sábado, 1 de agosto de 2015

Fernando Mello. O assessor mais influente nos bastidores do futebol deste país. MSI, Clube dos 13, Federações, Palmeiras e agora CBF. Um perfil do jornalista das sombras...

Fernando Mello. O assessor mais influente nos bastidores do futebol deste país. MSI, Clube dos 13, Federações, Palmeiras e agora CBF. Um perfil do jornalista das sombras...




O iraniano Kiavash Joorabchian está longe de ser o homem sorridente que circulou Corinthians. Dava constantemente broncas feéricas nos funcionários do clube. Falava só inglês, mas entendia perfeitamente português. Fingia que não para saber as pessoas, principalmente os jornalistas falam sobre ele e a nada saudosa MSI. Paulo Nobre não tem o perfil desconfiado, cauteloso e evasivo que passa em todas as entrevistas. Os amigos e conselheiros antigos do Palmeiras sabem. Ele é alegre, brincalhão, fraterno. Mas teve de se moldar, principalmente quando há jornalistas por perto. Marco Polo del Nero não gosta de engolir desaforos. Cansou de chamar jornalistas que o contestavam para almoços e entrevistas exclusivas ardidas na Federação Paulista de Futebol. De repente mudou. Se transformou em uma sombra. Mesmo diante de uma crise sem precedentes, com acusações e suspeitas de todos os lados, ele se mantem impassível. Só fala quando é obrigado. E sempre tranquilo, com as respostas decoradas, que não comprometem. Esses são três exemplos da influência de um jornalista que poucos sabem sequer de sua existência. É melhor para os seus negócios. Ele se chama Fernando Mello. Por coincidência, o conheci como rival. Eu trabalhava no Jornal da Tarde e Fernando na Folha de São Paulo. Nunca foi de esquemas táticos, treinos, peitar treinador, questionar jogadores. Não. Ele sempre soube domar dirigentes. Conseguia informações importantes depois de cafés, almoços, jantares. E muito telefonemas. Fernando tem como seu maior dom despertar confiança na pessoa com quem conversa. E fazia alianças, sem comprometer o jornal. Nos dava muita dor de cabeça no Jornal da Tarde. A Folha de São Paulo percebeu sua aptidão. E tratou de encarregá-lo do Painel Futebol Clube. Com ele, a coluna sobre bastidores de futebol, viveu excelente fase. Conseguiu, com seu perfil, criar uma rede de contatos com o Brasil todo. Quanto mais inseguro, mais o dirigente brasileiro precisa de um interlocutor de credibilidade. Isso a Folha, o Painel e Fernando davam. O fato de ser elegante nas críticas também o favorecia. Muitos presidentes de clubes eram mais expostos do que se fossem xingados, mas não percebiam. E acabam mais do que fontes. Amigos carentes. Daqueles que ligavam a qualquer momento para desabafar. Inclusive da concorrência agressiva do JT. Aos jornalistas esportivos, a Folha nunca foi generosa. Pelo contrário. Fernando logo teve uma proposta excelente. E se transformou em assessor de imprensa da MSI, de Kia Joorabchian. Percebeu a lacuna que existia em 2004. Os jogadores e técnicos tinham já seus jornalistas. Mas os dirigentes precisavam de quem os orientassem, protegessem, os preparassem principalmente para enfrentar os repórteres.

