quinta-feira, 30 de julho de 2015

Neste país dominado pela corrupção, Romário cumpriu sua obrigação. E provou que não tinha dinheiro na Suíça sem declarar à Justiça Federal. E agora, Veja?

Neste país dominado pela corrupção, Romário cumpriu sua obrigação. E provou que não tinha dinheiro na Suíça sem declarar à Justiça Federal. E agora, Veja?




Lula, Dilma, Aécio, Fernando Henrique, Serra, Marina, Renan, Collor, Sarney. Há anos e anos, o cenário político brasileiro mostra os mesmos nomes. A decrepitude das lideranças neste país. A falta de credibilidade que cerca essas pessoas está atrelada ao fracasso das instituições básicas. E que deveriam ser responsáveis pela Saúde, Segurança, Educação, Saneamento Básico, Água, Luz. Mas a corrupção é mesmo endêmica e o país está em estado de metástase, como bem disse um membro do Ministério Público. Essa gente que governa o Brasil, os estados, os municípios permitiu essa pouca vergonha. Independente de partidos, os políticos daqui viraram sinônimo do que pior existe na raça humana. Há pouco resultado prático. Mas parece aliviar a alma chamá-los de corruptos. Mas são eles que governam a nossa vida. Determinam o quanto teremos de pagar para comer, beber, tomar banho, usar o banheiro. Ter ou não ter tratamento médico. Se valerá a pena ou não ir para a escola. Se em cada esquina terá um policial ou um bandido. Se teremos direito a água. Se haverá gaze, mercúrio ou mesmo médicos nos hospitais públicos. Os bilhões roubados na Petrobrás são genocídios. Esse dinheiro deveria chegar à população carente, aos milhões que vivem na faixa da miséria absoluta, sem perspectiva na periferia da sociedade. E só são lembrados nas eleições, em programas criminosos que estimulam o nascimento de crianças sem escola, sem ter o que comer, como viver. O que torna o nosso povo mais miserável, cada vez mais sem perspectiva. Neste cenário surgiu Romário. Nascido na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. Pequeno, minúsculo, subnutrido. Médicos quando o viram duvidaram que sobreviveria. Sua mãe Manuela não teve acesso aos cuidados básicos, a Pré-Natal, a uma alimentação decente. O pai, Edevair, deixava de comer para dar à esposa e ao filho. Viviam em um barraco do tamanho de um quarto. Romário não passou fome. Mas não teve os nutrientes suficientes na infância. Talvez se tivesse, não seria tão baixo. A barriga inchada, na camisa do América, time de coração de Edevair, revelava esquistossomose. Comum em crianças que não bebem água tratada. Era um brasileiro típico que deveria viver excluído do melhor que a vida tem a oferecer. Mas seu talento natural ao futebol revolucionou sua vida.

Brilhava no Estrelinha, time infantil que seu pai Edevair fundou só para ele. Salvando os tornozelos e joelhos dos buracos dos terrões e as "tampas" dos dedos das guias no asfalto, Romário levava a bola. Fugia dos pontapés dos adversários mais velhos e maldosos da favela. Muitos já serviam ao tráfico. Para quem se impôs neste cenário, foi covardia quando chegou aos gramados de verdade. Foi um dos melhores atacantes da história do futebol. Viciado assumido em sexo. Casou, namorou, descasou. Compulsivo, desfrutava os prazeres básicos que a miséria lhe negara quando criança.

Os mais refinados pratos. As mais atraentes mulheres. A maioria muito maiores do que ele. A carreira foi brilhante. Poderia ter sido mais. Só que não aceitava ordens, disciplina. Tinha pressa para viver. Estava nos seus gens. Inteligente, sempre se deu ao direito de fazer aquilo que o atraia. Como cursar uma exótica faculdade de moda. Mais do que um capricho, denunciou a vontade de entender o que era belo. Para quem cresceu só de calção, sem camisa ou sapato jogando futebol no senegalesco verão carioca. Em todas as entrevistas ainda como jogador, Romário demonstrava seu inconformismo com os aproveitadores. Primeiro os dirigentes de clube que tentavam enganá-lo. Depois os que comandavam o futebol. Tão corruptos quanto os políticos. Suas palavras repercutiam na mídia. Após parar de jogar futebol, os partidos fizeram fila para pedir sua filiação. O roteiro estava pronto. Deveria ser um Tiririca de chuteiras. Frequentador da mídia, sem noção política, sem raciocínio profundo, mero catalizador de votos. A piada sem graça. Mero fantoche disposto a ser usado no Planalto. Só que se enganaram com Romário. Seu senso social aflorou. Ele viveu tanto na favela do Jacarezinho quanto na Barra da Tijuca, cinco anos na desenvolvida Eindoven, um ano de convivência com os catalães, cidadãos orgulhosos de sua cidade que querem independente, Barcelona. Viajou o mundo. Usufruiu do bom e melhor. Viu populações miseráveis. Mais do que tudo, um anjo pousou e revolucionou sua vida. Aos 40 anos, milionário, em 2005, Ivy. O sexto filho chegava com Síndrome de Down. Romário reavaliou todos os seus valores. Começou a perceber que o país além de corrupto é cruel. Se as pessoas comuns sofrem com o descaso, as com necessidades especiais são massacradas. O governo estimula as famílias a as tratarem como um fardo. Não há política de conscientização, estímulo. O recado silencioso é que o melhor é escondê-las da sociedade.

