quinta-feira, 2 de julho de 2015

Estados Unidos formalizam o pedido de extradição do detento José Maria Marin. Se a Suíça aceitar, o homem que comandou a Copa de 2014, pode pegar até 20 anos de cadeia...

Estados Unidos formalizam o pedido de extradição do detento José Maria Marin. Se a Suíça aceitar, o homem que comandou a Copa de 2014, pode pegar até 20 anos de cadeia...




É a maior vergonha do futebol brasileiro. Fora dos gramados. E vai muito além dos 7 a 1 da Alemanha. Chegou oficialmente ontem o pedido de extradição do Departamento de Justiça dos Estados Unidos à Suíça. Os americanos querem no seu território sete acusados de corrupção e lavagem de dinheiro. Desejam julgar esses criminosos. Eles fazem parte da alta cúpula da Fifa e estão presos, encarcerados, desde o dia 27 de maio. Entre eles está José Maria Marin. Ex-ponta direita do São Paulo. Esperto, percebeu que não tinha talento para se firmar no futebol. Foi estudar Direito. Entrou na política. Se elegeu vereador, deputado pela ARENA, partido que defendia a Ditadura. Em um discurso, Marin acusou a direção da TV Cultura de comunismo, algo inaceitável pelos militares que comandavam o país. As palavras acabaram levando para a tortura e morte, o então presidente da TV Cultura, Vladimir Herzog. Preso, ele foi assassinado. E o Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo forjou seu suicídio. A morte de Herzog não afetou a carreira de Marin. Por eleição indireta se tornou vice-governador de São Paulo. O governador e seu mentor político e de vida? Paulo Salim Maluf.

Quando Maluf deixou o cargo para se tornar deputado federal e tentar articular sua candidatura à presidência, Marin se tornou governador de São Paulo. Foi o homem por trás da vitória do ex-presidente Jânio Quadros na candidatura à prefeitura paulista. Marin percebeu a importância e a popularidade do futebol. Usou suas alianças para se tornar presidente da Federação Paulista de Futebol. A comandou por quatro anos, entre 1982 e 1986. Mistura os interesses e suas aspirações políticas com o esporte mais popular do país. Foi chefe da delegação brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1986. Sem força na política, amigos do futebol mostraram fidelidade. E o tornaram vice-presidente da CBF, região Sudeste. Foi aliado de alma de Ricardo Teixeira. O então todo-poderoso ex-genro de João Havelange, nunca pensou a sério que teria de deixar o cargo. Não se importava com o estatuto da entidade. Ele privilegiava o vice mais velho em caso de saída do presidente. Pressionado pela Polícia Federal e pelas denúncias de corrupção da Fifa, Ricardo Teixeira abandonou a presidência às pressas. Quando viu Marin assumir, quis tratá-lo como marionete. Manipulá-lo. Só que o ex-governador biônico não permitiu. E aliado do presidente da FPF, Marco Polo de Nero, assumiu de verdade o poder.

Foi a maior autoridade esportiva brasileira na Copa do Mundo de 2014. Esteve ao lado da presidente e ex-revolucionária Dilma Rousseff. Um defensor da Ditadura aliado a uma ex-líder guerrilheira. Marin recebeu presidentes, príncipes, reis durante o Mundial. Sorrindo, representava o Brasil. Daí o enorme constrangimento que o país finge não perceber. Este homem está encarcerado, preso na Suíça. Acusado de receber propina nos direitos de jogos e torneios. E lavar esse dinheiro sujo usando bancos norte-americanos. O dono da Traffic, Jota Hawilla, acusou formalmente Marin de exigir dinheiro pela organização da Copa do Brasil até 2022. Nada menos do que R$ 2 milhões por ano. Dinheiro que seria enviado para paraísos fiscais, por meio de bancos norte-americanos. As provas são contundentes contra Marin. Além da delação premiada de Hawilla, há os comprovantes de pagamento. E até gravações da conversa fechando o acordo. Todos entregues à Justiça Norte-Americana pelo ex-dono da Traffic. Marin não está preso em uma solitária na Suíça por acaso.

