terça-feira, 25 de agosto de 2015

Enfrentar a ira de Neymar custou cinco anos na carreira de Dorival Júnior. Abalou suas convicções. Sofreu, se reinventou. Tirar o Corinthians da Copa do Brasil será uma das provas que o trauma acabou...

Enfrentar a ira de Neymar custou cinco anos na carreira de Dorival Júnior. Abalou suas convicções. Sofreu, se reinventou. Tirar o Corinthians da Copa do Brasil será uma das provas que o trauma acabou...




Sua carreira vinha firme, sendo consolidada com trabalhos longos, convincentes. Seguia o caminho firme. De equipes médias, emergentes até chegar às grandes. Passou por Figueirense, Fortaleza, Criciúma, Juventude, Sport, Avaí, São Caetano. Até chegar ao Cruzeiro, Coritiba, Vasco e, finalmente, Santos. Em 2010, Dorival Júnior fez seu trabalho mais empolgante. O que abriria as portas definitivamente para o limitado mundo dos melhores treinadores do país. Conseguiu montar uma equipe moderna, competitiva. E repleta de coadjuvantes comprometidos para que Neymar, Ganso e Robinho brilhassem. O time venceu o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil daquele ano. Estava desenhado para vencer o Brasileiro. O treinador já projetava a Libertadores e o Mundial de Clubes de 2011. Muricy seguiria os seus planos e conseguiria seus objetos, o sucedendo. Até que chegou a partida contra o Atlético Goianiense, na Vila Belmiro. Jogo que deveria ser tranquilo. Até que Neymar sofreu um pênalti. Ele tentou dar um chapéu em Daniel Marques. Leandro Vuaden marcou a penalidade. Neymar era o cobrador oficial do time. Mas Dorival o estava sentindo nervoso naquela partida. Mandou o recado que Marcel cobrasse. Neymar ficou histérico. E disse que iria cobrar de qualquer maneira. Aqui, o que cada personagem falou, naquela noite inesquecível. "Só falando o que ele (Dorival) falou lá. Mandou (você) não bater, esqueci de falar", avisou Léo a Neymar. " Porra! Porra, tomar no c*", respondeu Neymar. "Que foi, que foi? Hein? Hein? Que foi? Que foi, p***? Olha aqui, eu quero falar contigo. Que foi, porra?, perguntava Marquinhos. "Esse maluco (Dorival), rapá. Porra, não me deu o pênalti. Se f***", explicou Neymar. Marcel cobrou e fez 4 a 2. Neymar não se conformou e começou a fazer gracinhas em campo. Edu Dracena, capitão do time, quis que ele jogasse sério. Ouviu uma dura resposta. "Vai se f***, car***. Tomar no c*." Marquinhos tentou acalmar novamente o atacante.
"Ei, Ney! Ei, Ney!" Dorival Júnior começa a chamar a estrela do time. "Ô, Ney! Que é isso?", perguntou. "Se f***, respondeu Neymar. "Ô, rapaz, seu moleque do c***, desabafou o treinador. Há poucos dias, soube o que aconteceu no vestiário após esse fatídico jogo. E que faria a carreira de Dorival estagnar por cinco anos.

Esta é a importante revelação. Assim que Neymar entrou no vestiário, o auxiliar do treinador, Ivan Izzo, começou a cobrar Neymar. O ex-goleiro do Palmeiras disse que ele precisava respeitar o técnico, Marcel, os companheiros, o Santos. O jovem atacante não teve dúvidas. Jogou um copo de Gatorade na cara de Ivan. O tumulto foi generalizado. O auxiliar teve de ser seguro para não brigar com o jogador. Diante desse deplorável quadro, Dorival disse ao presidente Luiz Álvaro que queria o jogador afastado de algumas partidas. O dirigente disse que multaria o atacante e ele seguira atuando normalmente. Só que na Vila Belmiro todos tinham certeza, não haveria multa alguma. Laor não enfrentaria Neymar. Haveria dois jogos seguidos. Guarani e Corinthians. A diretoria não queria Neymar fora de nenhuma das partidas. Brum, Marquinhos, Léo e Edu Dracena acreditavam que Dorival ficaria desmoralizado. E procuraram Laor.

