segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O grande personagem pela reviravolta do Flamengo. Não é Luxemburgo ou Everton. O mérito é todo da torcida mais apaixonada e vibrante do Brasil. Ela empurra o time com as batidas do seu coração...

O grande personagem pela reviravolta do Flamengo. Não é Luxemburgo ou Everton. O mérito é todo da torcida mais apaixonada e vibrante do Brasil. Ela empurra o time com as batidas do seu coração...




É de longe o clube mais empolgado do Brasil. Não é o melhor. Não tem os grandes valores técnicos. Seu treinador está se redimindo depois de dez anos de decadência. Suas dívidas somam mais de R$ 500 milhões. Mas o casamento do Maracanã e a sua torcida tiveram o efeito de um desfibrilador gigantesco para o Flamengo. Foi como uma catarse. A diretoria elitista não se conformava em ver um técnico simples como Jayme de Almeida. Pouco importavam a Copa do Brasil do ano passado e o Carioca deste ano. No torneio "de verdade", a Libertadores, o time foi um fracasso. Ter jogadores fracos e uma programação péssima não contaram. Jayme nunca foi visto além de um auxiliar. Havia desconforto em vê-lo como comandante do Flamengo. Empresários sabiam disso e entraram em contato com Ney Franco no Vitória. E na Gávea todos sabiam que ele chegaria para assumir o time. Jayme foi o último a saber. Mas a manobra foi um fracasso. Os jogadores souberam da articulação. E rejeitaram o novo técnico. Inseguro, Ney resistiu apenas sete partidas. Foi mandado embora. Com medo do rebaixamento à flor da pele, dirigentes se mexeram. Tentaram fechar com Tite, ouviram "não". Depois sondaram Oswaldo de Oliveira, que não imaginava que seria demitido do Santos. Outro não. Só depois contataram Vanderlei Luxemburgo. Sua íntima ligação com a Gávea e as conquistas antigas serviam como escudo. Decadente, ele sabia ter as portas dos principais clubes do país fechadas para "seus projetos". Aceitou correndo R$ 350 mil mensais. Recebeu apenas uma missão, evitar o rebaixamento. Esperto, Vanderlei tratou de deixa pública a sua tarefa. E que batizou no seu vocabulário simplório de "confusão". Supersticioso, evita a palavra rebaixamento. Para evitar sua energia negativa. Do lado prático, Luxemburgo se viu de novo presenteado pelo destino. Tinha nas mãos mais uma oportunidade para salvar a sua reputação. Milionário e avô, Vanderlei tinha a obrigação de se concentrar apenas na montagem da equipe. Da sua comissão técnica gigante que adorava levar aos clubes, sobrou seu melhor companheiro e profissional. Antônio Mello. Ele é excelente preparador físico. Burro, Vanderlei nunca foi. Tratou de montar um esquema para aproveitar as características do limitado grupo que tinha nas mãos. Tratou de, sempre apelando para o seu vocabulário, fechar a casinha. Ou seja, proteger a defesa. Baniu sem dó o problemático goleiro Felipe. Foi a vingança particular por ele ter comemorado sua demissão em 2012. Fixou o ótimo Paulo Victor. E mostrou ter aproveitado a Copa de 2014, como comentarista da Fox Sports.

