terça-feira, 21 de junho de 2016

Nada foi espontâneo. O beijo de Marco Polo na face de Tite... Muito menos a camisa da Seleção com o nome da mãe do treinador. Foram ideias de Walter Feldman, o Maquiavel da CBF...

Nada foi espontâneo. O beijo de Marco Polo na face de Tite... Muito menos a camisa da Seleção com o nome da mãe do treinador. Foram ideias de Walter Feldman, o Maquiavel da CBF...




Walter Feldman conseguiu seu primeiro cargo político há 33 anos. Médico, com atuação na periferia, era filiado ao Partido Comunista do Brasil. Foi eleito vereador por São Paulo. Virou deputado estadual, líder do governo Mário Covas, de quem era próximo. Os dois foram fundadores do PSDB. Sua atuação impressionou Covas, que o quis chefe da Casa Civil. Reeleito, foi presidente da vulcânica Assembleia Legislativa de São Paulo. Administrou todo tipo de crise e de egos. Foi secretário dos Esportes de 2007 a 2011 da capital paulista. Em 2011 foi nomeado Secretário Especial de Articulação de Grandes Eventos. Feldman foi deputado federal. Em Brasília se tornou o braço direito da ex-ministra e candidata à presidente Marina Silva. Quando morreu o candidato Eduardo Campos, ele acreditou que Marina fosse ser eleita. E procurou Marco Polo del Nero. O conhecia bem, quando ele era presidente da Federação Paulista de Futebol. Ganhou até uma honraria: o Grão Colar da Ordem do Mérito Futebolístico da FPF. Os dois sempre se deram muito bem. Feldman disse que se Marina vencesse a eleição, queria a CBF junto ao governo. Como aliada.

Marina perdeu. Mas Marco Polo percebeu que Walter Feldman poderia ser o articulador político que ele tanto precisava. Alguém com livre trânsito em Brasília para articular a Bancada da Bola. Usar seu poder de oratória para acalmar jornalistas, dirigentes e controlar, de forma discreta, Gilmar Rinaldi e Dunga. Feldman virou secretario-geral da CBF em novembro de 2014, depois do vexame na Copa do Mundo. Sua primeira atitude foi procurar advogados especialistas em direito internacional. Marco Polo já conhecia os dele. E teve a certeza pelos de Feldman que a Fifa, o FBI, o Departamento de Justiça não teriam como atingi-lo. Além disso, Feldman tem excelente relacionamento com políticos muito importantes, de todos os partidos. Ministros, deputados federais, desembargadores. Ele mostrou a Del Nero o resguardo que estava oferecendo. Feldman em seguida conseguiu uma estupenda vitória para a CBF. Conseguiu desarticular a Primeira Liga. Acabou com o movimento que nascia com força de revolução. Para quebrar o poder absolutista da CBF. Outra vez usando seu poder de articulação, trabalhou junto aos presidentes de clubes mais inseguros, usou com perfeição a pressão do presidente da Federação Carioca, Rubens Lopes, do presidente do Vasco, Eurico Miranda. E da Rede Globo. Acabou o que seria um motim do Flamengo, Fluminense, dos grandes do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, do Paraná e de Santa Catarina.

A sua desculpa foi que os estaduais teriam de ser respeitados. E a maioria dos clubes já havia recebido para disputar os tradicionais torneios da Rede Globo. Fora os vários que ganharam adiantamento da emissora e discretos empréstimos da CBF. Os clubes grandes paulistas, todos compromissados com a CBF e Globo, se fingiram de mortos. Feldman conseguiu que a organização da Primeira Liga acontecesse sob a tutela da CBF, o que foi um letal veneno. Ele sufocou a Primeira Liga. A transformou em um torneio fantasma. Decepcionado com a postura dos presidentes de clubes, o ex-dirigente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil, largou a presidência da Primeira Liga. Pessoas ligadas a ele garantiam que gostaria de "dar uma surra" em Feldman. Kalil sabia muito bem quem matou o sonho de independência dos clubes.

