Cristóvão Borges recebeu um presente precioso do presidente Roberto de Andrade. A fórmula para trabalhar tranquilo no Corinthians. Se estabelecer. Ganhar seu espaço. Contentar torcida, conselheiros, imprensa, diretoria e jogadores. O segredo é simples. "Basta não fazer como Adilson Batista", foi o conselho direto, objetivo. Roberto de Andrade se referiu aos tumultuados 75 dias que Adilson Batista foi treinador do Corinthians. Ele chegou no dia 24 de julho de 2010. Assumia o lugar de Mano Menezes, treinador que assumiria a Seleção Brasileira, carregado nas costas por Andrés Sanchez, amigo íntimo de Ricardo Teixeira, então presidente da CBF. Assim como Cristóvão, ele tinha sido jogador do Corinthians. Ganhou o título mundial de 2000. Seu contrato era de um ano e meio, deveria terminar em dezembro de 2011. Se Tite deixa o clube nas mãos de Cristóvão em terceiro lugar do Brasileiro, Adilson o recebeu em primeiro lugar e absolutamente confiante na conquista do título. Roberto de Andrade sabe muito bem o que Adilson caiu na tentação de fazer. Não quis apenas dar sequência ao trabalho de Mano Menezes. Não. Ele quis impor sua marca, seu estilo. Trocou a previsibilidade do time pela maneira inconstante de montar as equipes. E valeu o apelido de "Professor Pardal", em Belo Horizonte. A referência é ao personagem da Disney que é um inventor de aparelhos esdrúxulos. Adilson conseguiu incendiar o Parque São Jorge. Fez mudanças profundas na formação tática, no posicionamento dos jogadores. Muitas vezes sem treinar a equipe.
O técnico entrou em choque com Ronaldo e Roberto Carlos. Os veteranos ídolos caminhavam para o final de carreira. E tinham todo o espaço com a diretoria. Ambos reclamaram de Adilson, da inconsistência de seu trabalho. Logo todos os jogadores se voltaram contra o técnico. Como represália, Adilson tratou de proibir os cigarros e charutos na concentração. Retaliação pura a Ronaldo e Roberto Carlos. Tudo ficou caótico. Fora de controle. O treinador insistia com um jogador que confiava, mas vivia péssimo momento: Thiago Heleno. E não escalava o jovem lateral Dodô, apesar de mostrar muito talento. Roberto Carlos passou a ser sistematicamente substituído. O time começava a despencar no Brasileiro. O ambiente ficou impregnado de revanchismo. Ronaldo queria a troca. Falou com Andrés Sanchez. E Adílson foi demitido apenas depois de 17 jogos. Apenas sete vitórias, quatro empates, seis derrotas. Carlos Alberto Parreira foi convidado para assumir o seu lugar. Não aceitou. Foi aí que Tite desembarcou pela segunda vez no Parque São Jorge. Dessa vez, para começar a fazer história.
Na entrevista de apresentação como treinador corintiano, Cristóvão mostrou que seguiu à risca o conselho de Roberto de Andrade. Tranquilizou a todos, garantindo que seguirá fielmente o plano de trabalho de Tite. Mostrou que não se deixará levar pelo ego como Adílson. "A herança que recebo aqui é de um treinador vencedor e de um trabalho encaminhado. O Corinthians é o atual campeão brasileiro e está reformulando o time. Todos passamos dificuldades. A remontagem de um time requer tempo. Mesmo ele (Tite) estava tendo dificuldades. "O time que todos nós aplaudimos ano passado passou pela mesma dificuldade no início do ano. Então, tudo é um processo natural. Agora está se repetindo, mas comigo no comando. Estou pegando uma boa herança de um trabalho competente. Vou trabalhar da mesma forma para criar um time como todo mundo espera." Falou exatamente tudo o que Roberto de Andrade queria ouvir. Não quer saber de testes, improvisos, nada. Quer ver o Corinthians atuando no mesmo 4-2-3-1 que Tite havia escolhido para este elenco atuar. Sem reviravoltas, sobressaltos ou personagem de Walt Disney comandando o time.
Roberto de Andrade foi muito claro com Cristóvão. Ele precisa que o Corinthians esteja no mínimo classificado para a Libertadores de 2017. O clube tem graves problemas financeiros pelo Itaquerão. E deve perder Elias. O volante da Seleção Brasileira deixou encaminhada sua ida para a China. Cássio também tem chance, desde que surja uma boa oferta. O restante do time deverá ser mantido. Não deve esperar grandes contratações. Cristóvão, ao contrário de Adilson Batista, está fazendo exatamente o que se espera dele. Nada de contestação. Será um treinador "de diretoria". O que não concordar falará de forma direta a Roberto de Andrade. E, esperto, sabe que não está em condições de fazer qualquer exigência. Na verdade, foi uma bênção o convite do Corinthians a esta altura de sua carreira. Ele estava desempregado depois de cinco anos rodando por Vasco, Bahia, Fluminense, Flamengo e Atlético Paranaense, sem títulos. Decidiu não criar problemas para ele mesmo fugindo da cartilha do presidente. Cristóvão tem o aval de Andrés Sanches, que o considera um dos melhores caráteres do futebol brasileiro. Adilson Batista segue muito querido pelos dirigentes, mas nem podem pensar em trazê-lo de volta ao Parque São Jorge. Depois de fracassar no Corinthians, seguiu fazendo trabalhos pífios. Ficou 11 partidas no Santos, 14 no Atlético Paranaense, 22 no São Paulo, 10 no Atlético Goianiense, 41 no Figueirense, 52 no Vasco e apenas 10 no Joinville. Se tornou o treinador recordista de demissões no Brasileiro de pontos corridos, dez. Desde julho de 2015, Adilson Batista está sem trabalho. Perdeu a grande oportunidade de sua carreira no Corinthians. Algo que Cristóvão jurou para Roberto de Andrade que não irá fazer. O primeiro passo, não mexer no que Tite deixou, já foi dado. Sabe que não é hora de mostrar personalidade. O preço, se tudo der errado, é muito caro. Adilson Batista que o diga...
Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 20 Jun 2016 14:51:54
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