quinta-feira, 2 de junho de 2016

Para tentar sobreviver, Santos renega seu DNA ofensivo, sua alma. E joga no 4-6-0, sem atacantes na derrota contra o Corinthians. Triste choque de realidade...

Para tentar sobreviver, Santos renega seu DNA ofensivo, sua alma. E joga no 4-6-0, sem atacantes na derrota contra o Corinthians. Triste choque de realidade...




28 de agosto de 1996. O Brasil empata com a Rússia em Moscou. 2 a 2. Zagallo conversa com os jornalistas e alerta que o futuro tático do futebol estava claro. Chegaria o dia em que os times atuariam no 4-6-0. Nenhum atacante. Carlos Alberto Parreira concordou com a análise. E cunhou a frase, o "gol é um detalhe". Zagallo e Parreira foram ridicularizados pela imprensa por suas crenças defensivas. Só que os anos se passaram. E ficou claro o acerto na previsão. O que era chocante na década de 90, se mostra normal. E não só em equipes pequenas europeias. Na Champions, times tradicionais quando atuam fora e sonham em segurar o 0 a 0, abdicam de seus atacantes. Superpovoam suas intermediárias, o meio de campo. Uma situação é assistir de longe, pela tevê. Outra é estar no estádio e ver o clube brasileiro mais conhecido no Exterior. A equipe que encantou o mundo. O time de Pelé. O Santos entrar no Itaquerão no esquema previsto por Zagallo há exatos 20 anos. 4-6-0. Vanderlei, Victor Ferraz, David Braz, Gustavo Henrique e Zeca; Renato, Thiago Maia, Serginho, Léo Cittadini, Vitor Bueno e Elano. Nenhum atacante. Nem Tite, que passou uma fase grande na sua carreira, apaixonado por retrancas, esperava tanto defensivismo. Primeiro, Dorival tentou negar o óbvio. "Tínhamos uma estratégia, eu não vim para empatar. A estratégia era segurar para que jogássemos por bolas em que fatalmente teríamos o contra-ataque. Em determinado momento tivemos todas essas possibilidades, erramos saídas de bola e transição, não proporcionando aos três atacantes possibilidade real de investir ao gol adversário. Desperdiçamos bolas importantes, que poderiam ser fatais se tivéssemos frieza." Mas depois teve de assumir. "Nós perdemos a nossa velocidade, é um fato. A nossa velocidade depende em primeiro plano de Lucas Lima, movimentações sempre agudas de Gabriel e Ricardo. Sem eles há uma diferença, e quem entra tem outra característica. Não podemos querer que jogadores atuem da mesma forma que a equipe anterior, é processo de adaptação. "Há 15 dias jogávamos finais de Paulista, não tinha como preparar equipe alternativa para o início do Campeonato Brasileiro. Temos que ter essa tranquilidade a partir de agora, porque a exigência do torcedor é natural e nós entendemos. A paciência é necessária nesse momento, não podemos perder a confiança que sempre tivemos nessa equipe."

Na verdade, o que Dorival não pode falar é que a diretoria do Santos cometeu uma loucura. Na tentativa de fazer caixa, ganhar dinheiro, permitiu que a Seleção Brasileira convocasse Lucas Lima, Gabriel e Ricardo Oliveira para a Copa América. Três jogadores que são a alma do time. No máximo deveria ter aceito dois, como todas as equipes. Mas Modesto Roma cedeu porque precisa de dinheiro. A artrose nos dois joelhos não permitiu que Ricardo Oliveira fosse para os Estados Unidos. Só por isso ele ficou na Vila Belmiro. Mas sem a menor previsão de quando voltará a jogar. Roma não levou em consideração o futuro do Santos no Brasileiro. Sabe que não há elenco para ser campeão. A última vez que isso aconteceu foi em 2004, 12 anos. Não disputa a Libertadores desde 2012. Se contenta em farrear no cada vez mais insignificante Campeonato Paulista. Portanto, a missão atual do clube que teve Pelé é apenas não ser rebaixado no Brasileiro.

Em 15 pontos possíveis, o Santos ganhou 4. Venceu uma partida. Empatou outra. Perdeu três vezes. O saldo de gols apenas o deixa em 14º. Tem o mesmo número de pontos do Atlético Paranaense, penúltimo colocado. O início de competição do bicampeão paulista é deplorável. No domingo perdeu sua invencibilidade de onze meses para o Internacional. Dorival sonhava sim, em sair com um mísero empate do Itaquerão. Ele mais do que ninguém sabe o quanto o Santos atual depende de Lucas Lima e Gabriel. E ele não terá o meia por, pelo menos, nove jogos. Enquanto a Copa América acontece, o Brasileiro segue da maneira absurda. O mesmo vale para quando estiver acontecendo a Olimpíada. E como Gabriel está nos dois grupos, deverá ficar 18 jogos sem atuar. É uma violência que o Santos aceita calado, em nome de eventual venda para a Europa. Por isso, o que aconteceu ontem no Itaquerão, deverá se repetir. Para tentar sobreviver e não enfrentar o primeiro rebaixamento de sua história, o Santos de Dorival Júnior renegará seu DNA quando atuar fora da Vila Belmiro. O esquema que Zagallo previu em 1996, o 4-6-0. Situação que seria inacreditável em 1962. Como forçar essa estratégia no time montado por Lula? Jamais. Gilmar, Mauro, Dalmo, Olavo e Calvet; Zito e Lima; Dorval, Pelé, Coutinho e Pepe. Ou no de 1963? Bicampeão mundial, sem Pelé. Gilmar; Ismael, Mauro, Haroldo e Dalmo; Lima e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Almir e Pepe. Qualquer time poderia adotar o 4-6-0. Mas ver o Santos nesta formação é assustador. Não esse clube que impressionou o mundo por sua força ofensiva. E que, agora, para não ser rebaixado, abre mão de todos seus atacantes. Do seu DNA. Da sua alma. A vida é muito cruel...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 02 Jun 2016 09:13:51

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