quarta-feira, 5 de agosto de 2015

"Não tenho o menor interesse em ser treinador no Brasil. Não posso estar onde não se respeita o trabalho dos técnicos." Tuca Ferretti, o homem que levou os mexicanos do Tigres à final da Libertadores...

"Não tenho o menor interesse em ser treinador no Brasil. Não posso estar onde não se respeita o trabalho dos técnicos." Tuca Ferretti, o homem que levou os mexicanos do Tigres à final da Libertadores...




"Ele tem uma visão do futebol diferenciada. Nosso time tem uma intensidade que não se vê no Brasil. A campanha do Tigres na Libertadores não é por acaso. Jogamos da maneira mais moderna. Com troca constante de posição do meio para a frente. Somos muito bem treinados." Quem não cansa de elogiar a equipe mexicana sabe o que está falando. É Rafael Sóbis. Graças ao time e ao treinador, o ex-jogador do Internacional terá a chance hoje da terceira Libertadores da América. Já ganhou duas com os gaúchos: em 2006 e 2010. E hoje, a final, daqui a pouco em Buenos Aires contra o River Plate. O responsável por tanta empolgação de Rafael? Ricardo Ferretti. Ou Tuca Ferretti para os mexicanos. O treinador tem 62 anos, é brasileiro. E só trabalhou em equipes mexicanas. Está ha cinco anos com o Tigres. Renovou seu contrato por mais três. Depois os dirigentes querem que se torne diretor. Mas a Seleção Mexicana pode mudar todos os planos. Ele já recusou dois convites. Mas desta vez, a pressão está mais forte para que assuma o selecionado. Miguel Herrera foi demitido depois de bater em um jornalista da TV Azteca, Christian Martinoli. O motivo foram suas críticas pesadas ao time depois da conquista da Copa Ouro, que garantiu o país na Copa das Confederações. "Já me ofereceram umas duas ou três vezes e disse não. De brincadeira, digo que prefiro varrer do que ser treinador da seleção", disse o técnico para a Sportv. Jornalistas mexicanos confirmam essa personalidade diferente do brasileiro. Ele é totalmente desprovido de vaidade. Ao contrário do que acontece no país com muitos treinadores, Tuca não quer ser a estrela do time. Ele chegou ao país da América do Norte em 1977, ainda como jogador, atacante. Atuou no Brasil no Botafogo, Vasco e Bonsucesso. No México atuou até 1991. No mesmo ano assumiu o Pumas, ficou cinco anos. Mais quatro anos Chivas. Um ano no Toluca, outro no Monarcas Morellias e um no Tigres. Mais quatro no Pumas. E os recente cinco no Tigres. Ferretti é amante do futebol europeu. Suas equipes procuram atacar como as espanholas e defender como as alemãs, ironizam os jornalistas. Ele não cai na tentação de montar equipes leves, rápidas ofensivas e sem grande talento defensivo, como costumam ser os times mexicanos.

Ele é disciplinador. Não aceita ser desrespeitado. Segue sua índole. Ficou entre ser militar ou trabalhar com futebol. Depois de ter uma carreira como atleta responsável, se tornou técnico muito rígido. Na formação do milionário time do Tigres que disputa a final da Libertadores, ele levou em consideração a personalidade de cada um. "Jogador, hoje, é estrela de Hollywood, se acha mais do que a oitava maravilha do mundo. Esses não entram aqui. A primeira coisa num jogador é a técnica. Mas conta também a mentalidade: o time acima de tudo", repete, como um mantra. Suas broncas já entraram para o folclore do futebol mexicano. Age como um militar quando é contrariado. Foi assim que conseguiu comandar uma equipe com jogadores de várias nacionalidades. Uma verdadeira torre de Babel. Há brasileiros, mexicanos, argentinos, uruguaios, chilenos e até francês. Todos precisam respeitar a hierarquia e ordens do técnico. Foi assim que montou uma equipe competitiva, vibrante e muito efetiva. "Os donos do clube acreditam em mim. Pude escolher os jogadores. E optei pelos que se encaixavam na minha filosofia. Fiquei muito feliz montando essa equipe. O Tigres não chegou por acaso à decisão da Libertadores", resume Tuca.

A campanha na Libertadores foi excelente. Ficou em primeiro lugar disparado no grupo 6, justamente o que tinha o River Plate. Os mexicanos ficaram com 14 pontos e os argentinos, sete. As duas partidas entre eles acabaram empatadas. Depois, nas oitavas, despachou o Universitário Sucre. Nas quartas, o Emelec. E nas semifinais, o Internacional. E agora a decisão, contra o River Plate. Em Monterrey, o primeiro jogo foi 0 a 0. Acredita que possa dar o primeiro titulo da Libertadores aos mexicanos. "Nós somos convidados nessa festa. E convidado nem sempre pode ficar com a melhor parte. Eu vi as duas outras finais de Libertadores que times mexicanos disputaram. Foi uma vergonha. Minha preocupação é essa. Espero que a arbitragem não influa", disse ao Globo. O técnico faz questão de avisar que não tem a mínima vontade de trabalhar no futebol brasileiro. Ele preza a sua estabilidade. "Respeito o meu trabalho, o planejamento. Futebol não é improviso. Sei como é a cultura no Brasil. Os times são montados em plenos campeonatos e qualquer sequência ruim, os treinadores são demitidos. "Já fiquei oito partidas sem vencer no Tigres. Sete derrotas seguidas e um empate. Sabe quando eu seria mantido no Brasil? Nunca. Os dirigentes acreditaram no que havíamos traçado. E acredito ter valido a pena ter me segurado. Há grandes treinadores brasileiros. Mas sei que, por qualquer coisa que saia errado, a cabeça do técnico é cortada. "E tem mais. Eu sou um homem sério. Exijo também seriedade dos dirigentes. É o que mais tenho no México. Se me prometem uma coisa, eu cobro. Sei que no Brasil atual não é bem assim. "Não tenho o menor interesse de ser treinador no Brasil. Não posso estar onde não se respeita o trabalho dos técnicos." Por isso, nem penso em voltar".

Ou seja, do México, Ferretti consegue muito bem enxergar o futebol deste país. Mesmo se o Tigres deixar escapar o título daqui a pouco da Libertadores, a campanha é histórica. Valeram as lições. É um clube mantido por grupo milionário de cimento. Ele tem a concessão de 30 anos para administrar a equipe. Fez ótimas contratações. Mas foi o básico que levou a equipe tão longe. Filosofia, planejamento, firmeza de um treinador. Brasileiro. Que está muito feliz. Longe da falta de rumo dos clubes deste país. E está muito perto não só da Libertadores. Como do comando da Seleção Mexicana. Sem nenhuma vontade de trabalhar no país que nasceu...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 05 Aug 2015 18:30:33

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