sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Os bastidores do constrangedor anúncio do final da carreira de Rogério Ceni. A Penalty matou a esperança do maior ídolo da história do São Paulo disputar sua última Libertadores. Isso é marketing?

Os bastidores do constrangedor anúncio do final da carreira de Rogério Ceni. A Penalty matou a esperança do maior ídolo da história do São Paulo disputar sua última Libertadores. Isso é marketing?




A cena seria maravilhosa. Afina sua carreira excepcional, com inúmeras conquistas, recordes incríveis e dedicação acima da dor, mereceria. Em um palco montado no gramado do Morumbi. Logo depois de levantar a taça de campeão da Copa Sul-Americana, garantir o seu amado São Paulo na Libertadores. Diante de 60 mil súditos, Rogério Ceni acabaria com o suspense. E anunciaria o fim da carreira. Mas o departamento de marketing da Penalty resolveu mexer em um vespeiro. Resolveu divulgar um belo convite de lançamento de mais uma camisa do ídolo. Mas como garantir ampla, a maior cobertura dos veículos de comunicação? "Bombar a marca", como os publicitários adoram. Simples, garantir que na coletiva Rogério Ceni anunciaria o final de sua carreira. Em pleno meio-dia da próxima terça-feira. Estava garantido pelo horário a entrada dos principais noticiários da tevê. As manchetes dos sites na hora em que são mais acessados. E ainda as capas dos jornais do dia seguinte. Não só a camisa ganharia publicidade espontânea, mas a própria marca. Jogada de gênio. Brilhante, deve ter acreditado a cúpula da empresa. O convite não seria distribuído aos jornalistas sem o consentimento da cúpula da Penalty. Jamais. Era algo significativo, importante. A empresa queria garantir a venda de milhares de camisas aos fãs do goleiro no mundo todo. O apelo comercial de Rogério Ceni, dizendo o seu adeus mostrando o seu uniforme de despedida para as câmeras, seria sensacional. Cada réplica sairá por mais de um terço do salário mínimo no Brasil: R$ 249,99. E não haveria erro. A firmeza das palavras escritas no convite não deixavam dúvidas. Havia a convicção de que um dos grandes mistérios de 2014 estava desvendado. Estava morta a esperança de grande parte da torcida do São Paulo. Mesmo com o clube já garantido na Libertadores de 2015, Rogério Ceni vai se aposentar. Sair no auge. Vive seu melhor momento no gol do clube nos últimos cinco anos. Exatamente como queria. Mas os marqueteiros da Penalty não sabiam com quem mexiam. Para quem tem uma carreira com a envergadura de Rogério Ceni seria mesmo ridículo, absurdo, estúpido anunciar dessa maneira o adeus. Não em um encontro entre alguns membros da diretoria, executivos da fabricante de material esportivo e algumas dezenas de jornalistas. Em um espaço improvisado na avenida Marquês de São Vicente 2.724, no Centro de Treinamento do São Paulo,na Barra Funda. Na véspera da partida que decidirá se o clube estará ou não na final da Copa Sul-Americana. Esperto, logo entendeu que vender sua camisa seria mais importante até que seu adeus.