"Eles já tinham definido que o Neymar não seria punido. Fiquei triste pelo Dorival Júnior. Então fomos a sala do presidente e, após eu dizer que a decisão não seria boa para o Dorival e para o clube, o treinador resolveu pedir demissão. Então, acabei pedindo demissão junto, alegando que sairia só se o Dorival saísse”, disse o volante, que reverteu a situação com a atitude. "Depois o Dorival me liga e diz que eles tinham aceitado afastar Neymar do jogo contra o Guarani. Mas, a diretoria me chamou e disse que eu estava demitido, e não viajei com o elenco para Campinas. Treinei separado, fui multado em 10% do meu salário, mas depois fui reintegrado", revelou Brum. Só que veio a partida contra o Corinthians. E Dorival não queria Neymar em campo. Foi quando o presidente e grupo gestor que comandavam o Santos o mandaram embora. Preferiram ficar com o jogador. Ele sentiu todo o poder que possuía. Neymar viu os dirigentes a seus pés e o técnico que ousou não deixá-lo cobrar um pênalti no olho da rua.

Todo esse episódio de setembro de 2010 mexeu profundamente com Dorival Júnior. O abalou psicologicamente. Sofreu. Ficou traumatizado. Seus trabalhos consistentes se tornaram decepcionantes. Ainda mais porque se tornou um treinador caro, empresariado por Carlos Leite, o mesmo agente de Mano Menezes. Dorival sucumbiu no Atlético Mineiro, Internacional, Flamengo, Vasco, Fluminense, onde ficou apenas cinco partidas, e no clube de seu coração, o Palmeiras.

Percebeu que precisava se reciclar. E, acompanhado de Vagner Mancini, foi para a Europa. Acompanhou dez dias de treinamento no Bayern de Guardiola, passou pelo Real Madrid de Ancelotti. E assistiu várias palestras. Estudou futebol. Buscou modernidade. Se reinventou. E esperou por um convite. Ele veio, por ironia, do Santos. Retornou diferente. Setoristas que acompanham o dia-a-dia do clube garantem que Dorival se mostra mais seguro, firme. E, sem uma estrela do quilate de Neymar, está mais à vontade para exigir do elenco. Com o clube mergulhado em dívidas, o grande medo era o rebaixamento no Brasileiro. O treinador tratou de montar uma equipe com grande intensidade nas duas intermediárias, velocidade, personalidade na frente. Passou confiança a Geovânio, Gabriel e, principalmente, Lucas Lima. Os veteranos Renato e Ricardo Oliveira estão jogando melhor do que eles mesmos esperavam.
Em dez partidas com o retorno de Dorival Júnior, o Santos venceu sete. Empatou duas. E perdeu apenas uma. Para o Palmeiras, em São Paulo. Ele assumiu o clube na zona do rebaixamento no Brasileiro, na 17ª colocação. Com dez pontos. 17 pontos depois, o time já está em 11º, a seis pontos do G4. Na Copa do Brasil, o Santos se impôs de maneira impressionante contra o Corinthians, líder do Brasileiro. Venceu na semana passada por 2 a 0. E terá a revanche amanhã, no Itaquerão. A equipe de Tite precisará derrotar sua equipe por 3 a 0 para ficar com a vaga às quartas. Dorival sabe o quanto será importante para ele esse clássico. Eliminar o Corinthians em pleno Itaquerão seria um resultado impressionante. O treinador sabe o quanto ainda é questionado. E também o parafuso em que se meteu desde aquela partida há cinco anos. Neymar sempre que o encontra pede desculpas. Sabe o estrago que fez na carreira de Dorival. Enquanto está milionário no Barcelona, o técnico perdeu confiança, ficou traumatizado. Hoje nem mais trabalha com Ivan. O seu ex-auxiliar que tomou o copo de Gatorade no rosto. Dorival está reconstruindo seu caminho. E deseja mais do que ninguém a classificação para as quartas da Copa do Brasil. Tirar o badalado Corinthians de Tite da frente.

E mostrar, que demorou.

Mas sobreviveu à ira de Neymar.

Agora quem manda no futebol do Santos é Dorival Júnior...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 25 Aug 2015 10:12:00

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