Além do ex-governador de São Paulo e ex-presidente da CBF, estão também encarcerados altos membros da cúpula da Fifa. Jeffrey Webb (vice-presidente da Fifa, presidente da Concacaf e da Confederação de Ilhas Cayman), Eduardo Li (presidente da Confederação de Futebol da Costa Rica, membro do atual Comitê Executivo da Fifa e do Comitê Executivo da Concacaf), Julio Rocha (diretor de desenvolvimento da Fifa e presidente da Confederação da Nicarágua), Costas Takkas (assistente da Presidência da Concacaf), Rafael Esquivel (membro do Comitê Executivo da Conmebol e presidente da Federação da Venezuela ) e Eugenio Figueredo (ex-presidente da Comebol e da Associação Uruguaia de Futebol). Todos acusados de corrupção e lavagem de dinheiro. Os Estados Unidos querem a extradição. Como esses dirigentes usaram bancos norte-americanos para lavarem suas propinas, a justiça deseja julgá-los lá. Em Nova York. O pedido formal de extradição chegou ontem à Suíça. O país europeu tem seis meses para responder se aceita liberar os presos para lá ou não. A tendência é que aceite, sim.

Mas cada um está tentando se defender como pode. Marin já teria gasto cerca de R$ 1,9 milhão em advogados. Esse dinheiro seria de familiares e amigos. A proposta dos advogados suíços é que o ex-presidente da CBF pague multa, indenização, o que os Estados Unidos quiserem. E seja liberado. Ou então, se a extradição acontecer, que fique em prisão domiciliar, já que possui apartamento nos Estados Unidos. Na defesa articulada por dois escritórios suíços é possível perceber que dinheiro não é problema. A questão é outra. A postura, se prontificando a pagar multa, é uma confissão de culpa. O ex-governador admite que se corrompeu... Marin está deprimido. Já teria emagrecido quatro quilos. Desesperado, chora muito. E, de acordo com a Folha de S. Paulo, estaria escrevendo um diário. Tem o direito também de ver televisão. Compartilha as dependências da cadeia com 15 pessoas, que não são ligadas ao futebol. Os outros envolvidos no escândalo da Fifa acabaram espalhados em outras cadeias suíças. Marin toma remédio para pressão e dor de estômago. Tem direito a uma hora de banho de sol por dia e caminhar pelo jardim da cadeia. Há regalias. Ele pode gastar R$ 230,00 em comida em um mercadinho na prisão. Não usa uniforme. A roupa é levada por seus advogados. Já teria recebido 49 cartas e enviados duas para o Brasil. Uma para a mulher e outra para um dos seus advogados. As cartas enviadas depois de checadas pela direção da prisão.
A Folha detalha que, como ele não fala inglês, se tornou amigo íntimo de um preso holandês. Os dois conversam horas em espanhol. Seu maior medo é morrer na cadeia... Marco Polo del Nero evita falar sobre Marin com jornalistas. Não o defende em público como o detento e sua família esperavam. Mas há quem garanta que, de maneira discreta, Del Nero o tem ajudado financeiramente. A situação é constrangedora. Compromete sim a Copa do Mundo de 2014. A grosso modo, ela foi conduzida por um corrupto. Ele foi o presidente não só da CBF. Mas do Comitê Organizador Local. Dezenas de dólares passaram por suas mãos. Dependeram de sua assinatura. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos afirmou de maneira pública. Marin, extraditado, julgado e condenado por corrupção, pode pegar até 20 anos de cadeia. É tudo o que o ex-governador de São Paulo não quer. E também muitos aliados que podem estar comprometidos. O que estaria escrevendo no seu diário? Até onde vai o medo de morrer na cadeia? Estaria disposto a revelar tudo o que sabe? A prisão de Marin envergonha este país...




Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 02 Jul 2015 11:18:20

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