quarta-feira, 8 de julho de 2015

Uma conversa fictícia entre Marin e Pep Guardiola. O presidente da CBF explica tudo o que um treinador precisa fazer para assumir a Seleção Brasileira. Ele vai enriquecer. Mas em compensação...

Uma conversa fictícia entre Marin e Pep Guardiola. O presidente da CBF explica tudo o que um treinador precisa fazer para assumir a Seleção Brasileira. Ele vai enriquecer. Mas em compensação...



Não há como negar. Hoje é um dia especial, triste. Acredito que no dia 16 de julho de 1951, a depressão dos jornalistas brasileiros era o mesmo. Aqueles que estavam no Maracanã e presenciaram a derrota para o Uruguai. Inocentes, acreditavam ter visto o maior vexame, a maior desonra do futebol deste país. Como eram ingênuos aqueles moços... Em plena angústia do primeiro aniversário dos 7 a 1, agonia por nada ter mudado, faço questão de reproduzir uma conversa fictícia. Escrita logo após o final da insana cobertura da Copa do Mundo no Brasil. Da minhas solitárias 18 viagens. Saindo de madrugada de Teresópolis dirigindo o carro alugado, brigando com caminhões pela apertada estrada até o Galeão ou Santos Dumont. Cobrindo os amistosos e jogos e depois voltando para a insanidade de Teresópolis. Quando tudo isso acabou, no dia 14 de julho, estava no aeroporto de Santos Dumont para voltar a São Paulo. Todo o cenário montado para a Copa já estava desarmado. Não havia mais os enfeites que indicavam não só o Mundial, mas o Brasil campeão. Quem precisasse das pouquíssimas tomadas, que se virasse. Lá fui eu, sentado, com meu computador, perto do banheiro. E torcendo para a conexão não cair. O ir e vir dos torcedores de todos os países imaginários, não me distraía. Nem um grupo alucinado de guatemaltecos disputando quem tomava mais cerveja brasileira. Muitas sensações dominavam a minha mente. A vergonha pela derrota do Brasil. A confirmação do amadorismo que a Seleção se preparou. A falta de sequer um treino fechado. Felipão e Parreira nunca treinaram o time sem Neymar. O quanto a Globo foi invasiva, com total acesso à concentração. Não havia alegria por ter podido antecipar o desastre, quando muitos estavam eufóricos. Artificialmente, conduzidos pela cobertura cruel e rasa da tevê. Estava marcado também pelos ensinamentos de Joaquim Löw na sua coletiva de campeão. A simplicidade e firmeza do planejamento alemão. Sonhava com a lógica de um adolescente e não de alguém que deveria conhecer profundamente quem comanda o futebol brasileiro. Esperava que Guardiola fosse convidado pela CBF. O melhor treinador para a Seleção com maior prestígio no planeta. Simples assim. No dia pensei apenas na estrutura viciada e no atraso que cercam a Seleção Brasileira. Desconfiava, lógico, de Marin. Mas não imaginava o esquema de corrupção tão bandido que o FBI revelou. Escolhi o lado da ironia ao escrever um fictício encontro entre o então presidente da CBF e o técnico de conceitos mais modernos de futebol do mundo. Quis destacar os dois mundos completamente diferentes. Nunca iria imaginar, que Guardiola havia sido recusado por Marin e Marco Polo, um ano e meio antes. Queriam não só agradar a população apostando em Felipão e Parreira, mas manter o esquema decrépito, amador e sujo montado por Ricardo Teixeira. Com amistosos inúteis, caça niqueis para enriquecer a CBF. A postura submissa, de joelhos à Globo. A lista dos convocados sujeita a vetos de Marin. Felipão e Parreira não aceitavam a sujeira. Por que não sabiam do esquema corrupto de Marin. Ambos, decadentes, queriam a chance de voltar a comandar o Brasil. Afinal, voltar à Seleção poderia ser a redenção da dupla. De Scolari, mesmo com a Seleção humilhada, foi. Ou ele não está ganhando R$ 1,5 milhão na China? O retrocesso final viria na volta de Dunga à Seleção? Voltar por quê? Que raízes ele havia deixado, a não ser o rancor? Desempregado desde a demissão do Internacional, ele aceitou. Se submeteu ao mesmo cenário de Felipão, com apenas alguns retoques. E os vexames se repetem. Logo após a Copa, desejava o melhor para o futebol brasileiro. Mas sabia que seria incompatível. Guardiola e Marin e Marco Polo não combinariam. Mas decidi reproduzir o que poderia ser um encontro entre os três. Me dou ao direito de voltar a publicar. Mesmo sabendo que este encontro só pode acontecer em uma cadeia na Suíça. Este dia 8 de julho de 2015 está muito angustiante... A desesperança está no ar...

