sexta-feira, 24 de julho de 2015

Exclusivo. Depois de um ano, Gilmar Rinaldi assume o erro no corte de Maicon. E que afetou Elias. "Quis preservar a Seleção e o jogador. Ficou muito pior. Aprendi..."

Exclusivo. Depois de um ano, Gilmar Rinaldi assume o erro no corte de Maicon. E que afetou Elias. "Quis preservar a Seleção e o jogador. Ficou muito pior. Aprendi..."




"Não gostaria de falar sobre isso, mas vou falar. Dói para mim como treinador tirar a oportunidade de um jogador na Seleção. Mas às vezes essas coisas acontecem na vida. Nessa situação não quero estar certo, quero ganhar. Isso aconteceu, estou no comando e tenho que tomar decisões. O torcedor pode ter certeza que tomaremos as decisões que forem melhores para a Seleção." Contrariado, Dunga explicava de maneira genérica o corte de Maicon. O dia era 10 de setembro de 2014. A alegria das vitórias contra Colômbia e Equador havia sumido da feição do seu rosto. Logo depois do primeiro jogo de retorno à Seleção Brasileira, o lateral de 33 anos foi mandado embora. Dunga tinha no jogador da Roma um dos seus pilares na reformulação que pretendia fazer na Seleção. Mas foi traído. "Aí tomei a pior decisão possível. Decidi que tudo seria tratado de forma interna. Para preservar a Seleção primeiro. E depois o jogador. Hoje eu reconheço. Errei e não irá acontecer mais. É errando que a gente aprende." O coordenador da Seleção Brasileira, Gilmar Rinaldi, admitiu de forma exclusiva ao blog, a sucessão de erros da maneira com que foi tratada a primeira crise na volta de Dunga. "Bom, eu vinha aqui hoje para fazer um comunicado apenas. E um agradecimento ao Maicon, nosso lateral direito. Quero agradecer a passagem dele pela Seleção. Mas hoje ele foi desligado da delegação. E apenas queria mais uma vez agradecer os serviços prestados à Seleção Brasileira. "Não vou responder perguntas sobre o assunto. Isso é um problema interno. Gostaria que vocês (jornalistas) tivessem a gentileza de não perguntar aos jogadores. Porque é um problema interno que já foi resolvido. Fabinho, jogador do Monaco que está servindo a Seleção Olímpica, já está a caminho. Apenas estou esperando o horário de voo para saber quando ele chega. Obrigado pela compreensão de vocês."

Foi assim que, no dia 7 de setembro, Gilmar agiu. Apenas avisou que lateral estava cortado por "um problema", Fabinho viria no seu lugar. Não permitiu perguntas sobre o caso e, sutilmente, proibiu os jornalistas de perguntarem aos jogadores sobre o motivo do corte. Os atletas também estavam orientados a não falar. Só que a censura abriu espaço para várias versões. Erla, irmã do jogador, deu entrevista em Porto Alegre e garantiu que não houve indisciplina. Disse que o problema era físico. Em seguida, Gilmar desmentiu ainda nos Estados Unidos. Assumiu que foi indisciplina. Os repórteres que acompanhavam a Seleção ficaram sem saber o que explicar. Os atletas seguiam proibidos de falar sobre o tema. Mas o constrangimento iria ficar cem vezes pior. Um site de humor, Olé do Brasil, sugeriu que Maicon teria se envolvido sexualmente com Elias. Mauricio Meirelles, comediante, simulou uma troca de mensagens com Diego Tardelli. Envolvia o lateral, escatologia e David Luiz. Jornalistas europeus usaram como fonte séria o Olé do Brasil. E espalharam a "notícia" envolvendo Maicon e Elias na Internet. O italiano Tancredi Palmeri colaborador da CNN Internacional, da Gazzetta dello Sport, CNN Espanhol e do site beIN Sports se precipitou. E espalhou a "brincadeira" como verdade para o mundo todo pelo seu twitter. O clima na Seleção ficou insuportável. O pai de Elias até prometia processar o site. "Não sou homofóbico, respeito quem é gay. Tenho amigos gays, mas não sou homossexual. Tenho mulher, filho. Um dia ainda vamos dar risada disso, minha esposa leva numa boa até, mas quem escreveu e falou isso precisa ter responsabilidade. Entraremos com ações judiciais", prometeu ainda em New Jersey, com a Seleção. Mauricio Meirelles assumiu a farsa. Deixou claro que a censura na Seleção foi a responsável por tudo que aconteceu. E na falta da verdade, a mentira serviu de explicação.

