quarta-feira, 15 de junho de 2016

Os grandes impasses nas três horas em que Marco Polo e Tite conversaram na CBF. Olimpíada e Edu Gaspar, 'o homem de Andrés'. O irmão do treinador garante que ele pensou e vai aceitar dirigir a Seleção...

Os grandes impasses nas três horas em que Marco Polo e Tite conversaram na CBF. Olimpíada e Edu Gaspar, 'o homem de Andrés'. O irmão do treinador garante que ele pensou e vai aceitar dirigir a Seleção...




180 minutos. Tente conversar com alguém, olho no olho, por três horas seguidas. É muito tempo. Mas não foi para Tite e Marco Polo del Nero. O vazio existencial que vive hoje o futebol brasileiro é algo absurdo, inaceitável. A 51 dias dos Jogos do Rio de Janeiro, não há técnico do time olímpico. Faltando dois anos para a Copa do Mundo da Rússia não há treinador. Toda a ostentação de Tite voar em um jatinho particular para o Rio como substituto de Dunga, virou frustração aos repórteres que estavam na sede da CBF, no milionário prédio José Maria Marin. Ainda mais depois que souberam que ele já havia voltado ontem para São Paulo de helicóptero. Ricardo Teixeira tirou a sede da CBF da rua da Alfândega, no centro do Rio de Janeiro. O acesso era muito fácil aos repórteres. Construiu um bunker na Barra da Tijuca que faria inveja a Adolf Hitler. As "autoridades" que dominam e mantêm o atraso no futebol brasileiro entram com seus carros blindados. Por um portão subterrâneo que os jornalistas não têm acesso. E do subsolo, sobem de elevador privativo para a sala da presidência. Não há nem como sentir o perfume Polo que tanto Marco Polo adora e que usa quando quer seduzir suas namoradas, com idade para serem suas netas. Foi para sua sala inexpugnável, do prédio repleto de câmeras para acompanhar qualquer movimento estranho, como por exemplo, a chegada da Polícia Federal, que Tite e Marco Polo del Nero se encontraram. O presidente da CBF precisou apelar para o seu estômago de Sonrisal. Sim, ele tinha de fazer de conta que não sabia que Tite havia assinado um abaixo assinado exigindo sua demissão sumária. Foi em dezembro do ano passado. Há seis meses. O documento não poderia ser mais direto. "Exigimos a renúncia definitiva de Marco Polo Del Nero e sua diretoria, seguida da convocação de eleições livres e democráticas para o comando da CBF, sem a atual cláusula de barreira, mecanismo que impede a aparição de posições independentes ao sistema vigente, pois exige oito assinaturas de federações e mais cinco de clubes para candidaturas."


Mas se Rogério Ceni, que foi um dos artífices do abaixo assinado teve a coragem de ser o auxiliar de Dunga nos Estados Unidos, por que Marco Polo não poderia fingir que não sabia de nada? Aprendeu na Federação Paulista de Futebol que, sem engolir sapos, não há progresso. E o sapo do dia se chamava Adenor. Um treinador que, definitivamente, não é de sua confiança. Não no gramado. Mas fora dele. Ligado umbilicalmente a seu inimigo número um, o deputado federal Andrés Sanchez, o homem que jurou que vai destruir a CBF. Tite também teve de suportar sua náusea do comando da CBF que considera ultrapassado, ditatorial e que prejudica o futebol deste país. Afinal era a chance de realizar o sonho de sua carreira, assumir a Seleção. Nada que cinco Eparemas não resolvesse. Mas o técnico foi avisado que deveria brigar para ter os seus homens de confiança para protegê-lo. Se não acabaria uma mera marionete, um escudo barato para os fracassos da Seleção. Foi essa desconfiança mútua de dois homens que, no íntimo, não se toleram a causa de três horas de conversa sem conclusão. Os dois fazem uma surda luta pelo controle verdadeiro da Seleção Brasileira. Os impasses são grandes e imprevisíveis. Tite quer levar sua Comissão Técnica do Corinthians. Seu auxiliar Cléber Xavier, o preparador de goleiros, Mauri Costa Lima. Até aí, nenhum problema. Mas ele insiste em ter como coordenador de seleções ou qualquer nome que se dê para um dirigente próximo do time, Edu Gaspar.