Rio de Janeiro. 14 de julho de 2014... Primeira e última conversa fictícia de José Maria Marin e Marco Polo del Nero com Pep Guardiola, o treinador dos sonhos de 11 entre dez torcedores brasileiros. Os dois dirigentes o levam para uma suíte exclusiva do Copacabana Palace, de frente para o mar. Paulista é como mineiro, adora o mar do Rio de Janeiro. Com a palavra, Marin. "Pep, me permita tratá-lo assim. Seremos íntimos como um dia eu fui do Mano Menezes e do Luiz Felipe Scolari. Mas eu tive de virar as costas para eles para sobreviver no meu cargo. Não iria permitir que governo algum estatizasse a CBF. Já chega o que aconteceu com a pobre Petrobrás. Melhor mudar de assunto. "Mas caro amigo basco, ou melhor, catalão. Vamos ao que interessa. Quero mostrar que aos 82 anos sou mais moderno do que pensam. Ouço MC Guime. Adoro as correntes e medalhas de ouro que ele carrega no peito. Isso é moda de verdade para mim. Se eu pudesse, só usava medalhas. Mas não ficaria bem. "Caro amigo. Vou revelar o meu sonho. Quero fazer história. Colocar o maior patrimônio nacional nas mãos de um estrangeiro. O escolhido é você. "Só não vá deixar de se lembrar dos seus sistemas táticos. Parece que você é meio louco e gosta que o time atue de duas ou três maneiras diferentes durante o mesmo jogo. Dói até a cabeça em pensar algo assim. Com o Felipão e o Parreira era mais fácil. Só tinha um, até eu e o Marco Polo decoramos. "Vou explicar como é delicioso treinar a Seleção Brasileira. Primeiro, você terá um salário milionário. Digamos, pode pensar em R$ 46 milhões por ano. Mas dobre. Podemos pagar tranquilamente R$ 92 milhões a cada doze meses até a Copa de 2018. Bom, né? Dá para você comprar vários ternos Armani que ficam tão bem no seu corpo de toureiro.

"E estão liberadas as propagandas. Tudo entrará no seu bolso. Bonitão como é vai chover na sua horta. É assim que se diz, não é Marco Polo? Até o Murtosa com aquele bigode escovão fez publicidade. Tu vai se dar bem, meu irmão, como dizem os cariocas. Técnico da Seleção aparece mais nos reclames do que a moça do tempo do Mappin, né Marco Polo? Ah, é mesmo, o Mappin fechou. Mas vai ganhar dinheiro assim mesmo, Pepito... "Para enriquecer tanto, você precisa entender que o Brasil tem de fazer mais amistosos do que todos os países. Não para entrosar o time. Mas é que vendemos a uma empresa inglesa chamada Pitch até 2022. São eles que arrumam os jogos. Não temos o menor controle sobre eles. Você conhece aquele chocolate de caixinha que tem uma surpresa dentro? Então, não acelera o coração você vê o que é? É a mesma coisa quando chega o fax. Uma surpresa. Sim, eu gosto de fax, não e-mail. Fax é mais íntimo. Quando a secretária me diz que chegou fax, fico ansioso É aquele suspense tentando adivinhar o país com quem vamos jogar.. Mas o que interessa é que cada uma dessas partidas fazem a CBF lucrar R$ 2 milhões livres, sem impostos. Bom, né? A gente reparte. "Os adversários são sempre diferentes. E sempre tem jogo bom para te dar moral. Fizemos o Mano e o Felipão parecerem modernos, poderosos. Aí usamos a nossa autonomia. E pedidos mesmo, porque ninguém brinca com a gente. Austrália, Zâmbia, Honduras, Coréia do Sul. Podemos repetir a dose para você. Já pensou: Japão, China, Sudão? Hein, hein?

