sexta-feira, 10 de julho de 2015

Nem o futebol brasileiro valoriza mais os treinadores nacionais. A decadência tática alcançou a financeira. Acabou a lenda. Paramos de nos enganar. Não temos super-técnicos. Só a CBF não enxerga...

Nem o futebol brasileiro valoriza mais os treinadores nacionais. A decadência tática alcançou a financeira. Acabou a lenda. Paramos de nos enganar. Não temos super-técnicos. Só a CBF não enxerga...




Os treinadores do Brasil não ficaram apenas ultrapassados. Começaram a ser desvalorizados. Quando Dorival Júnior aceitou ontem a proposta de R$ 250 mil do Santos, até o final de 2015, impossível deixar de pensar quanto ele recebia no Flamengo. R$ 780 mil mensais. Isso há dois anos. Acabou a era dos "supertécnicos". O maior salário no Brasil entre os treinadores é Tite. Ele recebe R$ 500 mil no Corinthians. Em 2010, recebia R$ 612 mil, considerando a inflação. O índice vale para a toda a relação. A desvalorização nos grandes clubes brasileiros, segundo levantamento da Folha, chegou a surpreendentes 48% em cinco anos. O Atlético Mineiro pagava, na época, R$ 476 mil a Dorival Júnior. Hoje, banca R$ 450 mil a Levir Culpi. Joel Santana, então no Botafogo, embolsava R$ 367 mil. Agora, René Simões ganha R$ 60 mil. Cuca recebia, R$ 313 mil no Cruzeiro. Luxemburgo, R$ 200 mil. O mesmo Vanderlei Luxemburgo ganhava R$ 707 mil no Flamengo, hoje Cristóvão Borges, R$ 200 mil. No Fluminense, Muricy alcançava R$ 748 mil, Enderson Moreira fica com R$ 200 mil. No Grêmio, Renato Gaúcho recebia R$ 353 mil, hoje Roger, R$ 150 mil. No Internacional, Celso Roth ganhava R$ 408 mil, Diego Aguirre, R$ 230 mil. Luiz Felipe Scolari, alcançava R$ 971 mil. Marcelo Oliveira, R$ 350 mil. No Santos, Marcelo Martelote, R$ 27 mil. Dorival, R$ 250 mil. No São Paulo, Paulo César Carpegiani, R$ 272 mil. Juan Carlos Osório, R$ 310 mil. No Vasco, PC Gusmão ganhava R$ 202 mil. E agora Celso Roth recebe R$ 150 mil. Paulo Roberto Falcão, ex-técnico da Seleção, pediu R$ 250 mil ao Goiás. O clube ofereceu R$ 120 mil. Não houve acerto. Julinho Camargo, que foi auxiliar de Falcão, foi contratado. Seu salário seria R$ 80 mil. Além da desvalorização apontada pelo jornal, conversando com dirigentes em off, fico sabendo que acabou aquela fábrica de multas. Ou seja, os treinadores em 2010 exigiam que, se fossem demitidos, os clubes deveriam pagar integralmente o que iriam receber. Por exemplo, se acertasse por um ano, e fosse mandado embora depois de um mês, receberia onze meses. Mesmo acertando até com outra equipe.

"Hoje essa moleza acabou. Paramos de queimar dinheiro com técnicos. Sabemos da sua importância, mas ele é apenas mais um profissional no contexto. Se ele for mandado embora, a grande maioria dos clubes banca um, no máximo dois meses de multa. Caso acerte com outra equipe imediatamente, nem isso. Acabou a submissão. Talvez descobrimos que eles não são tão importantes como achavam que era", me diz o dirigente que prefere o anonimato para não se indispor com seu treinador. Os técnicos brasileiros perderam prestígio. Vanderlei Luxemburgo chegou a ter uma Comissão Técnica que carregava para cima e para baixo, com cerca de 12 profissionais. Hoje precisa se contentar com apenas dois. Seu parceiro de décadas, o preparador físico Antônio Mello. E seu mais recente auxiliar, o ex-jogador David. O mesmo acontece com a maioria dos treinadores no país. A crise financeira que domina o país espantou os patrocinadores. Os clubes têm enorme dificuldade financeira. Salários atrasados não só de jogadores, mas de técnicos, são cada vez mais comuns. Há cinco anos, o treinador era sempre poupado nas crises. Hoje, não. Os fracassos da Seleção Brasileira também servem para enfraquecer ainda mais a situação dos técnicos. Está cada vez mai transparente que o país exporta pés e não cérebros. Os grandes clubes europeus levam jogadores mas não treinadores. Os dirigentes de lá não confiam nos organizadores de times daqui.