Marco Polo del Nero foi prevenido. De jeito nenhum aceitar Edu Gaspar. Ele é homem de integral confiança de Andrés Sanchez. Como aceitar que o braço direito de seu inimigo número um acompanhe tudo o que acontece na Seleção? Tudo de certo e, evidente, tudo de errado. O medo que informações sigilosas se tornem públicas para desmoralizar Del Nero é imenso. Ele aprendeu com o falecido presidente da FPF, Eduardo José Farah. O importante é controlar a informação para manter o poder. Este foi o primeiro e grande impasse. Marco Polo quer como coordenador alguém de sua máxima confiança. E que tenha integral respeito da imprensa. Nacional e internacional. Gilmar Rinaldi era empresário de jogadores antes de assumir a coordenação. Foi massacrado do primeiro ao último dia dos dois anos que ficou no cargo. Del Nero quer Leonardo. Ex-jogador da Seleção por 11 anos, ex-treinador do Milan e da Inter. Ex-dirigente do PSG. É uma das pessoas com melhor visão de gestão nascida no Brasil. Embora seja parceiro de Raí e comungue de várias ideias sobre a necessidade de modernização da CBF, dê força ao movimento Bom Senso, pelo menos não assinou o manifesto exigindo a renúncia de Marco Polo. O que já está ótimo para o presidente da CBF.

Tite quer se sentir protegido, respaldado, e não ser pego de surpreso por decisões de Del Nero. Por isso luta para não abrir mão de Edu Gaspar. Marco Polo ainda não tem Leonardo, mas não quer o "homem de Andrés Sanchez" com livre acesso na CBF. Outro grande impasse está na Olimpíada. Tite não quer dirigir o time de jeito algum. Ele sabe que o Brasil tem a obrigação de conseguir a medalha de ouro. E ele teria 51 dias para montar uma equipe sem direito a erro. Sem entrosamento. Sem conhecer os garotos. Sem ter a certeza dos três atletas a levar com mais de 23 anos. Ou melhor, apenas um. Neymar. Willian e Miranda, que Dunga levaria, não estão mais garantidos. Longe disso. O técnico acredita que o ideal é que Rogério Micale, que cuidou do time enquanto Dunga treinava a equipe principal, deve seguir no comando. Seria mais lógico.

Mas Del Nero de bobo não tem nada. Ele precisa de Tite como escudo. Se o Brasil ganhar o ouro, mérito do treinador. Mas se perder é problema também dele. Se o Brasil perde com Micale, um desconhecido para a população, a culpa cai diretamente no comandante da CBF. E mais essa frustração pode acordar o governo federal para uma intervenção na CBF. É tudo o que ele não quer. Os 35 convocados para a Olimpíada serão divulgados hoje. A grande maioria escolhidos por Micale. A dúvida é se os jogadores com mais de 23 anos foram opções de Tite. Ou não. Marco Polo oferece a Seleção Brasileira e Olímpica para Tite. Sem Edu Gaspar. Ou no máximo, com Edu em um cargo menor, burocrático, sem efetivo poder. Alguém para enrolar os jornalistas. Uma gerência. Na coordenação, Del Nero quer um homem para chamar de seu. Leonardo é objeto de desejo. Além disso, há um problema menor. Tite tem seu próprio assessor há anos. Luciano Signorini. Como Felipão tinha Acaz Fellegger. Marco Polo viu que em 2014 isso foi péssimo para o ambiente da Seleção. É mais uma fonte de informação circulando, sem controle. O dirigente gostaria que a ação do assessor de Tite se restringisse a tudo o que aconteça fora da CBF. Não quer que misture as coisas. E que o departamento de comunicação da entidade siga cuidando do treinador, como fazia com Dunga. Esses são os impasses. Tite ficou de pensar e decidir. Seu irmão, Ademir Bacchi, disse que ele assumirá a Seleção hoje. Teria se decidido depois de conversar com a família. Estaria propenso a aceitar as imposições de Marco Polo. Enquanto isso, o estagnado futebol brasileiro espera...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 15 Jun 2016 10:26:14

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