Só te peço parar não reclamar do campo. Se pintar uma lamazinha, tudo bem. Deixa as pernas dos jogadores mais fortes. Aqui é Brasil, meu caro. América do Sul, Amazônia, pulmão do mundo. Lá é úmido, sabia? "Penso em você impondo o taca taca. Como é, Marco Polo? Tiki-taka? É isso. Nossos jogadores tocando a bola e enchendo os adversários de gols. Mostrando o encanto do país que nasceu para jogar futebol. "Duas linhas de que? Marco. De quatro? Isso não é tricô, ponto cruz, essas coisas? Ah, oito jogadores marcando? Será bom. Passei muita vergonha com os sete gols no Mineirão. Ainda bem que os holandeses são boa praça. Fizeram três e descansaram. Não esquece de mandar um cartão de Natal para eles, Marco." "De vez em quando, esses pentelhos da imprensa vão encher os patuás. E aí a gente arruma uns jogos mais difíceis. Traz a Inglaterra, a Itália, a Islândia para jogarem em Manaus. Aliás é outra coisa que vou te pedir. Vamos usar as arenas que construímos nos dois primeiros anos do seu contrato. Muito jogo por lá. A gente fala que é para aproximar de novo a Seleção do povo. Essa coisa do verde e amarelo do Zagallo. E ele, Marco Polo? Está bem? Ótimo... "Os governadores e prefeitos já encheram os meus celulares de mensagens. E querem que a Seleção joguem nas novas arenas uma vez por mês. Vamos fazer um belo de um rodízio. Por falar nisso, depois te levo no Porcão... "Imagine, Papito, estão preocupados com os R$ 7 milhões que vão gastar por ano para manter essas 12 obras primas que custaram uma bobagem de R$ 9 bilhões. Não sei porque tanto escândalo dessa imprensa arrivista. "Então estamos combinados...Esqueça essa tal de data-Fifa. Quando os chatos dos dirigentes europeus quiserem respeitar a legislação, não ligue não. Chame os jogadores que atuam aqui. Adversário não vai falar.

"A gente inventa um novo "Superclássico. Não com os argentinos que eles estão bem. Que tal os venezuelanos? Eles melhoraram muito na última década? Jogão...

"Não importa se nós temos atletas que já não servem para a Europa com outros que nunca servirão. Vamos prestigiar o produto nacional. Os presidentes dos clubes e das federações que me sustentam no poder vão adorar. Aproveita e da uma mordida na cocada. Você vai adorar.

"Agora vamos fala de concentração. Nós temos a mais moderna do mundo, Pepito. Granja Comary, até o nome impressiona. Não, tem nada a ver com galinhas. Pensa só no Comary, com y e tudo.



"Lá temos os melhores lugares para colocar os painéis dos nossos patrocinadores. Eles bancam mais R$ 420 milhões por ano para colocar suas marcas com a Seleção. Não vamos esquecê-los de jeito algum.

"Olha que delícia. Fica em Teresópolis. 871 metros de altitude. Temperaturazinha gostosa no inverno entre sete e doze graus. O Felipão nem ligou de treinar lá e jogar em Fortaleza, com 29, em Brasilia, com 26... É como na sauna, sabe? Você sai da piscina fria e entre no calor a sauna seca. Faz bem para a pele, te deixa guapo...

"Então, estava falando sobre os patrocinadores. Lá na granjita tem uma arquibancada só para que eles possam ver os treinos. Eles, suas famílias, amantes, filhos, empregadas. Quem quiser. É só não se preocupar. Quando o treino acabar, se os jogadores quiserem, podem dar autógrafos e posar para fotos. E sinto no ar que eles vão querer. Sou meio vidente, sabia?

"Tem mais. Do outro lado dos campos há condomínios. Onde fica a torcida. Histérica gritando pelos jogadores. É bom. Eles já são mesmo celebridades, se sentem em casa. Tiram selfies. Você só terá de falar um pouco mais alto. Com essa voz grossa de basco que tem, será ótimo. Basco, não, já sei: catalão. Eu tenho um CD do Julio Iglesias que acho o máximo...

"Lá é impossível fazer treinamentos secretos. A área é descampada, cercada de montanhas. Não vamos querer a imprensa se sujando de barro. Vamos dar o que eles tanto gostam: café, wi fi, chá e eu quero incrementar, umas bolachas. Com o bucho cheio, as críticas são menos pesadas.

"Hermano, gastamos R$ 15 milhões com uma reforma que muitos chamam de inútil. Colocamos fizemos quartos confortáveis, televisões modernas para os jogadores brincarem de videogame, coisa mais barulhenta, né? Não podemos fazer nada com os campos, infelizmente. Mas você é batuta, vai dar um jeito.

"Faça como o Felipão. Treine quatro times diferentes em um coletivo só. E coloque para jogar contra a Alemanha uma equipe que jogou junta por dez minutos. Pode não ter essa besteira de entrosamento, mas é uma delícia enganar a imprensa.


