terça-feira, 11 de novembro de 2014

"Jogador boliviano tem de jogar três vezes mais do que brasileiro, do que argentino. Precisa sempre estar provando seu potencial." Exclusiva com Marcelo Moreno...

"Jogador boliviano tem de jogar três vezes mais do que brasileiro, do que argentino. Precisa sempre estar provando seu potencial." Exclusiva com Marcelo Moreno...




Aos 27 anos, Marcelo Moreno já fez história. E quando garoto. Foi um dos quatro estrangeiros a atuar na Seleção Brasileira de base. O boliviano com cidadania nacional teve de optar quando estava para fazer 20 anos. Decidiu ceder para os pedidos de que optasse por seu país natal. Só que muita coisa aconteceu neste oito anos. Saiu do Vitória, foi para o Cruzeiro. Seu sucesso fulminante o levou para a Ucrânia, atuar no Shakhtar Donetsk. Não se adaptou. Acabou emprestado ao Werder Bremen da Alemanha. Também não rendeu. Foi para o Wigan da Inglaterra. Muito triste, pediu para voltar ao Brasil. Foi para o Grêmio. Ficou no meio de um tiroteio político. E quase foi forçado a jogar no Palmeiras. Se recusou. Acabou no Flamengo. Longe de seu melhor momento físico, acabou na reserva. Hernane entrou e se consagrou. Desacreditado no Rio, voltou emprestado ao Cruzeiro. A torcida invadiu o aeroporto para recepcioná-lo. Se sentiu especial novamente. Mais seguro, confiante. E retribuiu voltando a jogar bem. Marcando gols. Tem 23 só neste ano pelo Cruzeiro. Mas se acostumou aos questionamentos. "Jogador boliviano tem de jogar três vezes mais do que brasileiro, do que argentino. Precisa sempre estar provando seu potencial. Aqui também já enfrentei questionamentos. Mas a resposta dei em campo. E estou em um grande momento da minha carreira. Quero fazer história, ficar marcado para sempre no Cruzeiro. Como o jogador que ajudou o time na final da Copa do Brasil contra o maior rival, o Atlético Mineiro. Vou dar tudo de mim nestas finais da Copa do Brasil, do Brasileiro. Eu quero e o nosso time merece a tríplice coroa!", disse em entrevista exclusiva ao blog. Marcelo, você não estava bem no Grêmio e no Flamengo. Como pode explicar a sua reviravolta no Cruzeiro? Jogador precisa de confiança, de apoio. Foi tudo o que encontrei de novo no Cruzeiro. A torcida foi me buscar no aeroporto. Me abraçou, me incentivou. Eu acabei me sentindo importante para um clube, para um grupo. As pessoas se esquecem que jogador não é uma máquina. É um ser humano que, como todos, rende mais onde se sente valorizado. É exatamente isso que explica o meu sucesso no Cruzeiro. Todos acreditam em mim. Desde o Marcelo Oliveira, companheiros de time, funcionários, presidente e, principalmente, a torcida. Por isso quero retribuir dando tudo o que puder para ganhar a Tríplice Coroa (Campeonato Mineiro, Brasileiro e Copa do Brasil no mesmo ano).

Seu sucesso foi fulminante. Surgiu no Vitória, o Cruzeiro o contratou e logo foi para a Europa. O que aconteceu que você não ficou no Shakthar Donetsk, no Werder e nem no inglês Wigan. O que aconteceu? Eu fiquei apenas seis meses na minha primeira passagem pelo Cruzeiro. Era muito imaturo. Tinha apenas 21 anos. Deveria ter ficado pelo menos mais um ano para amadurecer. Mas a proposta financeira foi alta demais. Não deu para recusar. Havia cinco clubes interessados. As propostas não paravam de aumentar. Foi um grande erro que cometi na minha carreira. Aprendi e digo a quem for jogar no futebol europeu. Pesquise tudo sobre o clube que estiver contratando, sobre o país que vai atuar. E, principalmente, saiba a língua local. Eu me dei muito mal por não conseguir me comunicar bem com os treinadores, meus companheiros. Isso pesou demais. Fora os costumes serem diferentes, a comida, o clima. Enfim, sou sincero. Não estava preparado. No retorno houve uma sequência de situações complicadas. Grêmio, recusa de jogar no Palmeiras e Flamengo. As coisas realmente não saíram como eu queria. Houve problemas internos políticos envolvendo a minha contratação. Isso me atrapalhou muito. Influenciou o meu rendimento. Senti que o melhor era mesmo sair. Foi quando surgiu a história do Palmeiras. Soube lendo na Internet que já havia sido negociado. E isso sem ninguém conversar comigo. Nunca vi uma transação assim. Foi muita falta de respeito do Grêmio. Meu pai infelizmente tomou as dores. E quis me proteger atacando o Palmeiras. O que foi um enorme erro. Eu nunca falei nenhuma palavra contra o Palmeiras. Sei que é um dos grandes clubes deste país. O respeito. Mas depois que a negociação foi anunciada pela imprensa sem eu saber, o Brunoro falou comigo. Mas disse claramente que já tinha os meus planos. E fui jogar no Flamengo.

