sábado, 29 de agosto de 2015

"Dessa vez o futebol brasileiro vai ser passado a limpo." Depoimento de Leandro Cipoloni na CPI do futebol, em Brasília. Falando a políticos que querem acabar com o atraso, a corrupção no futebol brasileiro. E também para os que farão de tudo para manter a situação como está...

"Dessa vez o futebol brasileiro vai ser passado a limpo." Depoimento de Leandro Cipoloni na CPI do futebol, em Brasília. Falando a políticos que querem acabar com o atraso, a corrupção no futebol brasileiro. E também para os que farão de tudo para manter a situação como está...




Romário é o presidente da CPI do Futebol. O senador está empenhado. Assumiu uma missão. Fazer com que as investigações sobre o esporte mais importante do país não fiquem na superfície. E para isso está convocando para Brasília pessoas que possam mostrar a realidade, o que há de verdade nas entranhas da CBF, da Seleção, dos clubes, das Federações, dos contratos de publicidade, de transmissão. Quem se beneficia de uma estrutura viciada, atrasada, que facilita com que pessoas tenham poder absoluto por décadas. Para isso, Romário convocou para depor pessoas como o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e o ex-Ricardo Teixeira. Ir para Suíça ouvir José Maria Marin. Mas também deu voz para quem há anos convive com os bastidores. E expõem falcatruas, negociatas, abusos e privilégios de quem se aproveita do futebol: os jornalistas. Entre os chamados estavam Luiz Carlos Azenha, Amaury Ribeiro Jr. e Leandro Cipoloni. Eles escreveram o livro "O Lado Sujo do Futebol". Sem disfarces, eles mostraram de forma crua, direta como João Havelange e Ricardo Teixeira dominaram a CBF por anos e anos. A que preço. A leitura é estarrecedora.

Leandro Cipoloni é o chefe de reportagem da TV Record. Meu amigo de anos do Jornal da Tarde. Ele fez questão de atender a convocação de Romário. E revela o que foi dar o seu depoimento aos senadores, aos políticos de Brasília. Encarar pessoas que querem limpar o futebol brasileira. E também as que querem que tudo continue a mesma coisa. O atraso, a falta de transparência, as beneficia. Os homens da "bancada da bola". Aqui o relato de Leandro para o blog... "Sentar na cadeira da CPI do Futebol foi como entrar num túnel do tempo, de volta para o início dos anos 2000. Imediatamente, vieram à lembrança as duas comissões no Congresso que investigaram a CBF, seus contratos e o então presidente, Ricardo Teixeira. Já repórter de política do Jornal da Tarde, eu assistia às sessões por interesse não apenas profissional, mas também de quem sempre foi aficionado por futebol. "A paixão pelo esporte foi, inclusive, um dos principais motivos que me levaram a uma faculdade de Jornalismo. E foram os quadrilheiros do futebol que me tiraram da editoria. Percebi, em pouco mais de um ano no jornal A Gazeta Esportiva, que não teria estômago para a relação espúria de parte da imprensa esportiva com jogadores, empresários e dirigentes. Elo que tornava a cobertura, quase todo tempo, chapa-branca. Concomitantemente, uma estrutura corrupta fomentava aproveitadores, que contavam ainda com a leniência de autoridades. CBF, suas federações estaduais e os clubes eram blindados e não prestavam qualquer satisfação para os torcedores. Eram os donos da bola.

"Uma década depois, os ventos mudaram. A imprensa esportiva se tornou mais combativa. No embalo das acusações da promotoria suíça, que mandou chumbo em Teixeira e em seu mentor, João Havelange, repórteres brasileiros colocaram a caneta e o cérebro para funcionar. Grandes veículos de comunicação abriram espaço na sua editoria de Esporte para o jornalismo investigativo. A Rede Record entrou para o time e nos deu total autonomia para mergulhar no assunto. Ao lado de outros colegas, eu, Luiz Carlos Azenha, Amaury Ribeiro Junior e Tony Chastinet fizemos uma série de reportagens que contribuiu para a queda de Teixeira. A partir dela, aprofundamos as investigações para publicar “O Lado Sujo do Futebol”, que ficou semanas entre os livros mais vendidos do País em 2014. Nossas denúncias fundamentaram o indiciamento recente de Teixeira pela Polícia Federal e nos levaram à CPI. "Foi uma honra participar da comissão ontem. Tive a satisfação pessoal de ver o reconhecimento do nosso trabalho e, principalmente, de saber que aquela imprensa esportiva que conheci no início da carreira está perdendo espaço. Uma mudança de rumo que foi saudada na atual CPI pelo colega Juca Kfouri, que, como Cosme Rímoli, remou muitos anos contra a maré da adulação. Eu, Amaury e Azenha fechamos um ciclo de convocação de jornalistas brasileiros chamados a colaborar com as investigações dos senadores. Antes de nós, depuseram Kfouri, Jamil Chade, José Cruz, Lucio de Castro e Rodrigo Mattos, que ganharam terreno com a glasnot da imprensa esportiva. "Espero, de alguma maneira, ter colaborado com os senadores. Fico na torcida para que os trabalhos da comissão, dessa vez, deem algum resultado prático. Abri meu depoimento afirmando que só havíamos aceitado o convite por acreditar que será diferente – e estaremos de olho. É uma chance histórica de mudar o futebol brasileiro para melhor. "Por enquanto, a chamada “bancada da bola” ri da CPI. Seus membros veem a grave crise política monopolizar os holofotes no Congresso. Romário parece lutar sozinho. A esperança de quem deseja a moralização do futebol brasileiro é a mesma de 1994, quando o Brasil chegou desacreditado na Copa dos Estados Unidos. Convocado pela pressão popular, Romário foi lá e resolveu. Mais uma vez, a sorte do torcedor brasileiro está nas mãos dele. "Política é um jogo difícil de decidir sozinho (a presidente Dilma pode dar um testemunho sobre o tema), e a CBF é um zagueiro bem mais preparado que qualquer um que o senador enfrentou nos gramados. Um adversário experiente, cascudo, ardiloso e desleal. Boa sorte, Romário. Você e o futebol brasileiro vão precisar."



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 29 Aug 2015 01:33:28

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