"Outra coisa, Papito, desculpe Papito é o filho do senador Suplicy... Pepito, tem a emissora que banca o futebol no país. Ela paga tudo. Campeonatos nacionais, jogos do Brasil. A relação íntima há mais de 40 anos. Desde os tempos em que meus amigos de farda mandavam. Ah, que saudade...

Não podemos contrariá-la. Ela tem uma grade de programação imensa. E apresentadores e humoristas que são chapas dos jogadores. E querem mostrar essa intimidade ao vivo.

"Tem um menino, o Luciano. Gente boa, ajuda muita gente. Lógico que essa ajuda vira Ibope, mas ajuda. Quando ele quiser levar alguma pessoa com problemas físicos e interromper um treino, faça como Felipão. Colabore. Se um humorista decidir ficar ao lado do campo gritando o nome dos jogadores, tirando toda a concentração do time em um coletivo de Copa do Mundo, não se importe. Se faça de surdo. Deixe o Mumuzinho abraçar Neymar na hora de um escanteio. Que qui tem? Sou muito grato ao Scolari.

"Sabe aquele lema "tu casa, mi casa"? Vale para a concentração e o elenco de 450 atores, humoristas, apresentadores e até papagaio de plástico da emissora. Todos têm livre acesso. Inclusive para fazer um pagode. Falar nisso, Marco Polo, precisamos descobriu uma música para a nossa nova fase. O Zeca e a Ivete deram certo. O grupo Infiltração, quero dizer, Revelação, não deu certo. Onde anda a Mara Maravilha?


"Sei que não gosta dessa coisa de exclusiva. Mas é preciso abrasileirar. Ou melhor. Basta atender o telefone. Tem uma jornalista do jornal das nove horas, na Globo, que gosta de dar notícias exclusivas. Faz a alegria da moça. Deixa ela pimpona. Não custa nada. Mostre. de preferência, como você vai montar o time em uma Copa do Mundo. Segredo para quê? E é bom para nós da CBF. Os adversários não assistem os telejornais brasileiros. Fique tranquilo.

"Eu não sou trouxa, Pepito. Não sou como o Ricardo Teixeira que passou vergonha quando o Felipão não levou o Romário e ganhou a Copa de 2002. Sabe, eu gosto de ver a lista de convocados antes. Para ver se eu concordo com a sua linha de pensamento. Sabe, entendo de futebol. Joguei na ponta direita do São Paulo, meu time de coração. Caso eu não goste de alguém, a gente conversa. Se eu vou interferir? Imagine...

"Você vai repetir o Felipão e o Parreira. Vai fazer propaganda da Seleção. Batendo no peito catalão e dizer em bom português, que vamos ganhar a Copa. A gente fica quatro anos tranquilos, na moleza. Os caras acreditam em tudo o que a gente diz. Basta fazer cara de sério. vai treinando aí e não reclama.

"O ministro Aldo Rebelo queria que seu discurso de posse na Seleção fosse em tupi guarani. Mas para nós serve português mesmo. Mas não se esqueça. "Vou ganhar a Copa de 2018. Eu prometo." Se você puder também cantar: "Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor", seria ótimo. E emende com "A Veces tu, A veces yo". Sucessão do Julio Iglesias. A imprensa vai babar. Quem sabe você não canta dançando com uma repórter bonitinha? Temos várias nas coletivas da Seleção.

"Papito? Onde você vai? Volte aqui, sente. Marco Polo, vá atrás dele. Precisamos acertar ainda os bonés e os agasalhos com patrocínios que ele vai ter de usar. Tenho de avisar que o Ronaldo será o seu auxiliar técnico. Foi indicado pelas empresas que bancam a CBF.

"Ele já foi embora, Marco Polo? Esses bascos são mesmo estourados. Ligue para o Mourinho. Compre um vinho do Porto, do bom. Bacalhau a Gomes de Sá é demais. Melhor que presunto Pata Negra. Como é que chama mesmo aquela cantora de fado? Amália o quê? Marco Polo? Já vi que o Julio Iglesias não deu certo. Marco Polo, volte aqui, você também vai me abandonar? Olha que eu conto com você para sempre.

"Onde é que está o telefone do Tite? Se eu não achar, serve o do Muricy mesmo. O número do Juvenal Juvêncio, eu sei de cor. Aliás, preciso ligar para ele. Também quero um diretor de Seleção moderno. Esse mar de Copacabana é lindo. O Papito não sabe o que perdeu. Marco Poooooooooooolo????

"Papiiiiiiiiiiiitooooooooooooo???"



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 08 Jul 2015 12:12:12

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