quinta-feira, 7 de maio de 2015

Carlos Miguel Aidar quer forçar a efetivação "de verdade" de Milton Cruz. Mas o interino vê o 'convite' como armadilha. Deseja permanecer nas sombras. Mesmo com o renascimento do São Paulo...

Carlos Miguel Aidar quer forçar a efetivação "de verdade" de Milton Cruz. Mas o interino vê o 'convite' como armadilha. Deseja permanecer nas sombras. Mesmo com o renascimento do São Paulo...




"Só no São Paulo levei quatro ou cinco técnicos para o hospital. O que eu quero é fazer o que eu faço, que é olhar jogador, promover jogador e fazer intercâmbio com a base. Hoje estou como treinador, mas não sou treinador. Não adianta. Não quero ser efetivado." Milton Cruz repetiu a mesma resposta por inúmeras vezes ontem no Morumbi. Na coletiva de imprensa e também a conselheiros empolgados que faziam questão de apertar sua mão. Fora os mais eufóricos que chegavam a bater palmas em direção a ele, como se fosse um maestro. O auxiliar técnico mais antigo entre os clubes grandes do Brasil ganhou um status inédito. Passou a ser tratado como celebridade no Morumbi. Se equivalendo a Rogério Ceni, Pato, Ganso, Centurión. A vitória de ontem diante do Cruzeiro despertou ainda mais a gana de Carlos Miguel Aidar de efetivar Milton. O presidente do São Paulo tem insistido nesse assunto com Ataíde Gil Guerreiro. Para ele, o São Paulo mudou sua atitude, disposição, personalidade com Milton Cruz no comando da equipe. E quer que o funcionário aceite a promoção de qualquer maneira. Por enquanto a "efetivação" é só da boca para fora. O presidente não assinou nenhum contrato com Milton. Continua funcionário com registro de carteira de trabalho. Só que, desde 1999 como auxiliar no São Paulo, Milton não se deixa enganar. Sabe muito bem da inconstância de Carlos Miguel Aidar. Muda de ideia, como quem muda de roupa. Luís Fabiano que o diga... O presidente mantinha o auxiliar na alça de mira. Pronto para a demissão. Se Vanderlei Luxemburgo ou Alejandro Sabella tivessem sido contratados, teriam sua permissão para despachar Cruz do clube.

Por quê esse tratamento? Porque Aidar fez questão de se livrar das pessoas ligadas a Juvenal Juvêncio no São Paulo. Os dois brigaram desde setembro de 2014 e continuam rompidos. É o ex-presidente que impede o sonho de Aidar de remodelar o Morumbi. Por anos e anos, Milton foi os olhos e os ouvidos do ex-presidente. Tudo o que acontecia com os jogadores ele levava a Juvenal. Não era segredo para ninguém. Era escancarado. Uma de suas funções. "O Milton não é e nem será auxiliar de técnico algum. Ele é auxiliar do São Paulo. É profissional do clube. Meu homem de confiança. Técnicos vão passar e ele ficará. É efetivo. É do São Paulo", repetia o ex-presidente. Por isso, o interino é auxiliar há 16 anos. Fora isso, Milton também é íntimo do empresário Abílio Diniz. O ex-dono do Pão de Açúcar frequenta o Morumbi. E simplesmente é inimigo mortal de Aidar. Abílio já cansou de dizer que a atuação do atual presidente é desastrosa. As relações do treinador interino incomodam o vaidoso Carlos Miguel. Além disso, sabe o quanto o dirigente quer um técnico de renome para "implantar sua filosofia". Mas Aidar teve de admitir a dirigentes e conselheiros. Tudo mudou na equipe desde que Muricy Ramalho foi embora. Não havia boicote ou algo parecido dos jogadores em relação ao técnico. O que faltava a ele, há mais de um ano, era a energia de cobrar o que desejava. O treinador sentia fortes dores abdominais por causa da diverticulite. O que só aumentava a sua tensão, irritação. O stress favorecia o aparecimento de pedras na vesícula. Milton acompanhava esse tortura e tentava ajudar como podia Muricy. Mas não havia como. Era o ex-treinador quem tinha de dar a preleção, passar as determinações táticas. Cobrar o time durante os jogos, no intervalo. Muricy não tinha mais saúde para o cargo. Com sua saída, Milton Cruz percebeu. Ficaria no seu lugar por pura falta de opção. Enquanto Luxemburgo ou Sabella não eram contratados. Rogério Ceni teve um papel fundamental nesta reação do São Paulo. O goleiro e líder do grupo sabe da inexistência de ambição por parte de Milton. E se empenhou como nunca em tentar motivar seus companheiros. Além de discutir com o interino cada detalhe tático do jogo, do adversário.

