, acompanham omissos essa desmoralização às leis trabalhistas básicas. Como o direto de receber a cada 30 dias. Se isso acontece com atletas da elite desse país, fica fácil imaginar os passam os atletas de equipes pequenas. Fora os trabalhadores "normais, mais humildes e sem mídia. Como operários, professores, lixeiros, policiais e tantos outros. Se vivo fosse, Getúlio Vargas não teria motivos de comemorar. 75 anos depois que decidiu normatizar a legislação trabalhista, passaria vergonha com o atual cenário. Saberia o quanto a população deste país está sacrificada pela recessão. E provavelmente seguiria o exemplo de sua atual sucessora, Dilma Rousseff. Presidente eleita justo por qual partido? Ironia máxima: o dos Trabalhadores. Getúlio também não teria coragem de falar em público, para multidões de brasileiros, como adorava. Nem mesmo na televisão ou rádio. Apelaria para a presença fria e virtual da Internet. Evitando o constrangimento de panelaços e vaias. Seria um presidente sem coragem de encarar seu país...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 01 May 2015 12:12:33

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