sexta-feira, 15 de maio de 2015

A eliminação do Boca da Liberadores é pouco. A Conmebol tem a chance de mostrar que a América do Sul não é o paraíso dos vândalos. Basta ter vergonha na cara. O comando da polícia argentina perdeu faz tempo...

A eliminação do Boca da Liberadores é pouco. A Conmebol tem a chance de mostrar que a América do Sul não é o paraíso dos vândalos. Basta ter vergonha na cara. O comando da polícia argentina perdeu faz tempo...




A cena é bizarra. O acanhado estádio da Bombonera possibilita algo impensável. Membros das violentíssimas torcidas do Boca Júniors mostram do que são capazes. No intervalo mostram sua índole. Se aproveitam que o túnel que protege os jogadores do River Plate é grudado ao alambrado. Rasgam o plástico inflável e esperam o time rival voltar. Quando eles surgem, os vândalos os atacam com uma bomba de gás pimenta. Quatro jogadores sofrem queimaduras de primeiro grau. Ponzio, Vangioni, Kranevitter e Funes Mori. Costas, rostos, braços, pernas. A fumaça domina o apertado túnel. Queima os pulmões de quem tenta respirar. Cega os que buscam enxergar o que acontece. Sufoca toda a equipe. O técnico Marcelo Gallardo que estava mais atrás se revolta com a cena. Diante das câmeras, os jogadores saem do infernal túnel atrás de oxigênio, água para jogar no rosto, começar a enxergar. O árbitro Dario Herrera demora a entender o que está acontecendo. Até que é cercado pela delegação do River Plate. Atletas choram desesperados, amedrontados. Médico e massagista procuram tratar dos mais atingidos. Gallardo diz que seu time não vai mais jogar. A torcida organizada do Boca Juniors perto do túnel tem uma reação que confirma o vandalismo. Enquanto as pessoas que estão estádio todo tentam entender o que se passa, ela comemora. Seus membros têm a certeza que conseguiram o que queriam. Atacaram os "gallinas". E cumpriram o que prometeram. A facção Lomas de Zamora havia ficado descontente com a distribuição de ingressos. Recebeu menos do que os dirigentes do Boca haviam prometido para o Superclássico. Só os chefes da organizada decidiram dar o troco. Avisaram que fariam algo inesquecível na partida. Com toda a tranquilidade, levaram a bomba de gás pimenta, cortaram o túnel que protegia os jogadores do River Plate. E a fizeram explodir. Como os torcedores levaram a bomba ao estádio? E como tiveram o túnel ao alcance da mão sem ser impedidos pela polícia? Porque as organizadas do Boca fazem o que querem no estádio. Com a conivência dos dirigentes, do policiamento. Elas agem como cambistas, vendendo ingressos que ganham dos dirigentes. Controlam a venda de ambulantes ao redor da Bombonera, cobram "pedágio" das vendas de camisas oficiais do time nos dias de jogos. Assim como estão infiltradas de traficantes de drogas. Tudo debaixo do nariz das autoridades, que fingem não enxergar.

As barra bravas argentinas são as inspirações das torcidas organizadas brasileiras. Chefes dessas facções já vieram aqui "fazer intercâmbio", explicar como agem. Como se tornaram grandes fontes de renda. Ficaram fascinadas como as brasileiras desfrutam do dinheiro público no Carnaval. Mas este é uma outra história. Vale a pena voltar para a Bombonera ontem à noite. Os dirigentes e os jogadores do River cercavam o indeciso Dario Herrera. Os dirigentes e jogadores do Boca não deixariam por menos. E houve uma confusão generalizada. Os agredidos não querendo continuar a partida, alegando que seus jogadores precisavam ser tratados e não tinham mais condições de atuar. Rodolfo Arruabarrena, técnico do Boca é vivido. Percebeu o que estava acontecendo. E exigia que a partida continuasse. Sabia que seu time correria o risco de ser eliminado pela selvageria da torcida do Boca Juniors. Só que Gallardo também não é ingênuo e não queria continuar com o jogo de jeito algum. Enquanto essa discussão acontecia, as organizadas do Boca outra vez roubavam a cena. Um drone fantasiado de fantasma, com uma letra B no "peito", voava em cima do gramado. Era a lembrança do rebaixamento do River à Segunda Divisão em 2011. Um drone voando sobre a multidão. Colocando em risco os torcedores que foram assistir o Superclássico. Ficou mais do que evidenciado que a torcida organizada não foi revistada. Levou drone e bomba de gás pimenta. Mas poderia ter levado revólveres, punhais, barras de ferro. O que quisesse. A polícia portenha e a segurança do Boca Juniors são cúmplices desses vândalos. "Quando você viaja de avião leva 60 minutos para fazer a revista de 400 pessoas. Aqui passam de 60 mil. Você sabe como é: uma inspeção não é garantia de nada", teve a falta de vergonha de dizer o secretário nacional de Segurança da Argentina, Sérgio Berni.

O árbitro Dario Herrera esperava que o representante da Conmebol tomasse alguma atitude. Herrera e os jogadores e dirigentes dos dois times ficaram duas horas no gramado. Um espetáculo patético. Os torcedores se cansaram de esperar e foram embora. Viraram as costas ao circo. Se cansaram dos tristes palhaços. Até que veio a definição. O jogo havia sido suspenso. Os poucos que ficaram no estádio, lógico, eram membros das organizadas do Boca. E eles aguardavam, sedentos, pela passagem dos jogadores do River. E assim que eles se aproximaram do túnel para ir embora, foram novamente agredidos. Rádios de pilha, celulares velhos, sapatos foram atirados em direção à delegação. A estupidez não tinha limites. Por que a polícia permitiu que esses vândalos ficassem esperando para protagonizar mais essa cena? Ninguém quis explicar, lógico. Os quatro jogadores mais atingidos do River Plate foram levados ao hospital Instituto del Queimado. E lá foi constatado que precisavam mesmo de atendimento médico. A Conmebol convocou hoje os membros do Tribunal Disciplinar. O regulamento é claríssimo no seu artigo 23. "Qualquer equipe cuja responsabilidade se determine o resultado de uma partida será considerado perdedor desse jogo por 3 a 0." Basta que Herrera tenha escrito a verdade na sua súmula e a Libertadores acabou para o Boca Juniors.

Se o presidente da Conmebol, Juan Angel Napout, tiver o mínimo de ombridade irá além. Perceberá que a selvageria de ontem é a oportunidade para modernizar a Libertadores. Acabar com o festim diabólico dos criminosos infiltrados em todas torcidas organizadas deste continente. Não só na Argentina. O Boca precisa ser eliminado. E suspenso da Libertadores. De uma, duas, cinco edições. O clube mais popular da Argentina e um dos mais conhecidos do mundo. Punido exemplarmente por sua cumplicidade, por seus dirigentes permitir que criminosos, disfarçados de torcedores, humilhem o clube, o país, o continente.

A chance é agora. Basta o paraguaio Napout ter vergonha na cara. Porque a polícia argentina e os dirigentes do Boca já perderam há muito tempo. E que fique bem claro. Se a punição for amena, tudo o que aconteceu ontem na Bombonera terá apenas uma função. Servir de inspiração e incentivo aos vândalos nas organizadas de toda a América do Sul. Os criminosos infiltrados nas torcidas aprendem muito rápido tudo de pior. E costumam querer mostrar mais ousadia, desfaçatez. Se decidirem esperar nos túneis jogadores adversários com revólveres carregados, em vez de gás pimenta, a cumplicidade será da sempre omissa Conmebol...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 15 May 2015 13:43:14

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