sexta-feira, 22 de maio de 2015

O Cruzeiro só precisa domar a euforia. E Aguirre deixar o Internacional ser Internacional. O Brasil tem toda a chance de ter dois poderosos representantes na semifinal da Libertadores...

O Cruzeiro só precisa domar a euforia. E Aguirre deixar o Internacional ser Internacional. O Brasil tem toda a chance de ter dois poderosos representantes na semifinal da Libertadores...




A euforia do Cruzeiro diante da marcante vitória de ontem contra o River Plate se justifica. O time de Marcelo Oliveira teve o que faltou na Libertadores de 2014: atitude. Mesmo em Buenos Aires, o atual bicampeão brasileiro manteve sua vocação para atacar. Agora tem uma vantagem importantíssima para tentar chegar à semifinal, podendo até empatar no Mineirão. A atitude foi justamente o que incomodou na derrota do Internacional para o Santa Fé, na Colômbia. Diego Aguirre colocou seu time sonhando com o 0 a 0. O amarrou na defesa e foi, com toda justiça, castigado com a derrota nos acréscimos. E agora precisa da reviravolta em Porto Alegre. Os dois brasileiros que restaram na Libertadores merecem estar nas quartas. Se superaram. Foram pressionados na fase de grupos. Deixaram para trás o então favorito Corinthians, que naufragou diante do Guarani do Paraguai. E se encarregaram de despachar o problemático São Paulo e o renascido Atlético Mineiro. O Internacional de Aguirre foi decepcionante porque se impôs com enorme firmeza contra o muito bem montado time de Levir Culpi. Mas o uruguaio caiu na fácil tentação. Lembrou dos seus tempos de jogador talentoso que foi. E sabia que seria até mais difícil sua equipe suportar os 2.640 metros de Bogotá e a pressão da torcida no El Campin. Mais até do que o Independiente Santa Fé. Os gaúchos ameaçaram atuar no 4-2-3-1. Só que na prática foi um suicida 4-5-1. Por vezes, como já previra anos atrás, Parreira: 5-5-0. Ou seja, o Internacional atraiu os colombianos não só para seu campo. Mas para sua intermediária. Chegou a ser revoltante ver D"Alessandro e Valdivia marcando laterais. E não usando o talento, a técnica que possuem para atacar. Gustavo Costas, o técnico do Santa Fé, não deve ser menosprezado. Ele já foi campeão em quatro países diferentes. Ganhou os campeonatos peruano, paraguaio, equatoriano e colombiano. O argentino de 52 anos sabe como montar times competitivos, vibrantes. E diante da proposta covarde de jogo colorada, colocou seu time na frente. Se não fosse por uma excelente atuação de Alisson, o Internacional teria sido goleado. Perdeu aos 46 minutos do segundo tempo tomando gol infantil. Em cobrança de escanteio, que livre, Mosquera aproveitou.

A torcida colorada foi fantástica ontem na chegada do time gaúcho. Deu apoio, fez festa, levantou o ânimo dos jogadores. Mas tudo dependerá da postura de Aguirre. O uruguaio terá de mostrar coragem e estratégia. O adversário não é tão matreiro quanto o Atlético Mineiro de Levir. Só mais voluntarioso. Atua de forma compacta, firme. O Internacional precisará impor seu toque de bola. Aguirre precisa deixar D"Alessandro e Valdivia jogarem. Rodarem nas intermediárias. Evitar a todo custo o desespero. A ligação direta, os chutões da defesa para o ataque, buscando Lisandro Lópes. Como ocorreu na Colômbia. Chuveirinhos, bolas levantadas da intermediária serão perda de tempo. Apenas facilitará o firme sistema defensivo do Santa Fé. O mapa da mina para a sonhada reviravolta está na marcação na saída de bola. Aplicação total do time colorado no preenchimento da intermediária colombiana. Seus zagueiros e volantes são firmes, duros. Mas com a bola dominada têm sérias dificuldades. Para chegar à semifinal da Libertadores, o Inter dependerá muito de força física, preenchimento de espaço e atitude. Sim, será um risco. Porque os contragolpes articulados por Omar Pérez costumam ser muito problemáticos. Morelo e Páez são oportunistas. Mas o Atlético Mineiro também tinha ótimo contra-ataque. E o Inter se impôs. A missão é difícil. Mas está longe de ser impossível. A sorte de Aguirre foi que o resultado foi injusto na Colômbia. 1 a 0 é reversível. Desde que os colorados tenham coragem, disposição. E seu treinador deixe quem tem talento se preocupar primeiro com a criação e depois com a marcação. Essa estratégia de jogar como time pequeno fora dos seus domínios para reverter em casa é sempre um risco. Foi isso que Marcelo Oliveira aprendeu. Lembra muito bem o que aconteceu no ano passado. Quando seu time, muito mais poderoso, do que o atual teve pela frente o San Lorenzo. Foi para Buenos Aires encolhido, medroso, covarde taticamente. E por sorte perdeu apenas por 1 a 0, com excelente atuação de Fábio. O técnico caiu na tentação de, discretamente, comemorar. Tinha certeza que reverteria no Mineirão. Percebeu como o ótimo time de Edgardo Bauza poderia ser versátil. E, surpreendentemente, entrou no ataque. Desprezou o Mineirão lotado. E conseguiu sair na frente, marcando 1 a 0 aos nove minutos do primeiro tempo. O gol foi uma ducha gelada nos empolgados mineiros. O time perdeu a tranquilidade e queria vencer na raiva. Se desesperou. Sabia que tinha de marcar três gols. O máximo que conseguiu foi empatar o jogo em uma cabeçada de Bruno Rodrigo. A equipe era eliminada diante de mais de 44 mil torcedores.