Fernando esteve do outro lado. Sabia exatamente o que era notícia. O que deveria ser falado. O que deveria ser escondido. O que deveria ser trocado. E fundou sua empresa em 2005. A Press F.C. Assessoria e Consultoria. Conseguiu uma façanha. Moldar a imagem da MSI. A Media Sports Investment era um fundo de capital cercado de mistério. Na verdade, dinheiro de empresários bilionários que se aproveitaram da dissolução da União Soviética. E, ao abandonar o antigo país, se apropriaram de muito dinheiro de antigas estatais. Kia Joorabchian veio à América Latina fazer o que chamava de "festa". Ele queria montar um império. Investir nos jogadores mais importantes da América do Sul. Conseguir dominar os principais clubes. E também assumir o direito de transmissão das grandes equipes. Graças ao ex-presidente Alberto Dualib, se instalou no Corinthians. Iria fazer de lá sua base. O hoje deputado federal pelo PT, Andrés Sanchez, era o seu grande amigo e orientador. Lógico que desde o princípio, a Polícia Federal acompanhava os passos da MSI. Mas Fernando Mello queria era cuidar da imagem de Kia. Era um carrasco com funcionários do Corinthians e gritava com seus subalternos da MSI. Ninguém soube. Sua imagem foi moldada como Mello desejava. Um executivo jovem, simpático, alegre, endinheirado. O homem que iria dar ao Corinthians seu estádio, sua Libertadores.

Mello tirou muito proveito das contratações milionárias. Veículo nenhum teve privilégio. JT, Folha e Diário de São Paulo deram "por milagre" a chegada de Carlitos Tevez. Pude noticiar a compra de Mascherano sozinho. Vi a Folha dar Carlos Alberto. Dei Nilmar e Sebá. Deram Gustavo Nery. Sabia como tudo funcionava. Era o jogo. Kia não teve sorte. A legislação no país impediu que um grupo financeiro dominasse mais do que um clube. Cruzeiro, Grêmio e Flamengo estavam na sua alça de mira. Teve de ficar no Corinthians só. A Globo fez valer o seu direito de transmissão dos clubes brasileiros. A torcida corintiana quase lincha o time de estrelas no Pacaembu, depois da eliminação da Libertadores de 2006. Kia quer ir embora. Mascherano também. A Polícia Federal ameaça prender até o porteiro do Parque São Jorge. Todos trabalhariam para a "Máfia Russa". Dualib renuncia. A MSI abandona o Corinthians. E Fernando Mello? Saiu ileso. Continuou trabalhando. Desta vez um dos seus maiores clientes era o Clube dos 13. O então presidente Fabio Koff seguia seus conselhos. E passou a ser mais simpático, falante. Ampliou seu poder. Estava claro que orientado para fortalecer a imagem da entidade no país.

Sucumbiu quando Andrés Sanchez, o amigo de Kia, se aliou a Ricardo Teixeira e à Globo. Ele retirou o Corinthians do Clube dos 13 e convenceu a direção do Flamengo a fazer o mesmo. Até hoje os dois clubes têm vantagem financeira desta atitude e ganham mais dinheiro da emissora carioca. Vale lembrar. O Clube dos 13 negociava o direito de transmissão de maneira conjunta. Em 2011, a Globo teria concorrência das outras emissoras. O valor iria subir muito. Haveria a chance de perder. O que os executivos globais fizeram? Uma aliança com Ricardo Teixeira e Andrés. Um pacto para implodir o Clube dos 13. E evitar a votação conjunta. O plano foi perfeito. A entidade se desmanchou. E o monopólio na transmissão, que nasceu na Ditadura Militar, prosseguiu. E Andrés teria algo mais como recompensa do que cotas maiores da Globo. "O ex-presidente do Corinthians (Andrés Sanchez), desde o início, falou que ia sair para detonar (o Clube dos 13) porque ele tinha um estádio prometido. Ele ia ganhar um estádio. Ele falou pra mim e não pediu segredo. Perguntei pra ele: ‘que sacanagem é essa?’. Ele disse: ‘Kalil, estou ganhando um estádio’. Virei as costas e saí andando. Porque se me dessem um estádio eu também detonava a mesa." A revelação foi do ex-presidente do Atlético, Alexandre Kalil. O que aconteceu com Fernando Mello com a implosão do Clube dos 13? Continuou trabalhando. Seguiu orientando vários presidentes de clubes. Dirigentes do Flamengo, Santos, Avaí, América Mineiro, São Paulo, Goiás, Bahia, Santo André já receberam e seguiram suas orientações. Fora várias empresas de marketing.