Feldman virou o grande defensor e conselheiro de Marco Polo. Ele está fazendo o máximo para tentar "limpar" a imagem da CBF. Criou o "Comitê de Reformas", que iria modernizar o futebol brasileiro. Mas apenas desfrutou do prestígio de Parreira, Carlos Alberto Torres e Ricardo Rocha, entre outros. Toda a pompa e circunstância foram para disfarçar o mínimo de mudanças. Na prática, os estaduais foram reduzido para até 18 datas. Nas rodadas das Eliminatórias Sul-Americanas, o futebol irá parar. E outra vez, como um mestre, reservou apenas oito datas para a Primeira Liga. Tempo insuficiente para um torneio de alto nível, o que é tudo o que ele e Marco Polo não querem. Foi Feldman quem aconselhou Marco Polo a demitir Dunga e Gilmar Rinaldi depois do fracasso na Copa América Centenário. Rinaldi a princípio não iria. Mas o fato de muitas pessoas, como Romário, o atacarem por ter sido empresário pesou. Por isso a dispensa dupla. O secretário-geral se esqueceu das várias garantias dadas por ele mesmo. Que Dunga seria o treinador da Seleção Brasileira na Copa de 2018. Não valia a pena lembrar. E insistiu em Tite. Era hora de a CBF ceder e colocar o treinador com maior aceitação na população e, principalmente, na mídia.

Aconselhou Del Nero a esquecer a ligação do treinador com Andrés Sanchez. Faz parte dos planos do secretário-geral cooptar Tite. Também convenceu Marco Polo a esquecer Leonardo como coordenador. Com tanta vivência no Exterior e profundamente ligado às ideias do Bom Senso, seria muito perigoso. Melhor aceitar Edu Gaspar, homem de confiança do treinador corintiano e com perfil menos revolucionário do que Leonardo. Dunga e Gilmar Rinaldi foram embora. Como convidar Tite. Feldman sabia que o treinador havia assinado um manifesto no final de dezembro pedindo a renúncia de Marco Polo e de toda sua diretoria. Por tabela, até mesmo a dele. O que fazer? O Maquiavel de Del Noro sugeriu que o filho do presidente ligasse para o filho do treinador. Para saber se ele aceitaria trabalhar na Seleção. Plano perfeito. A resposta foi afirmativa. Mas haveria o desconforto da primeira entrevista coletiva. E Feldman, além de articulador, se mostrou um perfeito diretor de teatro. Com a confirmação de Tite no cargo, muitos jornalistas procuraram a mãe do treinador. Aos 80 anos, Ivone era pura empolgação. Muito religiosa, ela tem o costume de rezar em um terço da cor do time que o filho treina. E toda orgulhosa disse que passaria a usar um amarelo, da cor da camisa da Seleção. Ela deu uma entrevista toda emocionada, chorando, beijando uma camisa do selecionado. "Ele está realizando o sonho do pai." Genor Bachi morreu há sete anos. Pronto, foi o clique. Feldman sabia o que fazer. E tudo foi articulado sem o menor conhecimento do treinador. Ele caiu em uma armadilha emocional. Tudo o que aconteceu ontem à tarde foi articulado, ensaiado. Marco Polo teve um desempenho exemplar. Ele não só apresentou Tite. Mas como tascou-lhe um beijo na face, para mostrar que não havia ressentimento. O treinador não esperava este gesto. E o golpe final foi dar a camisa da Seleção Brasileira com o número 10. E com o nome estampado de sua mãe, Ivone Bacchi.
Que filho não ficaria orgulhoso com a lembrança da mãe de 80 anos? E, espertos, Del Nero e Feldman combinara que o presidente não ficaria para a coletiva. Se ficasse não escaparia de falar sobre o constrangimento de contratar um técnico que exigia a sua renúncia há seis meses. O lado emocional prevaleceu e repercutiu na apresentação. Se falou muito pouco da vexatória fase do futebol brasileiro, dos dois anos perdidos com Dunga, dos amistosos que Tite terá de engolir para enriquecer ainda mais a CBF. O prejuízo técnico, financeiro e moral por não disputar a Copa das Confederações na Rússia. O medo de não participar do Mundial de 2018. A emoção provocada artificialmente sabotou a coletiva. Del Nero está muito feliz com o desempenho de seu secretário-geral. A transição de Dunga para Tite foi perfeita. A coletiva de apresentação, vazia. O fracasso nas Copas Américas e nas Eliminatórias viraram esperança. O beijo e a camisa para a mãe do técnico, jogadas magistrais. Assim como o "novo calendário", "a morte da Primeira Liga". A manutenção dos Estaduais para garantir apoio das Federações. A proteção dos advogados, desembargadores, ministros. Feldman nunca teve tanta força na CBF.

É o Maquiavel que Marco Polo sempre sonhou...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 21 Jun 2016 10:16:31

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