sábado, 11 de junho de 2016

A paranoia e a hipocrisia da torcida única no clássico entre Palmeiras e Corinthians. Puro jogo de cena político. Os confrontos não acontecem nos estádios. E as autoridades sabem disso...

A paranoia e a hipocrisia da torcida única no clássico entre Palmeiras e Corinthians. Puro jogo de cena político. Os confrontos não acontecem nos estádios. E as autoridades sabem disso...




Há uma hipócrita paranoia marcando Palmeiras e Corinthians, marcado para amanhã. Todos os 40 mil ingressos foram esgotados no início da semana. O que seria uma maravilha, diante da recessão que o país está afundado. Mas não é. A Segurança Pública do estado mais rico do país decretou sua incompetência diante de um crime cometido nas ruas, diante de uma das maiores estações de trens de São Paulo. José Sinval Batista de Carvalho estava passando na frente pela praça Padre Aleixo Mafra, na zona leste, em frente à Estação São Miguel Paulista da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. No mesmo momento, vândalos corintianos e palmeirenses entravam em confronto. Disparavam rojões uns contra os outros. Até que alguém decidiu atirar. A esmo. E acertou José Sinval, de 53 anos, que estava do outro lado da selvagem briga, não tinha nada a ver com o confronto. A bola explodiu seu coração. Ele teve morte imediata. Neste mesmo domingo em que corintianos e palmeirenses jogavam pelo Campeonato Paulista, houve outros dois confrontos entre organizadas. Na estação de trem de Guarulhos e na do metrô, no Brás. O então secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, decidiu agir. Decretou que até o final do ano, haverá torcida única. Nos clássicos paulistas, só a do mandante. E os presidentes de clubes passariam a ser proibidos de reservar ingressos às organizadas. E elas estão proibidas de entrar com suas camisas, faixas, bandeiras, instrumentos nos estádios. A medida foi vazia, política, demagógica, sem sentido. Foi ótima apenas para Alexandre de Moraes, que ganhou mais impulso para chegar ao Ministério da Justiça, do presidente provisório, Michel Temer.

O que ficou desde o dia 3 de abril? O que já acontece há anos em São Paulo. Ao contrário de vários estádios brasileiros, como por exemplo, o Mané Garricha domingo passado no vexatório Flamengo e Palmeiras, a polícia paulistana evita confrontos. Nas arenas os torcedores não se agridem. A incompetência acontece fora. Geralmente nas estações de metrô, trens. Há a cultura do "depois". Depois que um inocente morre, depois que um vagão é destruído, depois que pessoas são caçadas e massacradas por vândalos covardes, que adoram agredir em bando um só rival. A polícia paulista falha há décadas na prevenção. Se a Constituição dá o direito das organizadas existirem, que militares cumpram sua obrigação, são funcionários públicos, pagos pelos impostos de cada cidadão. Que se infiltrem. Façam um trabalho de inteligência. Se infiltrem, as monitorem. E separem os criminosos, os traficantes, os "soldados" do PCC, do Comando Vermelho. Saiam da acomodação. Como o próprio presidente corintiano, Roberto de Andrade, destacou: as emboscadas continuam acontecendo nos clássicos. E longe dos estádios. Andrade sabe bem o que fala, já que a cúpula corintiana veio das organizadas. E segue umbilicalmente ligada. Como os jogadores têm plena consciência, com reuniões que com chefes de torcidas que são obrigados a participar quando o time está perdendo. Alexandre de Moraes precisa saber que, além da torcida única, suas outras medidas continuam tendo o efeito placebo. Apenas psicológico. Os membros das organizadas continuam sentando onde sempre sentaram nos estádios paulistas. Uns ao lado dos outros. Tendo ou não os ingressos que dão esse direito. Não é milagre. Os privilégios na distribuição ou na simples conferência do lugar marcado são falhas de propósito. Os clubes seguem reféns ou agradando suas organizadas.

E a hipocrisia segue em relação à proibição de camisas, instrumentos, faixas, bandeiras. Eles não entram. Mas os torcedores, inclusive os vândalos, também. Por que não há uma exigência básica, que é usada, por exemplo nas academias de ginástica de bairros, nos caixas eletrônicos. Identificação biométrica por impressão digital. Basta ter vontade política e exigir o cadastramento dos membros das organizadas. Dá trabalho. Mas resolveria. Os vândalos não entrariam. E seria até possível punir todos os membros de uma organizada que se envolvesse em brigas, agressões, mortes. São Paulo daria o exemplo para o país. Mas em um país que políticos acomodados não exigem, por exemplo, a inscrição dos RGs nos capacetes dos motoqueiros, exigir essa identificação banal, chega a ser utopia. Melhor torcida única. A paranoia do clássico de amanhã chegou para valer. Para acabar antecipadamente com os 40 mil ingressos, alguns deles foram vendidos nas bilheterias. E o Palmeiras foi avisado por torcedores que, pelo menos 30, foram parar nas mãos de corintianos. Não são de organizadas. Mas foram identificados nas redes sociais como corintianos. Os ingressos foram todos para o setor Oeste central da arena. Os policiais estarão atentos. Primeiro, tentará não os deixar entrar. E durante o jogo, haverá a caça às bruxas, os que vibrarem com ataques ou gols do Corinthians, serão expulsos.

É uma enorme hipocrisia. Porque já são fortes os comentários que vândalos corintianos organizam represálias. Impedidos de ver o clássico, preparam bloqueios para impedir palmeirenses de ir ao estádio. Se a Segurança Pública quiser trabalhar, vale outro aviso. Haverá uma festa amanhã, organizada pela torcida Camisa 12, do Corinthians, próxima à estação Belém, na Linha 3 – Vermelha. E por coincidência, haverá alguns ônibus da TUP (Torcida Uniformizada do Palmeiras) partindo da estação Patriarca, na mesma linha, para o clássico. O encontro entre organizadas dos dois clubes será inevitável. Há a obrigação de todas as estações de trens e metrô terem policiais antes e depois do jogo. Para proteger a população. E não fazer pode diante do estádio, festejar o sucesso da torcida única. Os confrontos nas arenas não acontecem há anos. Enquanto esse jogo político hipócrita acontece, o que interessa de verdade segue inalterado. Como publica o El País, jornal da Espanha. "Nem o Iraque, que ainda vive a ressaca de um prolongado conflito armado e agora enfrenta a ameaça jihadista, tampouco o México, que sofre com uma guerra entre cartéis rivais de tráfico de drogas conseguiram superar o Brasil no triste ranking da violência. O país ocupa a 11a posição no ranking das maiores taxas de homicídio do mundo."

São cerca de 48 mil assassinatos por ano no país. E entre 3% a 8% são solucionados. Ou seja, entre 92% e 97% dos assassinos não são punidos. A Polícia Militar de São Paulo deteve 30 torcedores no dia da morte de José Sinval Batista de Carvalho. Todos acabaram liberados. E não há a menor ideia de quem fez o disparo que o matou. José Sinval entrará para a estatística dos crimes não solucionados. Também ninguém segue preso pelos conflitos selvagens no Brás e em Guarulhos. Será que é essa a segurança que a população precisa no dias de clássicos?



Imagens ESPN na Internet

Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 11 Jun 2016 08:36:52

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