quarta-feira, 22 de julho de 2015

O Botafogo expõe a vida de Ricardo Gomes. Ele já teve uma isquemia e um AVC hemorrágico. Ninguém sabe se suportará a pressão, a tensão de trabalhar como técnico de novo. Risco desnecessário. Absurdo...

O Botafogo expõe a vida de Ricardo Gomes. Ele já teve uma isquemia e um AVC hemorrágico. Ninguém sabe se suportará a pressão, a tensão de trabalhar como técnico de novo. Risco desnecessário. Absurdo...




O Botafogo acaba de anunciar a contratação de Ricardo Gomes. Ele será seu treinador. Sim, seu técnico. Em 2010, ele teve um AVC, acidente vascular cerebral. Era o treinador do São Paulo. O time perdeu um clássico para o Palmeiras por 2 a 0, no domingo, dia 21 de fevereiro. Suas pernas e braços começaram a formigar. O diagnóstico foi minimizado. Em vez das três letras, foi dito que ele teve uma isquemia. Seria, a grosso modo, um "leve" entupimento de vasos sanguíneos cerebrais. Como se o entupimento pudesse ser "leve". Foi internado e voltou a trabalhar em dez dias, como se nada tivesse acontecido. A direção do São Paulo seguiu preocupada. Os diagnósticos que os médicos tinham é que Ricardo estava recuperado. Mas era uma pessoa que tinha a pré-disposição para o AVC. Como milhões no mundo. Inúmeras seguem a vida sem acontecer nada. O clube havia passado pela trágica experiência com Telê Santana. O treinador teve uma isquemia. Muito mais forte. E, talvez, por ser mais idoso do que Ricardo, não conseguiu se recuperar mais. Até falecer.

Ricardo, não. Fazia questão de mostrar que estava tudo bem. Ele cobrava os jogadores nos treinamentos, na frente dos jornalistas e dirigentes. Ao contrário de Muricy, o treinador que substituiu, ele era contido durante os jogos. Introjetava as emoções. A irritação, a raiva ficavam no seu semblante, não nas suas palavras, gestos. Era contido demais. O São Paulo fracassou novamente na Libertadores e começou de maneira muito ruim o Brasileiro. Para não passar pelo vexame da demissão, o clube apenas não renovou seu contrato em agosto de 2010. Ele ficou até fevereiro sem trabalhar. Havia muita preocupação entre os dirigentes em relação à sua isquemia. Mas em fevereiro de 2011, o Vasco apostou no seu retorno. E ele foi vitorioso. O treinador foi responsável pela conquista da Copa do Brasil. No dia 8 de junho de 2011. No Paraná, em pleno Couto Pereira, diante do Coritiba de Marcelo Oliveira. Ele parecia ser um entre milhões que, apesar da pré-disposição, não seria assombrado pelo AVC. Até que chegou o clássico contra o Flamengo. No dia 28 de agosto. Ele passou mal. Mas teve forças para se sentar no banco de reservas. Sua boca entortou, não conseguia falar direito. Seu braços e pernas direitos ficaram paralisados. Desta vez ele teve um AVC. Ou seja, vasos sanguíneos não apenas romperam. Mas se romperam, explodiram no seu cérebro. Foi gravíssimo. Ricardo Gomes poderia ter morrido em público. "Eu pensei logo no pior quando vi a ambulância. No São Paulo, o Ricardo Gomes teve um AVC e fiquei com medo de que aquilo estava acontecendo novamente", afirmou o zagueiro Renato Silva. Ele estava correto. Seu quadro de saúde mostrava que tudo era grave demais. Foi operado. Ficou 15 dias na UTI. Teve toda a assistência médica possível. E conseguiu sobreviver. Depois de um ano e quatro meses, ele voltava a trabalhar. Em novembro de 2012. Mas como dirigente. Seria diretor técnico do clube. A sua família era veemente contra retornar ao futebol. Só que ele não quis ouvir ninguém.

