domingo, 3 de maio de 2015

No boxe, a ressaca da frustrante 'Luta do Século'. No MMA, a queda das estrelas Anderson Silva, GSP e Jon Jones. A profunda crise no mundo das lutas...

No boxe, a ressaca da frustrante 'Luta do Século'. No MMA, a queda das estrelas Anderson Silva, GSP e Jon Jones. A profunda crise no mundo das lutas...




"Luta do século? Quer dizer, sério? É essa a luta do século? Essa é a luta que as pessoas queriam ver há muito tempo e o boxe não faz muito disso. Eles costumavam fazer... Imagine se o Mike Tyson estivesse enfrentando o Lennox Lewis agora, se essa luta fosse Tyson x Lennox Lewis. Ela seria enorme. Lá nos anos 90, essas lutas aconteciam o tempo todo, mas agora você não mais vê esse tipo de luta. Eu acho que, se essa luta tivesse acontecido quando eles estavam no auge, há seis anos, ela seria muito maior. Seria enorme." Foi assim que Dana White desconversou em relação à luta que pagou 300 milhões de dólares, cerca de R$ 904 milhões em bolsa. O vencedor, o norte-americano Floyd Mayweather ficou com US$ 180 milhões enquanto o filipino Manny Pacquiao, embolsou US$ 120 milhões. O combate dos meio-médios foi decidido por pontos. Depois de 15 e decepcionantes assaltos. A vitória de Mayweather garantiu a unificação do título na Organização Mundial de Boxe (WBO), Associação Mundial de Boxe (WBA) e do Conselho Mundial de Boxe (WBC). A luta foi aguardada por anos e anos. Especialistas garantem. Ele será um divisor de água para o boxe mundial. Ou será o seu ressurgimento. Ou a despedida em alto estilo. A prova pode ser tirada da forma mais simples possível. Cite hoje, de improviso, quatro lutadores em atividade no boxe. Três já servem. É quase impossível para a esmagadora maioria da população. Essas mesmas pessoas poderiam citar, sem problemas, cinco ou até dez do UFC. Dana White vem do boxe sabe como o esporte foi caindo em descrédito. Perdeu a sua credibilidade. Acusações de manipulações de resultados, de doping, envolvimento de máfia de bolsa de apostas, proliferação de associações fantasmas e seus campeões de mentira. Atualmente há cinco entidades com seus respectivos campeões. Associação Mundial de Boxe (AMB), fundada em 1921; Conselho Mundial de Boxe (CMB), fundado em 1963; Federação Internacional de Boxe (FIB), criado em 1983; Organização Mundial de Boxe (OMB), criado em 1988; e Federação Mundial de Boxe Profissional (FMBP), criado em 1998. Cada uma delas com 17 campeões, um em cada categoria de peso. Deveriam ser 85 campeões diferentes. Alguns como Mayweather unifica alguns cinturões. São campeões demais. O que só vulgarizou esporte. Banalizou títulos.

A ligação entre poderosos representantes de cadeias de televisão, mafiosos e políticos faz com que Nova York ainda seja o templo sagrado do boxe. E por isso, o MMA não é liberado na capital financeira do mundo. O boxe remonta às Olimpíadas antes de Cristo, na Grécia. Ganhou regras para sair da ilegalidade na Inglaterra, em 1867. As lutas passaram a ser divididas em assaltos. Foi obrigatório o uso de luvas, etc. Foram 12 imposições para o combate ser considerado legal internacionalmente. Foram batizados de as Regras do Marquês de Queensberry. O MMA nasceu como Vale Tudo no começo do século passado. Suas regras foram sendo moldadas a partir da década de 90. O esporte sofreu uma alteração e modernização profunda em 2001, quando os milionários Irmãos Fertitta, donos de cassinos, assumiram o UFC. E trataram de acabar a expressão "vale tudo". Atualmente são 32 regras. Só em 2013, foi criado um ranking de lutadores. Que, infelizmente, é manipulado, de acordo com a vontade de Dana White, os Fertitta ou da pressão popular. O UFC reúne a nata do MMA. O MMA é a mistura da elite do mundo dos combates: boxe, savate, muay thai, Tae kwon do, Jiu-jitsu brasileiro, Capoeira, Caratê, Judô, Aikido, wrestling, kickboxing, kung fu, luta olímpica, Luta greco-romana, luta livre olímpica. A técnica dos lutadores atuais é impressionante.

