quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O truculento Eurico Miranda voltou à presidência do Vasco. Os dois rebaixamentos, as dívidas de R$ 400 milhões e a incompetência de Roberto Dinamite foram os cúmplices de seu retorno...

O truculento Eurico Miranda voltou à presidência do Vasco. Os dois rebaixamentos, as dívidas de R$ 400 milhões e a incompetência de Roberto Dinamite foram os cúmplices de seu retorno...




Socos, pontapés, tiros de morteiro entre membros da maior torcida organizada do Vasco. Foi preciso a Polícia Militar separar os brigões com gás de pimenta. A confusão em frente ao portão principal de São Januário só acabou com a ameaça de prisão dos torcedores. Desta vez a PM agiu rápido. O aviso de como seriam as eleições no Vasco havia sido dado há oito dias, na convenção de Eurico Miranda. Mais de cem torcedores de uma ala da Torcida Jovem chegaram com barras de ferro, pedras, facas e até revólveres. Houve confronto com cerca de oitenta membros da mesma organizada, partidários de Roberto Monteiro. Houve vários feridos e sete pessoas foram presas. A truculência virou marca registrada do retorno de Eurico Miranda à presidência do Vasco. Sua vitória foi confirmada ontem. Sua chapa, com o singelo nome "Volta Vasco, Volta Eurico", conseguiu 2.633 votos. Derrotou a de Júlio Brant, "Sempre Vasco", com 1.570 votos, e a de Roberto Monteiro "Identidade Vasco", com 1.155 votos. O resultado saiu depois de 13 horas de eleição e três horas de apuração. O resultado foi confirmado pouco depois das três horas da manhã. A eleição no clube é indireta. Os sócios votaram ontem nas chapas. A vencedora, de Eurico, terá direito a escolher 120 conselheiros. A segunda colocada, a apenas 30 no Conselho Deliberativo. A confirmação da vitória será na próxima terça-feira, com a votação dos conselheiros.

"O Vasco estava semimorto e hoje está vivo. Só quero dizer uma coisa. A partir do momento que eu assumir, o Vasco vai voltar a ser respeitado. Já passei por todos os cargos do Vasco. Se o Vasco não precisasse de mim, eu não estaria aqui. Voltei para resgatar o Vasco, para tirá-lo desta situação. Se o Vasco não se encontrasse nesta situação que está, não havia hipótese de eu voltar." Eurico, de 70 anos, discursava satisfeito, cercado de jornalistas, correligionários e membros de torcidas organizadas do Vasco. Ainda quando estava sendo apurados os votos, Júlio Brant, foi aconselhado a ir embora do clube. Sabia que tinha perdido a eleição e poderia ser agredido pelos torcedores. E escapou por pouco de apanhar quando saiu de São Januário na madrugada. Teve de sair em uma viatura de polícia. A volta de Eurico e sua truculência acontece graças ao fracasso da passagem de Roberto Dinamite na presidência do clube. O principal jogador da história vascaína mostrou que no futebol não combina romantismo. Ter sido o maior ídolo não o isentou de ser um péssimo dirigente. Inseguro, sem rumo, incapaz de modernizar o clube. Pelo contrário. A dívida do Vasco está beirando os R$ 400 milhões. No balanço de 2013, chegava a R$ 356 milhões. Isso com o clube já adiantando cotas de tevê, tendo feito empréstimos. A gestão de Dinamite não foi caótica apenas financeiramente. A categoria de base do clube chegou a ser interditada pela Saúde Pública. O garoto de 14 anos, Wendel Junio Venâncio da Silva, morreu em uma peneira. Não resistiu ao esforço, em pleno calor do verão carioca. Quando passou mal não havia um médico ou sequer um enfermeiro acompanhando o treinamento dos garotos. O que é obrigatório.

Fora esse episódio lastimável, dentro do campo, o Vasco foi vergonhoso nestes seis anos. Só conseguiu a conquista da Copa do Brasil de 2011. O clube foi rebaixado para a Segunda Divisão duas vezes. Caiu logo no primeiro ano de Roberto Dinamite como presidente, em 2008. E de novo, em 2013. Dinamite sai deixando a equipe na Segunda Divisão. Com o time comandado pelo ultrapassado Joel Santana. Assim como São Januário. A profunda reforma no estádio prometida por Roberto, nunca se concretizou. Virou símbolo do atraso do clube. Diante deste quadro, foi fácil para Eurico Miranda e a ala mais conservadora do clube se juntar. Se preparar para o retorno do septuagenário dirigente. Um grupo mais jovem tentou fazer do empresário Júlio Brant a imagem da renovação. Com 37 anos, ele garantia que iria profissionalizar o Vasco. Teria a promessa de investimento de 50 milhões de dólares, cerca de R$ 127 milhões, de um grupo árabe. Jurava que reformularia a base. Conseguiu o apoio de Edmundo, Juninho Pernambucano, Felipe. Eurico Miranda foi pelo lado mais direto. Avisou que voltaria para resgatar o respeito ao Vasco. Equiparar na força o clube a ganhar a mesma cota que o Flamengo ganha da Globo. "Não seremos mais subalterno de ninguém." Não prometeu modernização. Pelo contrário seu discurso foi autoritarismo, do "eu sei fazer". E se amparou nas conquistas esportivas. Lembrou que trouxe os principais jogadores da história recente do clube. Roberto Dinamite, Romário, Bebeto, Juninho Pernambucano e foi com ele que Edmundo e Felipe foram lançados da base. Capitalizou o título da Libertadores, o Brasileiro de 1997, a conquista da Copa João Havelange, em 2000. Trouxe o Bank of America como investidor, no centenário do clube, em 1998. O banco deveria investir 150 milhões de dólares. Mas a parceria não durou três anos. Foi rompida unilateralmente por Eurico. Segundo ele, o banco não estava cumprindo as promessas financeiras. A relação se desgastou quando na final da Copa João Havelange, Eurico rompeu com a Globo. E fez o time jogar a decisão, no Maracanã, estampando o logotipo do SBT. A emissora de Silvio Santos não pagou nada. Foi pura retaliação pela cobertura da queda dos alambrados em São Januário, na final que teve de ser interrompida. Os adversários de Eurico sempre o acusaram das mesmas coisas. Ser autoritário, truculento, nada transparente com as contas vascaínas, de forte ligação com as organizadas. Agir não como presidente, mas como dono do Vasco. Durante anos e anos insistiam que o clube deveria ser modernizado, democratizado. Por seis anos esteve nas mãos de Roberto Dinamite.

Dois rebaixamentos, dívida de R$ 400 milhões, São Januário ultrapassado, categorias de base largadas. Tudo isso junto facilitou o retorno de quem Dinamite jurou ter ido embora para sempre em 2008. "Eu voltei para resgatar o Vasco. Fui chamado para acabar com tantos fracassos. Eu voltei", comemorava Eurico Miranda, um dos mais reacionários dirigentes do futebol brasileiro. E que já conta com o apoio escancarado do presidente da Federação Carioca de Futebol, Rubens Lopes. Além da simpatia do presidente da CBF, José Maria Marin. Assim caminha o futebol brasileiro em 2014, depois da Copa do Mundo...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 12 Nov 2014 07:47:05

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