Depois de medicado, fez tratamento intensivo de fisioterapia e fonoaudiologia. Mas mancava e tinha dificuldades em falar ao assumir o cargo. Estava evidente que o então presidente vascaíno, Roberto Dinamite, quis premiar a vontade de Ricardo Gomes em voltar a trabalhar. O trabalho não foi bom. O Vasco tinha sérias dificuldades financeiras. Montou uma equipe fraquíssima. E acabou rebaixado em 2013. Ricardo Gomes foi demitido em fevereiro de 2014. Mas o clube o preservou. A versão oficial é que Gomes havia pedido o desligamento. Para se focar na fisioterapia. Precisava ganhar mais forças nas pernas. Ele precisava cuidar do seu lado direito. Recuperar os movimentos, que ainda não estavam plenos. Foi o que tratou de fazer. Fugia das entrevistas. Recluso se recusava a falar com jornalistas. Dizia que, quando trabalhava no futebol, era obrigado. Na época, não estava. Pois agora o Botafogo o anuncia como treinador. Justo o clube com a maior dívida do Brasil. Chegava a R$ 845 milhões no final do ano passado. Ela caminha firme para romper a barreira do R$ 1 bilhão este ano. A grandeza do clube obriga o time a voltar para a Série A em 2016. O grau de exigência é tão grande que René Simões foi demitido com a equipe na liderança da Segunda Divisão. Caiu porque o time foi eliminado pelo Figueirense na Copa do Brasil. Não importa se os catarinenses formam uma equipe de Série A. A diretoria exigia a classificação. Nos corredores do Engenhão, o vice de futebol, Antônio Carlos Mantuano, tentou agredir o treinador do Figueirense, Argel. O clima no clube é explosivo. Os dirigentes acreditam que só as vitórias podem amenizar as dívidas. E cobram como se o elenco fosse maravilhoso. Mas é limitadíssimo tecnicamente.

René Simões foi embora. Mas fez questão de avisar que dirigentes tentavam influenciar na escalação. Ele não deixou e por isso acabou demitido. É nesse ambiente bélico, tenso, que Ricardo Gomes volta a trabalhar. Apresenta laudos atestando que está plenamente normal, capacitado. Mas os atestados médicos não podem aferir o que é a pressão de ser treinador de futebol. Ainda mais em um clube tão importante quanto o Botafogo. De um passado brilhante. Mas que no presente brinca com a falência. Não há dinheiro para ter um grande time. A torcida é tão apaixonada quanto exigente. Os dirigentes têm grudado na retina o velho Botafogo de Didi, Garrincha, Nilton Santos, Jairzinho, Gerson e tantos outros. Por isso não se conformam com o time na Segunda Divisão. Só que eles apenas enxergam a camisa. Realmente ela é a mesma. Mas os atletas, não. Infelizmente são fracos. René Simões ganhava R$ 70 mil mensais. O clube carioca precisava de um técnico barato, vivido e competente. Resolveu se lembrar de Ricardo Gomes. O homem que há uma semana fugia dos jornalistas. Não queria falar de jeito algum sobre futebol. Mas que no íntimo, tudo que desejava, era voltar a ser técnico.

Ele não comanda uma equipe desde 2011. São quatro anos afastado. E assume um dos clubes mais problemáticos do país. Se não for o mais. A situação é surreal. Os médicos garantem que não há problema. Que o AVC ficou para trás. Assim como um dia, os doutores vascaínos juraram que a isquemia no São Paulo não voltaria. Quem teve a possibilidade de ter qualquer contato com Ricardo Gomes sabe. Ele é uma das pessoas mais educadas, competentes, honesta e de melhor coração no futebol deste país. Mas é uma temeridade que retorne ao futebol. Principalmente comandando o Botafogo. A família de Ricardo não gostaria que ele voltasse a trabalhar. Só que está irredutível. Tanto que não só aceitou a proposta como convenceu os dirigentes que está bem. Outra vez, voltamos ao mundo das estatísticas. Há milhões de pessoas que já tiveram isquemia e AVC que levam vida saudável. Mas outras, não. Além da genética, pré-disposição, uma das grandes características que levam ao AVC é o stress. A carga emocional de ser técnico de futebol é imensa. O que torna a volta de Ricardo Gomes um enorme motivo de tensão. Ele deveria retornar aos poucos. Comandando uma equipe de juniores. Sentindo suas reações, percebendo sua saúde. Nunca voltar direto ao profissional. A um clube tão importante na Segunda Divisão. E tão pressionado. O clube anunciou a contratação em uma nota. Elogiando seu currículo. E fazendo de conta que nada demais aconteceu com Ricardo Gomes. Como se não citando o AVC ele nunca existiu. Assim será o primeiro treinador do Brasil a ter um acidente vascular cerebral hemorrágico em clube grande. E a voltar a trabalhar em outro. Ninguém pode afirmar de forma decisiva o que acontecerá. Imprudentemente, será uma cobaia. Está faltando bom senso aos dirigentes botafoguenses. E amor em excesso ao futebol por parte de Ricardo Gomes. Não há justificativa racional para o retorno dessa maneira. Uma vida está sendo colocada em risco de forma desnecessária...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 22 Jul 2015 19:30:19

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