As lutas envolvem técnicas de combate em pé, como no chão. São confrontos intensos, muitas vezes violentos. A maioria das lutas tem três rounds de cinco minutos. A agilidade das lutas conseguiu balançar de vez o mundo do boxe. Dana White percebeu o principal da organização do boxe. Centralizar o esporte nos Estados Unidos. Tem feito o máximo para levar seus eventos pelo mundo. Brasil, Japão, Austrália, Canadá, China, Suécia, Inglaterra...Onde for possível. Acordos com poderosas redes de televisão garantem a transmissão para mais de 200 países. São mais de 40 eventos por ano, entre os tradicionais do UFC e as Fox Nights. Só que para o marketing funcionar, precisa o óbvio: lutadores. E o UFC sofreu três baixas fundamentais nestes dois últimos anos. Suas maiores estrelas. Atletas com os quais esperava fazer superlutas. Transformaria estádios em réplicas de coliseus para que se enfrentassem. Anderson Silva, Jon Jones e George Saint-Pierre. Só que o doping, as drogas e a depressão levaram as estrelas das mãos dos Fertitta. Os fãs não verão os confrontos que sonhavam por anos. E que poderiam começar a ser o início da caminhada para confrontos como o de ontem em Las Vegas, entre Pacquiao e Mayweather. Anderson teve a dramática quebra de perna esquerda transmitida para milhões de pessoas. Tentava retomar o título que perdera para o pouco carismático Chris Weidman. Depois de 13 meses de sacrifício, o brasileiro retorna ao octógono. Toda sua retomada foi capitalizada pelo UFC. Parecia um herói. Só que depois do combate contra Nick Diaz, a frustração. Confirmação de esteroides anabolizantes no seu sangue. Substâncias ilegais para dar mais força nos seus golpes. Foi afastado. Poderá ser suspenso até por dois anos. Jon Jones já havia dado mostras que não estava conseguindo suportar a pressão de ser o melhor lutador entre todas as categorias. Seus abusos com álcool e carro não eram novidades para ninguém. Cocaína foi descoberta no seu sangue antes de luta pelo cinturão contra Anthony Johnson, no dia 3 de janeiro. Mas o resultado só foi divulgado após o combate, vencido por Jones. Um golpe para abalar a credibilidade do UFC, já que o confronto estava negociado. O prejuízo seria de dezenas de milhões de dólares se não acontecesse.

Jones recebeu apenas uma advertência. E, de maneira hipócrita, passou 24 em um clínica de reabilitação. Ele confessou que aprendeu a consumir cocaína na faculdade. Quando tudo parecia bem e a luta com Anthony Johnson, marcada para o dia 23 de maio. Mas na semana passada, Jones foi além do imaginável. Passou o farol vermelho, atingiu outro carro. Uma mulher grávida ficou com o braço quebrado. Ele não quis nem saber e fugiu a pé, correndo. O motivo a polícia descobria com facilidade. Maconha no banco do veículo e até um purificador da droga. Dana White cumpriu sua obrigação. Cassou seu cinturão e colocará Anthony Johnson e Daniel Cormier para decidir o título de meio-pesado. Jones pode ser preso pelo crime que cometeu. Não há a menor perspectiva de quando poderá voltar a lutar. A tristeza é até maior porque no final do ano, Jones deveria anuncia que passaria a competir entre os peso pesados, categoria problemática, com os vários problemas físicos de Cain Velazques. E a falta de bons lutadores. George Saint-Pierre vinha dando sinais de depressão em 2013. Não conseguia mais se focar nos treinamentos. Só que estava preso pelo contrato com o UFC. Após luta polêmica contra Johny Hendricks, o canadense resolveu abandonar o MMA. O resultado foi absurdo, o norte-americano nitidamente venceu o combate. O UFC novamente foi ferido na sua honra. Dana White circulou desesperado com José Aldo e o irlandês Conor McGregor a tiracolo. Ele tenta desviar o foco da perda de suas três maiores estrelas. "Vocês viram a recepção da turnê mundial que nós fizemos. Estamos falando de pesos-penas que vão arrecadar US$ 7 milhões (R$ 21 milhões), que será o maior valor que já arrecadamos nos EUA. Na América do Norte, o recorde é de US$ 11 milhões (R$ 33 milhões). Pense nisso: nós arrecadamos US$ 11 milhões em Toronto, com o Georges St-Pierre e um total de 56 mil pessoas. Essa luta (entre Aldo e McGregor) vai ter 16 mil pessoas e uma arrecadação de US$ 7 milhões. Então essa é uma luta muito grande." Essa é a situação atual do mundo dos combates. O boxe vive a ressaca de sua última grande luta aguardada pelos fãs. O confronto de ontem foi milionário, mas frustrante. Pacquiao, de 36 anos, e Mayweather, de 38 anos, mostraram que o auge ficou perdido anos atrás. O combate milionário se foi. Os organizadores já estavam com uma revanche engatilhada, fosse qual fosse o resultado. Mas a perspectiva de novo confronto não empolga. Os 15 assaltos de ontem foram cansativos, monótonos, sem emoção. O que pode enterrar de vez essa perspectiva foi o anúncio de Mayweather ontem após o combate. Ele promete abdicar dos seus títulos amanhã. Para fazer apenas um novo combate, sem valer cinturão. E igualar o recorde de Rocky Marciano, 49 lutas invictas. E depois apenas desfrutar sua incrível fortuna de mais de US$ 1,9 bilhão ou R$ 5,7 bilhões. O UFC tenta se reerguer depois da perda de sua maiores três estrelas. Não há no cenário lutadores de grande técnica, talento e carisma como Anderson Silva, Jon Jones ou George Saint-Pierre. Grandes vendedores de pay-per-view. Todo o dinheiro de mais um "combate do século" e a fanfarronice de José Aldo e Conor McGregor não disfarçam. O boxe e o MMA precisam se reinventar. Buscar ídolos e, o mais difícil, recuperar credibilidade...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 03 May 2015 11:52:56

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