Na Gávea seu rendimento não foi bom. Não foi mesmo. Eu não havia feito pré-temporada no Grêmio. Estava abaixo fisicamente dos rivais. E ainda o Hernane passou por uma fase fantástica. Virou titular absoluto. Foi quando surgiu na vida o Cruzeiro de novo. Estava voltando para a minha casa. De onde nunca deveria ter saído tão cedo. Qual o segredo desse Cruzeiro que já é campeão brasileiro e continua com essa gana de conquistar o bicampeonato seguido e a Copa do Brasil? Sinceramente? É a grande união, amizade. O time já era forte no ano passado. Mas o Marcelo Oliveira e o Alexandre Mattos foram buscar as peças que o Cruzeiro precisava. O Marcelo foi sincero em várias conversas que teve com todo o grupo. Falou que a prioridade seria o time. Explicou ser um privilégio ter grandes jogadores que ficariam na reserva, esperando sua vez. Entraria em campo quem fosse melhor para o time. Todos nós entendemos e aceitamos a filosofia imposta pelo nosso treinador. Ninguém é dono da posição. Todos nós damos o máximo porque há um reserva também dando o seu máximo para jogar. Marcelo conseguiu impor essa competitividade leal. O que é muito raro no futebol. Você passou pela Europa. O Cruzeiro é equipe brasileira que tem mais características europeias. Com uma intensidade fora dos padrões, para atacar como também para recompor o time sem a bola? O Cruzeiro tem sim intensidade e recomposição que são conceitos do Marcelo Oliveira. Há uma semelhança com o trabalho europeu. Mas não é uma cópia. O Cruzeiro tem a sua maneira de jogar, intensa. Com os companheiros se ajudando. Marcando, atacando. Só que é uma maneira brasileira. Onde há muito espaço para que o talento de vários jogadores habilidosos que temos se sobressaia. É um time que nasceu para marcar gols, ser campeão. Dá muito prazer atuar em um time com essa filosofia ofensiva. Mas não foi essa maneira de encarar o futebol que traiu o Cruzeiro na Libertadores? Pode se dizer que sim. Nosso time sabe do seu potencial. É voltado naturalmente para o ataque. Mas aprendeu que há situações, principalmente na Libertadores, que é preciso mudar. Se comportar como um time pequeno, ficar atrás só marcando. Não foi o que fizemos e pagamos caro por isso. Tínhamos tudo para sermos campeões. Mesmo orientados para de vez em quando nos fechar, parecia que tínhamos vergonha de marcar. Aprendemos da pior maneira, sendo eliminados. Mas ficou a lição. O Cruzeiro estará muito mais forte na próxima Libertadores. Mais maduro.

Como é disputar essa final de Copa do Brasil contra o maior rival, o Atlético Mineiro? Sensacional.É o adversário perfeito. Um grande time, um clube que venceu a Libertadores no ano passado. E o clube que o nosso torcedor tem o maior prazer de derrotar. Serão jogos intensos, equilibrados. Na verdade é um privilégio participar dessa final. Estou empolgadíssimo. Quero fazer história, ficar marcado para sempre no Cruzeiro. Como o jogador que ajudou o time na final da Copa do Brasil contra o maior rival, o Atlético Mineiro. Vou dar tudo de mim nestas finais da Copa do Brasil, do Brasileiro. Eu quero e o nosso time merece a tríplice coroa! Tudo o que está acontecendo na Copa do Brasil e no Brasileiro está reanimando o torcedor. A Copa do Mundo foi desastrosa. Quais foram os reflexos em você dos 7 a 1 contra a Alemanha? Foi muito triste para mim também. O placar foi grande demais. Fiquei com a certeza de que mesmo grandes jogadores precisam ter um senso de organização muito grande em uma Copa. O Brasil ainda possui os melhores atletas do mundo. Só tem de treinar, atuar junto. O Mundial deixa o ensinamento do comprometimento quando o time não tiver a bola. A participação de todos os jogadores marcando e defendendo. Mas, repito, para mim não há seleção tão forte quanto a brasileira. E como está a Bolívia? Ah, finalmente vamos ter investimento nas categorias de base. Somos um país pobre, sem recursos financeiros. Tudo é muito mais difícil para nós. Só que desta vez tudo está muito melhor. Vamos avaliar na Copa América. Individualmente tudo é complicado. Na Europa, jogador boliviano tem de jogar três vezes mais do que brasileiro, do que argentino. Precisa sempre estar provando seu potencial. O meu país é muito pequeno comparado ao Brasil. Mas desta vez temos uma ótima geração. Com 44 gols pelo Cruzeiro você já alcançou o espanhol Fernando Carazo. Se marcar apenas mais um será o estrangeiro que mais marcou com a camisa azul celeste... Motivo de grande orgulho. É uma marca que vou levar comigo e me lembrar sempre. Durante a carreira, enfrentei algumas dificuldades por ser estrangeiro e acredito que outros jogadores de fora também possam ter passado pelo mesmo. Então, cada feito que consigo realizar em um clube daqui eu valorizo bastante. Se me tornar o maior artilheiro estrangeiro do Cruzeiro será algo muito especial. Você é jogador do Grêmio, está só emprestado ao Cruzeiro. Qual será o seu futuro? Eu quero ficar no Cruzeiro. Disputar outra Libertadores, desfrutar a ótima companhia dos outros jogadores. Se bobear, até me aposentar por aqui. Mas quem tem o poder de decisão é o Grêmio. E soube que há interesse de clubes europeus. A situação será decidida com a maior calma. Quero o melhor para todos os envolvidos. Sei que a diretoria do Cruzeiro já está conversando. Fico esperando. Só que antes da definição quero dar tudo de mim para ganhar de novo o Brasileiro. E esta Copa do Brasil, mais do que especial, com a decisão contra o Atlético Mineiro...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 11 Nov 2014 02:41:20

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