Tratou de usar o fôlego dado aos atletas por Antônio Mello. E fez do Flamengo, o melhor time com recomposição defensiva do país. O que falta na técnica, no talento, os jogadores compensam atuando de maneira compacta. Com todos os setores se ajudando. Quando o time carioca é atacado, forma duas linhas de quatro e cinco jogadores. E com tanta disposição, quase nunca é surpreendido nos contragolpes. Sem nenhuma estrela para sabotar seu trabalho, como fez Ronaldinho Gaúcho, os atletas o obedecem cegamente. É algo emocionante a aplicação. Marcando tem a intensidade um time europeu. A grande arma ofensiva do Flamengo está na correria. Na vibração. Everton é o grande motor da equipe. É quem articula os contra-ataques velozes. Quando está de posse de bola, Léo Moura e João Paulo abrem pelas laterais como pontas. Podem descer sem medo que a equipe atua com três volantes. E aí Gabriel, Eduardo da Silva ou Nixon se viram. Finalizando ou abrindo espaço para quem vem de trás. Cáceres, Canteros, Márcio Araújo surgem de forma inesperada. O que parecia ser um enorme desfalque, o afundamento da testa de Alecksandro, foi benéfico taticamente. O artilheiro grandalhão fazia gols, abria espaço. Mas é lento. O Flamengo incendiou seus ataques com o velocista e habilidoso Gabriel. O que parecia ruim acabou sendo uma dádiva. Mas por trás de todos esses acertos está a empolgação da torcida. Com o final da Copa, restou o novo Maracanã. A proximidade do gramado, a acústica do estádio já haviam feito milagres em 2013. Só não continuou fazendo porque Jayme era sabotado dentro do clube e Ney Franco misturou sua insegurança e a rejeição dos atletas. Luxemburgo foi premiado. Tem a diretoria toda e os jogadores a seu favor. E mais os apaixonados e vibrantes torcedores. Primeiro eles queriam continuar a se vangloriar pelo fato de o Flamengo ser o único clube grande do Rio a não ser rebaixado. Depois, sentiram até antes de Luxemburgo e da própria diretoria a possibilidade de vencer a Copa do Brasil. O exemplo foi contra o Coritiba. Vanderlei levou um time misto para a primeira partida diante do time paranaense em Curitiba. Perdeu sem choro por 3 a 0. Na verdade, seria bom ter apenas o foco no Brasileiro. Mas a torcida se recusou a ver a equipe eliminada.

Apoiou de maneira tão intensa na partida de volta que veio a reviravolta inesperada. Nem Luxemburgo ou dirigentes acreditavam na sobrevivência do clube na competição. Os jogadores foram empurrados pelos gritos dos torcedores. Outra vez de arrepiar até torcedor do Vasco. No coração e não na técnica, o Flamengo venceu por 3 a 0. E ganhou a classificação nos pênaltis. A partir daquele 3 de setembro, tudo mudou. Foram 17 partidas. A equipe eliminou o América do Rio Grande do Norte e venceu a primeira semifinal do Atlético Mineiro por 2 a 0 no Maracanã. Se livrou de vez da chance do rebaixamento com a vitória ontem por 3 a 0 contra a Chapecoense, sem quatro titulares. 2014 está salvo. Mas o Flamengo pode mais. Os dirigentes "amarraram" os pés de Luxemburgo na Terra. Nada de devaneios como manager. Voltou a trabalhar com o afinco dos tempos de Bragantino, quando queria ser alguém na vida e não apenas dono de lojas de carros velhos. Descobriu que mora em um país tropical e aposentou os ternos Armani à beira do gramado. Avô, está dominando o ego que tanto o sabotava. Assim como falsos amigos que o tratavam como o Einstein de Xerém. Se redescobriu como técnico, deixou as frivolidades sem sentido, como ter um site de vinhos finos. Ou montar um instituto que revolucionaria o futebol no Brasil, na América do Sul, no mundo.Não nasceu para ser enólogo ou campeão de pôquer. Olhou no espelho e se enxergou um ótimo técnico rejeitado por vários clubes, ultrapassado e tratou de dar a volta por cima. A quarta vez que assume o Flamengo é a que está mais centrado, mais humilde. Melhor para a torcida mais ensandecida do país. Se o ano está salvo para os dirigentes e Luxemburgo, problema deles. Os flamenguistas querem acabar 2014 com o título da Copa do Brasil. Ela tem o seu "projeto", colocar o time do coração na Libertadores de 2014. Queira Eduardo de Mello ou não. E vai invadir o Mineirão. Desafiar outra vez o favoritismo do Atlético Mineiro. Mais uma vez na sua história, a torcida do Flamengo provou. Ela é maior que qualquer diretoria, qualquer treinador. Muda prognósticos. Reverte a lógica. E transforma qualquer jogador em craque. O empurra com os gritos e, principalmente, com as batidas dos seus corações rubro-negros...





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 03 Nov 2014 11:19:16

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