Quase um ano depois, Gilmar reconhece o erro. Pela primeira vez fala abertamente sobre o caso. E garante que nunca mais repetirá a atitude enquanto for o coordenador da Seleção Brasileira. Esta parte da entrevista exclusiva merecia um capítulo especial. Gilmar, você assume que todo o episódio com Maicon poderia ter sido evitado? E que o erro partiu da Seleção Brasileira, da maneira com que você lidaram com o que aconteceu? Cosme, foi uma grande lição. Eu quis preservar a Seleção, o jogador. E no final só deixei tudo pior. Foi uma situação completamente inesperada e que nos pegou de surpresa. Justo com o Maicon, jogador vivido, experiente. Tínhamos de tomar uma atitude interna. Tomamos. Quando não falamos o que havia acontecido demos margem. E muita gente falou o que quis. E deu no que deu. Aprendi. Qualquer problema disciplinar que ocorrer no futuro será devidamente esclarecido por mim. E ponto final. Os jogadores já sabem. Tentamos preservar o grupo e foi muito pior. Gilmar, então o que aconteceu com o Maicon? Explique, por favor. O Brasil havia vencido a Colômbia. Nós demos folga. Os jogadores deveriam voltar até meia-noite. E ficamos tranquilos. Só que chegou a hora do jantar, da reapresentação. E nada do Maicon. A minha primeira reação foi de preocupação. Pedi para os jogadores ligarem para ele. Quando atendeu deu para ouvir o barulho. Ele estava em uma festa. Não acreditei. Aquilo não poderia estar acontecendo. Os jogadores pediram que voltasse imediatamente. Fiquei esperando um tempo. Mas decidi dormir. Avisei para o chefe da segurança me acordar quando ele chegasse. No início da manhã, acordei irritado. "Como é que não me acordaram para falar com o Maicon?", pensei. Só que ele não tinha chegado ainda. Quando chegou, lá pela sete horas, eu e o Dunga conversamos com ele. Tínhamos de tomar uma atitude. E tomamos. Para o bem da Seleção. Para o bem do grupo. Fomos firmes, como deveríamos ter sido. A primeira coisa que o Maicon fez foi mostrar arrependimento. E pediu desculpas. O Dunga disse que estava desculpado. Mas o Fabinho estava chegando para o seu lugar. Ele estava desconvocado. Foi quando o Maicon percebeu o que havia feito.

Você não acha que seria mais simples ter explicado o que aconteceu? Deu margens à muitas especulações... Sim. Mas como eu já te falei, queria preservar a Seleção. Acreditava mesmo que o problema fosse interno. Pensei até na sequência da carreira do jogador na Roma. A decisão de não falar para a imprensa foi minha. Errei e não tenho vergonha de admitir o erro. Os atletas terão de assumir o que fazem. Não há como manter os problemas de maneira interna. O jornal La Gazzetta dello Sport no dia seguinte já tinha indícios do que tinha acontecido. Aprendi a lição. É melhor sempre falar, explicar, assumir. Cada pessoa precisa arcar com o que faz na vida. O mesmo vale para os jogadores da Seleção. Depois da dispensa, Dunga e Gilmar disseram que as portas da Seleção continuariam abertas para Maicom. Só que ele nunca mais foi convocado. E nem deverá ser. Depois de amanhã, ele completará 34 anos. Embora tenha, até hoje, de suportar provocações homofóbicas de torcidas adversárias do Corinthians, Elias não processou o site de humor. O Olé do Brasil tirou do ar o texto infeliz. Tancredi Palmeri apagou seu twitter. Maurício Meirelles segue sua vida normalmente. Ficou a lição a Gilmar, a Dunga, a Marco Polo. A censura só piora as coisas. A verdade é sempre a melhor opção... (Quero aproveitar o post e agradecer aos leitores. Estou entre os dez finalistas de mídia escrita do importante prêmio Comunique-se. É uma honra estar entre os dez do Brasil. A votação continua. Se alguém quiser votar, o endereço é comunique-se.com.br. Obrigado pela confiança nestes sete anos de blog...)




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 24 Jul 2015 10:59:11

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