"Ninguém tem o direito de dizer dia, escolher data... não entendo da onde surgiu isso. Só me admira uma empresa que se diz desse tamanho soltar uma nota de alguém que não tem qualquer relação com ela", desabafou Ceni ainda na Colômbia, depois da derrota contra o Nacional de Medellin. O convite vazou antes do jogo. Desviou a atenção, a concentração do goleiro, do time no importantíssimo confronto. Ele quis saber se alguém do clube havia passado a informação do final da sua carreira à Penalty. Houve várias trocas irritadas de telefonemas entre o presidente Carlos Miguel Aidar e o departamento de marketing do São Paulo. A raiva era a mesma dos dois lados da linha. Tudo partiu da empresa. O repúdio do presidente do São Paulo já começou na roupa. Com um agasalho da Reebok, antigo patrocinador do clube, Aidar desabafou contra a fabricante. "A Penalty foi infeliz, o Rogério ficou realmente indignado. Após essa falha, não sei se o Rogério ainda vai querer lançar essa camisa comemorativa", desabafou o dirigente. O evento estava acertado há mais de 40 dias. A empresa faz uma pré-venda dessa camisa desde o dia 8. O departamento de marketing da fabricante de material esportivo percebeu onde se meteu. E, apressado, divulgou um comunicado oficial. E com direito a um erro de português inacreditável. "A PENALTY esclarece que o convite distribuído à imprensa, para a apresentação da camisa do Rogério Ceni, não teve o intuito de oficializar a data de encerramento da carreira do ídolo são paulinho, uma vez que esta decisão e cominicação cabe única e exclusivamente ao próprio Rogério. Reforçamos nosso pedido de desculpas, ao São Paulo Futebol Clube e ao Rogério Ceni, pela falha de comunicação." Assim mesmo, Rogério foi descrito como ídolo "são paulinho". O amadorismo da empresa não passou em vão. Carlos Miguel Aidar tem três propostas melhores de fábricas interessadas em confeccionar o uniforme do São Paulo: Adidas, Puma e da Under Armour. As propostas têm valores maiores do que a atual. Por contrato de três anos, a Puma ofereceu R$ 45 milhões. A Under Armour, R$ 47 milhões. Mas com quem o presidente gostaria de voltar a trabalhar é a Adidas. Que, por sinal, fez a maior proposta: R$ 50 milhões. O contrato com a Penalty foi assinado por Juvenal Juvêncio. Ele termina no final de 2015. A confusão envolvendo a despedida de Rogério Ceni é a desculpa perfeita para o São Paulo tentar se livrar dele. E buscar um acordo mais lucrativo. A Adidas já havia sido a responsável pelos uniformes do clube na primeira passagem de Carlos Miguel como presidente. Vestiu o São Paulo entre 1985 e 1988. E, se dependesse do dirigente, haveria uma retomada já no próximo ano. Conselheiros defendem a rescisão unilateral com a Penalty alegando a confusão envolvendo a despedida do ídolo.

O desconforto de Rogério Ceni com a situação criada pela Penalty continua. O evento não teria só a camisa "de despedida" do goleiro. Seria mostrado também o uniforme que o São Paulo usaria no Campeonato Paulista de 2015. Aliás, uma data pessimamente escolhida. Tudo deveria ter acontecido antes, nunca na véspera da semifinal da Copa Sul-Americana. Carlos Miguel Aidar foi presidente da OAB e sabe. O destrato de um contrato com uma grande empresa como a Penalty não é fácil. Pelo contrário, leva tempo. Ele já havia garantido que o evento da próxima terça-feira aconteceria. Ainda irritado, avalia as consequências em cancelá-lo. Deve se posicionar ainda hoje à tarde. Mas de uma coisa o departamento de marketing da empresa pode ter certeza. Se eles queriam mídia espontânea para a Penalty conseguiram. Foi a fabricante de material mais citada nos últimos dias. Só como não imaginavam. Há campanha de são paulinos, atenção, são paulinos e não são paulinhos, para o clube troque de fabricantes. Os fãs do goleiro estão revoltados. Mas é Rogério Ceni que carrega a maior mágoa. O balanço mais importante dessa trapalhada foi a certeza de maneira oficial que sua carreira vai mesmo acabar. Mesmo não anunciando o fim, ou mesmo não comparecendo no evento, a Penalty acabou com o mistério. Matou a esperança da esticada final até a Libertadores de 2015. Há a certeza de que ele irá mesmo encerrar a carreira. Foi e continua sendo uma situação bizarra. Digna de acontecer no Canindé, sob o comando do presidente Manoel da Lupa. O maior ídolo da história do São Paulo foi tratado sem o menor cuidado. Em nome de vender mais algumas camisas. O marketing no futebol brasileiro parou na Pré-História...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 21 Nov 2014 13:47:15

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