O retumbante fracasso de Scolari no Chelsea e de Luxemburgo no Real Madrid são sempre lembrados. O ex-lateral Roberto Carlos deixou claro que os jogadores não respeitavam Vanderlei. Não faziam o que ele queria. Ele não soube se impor diante dos galácticos. Assessores de Felipão espalham que, no Chelsea, houve um boicote. Drogba seria o grande vilão contra o brasileiro. Por isso os resultados pífios. A imprensa londrina vai por outro caminho. O técnico tentou formar uma "família Scolari", tentando aproximar os atletas, mas eles o rejeitaram. Os idiomas espanhol e inglês também foram considerados dois grandes obstáculos. Tanto Vanderlei quanto Felipão teriam penado para se expressar. Luxemburgo foi para a Espanha há dez anos. Scolari esteve no Chelsea em 2008. Ou seja, há sete anos nenhum clube da elite do futebol europeu pensa em técnico brasileiro. Não é por acaso. Eles se sujeitam à periferia do mundo do futebol como China, como Felipão e Cuca. Japão, Paulo Autuori. Ou Emirados Árabes, Caio Júnior e Abel Braga.

Mano Menezes foi demitido da Seleção em 2012. Abandonou o Flamengo. O Corinthians não quis renovar seu contrato. A expectativa era que iria trabalhar na Europa, no futebol português. Após seis meses ele segue desempregado. Apenas estudando inglês. E esperando propostas que nunca chegam. O pior é a grande maioria finge que não percebe o que está acontecendo. A falta de interesse em se aprimorar. Passar seis meses, um ano no berço do conhecimento tático, a Europa. Com humildade, acompanhando de verdade os grandes treinadores do mundo. Guardiola, Mourinho, Klopp, Simeone, Ancelotti e tantos outros. Não só fazer visita de um, dois dias. Tirar foto ao lado deles e postar em redes sociais. Além disso estudar psicologia, gestão. Inglês e espanhol precisariam ser obrigatórios. Há muita acomodação. O tempo perdido na concentração é absurdo. Puro ócio. No máximo, os técnicos assistem jogos dos adversários. Dão preleções repetidas, monótonas. Nas decisões, mandam filmar mães, esposas e filhos dos atletas. Passam pedaços de filmes motivacionais. Decoram trechos de livros de autoajuda e "vamos que vamos".

Além disso há o importante ingrediente. Desunião. É treinador de olho no emprego do outro. Sem a menor ética. Vários recados chegam aos dirigentes quando um deles balança em uma grande equipe. Há sempre um desempregado salivando. A única hora que se juntam é para evitar, de qualquer maneira, a quarentena. Alegam, em off, que é inconstitucional. O que é a "quarentena", usada na Europa? Simples. Um treinador demitido por um clube fica impossibilitado de trabalhar em outro no mesmo campeonato. Nem os dirigentes querem. Por quê? Porque assim obrigaria mais responsabilidade na hora de escolher. Se errasse, o mercado ficaria muito escasso. Assim segue a vida. E depois, Marco Polo del Nero ainda estranha a vontade popular de um treinador estrangeiro para a Seleção Brasileira. Nem o futebol brasileiro acredita nos nossos técnicos. Por isso passou a pagar 48% menos do que gastava com eles em 2010. A decadência está evidente. Só não enxerga, quem está preocupado demais com o FBI...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 10 Jul 2015 09:31:24

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