sábado, 29 de novembro de 2014

O único jogador que não tem motivo para comemorar o adiamento da aposentadoria de Rogério Ceni: Denis. Ninguém imagina o que é ser goleiro reserva no São Paulo...

O único jogador que não tem motivo para comemorar o adiamento da aposentadoria de Rogério Ceni: Denis. Ninguém imagina o que é ser goleiro reserva no São Paulo...




Você termina de ler mais um capítulo de Metamorfose, de Kafka. Antes de adormecer, pensa na notícia do dia. Rogério Ceni renovou com o São Paulo. Quando os olhos se fecham, um último pensamento fugaz visita sua mente sem ser convidado. "E como fica o Denis?" De repente, você acorda diferente. Percebe que o pijama está largo. Seu corpo está mais atlético, os músculos tonificados. Pensa: será que a geleia real é tão boa que não precisa em ir para a academia? Vai até o espelho e toma um enorme susto. O rosto não é seu. É jovial, conhecido. Já o viu, não sabe onde. Até que se lembra. Você acordo neste sábado Denis, o reserva de Rogério Ceni! E os pensamentos despencam no seu cérebro, como um caminhão descontrolado... "Nooooooossa! Ele renovou até o fim da Libertadores de 2015. A princípio até agosto, mas com prorrogação automática até o fim do ano. O que eu faço? Como é que eu vou contar para a minha mulher Carol? Para a minha família. Mais seis meses ou um ano na reserva. A minha espinha congelou. "Não tenho nada contra ele. Pelo contrário, é quem melhor me trata no São Paulo. Quando eu surgi na Ponte Preta, ainda garoto, ficava admirado como ele podia misturas as coisas. Ser um grande goleiro e ainda ter a coragem de bater faltas e pênaltis com maestria. Uma personalidade enorme, virou meu ídolo. "Havia sondagens do Santos, sabia que meu nome estava cotado entre os clubes cariocas, mas quando surgiu o São Paulo não pensei duas vezes. Era para lá que eu queria ir. Treinar e jogar ao lado dele. "Na chegada o abraço apertado de Bosco, ótimo goleiro com grande passagem pelo Sport. Ele era o primeiro reserva. Nunca saiu da minha cabeça a força daquele abraço. O olhar profundo quando me disse "boa sorte". Bosco sabia que ficaria no seu lugar. O ano era 2009. Eu deveria ter três anos para amadurecer. 2012, no máximo ficaria com a vaga do meu ídolo, que completaria 40 anos em janeiro de 2013. "No meu primeiro treinamento, não sei porque me lembrei de Roger, o reserva mais célebre. Ele surtou, cansou de esperar para jogar. E posou nu para uma revista. Foi defenestrado do clube. Muito se comentou na época que o ex-goleiro do Flamengo e da Seleção Brasileira de base sentia falta da popularidade que um dia sonhou ter. Mas comigo isso não aconteceria. Eu sabia que aos poucos, talvez em 2012 mesmo começaria um revezamento com o
meu ídolo.

"Só que essa alternância nunca chegou. Mas eu me mantive firme. Meu contrato é muito bom. A infraestrutura é ótima. Não me faltava nada. Só jogar. Nos treinamentos comecei a pensar em algo importante. E se eu começasse também a bater faltas e pênaltis. Seria melhor aceito pela torcida e pela imprensa, apaixonador por ele. "Pouquíssima gente sabe, mas estou batendo muito bem na bola. Se tiver uma falta perto da área adversária, vou virar candidatíssimo. Caso não esteja no banco, lógico. "2012 passou. 2013, também já estava para lá da metade. Foi quando minha mulher não aguentou mais. E depois de uma raro erro dele, que jogou com dores, na Bolívia, Carol desabafou no twitter. Escreveu que falhou e que não dava chance nem para a mãe dele. O que é verdade, já que supera qualquer limite para entrar em campo. Com febre, com dores, o que for. Enquanto estiver respirando e com contrato será assim. Não é nada contra mim. É só sua vontade de jogar. Eu respeito. "Só eu sei o quanto fiquei mal. Sei que ela queria me defender. Mas deixou tudo mais difícil. Pedi mil vezes desculpas. Ele foi magnânimo, entendeu. Sabe que se fosse a mulher dele teria feito a mesma coisa, provavelmente. "2013, acabou. 2014 ia terminando. Eu estava com o coração na garganta de felicidade. Soube que o São Paulo teve Jefferson, goleiro titular da Seleção, na mão. Mas o presidente Aidar ouviu Muricy. E os dois vieram a público e disseram que o goleiro, quando ele se aposentasse, seria eu. Nossa, que moral, que responsabilidade. Foi uma festa em casa, com os amigos. Estava muito orgulhoso. Era o prêmio por ter jogado apenas 39 partidas em cinco anos, quase oito por ano. Pouco demais. Mas o sacrifício iria valer a pena. "Até que chegou a derrota para o Atlético Nacional. Nós caímos na semifinal da Copa Sul-Americana. Ele não iria se despedir campeão, como sonhava, e merecia. Meu instinto começou a apitar quando vi Muricy o abraçar no vestiário. Os dois conversaram ao pé do ouvido. Kaká, Luís Fabiano...Logo havia uma fila para consolá-lo. E pedir para continuar.

"Demorei demais para dormir. Não sou burro. O nosso time está classificado para a Libertadores. Somei um mais um. E percebi. Ele não iria parar. Quero deixar bem claro. O adoro, o admiro. Não tenho nada contra ele. Só que acreditava que a minha vez tinha chegado. Não chegou. "Ele confirmou que irá seguir até o final da Libertadores. A primeira reação foi de choque. Mas de compreensão. Sei o quanto sou querido e respeitado. A primeira reação de Carlos Miguel Aidar foi dizer, via imprensa, para que eu tivesse paciência. É tudo o que eu tenho feito há cinco anos. "Sei que o clube contratou o jovem Renan do Atlético Mineiro para ser meu reserva. Só que ele também terá de engolir em seco. Seu período de terceiro goleiro vai continuar. "Eu vou pensar bem no que fazer. Meu potencial só melhorou nestes anos todos. Mas não tenho como provar. Vejo tantos e tantos atletas com salários atrasados ou sem receber. Recebo em dia, estou construindo o meu patrimônio. Mas quero jogar. A notícia que ele vai continuar até depois de completar 42 anos mexe comigo. Me surpreende. Vou ter de ser forte se decidir continuar na reserva. "A única coisa que já decidi. Os computadores de casa estão bloqueados. Ninguém toca neles até escolher o meu caminho. Nada, principalmente, de twitter. Quem falou que o emprego mais fácil no futebol é ser reserva de Rogério Ceni, não sabe o que eu passo. Carol? O que você está digitando no celular? Carolllll" Aí você acorda, com o coração disparado. A primeira coisa que faz é sair para comprar uma camisa de goleiro. E vai para a pelada com os amigos no clube. Todos estranham. Você não é são paulino. O estranhamento só aumenta quando está escrito Denis nas costas e não Rogério Ceni. Diante do questionamento, a sua resposta, depois da instrutiva experiência kafkiana. "Ser Rogério Ceni é fácil. Difícil é ser Denis..."





Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 29 Nov 2014 11:47:50

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