Marcelo Oliveira me deu uma entrevista no final do ano. E disse que seu aprendizado maior foi na Libertadores. Não dava certo "violentar a natureza do time". Ou seja, o seu Cruzeiro não nasceu para atuar encolhido, como time pequeno. Recado que encaixa perfeitamente no Inter de Aguirre. Foi assim que o Cruzeiro partiu para o jogo de ontem. Apesar de toda a tradição do River Plate, Marcelo Oliveira sabia. Os argentinos foram a equipe que pior se classificou na fase de grupo. É um time inconstante. Gallardo sabe das limitações financeiras e montou uma equipe que alterna bons momentos com brancos, principalmente no meio de campo. Deixa espaço nas laterais. Seus volantes são lentos na cobertura. A maior qualidade do River é sua disposição física para o confronto. Tenta compensar na força o que falta de talento. O Cruzeiro marcou em Buenos Aires. Mas não renunciou ao jogo, como havia feito na mesma fase da Libertadores no ano passado. Comprou a briga quando tinha a bola nos pés. Foi uma partida disputada. O Monumental de Nuñez por vezes parecia campo neutro, apesar da torcida apaixonada. Marcelo foi muito inteligente e firme. Tirou Arrascaeta que fazia péssima partida. Apostou em Gabriel Xavier. Sua entrada e mais a postura de o Cruzeiro marcar na frente, dificultando a saída de bola argentina, desequilibrou de vez o jogo no segundo tempo. A vitória era uma questão de justiça.

Gabriel Xavier deu o gol para Willian, ele bateu na saída do desesperado Barovero, mas Vangioni salvou em cima da risca. O lance aos 18 minutos deixou os mineiros mais confiantes. Até que aos 36 minutos, veio o gol. Leandro Damião brigou com a zaga pelo alto e a bola sobrou para Gabriel Xavier. Esperto, ele chutou. Barovero rebateu e Marquinhos completou para as redes. Vitória cruzeirense por 1 a 0. A euforia do time celeste tem de ficar para sua torcida. Ela acordou de madrugada para recepcionar seus jogadores. A única esperança do River Plate em chegar à semifinal está na maneira com que o Cruzeiro encarar a segunda partida. Marcelo Oliveira precisa, de verdade, conscientizar seu time que é preciso muita seriedade. E estratégia. O time brasileiro não pode entrar para tentar agradar seus torcedores. Ter a certeza que pode chegar à semifinal goleando o River Plate. Não há essa necessidade. Se impor essa desnecessária pressão. É preciso ser calculista, frio na Libertadores. A vitória seria sensacional. Mas o empate serve. Não há porque se expor desnecessariamente. Se impor é algo muito diferente do que se obrigar a golear. O Cruzeiro ainda é um time em formação. Perdeu peças fundamentais como Lucas Silva, Everton Ribeiro, Ricardo Goulart. A nova equipe tem como principal característica a compactação, a velocidade, as triangulações pelas laterais. A técnica com a bola dominada. Tudo isso pode ruir se a empolgação contaminar o time e, o River Plate, por exemplo, marcar o primeiro gol. Marcelo Oliveira precisa preparar psicologicamente sua equipe. Talvez esse seja o desafio maior da revanche no Minerão. A síntese dessas quartas da Libertadores. Tanto Internacional quanto Cruzeiro têm condições de chegarem à semifinal. Os gaúchos precisam ter coragem e comprar a briga. Usar o talento de seus jogadores contra o perigoso Santa Fé. Já dos mineiros se exige atitude, malícia. O time é superior tecnicamente do que o River. O problema é que os jogadores sabem disso. Tudo está nas mãos e nos neurônios de Diego Aguirre e de Marcelo Oliveira. No ano passado, o futebol nacional, depois de 23 anos, ficou, com justiça, fora das semifinais. Desta vez, não. O Brasil está muito vivo nesta Libertadores...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 22 May 2015 12:39:37

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