Acompanhou também dirigentes na construção de novas arenas para a Copa do Mundo. Fernando Mello seguia tão onipresente quanto silencioso. Sua proximidade com Marco Polo já era clara na Federação Paulista de Futebol. Aliás, tem amizade com presidentes de várias Federações. Circulava. Até que se fixou na candidatura do bilionário Paulo Nobre no Palmeiras. Adversários políticos de Nobre diziam que a política no clube virou domínio da MSI, tentando atingir Mello. Mas ele se fazia de surdo. E moldou o bilionário presidente do Palmeiras. Ele perdeu sua espontaneidade. E virou mesmo seu homem de confiança. "O Paulo Nobre ouvia mais conselhos sobre futebol do Fernando Mello que os meus", desabafou o ex-executivo palmeirense, José Carlos Brunoro, ao deixar o clube. A sua troca por Alexandre Mattos teve toda a participação de Mello. Em todos os jogos do Brasil na Copa, Mello acompanhava. Sua empresa segue no Palmeiras. Mas ele cuidava especialmente de Marco Polo. Quando o midiático Rodrigo Paiva foi demitido depois do desastre de 2014, o ex-assessor da MSI havia sugerido como seria o trabalho na imprensa da CBF. De maneira esperta, ele não queria o controle de tudo. Seleção Brasileira, Dunga, Gilmar Rinaldi ficou com seus auxiliares. Mas sob sua vigia, lógico. Marco Polo del Nero é dele. Só fala a quem o interessa e quando for necessário. O presidente da CBF segue suas orientações e conselhos de forma impressionante. É Mello quem o acalma, tranquiliza. E o prepara para raríssimas entrevistas, depoimentos. O jornalista é especializado em media training. Será ele quem o deixará pronto para a CPI da CBF presidida por Romário.
Mello é apontado como quem aconselhou Marco Polo a receber Zico. Ouvir o pedido do candidato a presidente da Fifa. O apoio, com direito a foto, é da sede da CBF para fora. A opinião pública comprou a imagem de que Del Nero está "fechado" com Zico. Não está. Apenas o desafiou. Se ele conseguir o apoio de quatro outros países, a CBF o apoia. É missão de Zico é muito difícil, quase impossível. O fato de ter trabalhado no Japão, na Turquia, no Uzbequistão e na Índia não asseguram o comprometimento com o brasileiro. Pelo contrário. Todo país quer apoiar quem vai ganhar a Fifa em fevereiro do próximo ano. E Platini é o grande favorito. O bilionário sul-coreano, dono da Huyndai, Chung Mong-joon, corre por fora. Não há motivos práticos para apoiar o brasileiro, que já afirmou não ter nem dinheiro para a campanha. Ou seja, esse "apoio" de Marco Polo não deve se concretizar. E Del Nero pode oferecê-lo a quem for mais interessante na disputa. E além disso, o presidente da CBF não se esquece das muitas ofensas de Zico antes do pedido de apoio. Fernando Mello é um personagem muito importante no cenário do futebol brasileiro na última década. Tão influente quanto silencioso. Seu currículo. Feito por ele mesmo, no site linked in. "Bacharel em Comunicação pela ECA/USP. Especialista em gestão esportiva pela Trevisan. Repórter da Folha de S.Paulo de 1997 a 2005. Editor do Painel FC de 2001 a 2005. Diretor de Comunicação da Corinthians/MSI entre 2005 e 2007. Diretor de Comunicação do Clube dos 13 de 2007 a 2011
CCO (Chief Communication Officer) da Sociedade Esportiva Palmeiras desde janeiro de 2013. Sócio-diretor da Press FC desde 2005. Cobertura de 3 Copas do Mundo (2002, 2006 e 2010). Consultor de 14 clubes de futebol e de outras 20 empresas ligadas ao esporte." Não é pouco... Fernando detesta holofotes. Sabe que seu trabalho é atrás deles.

Só que não pode passar despercebido.

Não vai...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 01 Aug 2015 13:03:41

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