Rogério Ceni quer encerrar sua carreira da maneira mais vitoriosa possível. O seu adeus está marcado, por enquanto, para agosto, fim da Libertadores. O desejo do goleiro de 42 anos é ir o mais longe possível na competição. O sonho seria o título. E muitos jogadores têm ficado surpresos com Milton Cruz. Ele é discreto. Mas muito bom treinador. Sabe detalhar cada aspecto do adversário. Como ontem. Quando tinha certeza que o São Paulo teria condições de imprensar o Cruzeiro no seu campo de defesa. Exatamente como fez com o Corinthians no jogo que poderia ter custado a eliminação precoce na Libertadores. Milton desenvolveu uma técnica reservada aos grandes auxiliares. São eles quem conversam com calma individualmente com os atletas. Principalmente de uma cobrança, queixa ou reclamação do treinador. Um dos segredos de Cruz é falar "de igual para igual" com os jogadores. Ele é o que todos no Morumbi chamam de "boleiro". Foi com muita diplomacia, brincadeira e apoio que ele conversou individualmente com quase todo o time. Os casos mais graves: Paulo Henrique Ganso, Alexandre Pato, Luís Fabiano, Tolói, Wesley e Reinaldo. Cada um deles ouviu do interino elogios às suas qualidades, apoio por não renderem tudo o que podem. Mas também tiveram o prazer de escutar o quanto são fundamentais no momento do São Paulo. Foi o que fez também com Centurión. Lembrou o quanto foi difícil a adaptação de jogar nos Estados Unidos, no Japão. Disse que entendia a tristeza do argentino. Deu todo o seu apoio. O atacante abandonou a ideia de voltar para seu país. De maneira matreira, Milton recuperou jogadores importantes, desprezados inclusive pela diretoria.

A visão tática de Milton Cruz é muito ótima. Nestes 16 anos como auxiliar ele desenvolveu o papel de assistir jogos dos adversários do São Paulo. E fazer relatórios ao treinadores que passaram pelo Morumbi. Mostrando destaques dos rivais. Pontos fortes e pontos fracos. Jogadores falam entre eles, que Cruz tem uma visão do jogo muito mais moderna do que Muricy. É mais ousado. Principalmente em relação à intensidade do jogo, na coragem de marcar equipes fortíssimas como a do Corinthians e Cruzeiro no seu campo. Tirar o oxigênio do rival. Dirigentes, conselheiros, torcedores e até adversários admitem que o São Paulo está muito mais forte. "Fomos inferiores. Se não fosse o Fábio, nosso goleiro, as coisas estariam bem mais complicadas", reconheceu Marcelo Oliveira, treinador do atual bicampeão brasileiro, feliz com a derrota só por 1 a 0. Carlos Miguel Aidar quer usar a sua tradicional arrogância e impor a efetivação de Milton Cruz a fórceps. Pelo menos até o final do ano. O auxiliar está longe de ser burro. Sabe que pode se tratar de uma armadilha. Caso dê tudo certo, o mérito fica para o dirigente. Se der errado e o time fracassar haverá motivo para demitir o amigo íntimo de Juvenal e Abílio Diniz.

Outro detalhe a ser levado em consideração. Aidar não quer nem ouvir falar em recontratar Muricy. Mesmo saudável. Em uma demonstração de quanto a opinião do presidente é inconstante. O treinador que seria "seu" até o último dia de mandato, não serve mais para voltar. Por isso, Milton ainda resiste pretende seguir como auxiliar. Vivido, consegue enxergar. Os abraços, as palmas, os beijinhos são passageiras. Somem na primeira derrota. Deseja seguir como elo entre os jogadores e os dirigentes. Não correr o risco diário de demissão. E enfrentar o stress que levou Telê Santana, Ricardo Gomes e Muricy Ramalho a problemas de saúde gravíssimos. Além disso, o interino sabe que Vanderlei Luxemburgo continua sendo o sonho de consumo de Aidar. Não chegar nem à decisão do Carioca já enfraqueceu o prestígio do técnico na Gávea. Um começo ruim no Brasileiro pode mudar muitas coisas. Assim como uma eliminação diante do Cruzeiro, na próxima semana, em Belo Horizonte. Só que ninguém duvide. O responsável pelo renascimento, pela redescoberta da confiança e da autoestima do São Paulo tem nome e sobrenome: Milton Cruz. O homem que não quer sair das sombras...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 07 May 2015 11:47:15

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