Romário foi digno. Apaixonada pela filha, a fez símbolo da luta pela dignidade às pessoas com necessidades especiais. Engoliu sua aversão a Ricardo Teixeira e Marin. Acreditou na palavra dos dois. E que na Copa haveria lugares para brasileiros cegos, paralíticos, com Síndrome de Down. Lógico que foi enganado. A aversão virou ódio. No Planalto seguiu crescendo, com projetos populares voltados à população carente e às pessoas deficientes. Além de sua revolta contra a CBF, contra a Fifa, o abuso da Copa do Mundo. Nas urnas, o deputado logo virou senador, derrubando raposas vividas. E se tornou candidato favorito à prefeitura da sua cidade, o Rio de Janeiro, nas eleições do próximo ano. Se vencer e fizer um bom governo, o céu pode ser o limite para Romário. O bebê subnutrido que cabia em uma caixa de sapatos há 49 anos, hoje já é senador da República. Na semana passada, a Veja apresentou um recibo de depósito na Suíça. R$ 7,5 milhões no seu nome. São 2,1 milhões de francos suíços. As aplicações teriam sido feitas entre dezembro de 2013 e junho deste ano. No banco BSI, com sede em Lugano. Na Receita Federal, não há registro algum deste dinheiro em nome do senador. Seus bens apresentados chegam a R$ 1,3 milhão.

Um senador no Brasil recebe R$ 33,7 mil mensais. A denúncia virou manchete não só no Brasil como no Exterior. Romário respondeu com ironia nas redes sociais e ameaça de processo. Mas era muito pouco para quem deseja se transformar em um dos líderes deste país. E fez o contrário do que o Direito ensina. O inocente teve sim de provar sua inocência. Viajou até a Suíça. Foi até o banco. E comprovou que o extrato apresentado é falso. Não há dinheiro algum na sua conta. A Veja teria publicado sem checar. A vingança já começou. Romário se disse "chateado" por não ter esse dinheiro. E como retaliação garantiu que processará os repórteres que escreveram a matéria. Além disso, divulgou o perfil de cada um no facebook. Os jornalistas começaram a ser atacados. E tiveram de acabar com suas contas. "Alguém aí tem notícias dos repórteres da revista Veja Thiago Prado e Leslie Leitão, que assinaram a matéria afirmando que tenho R$ 7,5 milhões não declarados na Suíça? E do diretor de redação Eurípedes Alcântara? Dos redatores-chefes Lauro Jardim, Fábio Altman, Policarpo Junior e Thaís Oyama?", colocou, rancoroso, o senador na sua página do facebook. Romário está certo em cobrar. Sua carreira política ascendente poderia sofrer um golpe fatal. E tinha obrigação de ir à Suíça. A expectativa que gera em milhões de brasileiros o empurrou. O sorriso voltou à sua fisionomia. Como quem acaba de marcar um gol de placa.
Neste pais corrupto, quem não deve tem de provar. Ainda mais político. E Romário mostrou que o dinheiro não é seu. Pior, o extrato publicado, falso. Agora as explicações cabem à Veja. A revista de maior circulação semanal deste país. Como publicou um extrato que não é verdadeiro?

Deu uma informação inverídica que ganhou o mundo?

Que poderia ter desmoralizado a carreira de Romário?

Sem hipocrisia, uma denúncia falsa enfraquece outras.

Verdades podem não ser levadas em consideração.

A revista começou a circular em setembro de 1968.

E adotou para si um slogan potente, significativo.

"Veja, indispensável para o país que queremos ser"

Chegou a hora de quem acusou provar...



Fonte: Esportes R7
Autor: cosmermoli
Publicado em: 30 Jul 2015 11:40:37

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